Nunca é tarde demais.- Drarry escrita por fox1


Capítulo 10
O acampamento arqueológico.


Notas iniciais do capítulo

Bom dia!
Boa leitura.



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 Em cinco minutos, Harry foi buscar o carro e eles dirigiram devagar até a terra gradualmente iluminada.Por fim, o local foi avistado, levemente escuro e silencioso na manhã cinzenta. Eles desceram do carro e foram observá-lo.

      — É um trabalho lento — explicou Draco. — É apenas nessa extremidade que nós desvelamos muito no caminho das fundações. Ali ainda está coberto de grama. Temos de ir devagar para nos certificarmos em preservar o máximo possível em boas condições.

   — Quantas vezes passei a pé ou a cavalo sobre este pedaço de terra e nunca suspeitei? — disse ele.— Parece como outro lugar qualquer, mas agora, se eu tiver sorte, pode ser minha salvação.

      — Em que sentido? — Draco o olhou.

      — Preciso devolver o dinheiro de Ginevra. Quando nos casamos, ela pôs muito dinheiro neste lugar. Agora o quer de volta. É claro que ela tem direito, então tenho de levantar o dinheiro de alguma maneira.

      — Você pode fazer isso?

     — Consegui pagar parte do que devo a ela, o que a está mantendo quieta por um tempo. Mas terei de arranjar uma grande quantia em breve.

      — Parece que as coisas não vão muito bem — comentou Draco.

    — Não estou alegando pobreza — murmurou ele. — Eu vivo bem, como você pode ver. Albus me informou do preço dos seus serviços, e vou pagar porque é um bom investimento. Mas se você puder descobrir um vaso de ouro sólido, preferencialmente de duzentos anos de idade, além de alguma prova que pertenceu a Júlio César, que o recebeu de Cleópatra, eu ficaria muito grato.

     Ele falou numa voz satírica e Draco riu, supondo que não precisava explicar-lhe o quanto tal esperança era distante da realidade. Um momento depois, Harry confirmou isso, dizendo.

      — Está tudo bem. Foi apenas um desejo que me fez falar bobagem.

      — Não é bobagem. Milagres podem acontecer — disse Draco.

      — Eu sei — replicou ele, tão baixinho que Draco quase não escutou.

      — O que foi?

      — Nada — respondeu Harry de modo apressado. — Diga-me, o que é aquilo que vejo ali?Parece um vilarejo inteiro.

      — Nós viajamos com tudo que precisamos. Uma dessas tendas é uma cantina temporária.

      — E aquelas caminhonetes atrás das tendas? — Harry quis saber.

   — Equipamentos, incluindo um gerador portátil, o qual faz funcionar o refrigerador na cantina,assim todos podemos tomar uma cerveja gelada de vez em quando. Independência é tudo quando você trabalha em diversos tipos de lugares, como nós.

     — Isso é uma outra coisa que me recordo sobre você. Sua independência — comentou ele.  — Ser auto-suficiente, e não dever nada a pessoa alguma. Esse era seu lema.

      — Tenho certeza que eu nunca disse isso.

     — Você nunca precisou. Tinha apenas 18 anos, mas mesmo então, mostrava um aspecto muito forte com relação à independência.

      Draco sorriu.

      — Então você provavelmente teve sorte de não se casar comigo. Pessoas auto-suficientes podem ser pessoas difíceis de conviver. Elas freqüentemente sabem como dar, mas não sabem receber, e isso pode ser tão doloroso quanto.

     — Bem, isso talvez proporcionasse uma chance para alguém que sabia apenas receber e nunca deu nada na vida — murmurou ele com um toque de ironia.

      Draco entendeu que ele estava falando sobre Gina, mas antes que pudesse perguntar, Harry acrescentou.

     — Por favor, esqueça o que eu falei. Tomei a decisão de não criticar Gina. Às vezes, é difícil mantê-la, mas ela ainda é a mãe da minha filha.

      — É claro. E quanto ao que você estava dizendo, não tenho certeza que está certo a meu respeito.

       Ele sorriu.

     — Bem, eu sempre me perguntei quão real era sua armadura. Era como se você dissesse a si mesmo para agir de certa maneira, embora eu não entenda motivo. Talvez você se sentisse mais seguro.

