No cubículo escrita por annaoneannatwo


Capítulo 1
Capítulo Único




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/807546/chapter/1

 Assim que a porta se fecha e ela se encontra em completa escuridão, Ochako percebe o quanto sua respiração está entrecortada e o quão nervosa, de fato, ela realmente está. Aconteceu tudo meio rápido, ela girou a garrafa, que nem ao menos foi parando devagar para criar a tensão que gerou anteriormente com as outras pessoas que a giraram, ela só parou, apontando para o Todoroki, que não moveu sequer um músculo do rosto e não demonstrou nenhuma emoção. Incomodado, envergonhado, empolgado… nada, ele só levantou, confirmou com a Mina se era pra entrar no armário de produtos de limpeza do dormitório e esperou que Ochako o acompanhasse, e foi só isso.

Ela o seguiu, evitando olhar pra trás por não querer soltar uma risadinha de deboche diante de qualquer que fosse a expressão da amiga rosada no momento, Ochako nem ao menos ouviu qualquer “uuuuhmmmm” ou outra gracinha do Kaminari e do Sero, e naquele momento, acabou por ser meio tranquilizante, mas agora ela se pergunta se não foi porque eles preferem evitar tirarem sarro do Todoroki. Uma coisa é fazerem barulho de beijo e insinuações bobas quando é o Bakugou, cujas explosões de raiva são mais engraçadas do que assustadoras, outra coisa é o Todoroki. Ele não demonstra raiva, mas também não demonstra muitas emoções em geral, então não deve ser divertido tirar sarro dele.

Ou talvez o jeito sério do garoto híbrido os deixa intimidados, e se é isso, então Ochako também não sabe se está particularmente confortável em ficar em um lugar apertado e escuro com ele por sete minutos.

Não que ela estivesse super empolgada com esse jogo, que também simplesmente aconteceu muito rápido e, quando ela se deu conta, já estava sentada entre a Kyouka e a Tsu. Foi depois de uma sessão de cinema da 1-A. Menos da metade da sala estava participando, provavelmente todos coagidos ou enganados pela Mina. A garrafa foi sendo girada, parzinhos foram se levantando, indo ao armário onde ficam os produtos de limpeza, voltando sete minutos depois e não tocando mais no assunto, alguns deles tão improváveis que Ochako não consegue nem imaginar direito. A Tooru e o Kirishima? A Tsu e o Sero? A morena tem certeza que a última coisa que pode ter acontecido entre esses pares foi uma sessão de amassos.

Talvez não dê pra dizer o mesmo sobre a Yaomomo e a Kyouka, mas isso é algo pra especular com a Mina mais tarde, a amiga rosada com certeza vai querer fofocar sobre o assunto.

Ela também vai querer saber o que rolou entre ela e o Todoroki, e Ochako já consegue visualizar o tamanho do bico que a amiga vai fazer ao ouvir um “não rolou nada. E já era de se esperar, não era? Eu e o Todoroki… imagina!”

E então Ochako imaginou brevemente quando ele deixou que ela passasse na frente e entrasse no armário primeiro. Por um segundo, ela pensou como reagiria se ele fechasse a porta e, no minuto em que ela se virasse, a puxasse pelo rosto para um beijo parecido com o que eles viram o casal trocar no filme que estavam assistindo. Ochako sentiu uma pontada no estômago e um breve calor lhe subir pelo peito, mas logo passou, primeiro porque com certeza jamais aconteceria, segundo porque… é ridículo.

O Todoroki é um enigma em muitos aspectos, e não importa o quanto a Tooru e a Mina suspirem por conta da beleza dele, nem elas devem ser capazes de imaginar como ele seria nesse aspecto em particular, que dirá Ochako, que meio que tem uma pequena proximidade por conta da amizade em comum com o Deku e o Iida, e ainda assim não o compreende muito. Não, o Todoroki não é esse cara misterioso e descolado que muitos imaginam, mas ele é sim meio distante e difícil de entender às vezes, e Ochako nem sabe se pode se considerar sua amiga. Ele não a trata muito diferente de como trata o Iida e o Deku, mas ela percebe que não é o mesmo nível de amizade, talvez ele só tenha se acostumado com a presença dela e meio que fica por isso mesmo. 

Ochako também se acostumou a ele e não tem absolutamente nada contra o Todoroki, ela até acha graça em alguns comentários dele, bastante diretos e às vezes meio absurdos. Não há motivo para ficar intimidada, mas também não dá pra ficar exatamente confortável, ainda mais se não há Deku ou Iida por perto para puxar assunto.

