Postura escrita por Kaline Bogard


Capítulo 1
Postura é o ...




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Passei! Kralho! É c* virado pra lua que vcs querem?!

Todo mundo cala a porra da boca.  Sou o novo estagiário da Ab&Ya TechControl!!

Tem que ser O Pika das Galaxias pra conseguir

E essa foi a sequência de caracteres que literalmente virou o mundo de Inuzuka Kiba de cabeça para baixo. Além de mudar todo o seu futuro de um jeito que sequer poderia imaginar. Quando recebeu a notícia da aprovação, o estagiário escolhido entre centenas, fez o que todo bom viciado em redes sociais com uma dose inquestionável de impulsividade faz: berrou no perfil para quem quisesse (ou não) saber!

Tão logo postou os tuites, e seus amigos igualmente viciados em tecnologia começaram a responder. Foi uma chuva de “Parabéns”, “To orgulhoso”, “Fodido sortudo”, “Arrombado de sorte” etc, etc, etc.

Enquanto se revirava sobre a cama, rolando de um lado para o outro cheio de orgulho, notou uma mensagem não tão satisfatória assim.

Postura.”, dizia a menção.

Kiba ficou tão chocado com a audácia que quase derrubou o celular no rosto. Quem aquele “Bug_2301” achava que era? E o nickname de cem anos atrás? Com certeza era um baby boomer, ou pior ainda, um Millennial!

— Odeio hater — resmungou pensando em mandar um textão. Mudou de ideia fácil. Primeiro: tinha um limite de 140 caracteres para escrever. Segundo: preferia uma resposta curta e efetiva.

Chupa meu p4u, otário”, foi o que enviou sem pensar duas vezes, dividido entre a raiva por enfrentar a inveja alheia e a satisfação por colocar a pessoa em seu devido lugar.

Para sua surpresa (ou nem tanto, haters adoravam lenha na fogueira), uma segunda menção veio em seguida. Kiba teve que ler pelo menos dez vezes, todas bem lentamente, para compreender o que dizia.

Sou Aburame Shino, dono da Aburame & Yamanaka TechControl”.

Simples, sem grandes afetações. Efetivo.

E o alerta de um DM chamou a atenção de Kiba, que sentiu o sangue gelar nas veias. Era do tal Bug_2301. Talvez o futuro ex-patrão...

Não precisa se apresentar na segunda-feira. Agradeço pelo interesse em nossa empresa”.

Só isso. Tentou responder, inutilmente. Estava bloqueado.

E bater o dedinho no pé da cama não teria doido tanto quanto aqueles sessenta e sete caracteres com espaço.

***

Mas é claro que Inuzuka Kiba se apresentou na empresa na segunda-feira de manhã. Ele não ia acreditar que um Bug_2301 qualquer fosse realmente acionista de uma das maiores e mais bem sucedidas empresas de tecnologia da atualidade.

Chegou cedo, muito mais aprumado do que planejara a princípio, pelo menos cinco minutos antes de os seguranças fazerem a troca de turnos, e então se apresentou na guarita. Foi nesse momento que, para grande tristeza, descobriu que sim, o seu acesso à empresa havia sido revogado. O nome não constava na lista de permissões. Aliás, nenhum estagiário constava na lista do sistema informatizado.

Okay, ele deu um tiro no pé e estava pagando por isso. Mas em sua defesa, como ia adivinhar que o dono da empresa estava de bobeira nas redes sociais? E vigiando seus tuites? Vigiando, porque o tal bug não era um seguidor.

Kiba ficou nos arredores, ruminando esses pensamentos, recebendo olhares desconfiados do segurança que protegia a entrada da sede da empresa, decidido a conversar com Bug. Ou melhor, com Aburame Shino. Precisava passar a história a limpo e confirmar tudo. Era o seu futuro que estava em jogo! E mesmo que tivesse extravasado a alegria com um “caralho” aqui e um “pica” ali, isso não fazia dele um profissional sem postura!

Não desistiria enquanto não conseguisse uma segunda chance!

***

Shino gostava de dirigir até a empresa, ainda que sua posição social permitisse o luxo de ter um motorista particular, assim como Ino, a outra sócia da empresa, tinha. Mas para ele era confortável e nada incomodo.

Naquela manhã de segunda-feira ia com a mente cheia de tarefas que precisava resolver. Estava em vias de fechar um grande contrato com Suna, e se isso se concretizasse, as ações da “Ab&Ya”, apelido carinhoso dado nas redes sociais, alcançariam um patamar inimaginável.

Pensamentos esses que foram interrompidos tão logo fez a curva na rua de acesso à empresa e notou o rapaz sentado na guia da calçada. Era cedo e não havia movimento, tornando impossível não reparar na cena.

Shino soube quem era no instante em que notou as marcas vermelhas no rosto. O estagiário sem postura que causara um pequeno alvoroço temperado com palavrões na sexta-feira à tarde. E pelo jeito a falta de postura não estava apenas no vocabulário, fato evidente quando ele se levantou exibindo as roupas. Uma calça social até que de bom gosto, mas junto com um paletó pra lá de duvidoso que não combinava em nada com ele. Era visivelmente uns dois números maior, com as mangas dobradas para dentro para disfarçar.