     Draco estava prestes a protestar quando se lembrou de seu juramento sobre nunca mais amar ou sentir alguma coisa por alguém com a intensidade que tinha amado Harry. Optara por auto-suficiência então, mas, no fundo, sabia que precisava de um amor para ser completamente feliz.Nunca havia pensado em Harry como um homem receptivo. Na verdade, o oposto disso. Agora,conforme de se revelava para ele, Draco perguntou-se o quão bem o conhecia.

      — Olhe — exclamou ele de repente, apontando a distância.

     A cor cinzenta tinha desaparecido e um brilho estava aparecendo no céu enquanto o sol se preparava para nascer. Entretanto, ainda estava cedo o bastante para uma brisa fria.

      — Eu sempre achei que esta é a hora perfeita do dia — murmurou ele suavemente.

      — Sim.

     Harry estava em pé um pouco atrás dele, e Draco o sentiu colocar as mãos gentilmente sobre seus ombros. Depois disso, nenhum dos dois se moveu, apenas ficaram observando a luz se intensificar aos poucos, até que o sol saiu de trás de uma nuvem e eles tiveram de proteger os olhos contra a claridade.

     — Acho que é melhor voltarmos — disse ele relutantemente.

    No caminho para casa, Draco não falou. Sua visão interior estava cheia da beleza do que tinha visto, e da grande maravilha que tinha sentido.Estava tentando não ouvir a pequena voz de aviso que lhe falara antes. Era mais urgente agora.Vá embora daqui, Draco. Rapidamente. Vá embora antes que seja tarde demais.Contudo, já era tarde demais.

   Assuntos de negócios, tanto de ordem financeira quanto os ligados à propriedade ocuparam Harry durante os próximos dias. Diversas vezes dirigiu para Roma, sempre escolhendo a rota que o fazia passar no local de escavação, fascinado como a área havia se tornado irreconhecível.Algumas vezes, parava ali e pedia que eles lhe mostrassem ao redor de outras tendas, as quais continham mesas com pequenos pedaços de tijolos e argila que haviam sido removidos.Ele chegou um dia na hora do almoço, vindo da cidade, e viu Draco, conversando com Gregório.Entrando, encontrou o ar agradavelmente frio, cortesia do sistema importado de uma das caminhonetes do ar-condicionado portátil.

      — É como um exército em movimento — comentou ele.

      — Isso se deve a Katie — disse Draco.

       Katie olhou para cima e sorriu.

       — Logística. O segredo de uma boa campanha.

    — Isso mostra o quanto sou ignorante — murmurou Harry.  — Eu costumava pensar que o trabalho envolveria algumas pessoas com pás de pedreiro.

     — Eu tenho uma pá dessas — disse Vicente, que, a propósito, era o palhaço do grupo.

    — Nós usamos pás também — Draco o informou. — Mas também temos radar, fotografia laser e computadores. Há diversos equipamentos nas caminhonetes.

      Harry viu Scorp em um canto, olhando para a tela de um laptop e digitando alguma coisa com facilidade, enquanto conversava com Lilían, que prestava atenção a cada palavra do garoto. Ele os observou com satisfação e trocou um olhar com Draco.

      — Obrigado — murmurou ele com sinceridade. — É exatamente o que minha filha precisa no momento.

      — Acho que Lilían está dando a Scorp algo que ele precisa, também — respondeu ele com um sorriso.

     — Sim, imagino que ser adorado como um herói deve ser muito gratificante quando você tem dez anos de idade — concordou ele, sorrindo também.

    Então, casualmente andou até as crianças, olhando para a tela, fazendo perguntas sobre o que via ali. Scorp respondeu alegremente, e mesmo Lilían, Draco ficou feliz ao notar, deu ao pai um pequeno sorriso. Quando Harry falou diretamente com ela, a menina começou a explicar-lhe alguma coisa. Satisfeito por ele, Draco se aproximou.

      — Você está realmente aprendendo rápido sobre isso — Harry estava dizendo para a filha.

     — Draco diz que sou boa nisso — respondeu Lilían com entusiasmo.

     — Ela é — confirmou Draco. — Nunca precisa ouvir uma explicação pela segunda vez.

