Sinestesia escrita por GPissollatto


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Só queria dizer que estou tão feliz por escrever uma cena completa. E do meu bolinho.

Sinto-me feliz.

Boa leitura. Esse é o único casal não canônico que shipo. TruPan. Sei das problemáticas. Mas eu amo desde criança, então, se não gosta, só ignorar.

Com carinho,
Grazi



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Sabe aquele momento em que todos os seus sentidos estão focados em algo e nada consegue desgrudá-lo, não importa quantas vezes você se repreenda e diga a si mesmo para se concentrar no que está fazendo?

Sensação irritante, bizarra e constrangedora.

Era assim que ele se sentia, sentado no sofá da casa do irmão mais velho do melhor amigo, enquanto devia jogar vídeo-game. Só devia, pois sua mente divagava.

O jogo era de luta, divertido, seu preferido. Mas seus olhos teimavam em ir para o outro lado, mesmo ele dizendo para não olhar a figura saltitante.

Ele não podia olhar!

Talvez fosse o som das risadas femininas ecoando que não o deixavam se concentrar. Ele tinha uma audição perfeita. Mais que perfeita, incrível. Acima da humana. Era capaz de escutar um alfinete caindo há milhas de distância, desde que tivesse a concentração necessária. Mas não era a risada que tirava sua atenção do jogo.

E há dias ele não estava nada concentrado.

Talvez fosse a fragrância delicada que invadia seus sentidos. Aquele perfume único que apenas uma determinada pessoa exalava, mesmo sem usar cosméticos ou cremes caros como as mulheres que ele estava acostumado.

Ele não podia pensar nisso!

Os dedos ágeis, de guerreiros, tatearam o controle de modo automático, mas sua mente lembrava da maciez da pele feminina que ele sentiu, sem querer, no final de semana passada quando dançou com ela, após a irmã encher seu saco. Como a pele dela era tão suave se ela era uma guerreira forte que passava mais tempo treinando do que qualquer um deles?

DROGA! Ele não podia recordar disso.

Tentou inútilmente concentrar-se na tela. Mas em vez de ver os pequenos guerreiros realizando ações de luta, que ele sabia serem ridículas em uma luta de verdade, já que era um guerreiro treinado desde pequeno por seu principesco e poderoso pai, seus olhos azuis, da mesma tonalidade dos da mãe, não conseguiam fugir da figura animada do outro lado da sala.

Os cabelos negros soltos sobre os ombros.

Há quanto tempo ela não cortava os cabelos? Quando era pequena ela vivia com cabelos curtinhos, mais parecendo um moleque. Agora nunca que ele pensaria nela como um ser masculino. Não com aquela cabeleira linda. E como ele nunca percebera, antes do final de semana passada, como eles eram sedosos, macios, cheirosos e…?

Não!

O rapaz apertou com força demais o controle em suas mãos. Sentiu o plástico amassar entre seus dedos, mas, mesmo tendo quebrado parcialmente, não parou de jogar. Graças a Kami-Sama algumas teclas ainda funcionavam e os bonequinhos continuavam lutando na tela.

Desde quando ele não controlava a própria força?

Antes de aprender a andar, ele já sabia controlar sua força. Como um híbrido, filho de uma terráquea frágil (porém a mais inteligente da terra) com o príncipe herdeiro de um planeta alienígena, aprender a conhecer seus próprios poderes foi vital para nunca machucar a mãe. E a concentração e o esforço eram a chave. Pelo menos, sempre foi o que o pai dizia.

Ele era ótimo em se concentrar.

Era. Porque agora…

O rapaz suspirou.

Movimento errado. O cheiro único invadiu suas narinas, deixando sua pele toda arrepiada e sua boca seca. Os olhos azuis, como que tomados com vida própria, foram novamente para o outro lado. Ela estava de costas para ele e de frente para Bra e Bulma. Contando sobre o treino da tarde junto ao avô paterno. Estava animada porque havia, pela primeira vez, conseguido derrubar o poderoso Goku.

Uma guerreira muito forte.

Era isso que devia ser notado na jovem mulher de apenas 21 anos. Até Vegeta havia a elogiado um dia desses, entre resmungos e com seu jeito Vegeta de ser. Todos falavam que um dia ela seria tão forte quanto os mais fortes saiyajins que existiam na Terra e viviam tentando superar um ao outro e a si próprios. 

Mas o rapaz só conseguia pensar em como ela estava linda usando aquela roupa alaranjada, a versão feminina do uniforme do Mestre Kame. A cor destacava a pele suave, os cabelos negros e os contornos femininos de maneira muito sensual.

DIABOS!

Novamente ele se forçou a focar na tela. Apertou os dentes com tanta força que sentiu o gosto de sangue. O que estava acontecendo com ele? Doença mortal? Febre? Uma pancada que fez seu cérebro derreter?