Ficaria ainda mais apertado com eles aqui dentro do armário, mas enfim, não é esse o ponto.

O ponto é que ela está tensa, está tudo escuro e isso é tudo muito constrangedor. Com certeza é para o Todoroki também, eles quase nunca ficaram sozinhos e nem têm assunt-

Ele segura o ombro dela, e Ochako pula de susto, virando-se com tudo como se fosse capaz de vê-lo nessa escuridão.

— A-algum problema, Todoroki-kun?

— Nenhum. E você? —  ele pressiona a mão um pouco mais no ombro dela, e então a retira — Ah, minha mão tá gelada?

— Hã? Ah… não. Tá tudo bem. —  ela respira fundo — Bom, então… agora é só esperar, né?

— Esperar o quê?

— O tempo acabar. Sete minutos passam rapidinho.

— Depende muito do que você tá fazendo em sete minutos, eu acho.

— Como… como assim?

— Não sei. Se você tem que chegar num lugar em 15 minutos, mas só faltam 7 pra chegar a tempo, então 7 minutos é pouco. Mas se você tá com muita fome, chega num restaurante e o atendente fala que vai ficar pronto em 7 minutos, vai parecer muito tempo.

— Ah… entendi. Acho que eu já ouvi alguma coisa assim, tipo… 1 minuto é muito ou pouco dependendo de que lado da porta do banheiro você tá.

Fica um breve silêncio.

— Não entendi.

— A-ah, é que… se você estiver apertado e querendo usar o banheiro, e alguém falar: “só um minuto”, daí vai parecer muito… entendeu?

— Ah tá. — e então ela ouve algo que parece um breve suspiro — Que engraçado.

Ele… riu? Foi isso o barulho? Ele achou graça disso mesmo?

— Haha, pois é… —  ela responde, sem saber bem como reagir.

— Uraraka?

— Hum?

— Você quer mesmo prosseguir com isso?

— O-o quê?

— Com o jogo. Se você não quiser, a gente sai.

— Oh… eu… —  ela quer? Por alguma razão, Ochako não consegue sabe o que responder de cara. Isso aqui não é confortável, mas ela nem pensou na possibilidade de só abandonar o jogo. É uma opção válida, ninguém pode forçá-los a ficarem aqui e provavelmente ninguém tentaria em se tratando do Todoroki, então sim, ela pode só falar que não quer seguir e acabar com isso — Ah, bom… pra mim tá de boa, Todoroki-kun. — mas é isso que ela responde.

— Entendi. —  Ochako sente a respiração dele contra seu nariz, ele tá chegando mais perto? Ele tá…? — É meu primeiro beijo também, vamos ser gentis um com o outro.

E a próxima coisa que ela sente é a maciez dos lábios dele contra os seus. Ochako sente o corpo todo se tensionar e quase desvia o rosto para impedir que isso continue, mas então ele leva uma mão ao ombro dela, como fez antes, e suspira de um jeito que a arrepia toda, não de tensão e nervosismo, mas de… excitação. Ela se apoia um pouco mais nele, timidamente erguendo a mão para segurar o bíceps do Todoroki, que parece encarar isso como uma autorização para se aproximar mais, deslizando a mão no ombro dela para sua bochecha, levemente erguendo seu rosto para aprofundar o beijo.

Bom… claramente eles se entenderam errado. Quando ele perguntou sobre ela querer prosseguir com isso, Ochako achou que ele estava falando sobre querer permanecer ou não no armário por todos os 7 minutos. Quando ela disse que tava de boa, ele deve ter achado que isso queria dizer que ela queria jogar pra valer, já que foi o que a Mina disse ao explicar sobre as regras do jogo: “ninguém é obrigado a fazer nada, mas se os dois concordarem em trocar uns beijinhos e amassos, então vão com tudo!”