      — Garota inteligente. — Harry sorriu para a filha.

     Ela sorriu de volta e, pela primeira vez, não houve traço de tensão no pequeno rostinho.Silenciosamente, Draco orou  para que as coisas continuassem assim para Harry.Alguma coisa o estava direcionando para que fizesse tudo certo. Ele apontou para a tela, declarou-se confuso e implorou por esclarecimento. Lilían ficou feliz em poder explicar, até que se atrapalhou.

      — Não... espere... Scorp, esta é a palavra certa? — perguntou ela.

     — Não, você quer dizer... Espere. — O celular de Scorp estava tocando. Pegando-o, ele sorriu para alguma coisa que apareceu na tela. — É minha mãe — informou a todos. — Ele me manda piadas ruins por mensagem de texto, e, minha nossa, esta é uma piada realmente sem graça! Na verdade, minha mãe pode pensar nas piores piadas do que qualquer ser humano do mundo.

      — Eu acho que posso criar algumas — disse Harry rapidamente.

      __Não! Mamãe é a campeã de piadas tolas. Acho que até mesmo tem um diploma no assunto.Olhem isso!

      — O que significa? — Lilían perguntou, espiando as palavras em inglês.

      Ele explicou, mas ela continuou confusa.

      — Acho que alguma coisa foi perdida na tradução — murmurou Harry, tocando-lhe o ombro de leve.

   — Esse é o problema com as piadas muito ruins — disse Scorp solenemente. — Quando você tenta explicar, elas se tornam incompreensíveis.

    — Tenho certeza que você pode pensar numa pior para mandar de volta — observou Draco. —Afinal de contas, ela pode ser a mestra de piadas ruins, mas você não é filho dela por acaso.

    — Pode apostar! Scorp começou a digitar com dedos hábeis, então, de modo triunfante, transmitiu o texto. A resposta veio momentos depois e o fez contorcer-se de tanto rir.— Essa é a pior piada de todas — disse ele.

      — Não permita que ela ganhe — aconselhou Draco. — Você pode derrotá-la.

     Ele o fez, recebendo uma resposta quase instantaneamente. Os outros se aproximaram, dando sugestões cada vez mais tolas, até obterem uma piada tão ridiculamente tola, e todos estavam rindo.Todos, exceto Lilían. Em algum momento, ela tinha visto o contraste entre a experiência de Scorp e seu próprio celular silencioso. O rosto dela contraiu-se, como se estivesse lutando contra as lágrimas.

     Draco encontrou os olhos de Harry, sinalizando-lhe uma mensagem frenética. Ele tentou puxara filha para si, mas ela afastou-se com total hostilidade. No momento seguinte, saiu correndo da tenda. Harry começou a segui-la, mas Draco meneou a cabeça e ele parou. Confiando instintivamente em seu velho amigo, deixou que ele fosse procurar Lilían.

      A garotinha estava do lado de fora, no local da escavação, sentada com as costas apoiadas num muro baixo que tinha acabado de ser cavado. Os pequenos braços envolviam os joelhos e a cabeça descansava sobre eles numa atitude de desespero silencioso. Draco pulou no buraco e sentou-se a seu lado, tocando-lhe o braço levemente.

      — Sinto muito que isso a chateou — disse ele.

     — Não me chateou realmente — respondeu Lilían de modo desafiante. — Apenas me fez lembrar o quanto sinto falta de minha mãe. Ela ligou esta manhã, para me dizer o quanto me ama e como planeja a nossa fuga. Será muito em breve, mas você não vai contar para papai, vai?

    — Não, eu não contarei a ele — prometeu Draco suavemente.Não haveria necessidade, pensou ele, percebendo que Harry se aproximava e parava fora de visão.

      — Porque se ele souber, vai tentar me impedir. — A voz de Lilían era trêmula.

      — Talvez porque ele ame você — sugeriu Draco. — Eu acho que ele a ama tanto que não pode suportar a idéia de ficar sem você. Já pensou nisso alguma vez?

      Lilían meneou a cabeça vigorosamente.

      — Bem, talvez você deva. Afinal, pense em como ele deve ser solitário! Você é tudo que ele tem agora. Como pode pensar em abandoná-lo sozinho neste lugar enorme?