Até sábado tudo era normal e tranquilo. Época de paz. Sem vilões, só Goku e Vegeta treinando como sempre. E ele de boas, entre treino, trabalho e risadas com o melhor amigo. Então a irmã mais jovem, de quem ele nunca negava nada, pediu para ele a acompanhar em uma festa da faculdade, já que ela e a melhor amiga não tinham companhia e não queriam ir sozinhas.

Tudo bem, não era algo anormal. Embora elas não precisassem de proteção, ele se sentia bem em agir como protetor delas. E ele amava festas. Tudo, no entanto, ruiu quando Bra pediu para ele dançar a última música com sua dita melhor amiga.

Por que ele não disse não?

Ele sabia. Ninguém nunca dizia não para a princesa Bra Brief. Não que ela precisasse exigir, simplesmente dizer que não era impossível quando ela fazia sua carinha de: por favor, irmãozinho. Na hora, o rapaz não pensou em negar. Afinal era só a filha de Gohan, a sobrinha de Goten, a melhor amiga da irmã, a netinha querida de Goku…

Agora… como ele se arrependia da decisão.

Porque, em algum momento daquela dança lenta, a menina que ele viu se criar como parte da própria família, tornou-se uma incrível, maravilhosa, cheirosa e sensual mulher.

Quando diabos Pan cresceu?

Não importava. Ele não podia pensar nisso. 

Novamente o rapaz apertou os dentes. Com tanta força que eles chegaram a protestar e a dor o encheu, devolvendo um pouco de juízo naquela mente confusa.

Foram muitas aventuras, muitas loucuras em sua vida. Monstros, vilões, inimigos. Vida ou morte. Batalhas e mais batalhas, mas nada foi tão doido como sentir o mundo tremer a sua volta por sentir seus braços em torno de um quente corpo feminino colado ao seu, enquanto uma música lenta era tocada por uma bandinha barata em um bar idiota da faculdade.

— Trunks? — Goten chamou com suavidade.

Trunks não escutou. Seus olhos continuavam fixos na tela da televisão.

Ele não podia mais pensar nisso, embora não conseguisse parar. Uma semana, sete dias, cento e vinte horas. Esse era o tempo que ele não conseguia parar de pensar naquela dança. Uma única dança, no final da noite. E nem foi nada especial. Durou alguns minutos, depois Pan o beijou no rosto e agradeceu por ele dançar com ela, voltando a ficar junto de Bra, sem parecer abalada ou mesmo levemente mexida.

E por que ficaria?

Eles eram amigos. Quase parentes. 

E isso tudo que ele sentia era ridículo.

— Trunks?

Muito ridículo. E nem era por causa da diferença de idade. Como eram saiyajins e tinham desenvolvimento diferente dos humanos, essa parte parecia até idiota. Vegeta vivia dizendo que os rapazes de sua espécie só virariam adultos realmente quando tivessem barba. E o pai e Goku só foram ter barba após os quarenta anos! Ele estava muito longe dos quarenta! Nem era por causa das famílias, Vegeta seria contra, é claro, mas quando ele não era do contra? Bulma ficaria deliciada, ela vivia fazendo piadinhas sobre o assunto desde que ele era criança, para desespero do marido. Gohan não seria contrário. O rapaz nunca interferia nas decisões da filha mais velha.

— Trunks?

Por que ele não parava de pensar nisso, droga?

Era como se seu cérebro estivesse fazendo planos sozinhos! Não importava se tudo poderia dar certo, quando, na realidade, ele não queria.

Claro que não queria nada.

Foi uma reação idiota, anormal… culpa da bebida.

Isso, culpa da bebida. Embora naquele dia ele não tivesse tomado um único gole de álcool. 

Foi só uma dança com uma menina bonita e de pele macia.

Esse cheiro delicioso era apenas um perfume.

Essa sua desatenção era apenas tédio.

Se o cheiro dela era tão bom, qual seria o gosto dos seus lábios?

Dessa vez, o controle em suas mãos quase se desmanchou com a força que usou, seus dentes trincaram com força. Maldito pensamento que não saia da sua mente. Droga, mil vezes droga, ele não conseguia parar de pensar nisso. Já não dormia, não conseguia se concentrar e…

— Trunks?

Isso! Ali estava o impedimento que tinha que entrar no seu cérebro derretido. Nunca se deseja a irmã de seu melhor amigo. No caso sobrinha. Mas dava no mesmo. Goten nunca aceitaria! Ele o bateria, o mataria se soubesse o que ele estava pensando e…

— Aí! — gemeu Trunks quando o soco o acertou no ombro. Fitou o melhor amigo. — Por que me bateu? — Não tinha como ele saber de seus pensamentos ridículos. 

— Chamei você quinhentas vezes — Goten explicou com calma.

— Mas precisava me bater?

— Você está olhando para a tela há dez minutos, sem piscar.

— Estamos jogando! — protestou Trunks.

— Eu ganhei faz dez minutos.