Ochako talvez devesse interromper o beijo e explicar isso pra ele, o Todoroki poderia até ficar um pouquinho sem graça, mas se ela falasse direitinho, ele entenderia que não fez nada de errado e foi só uma falha de comunicação entre eles. Uma falha de comunicação que o levou a beijá-la com timidez e cautela, mas também com ternura. Mesmo com a mão na bochecha para mantê-la parada e a língua abrindo caminho por entre seus lábios, Ochako consegue sentir o respeito e cuidado com que ele a trata, então não se impede de retribuir o beijo com mais vontade, soltando a respiração e apoiando as mãos nos ombros dele, Todoroki é muito mais alto que ela, então se inclina um pouco para baixo, o que apenas a pressiona mais contra a prateleira atrás dela. Já era difícil se concentrar em qualquer coisa que não fosse a presença dele aqui nesse cubículo, mas agora que seus rostos e peitorais estão grudados, chega a nem parecer de verdade. É o Todoroki, o garoto prodígio da sala, o filho do Endeavor, o que era todo inacessível e até meio assustador no começo do curso, mas que com seu jeito meio atrapalhado, foi se mostrando ser bem mais que isso. O Iida e o Deku confiam nele cegamente, e Ochako confia também, mas nunca conseguiu atravessar uma barreira invisível e densa que a impedia de se aproximar para fortalecer a amizade do mesmo jeito que tem com os outros.

Será que foi ela mesma que colocou essa barreira, e não ele?

Todoroki inclina a cabeça um pouco e muda o ângulo do beijo, separando os lábios dos dela rapidamente, e é meio embaraçoso como Ochako o persegue quase imediatamente para retomar o contato de seus lábios. Ele nem parece perceber, apenas beijando-a de novo, dessa vez um pouco mais intenso e menos cuidadoso. Não que ela se importe.

A mão esquerda dele parece um pouco perdida, seus dedos tocam a parte de trás da sua coxa, mas é rápido, e logo ele está apertando seu quadril. Ochako o puxa mais para perto, abraçando-o pelos ombros, ele deixa escapar um som rouco e profundo que vibra por entre o beijo e a faz sentir-se meio tonta, pensando que agora sim deve estar mesmo parecendo o beijo que eles viram no filme, talvez um pouco mais atrapalhado, mas até mais intenso por envolver a curiosidade de duas pessoas que fazem isso pela primeira vez e não querem estragar a experiência um do outro. Ela não sabe se era pra ser mesmo assim, se está o apertando demais ou não o segurando o suficiente, se sua língua está fazendo a coisa certa ou não, mas em geral é incrível.

Tão incrível que ela sente a decepção cair sobre sua cabeça como um balde de lama quando se ouvem duas batidas na porta e a voz da Mina avisando que o tempo acabou.

O Todoroki ainda a beija por alguns segundos, soltando-a aos poucos e, quando ele o faz por completo, ela de repente sente um pouco de frio, sentindo falta do calor do corpo dele.

— Obrigado. — ele diz baixinho e abre a porta, a luz invadindo o pequeno espaço a faz apertar os olhos em incômodo.

— Eu… eu que agradeço? — ela responde sem pensar, sorrindo meio sem jeito quando ele deixa o armário e para na porta, esperando que ela passe na frente, exatamente como fez antes. Ela se considera incapaz de olhá-lo diretamente, mas tem quase certeza que consegue vê-lo acenando e dando um leve sorriso.

Ochako não consegue encará-lo pelo resto do jogo que pode ter durado só alguns minutos ou muito mais tempo, ela não tem certeza. Talvez ainda leve alguns dias para ela ser capaz de olhá-lo nos olhos de novo, mas agora ela sabe que qualquer tensão que poderia haver é fruto da cabeça dela. Ele a considera tão amiga quanto os meninos, tanto que confiou a ela seu primeiro beijo.

E ela também está feliz por ter confiado o seu a ele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oioi, aos poucos vou voltando huahshus, e hoje venho com essa todochako que acabou bem mais inocente do que eu inicialmente previ, mas acabou sendo bem apropriado pra um tipo de... prequel? Talvez?

Pois é, se você já leu minha fic "Tudo o que está em jogo", então você talvez tenha reconhecido uma fala do Todoroki e sim, essa one pertence ao mesmo universo, por assim dizer. Nenhuma grande pretensão aqui, eu só quis escrever um todochako fofinho e me aproveitei daquela ideia. Se você lembra da fic, bom... então você já sabe qual seria a continuação, então é, é só isso aqui mesmo jdsjkdjsdj
E se você não leu a fic, bom... deixo aqui o link caso tenha despertado sua curiosidade (não é exatamente uma fic todochako, já fica o aviso) https://fanfiction.com.br/historia/793076/Tudo_o_que_esta_em_jogo/

Obrigada por ler, espero que tenha curtido!
Não prometo nada novo pois ando bem sem tempo, mas espero aparecer por aqui de novo em breve!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "No cubículo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.