O segurança abriu o portão automático para lhe dar passagem e ele até pensou em ir direito e ignorar aquela pessoa cuja primeira impressão dada foi de grosseria. Mas Shino não era assim. Acabou parando o carro e permitindo que o rapaz se aproximasse.

— Aburame-san? Eu sou...

— Sei bem quem é, rapaz — cortou a frase e notou a expressão alheia empalidecer enquanto o grande sorriso forçado morria.

— Então era o senhor mesmo no Twitter.

— Sim.

Shino respondeu do jeito que costumava ser: direto, sem desperdício de palavras. Preparou-se para mudar a marcha do veículo e retomar o caminho, quando o jovem quase gritou algo que quebrou suas barreiras e que não estava preparado para ouvir. No segundo em que viu o tal ex-estagiário, imaginou que ouviria lamentos, pedidos de desculpa, talvez ainda mais grosseria no padrão da virtual. Nunca imaginou a questão exaltada:

— Acredita em segundas chances?! — foi o que veio no tom firme, esperançoso e temperado com olhos cheios de expectativa.

A atitude defensiva de Aburame Shino mudou no mesmo instante e ambos perceberam isso. Na verdade, os três perceberam... afinal o segurança acompanhava tudo com interesse curioso.

Sim, Shino era um homem que acreditava e defendia o direito de todo ser humano ter uma segunda chance. E isso o fez olhar pela segunda vez para o outro, analisando com mais atenção. O rapaz era astuto e perspicaz. Conseguiu jogar uma isca difícil de não ser engolida, com direito a testemunha e tudo. Um belo movimento de xadrez, que colocou um rei em xeque. Que mente afiada!

Exceto que, como viria descobrir num futuro não tão distante, o movimento de Kiba não foi planejado, calculado, arquitetado. Ele só foi no impulso, como sempre, e disse a primeira coisa que veio à mente. Ainda que tivesse ensaiado um lindo discurso para pedir desculpas e limpar sua imagem. Na hora H, aquela pergunta foi a única coisa que escapou dos lábios afoitos.

Sem saber desses detalhes, Shino acabou se impressionando pelo que parecia ser um jogador experiente como os que estava acostumado a lidar no mundo dos negócios. Em reconhecimento da tática inteligente, que poderia ser muito útil, destravou a porta do carona e acenou com a cabeça.

— Sim, eu acredito. Venha.

Kiba sorriu largo, com sinceridade pela primeira vez desde que começaram o diálogo. E Shino perdeu o ar por um mísero segundo. Não se lembrava de ter visto um sorriso tão bonito antes. Boa aparência e inteligência. Agregar um funcionário de tal patamar seria um trunfo e tanto. E Aburame Shino, que se orgulhava do talento em ler pessoas, não poderia ter se enganado mais.

— Postura é importante — ele disse quando Kiba sentou-se no carona e bateu a porta — Você vai representar a Aburame & Yamanaka TechControl. Eu acredito em segundas chances, assim como acredito na importância da postura, da educação e urbanidade.

— Sim, senhor.

— Não precisa me chamar de “senhor”.

— Perfeito, Shino — o referido precisou olhar de lado para confirmar o que tinha ouvido. Seu novo quase ex-estagiário mudou fácil de um “senhor” para o primeiro nome. Ousado? Arrogante? Confiante? Que combinação! — Aprendi a lição. Terei postura daqui pra frente, prometo. Você vai ver que eu me deixei levar pela empolgação, sabe? Fiquei muito feliz em conseguir a vaga. Mas sou educado e sei que postura é importante. Obrigado, cara. Você não vai se arrepender — garantiu com toda a certeza do mundo.

E acertou. Ou quase isso. Aburame Shino chegou muito perto de se arrepender sim, em várias situações. Descobriu de formas inusitadas que o rapaz não era ardiloso, nem estrategista, muito menos um xadrezista genial com jogadas brilhantes.

Era apenas um garoto impulsivo. Afirmativa que não o descrevia em sua totalidade, embora abrisse um leque de considerações e justificativas para todas as vezes que falava algo ou agia sem pensar. A urbanidade e ponderancia ficaram apenas na promessa. E a esperança de ter um jovem esperto como psicólogo organizacional foi pelo ralo.

Ao fim dos dois anos de estágio, com muita história engraçada (e outras nem tanto) para contar, Kiba decidiu que era mais o seu perfil trabalhar em uma clínica do que em uma empresa. E Shino concordou, óbvio. Àquela altura concordaria com tudo dito pelo jovem que conquistou seu coração.

Pois quando Inuzuka Kiba ganhou a segunda chance no ramo profissional, garantiu de quebra a grande chance no amor, sendo irônico que a personalidade impulsiva, vibrante e pouco educada, somada à falta de postura desconcertante, fossem o tempero pelo qual Aburame Shino se apaixonou.


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Notas finais do capítulo

Kiba emprestou o terno do naruto...

A primeira impressão é a que fica! Não, Shino mudou de ideia! Mas depois a primeira impressão ficou mesmo :D

?”-> Baseado em fatos reais. Na dúvida pesquise: perdeu o estágio na NASA por causa de



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