     Por um momento, Lilían pareceu considerar, a expressão se tornando mais suave, mas então murmurou:— Mas papai fez mamãe e o pequeno James irem embora. Por que ele faria isso se ia se sentir solitário?

      — Eu não acho que tenha sido bem assim. Talvez você deva conversar com ele e perguntar-lhe o que realmente aconteceu.

       — Mas eu tento conversar com ele. Meu pai me interrompe e não me conta nada direito, então eu sei que está mentindo.

     — Ele não está mentindo — disse Draco. — Há apenas algumas coisas que seu pai tem dificuldade de falar. Precisa que você o ajude e cuide dele.

      — Cuidar de papai? — Lilían falou em tom de descrença. — Ele não precisa dos cuidados de ninguém.

      — Oh, se você soubesse o quanto está errada.

      Lilían levantou-se.

      — Eu não estou, não estou! Eu odeio você e odeio papai. Odeio todo mundo, mas acima de tudo,papai. Eu o odeio, eu o odeio!

     Ela escalou o buraco e saiu correndo. Scorp saiu da tenda e começou a correr atrás dela.

      — Não com esse calor! — gritou Draco.

      — Está tudo bem. — Era Gregório, indo para a caminhonete mais próxima. — Eu vou alcançá-los elevá-los para casa.

      — Obrigado, Greg. — Draco aproximou-se da entrada da tenda. — Hora do almoço, voltem todos para casa.

    E esperou que eles aceitassem a sugestão. No próximo momento, os carros estavam partindo em direção a casa, deixando-o sozinho com Harry.Ele tinha caminhado um pouco para frente, parando embaixo da sombra de uma árvore, de costas para Draco. 

     Draco podia imaginar a agonia que ele devia estar sentindo. Ouvir a criança que amava mais que tudo no mundo falar que o odiava. Poderia haver uma dor maior?Sentindo pena dele, aproximou-se e lhe tocou o ombro com gentileza.

      — Isso não significa nada, Harry.  Todas as crianças dizem essas coisas, às vezes.

      — Sim — respondeu ele sem se virar. — Elas dizem em explosões de raiva sobre coisas triviais,mas isso não foi trivial. O coração de Lilían está despedaçado e ela foi sincera em cada palavra.

     Então Harry virou-se e Draco pôde ver claramente que tinha chorado. Tentava esconder isso,mas as lágrimas ainda molhavam-lhe o rosto.

      — Obrigado pelo que você tentou fazer — murmurou ele com voz emocionada.

     — Você sabe que eu o ajudarei de toda maneira que puder, Harry, mas não entendo. De onde Lilían tirou essa fixação?

     — Quando Gina partiu, Lilían viu a mãe saindo e desceu a escada correndo, tentando segurá-la. Gina disse que a mandaria buscar depois e entrou no carro. Lilían tentou entrar com ela, e foi quando eu a segurei, tentando impedir que se machucasse.

      — Então essa é a origem da história que você a está mantendo afastada de Gina? — concluiu Draco.

     — Sim. Nem tenho mais certeza se ela se lembra da realidade ainda. Sou o monstro que a tirou dos braços da mãe, e ela repetiu isso a si mesma com tanta freqüência que se tornou um "fato". — Harry suspirou. — Gina nunca mandou buscá-la e esta é a única maneira que minha filha pode lidar com a situação.

     — Vou conversar com ela novamente quando tiver se acalmado — prometeu Draco. — Ou talvez eu de tal tarefa a Scorp. Ela pode ouvi-lo.

      Harry tentou sorrir e falar normalmente.

    — Tenho sorte de ter vocês dois aqui, porque sem vocês, eu não... — Mas era demais para ele. —O que eu vou fazer? — sussurrou. — Ajude-me, Draco. Eu não tenho mais ninguém para recorrer.Ajude-me!

     Draco pôs os braços em volta dele, abraçando-o para consolá-lo, e sentindo-o apertá-lo com força,desesperado.

     — Harry, é claro que eu vou ajudá-lo. Farei tudo que estiver em meu alcance. Vai dar tudo certo, você vai ver. Eu prometo que vai dar tudo certo .


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