Trunks, dessa vez, realmente prestou atenção na tela. Sim, o jogo estava parado. Os bonequinhos lutando eram apenas o do vídeo de entrada. Diabos. Sentiu o rosto totalmente corado. Largou o controle que vinha apertando, para seu horror, o pedaço de plástico simplesmente se desintegrou, virando um monte de poeira em seu colo.

Devagarinho fitou Goten.

O rapaz, muito calmo, com as mãos atrás da cabeça, num gesto que o deixava ainda mais parecido com o pai, sorria malicioso.

— Quer conversar?

Trunks negou com a cabeça. Não havia assunto que não falasse com o melhor amigo, mas esse… esse ele não queria nem mesmo pensar.

— Tem certeza que não quer conversar? — insistiu Goten ainda sorrindo. Dessa vez, em vez de olhar para Trunks, ele olhou para o outro lado da sala, onde as mulheres estavam.

Trunks apertou as mãos no colo.

— Eu… — Não soube o que dizer.

Se não conseguia nem mesmo pensar no assunto, como conversaria com o melhor amigo?

Goten voltou a olhar Trunks, continuava sorrindo.

— Por que em vez de ficar aí remoendo sozinho, você não convida ela pra sair?

Trunks ficou boquiaberto.

— E pare de apertar os dentes, daqui a pouco você vai ficar banguela. E não acho que a Pan vai querer um namorado banguela.

Trunks não sabia o que falar.

— Namorado? Mas…

Diabos, ele mal conseguia pensar em Pan como uma mulher sexy e Goten já vinha com isso? O amigo não devia ser contra?

— Achou que eu bateria em você? Ou que teria um ataque? Ela é grandinha, sabe se defender. Se ela quiser você, tó de boas. Se ela não quiser, pobre de você, porque Bra vai debochar muito!

Goten se escorou no sofá muito à vontade.

Trunks mal conseguia respirar. Seu cérebro tinha dado pane.

— E eu sempre pensei que você era tão inteligente como tia Bulma! — reclamou Goten fazendo bico. Rindo, se escorou no sofá e, para horror de Trunks, gritou: — Pan, o Trunks tá tímido, mas quer te convidar para um encontro amanhã, você topa?

Os risos cessaram no outro lado.

Silêncio total.

Trunks não se animou a olhar para as mulheres. Não queria ver a reação de Bulma, de Bra, de Videl e, principalmente, de Pan. Não sabia o que fazer. Pensou seriamente em sair voando e se esconder. Mas como filho de Vegeta, não podia ter uma reação tão covarde.

— Tá, amanhã pode ser. Mas tenho que voltar cedo, porque tenho treino no outro dia — a resposta tranquila de Pan pegou Trunks de surpresa.

Ele olhou rapidamente para as mulheres, elas tinham voltado ao assunto anterior, como se nada tivesse acontecido. Apenas Bulma deu uma piscada para o filho antes de voltar a conversa anterior.

— Você parece demais com seu pai, Trunks! — comentou Goten. — Tem que ser menos tenso e mais como o meu pai.

Sim, Goku nunca era de se preocupar demais com nada!

Trunks balançou a cabeça, ainda em choque.

— Agora vamos jogar e presta atenção, não quero ganhar de lavada como na outra vez! — disse Goten, entregando outro controle sem fio para Trunks. — E você me deve um controle.

Trunks suspirou. Talvez devesse mesmo ser mais como Goku e se preocupar menos. Relaxou no sofá. Tinha um encontro amanhã. Pensaria nisso só amanhã. Por hora, podia voltar a respirar novamente, sem se preocupar em sentir o cheiro gostoso de Pan. 

Amanhã. As perguntas e respostas ficariam para amanhã.

— Sabe, um dia desses, eu podia convidar Bra pra sair.

Trunks voltou a ficar tenso.

Espera! Goten foi tão tranquilo em relação à sobrinha porque queria sair com sua irmãzinha? Como ele ousava? Que… Trunks sorriu ao se dar conta.

— Ok.

Goten fitou Trunks com o canto do olho.

— Não vai ter um ataque?

— Não, mas…

— Eu sabia que tinha um mas… — resmungou Goten voltando a fazer um bico.

— Eu não me importo, mas acho que você tem que pedir permissão antes.

— Eu falo com ela um dia desses! — Goten ligou o jogo com um sorriso, até que Trunks foi mais tranquilo do que ele previra. Graças a Kami-Sama ele se interessou por Pan, dando a chance a Goten, de finalmente, poder convidar Bra para sair.

— Não com ela… — Trunks se inclinou no sofá, pronto para vencer o amigo no jogo. — Com o pai.

Dessa vez, foi o controle da mão de Goten que quebrou.

— Príncipe Vegeta é super ciumento com a princesinha dele. Acho melhor você usar armadura quando for falar com ele — completou com um grande sorriso. — Vamos jogar ou não, meu amigo?


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Notas finais do capítulo

* Sinestesia é uma figura de linguagem referente a mistura de sentido.


Espero que tenham gostado.
Eu estou feliz pelo simples fato de ter conseguido escrever um conto inteiro.

Obrigada por ler.



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