Tempo escrita por Lola Royal


Capítulo 1
capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Crepúsculo não me pertence.
Olá! Essa fic faz parte do POSOella, um projeto onde autoras do fandom de Crepúsculo criam fanfics narradas exclusivamente por Bella Swan, em comemoração ao seu aniversário. Esse ano, o desafio foi escrever inspirando-se em 1 dentre 25 citações de alguns dos livros favoritos da Bella.
Confira todas as histórias na página http://bit.ly/POSOnyah ?“ na aba “Favoritas” e “Estou Acompanhando”.

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Espero que curtam, boa leitura! ♥



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Tempo

"Era mera questão de tempo. Os tempos difíceis eram passageiros." (E o vento levou – Margaret Mitchell)

O motorista estacionou o carro na frente do prédio da emissora, o que me fez soltar um longo suspiro, já que com isso tive de pausar a canção que estava escutando. Tirei meus fones de ouvido e os joguei dentro da bolsa, para onde o celular também foi depois de fechar o aplicativo do Spotify.

— Estou com fome, vamos logo — Kate, minha empresária, praticamente implorou.

Estávamos sentadas juntas no banco de trás, enquanto Bree Tanner, minha assistente pessoal ocupava o lugar do carona na frente. O motorista abriu a porta para mim e deixei o carro fazendo cara feia para o Sol forte naquela tarde quente de agosto. Me culpei por esquecer meus óculos escuros em casa, mesmo que precisasse dar apenas alguns passos até a entrada do prédio, eles seriam de muita serventia.

— As pessoas ainda estão falando sobre meu tweet? — perguntei para Bree, quando ela e Kate deixaram o carro, mas a empresária respondeu primeiro:

— Estão, Bella. Ninguém esquece nada tão rápido assim na internet. E você sabe disso. Quantas vezes já pedi para ter cuidado com o que publica nas suas redes sociais? — A mulher, alta e loira, não estava nada contente com aquele assunto.

— Foi apenas um tweet — argumentei, caminhando entre as duas. Bree era a mais baixinha de nós três, com longos cabelos pretos presos em um coque sustentado por uma caneta.

— Um tweet falando sobre chorar — Kate resmungou.

— Era uma brincadeira.

Ok, não era uma brincadeira, mas as pessoas não deveriam levar tudo tão a sério como levaram o que publiquei no Twitter algumas horas antes.

“@leahclearwater volta para Los Angeles logo que tô precisando chorar no colo da minha melhor amiga!”

A questão era, meu divórcio estava completando quatro meses naquele dia, sendo assim todo mundo estava ligando os pontos e deduzindo — corretamente — que eu estava sofrendo por conta disso. Era verdade, acordei aquela manhã e logo chorei por conta do meu casamento fracassado, desejando que minha melhor amiga estivesse na cidade para me consolar.

O grande problema era que todos na internet resolveram falar sobre meu tweet, alguns me apoiando, outros falando que eu era drámatica e mimada, que precisava parar de ficar remoendo o divórcio. 

Deletei o tweet, me sentindo uma idiota por ter postado ele para começo de conversa. Cresci sob olhares da imprensa e do público, deveria saber que esperavam qualquer deslize de pessoas famosas para julgá-los. Só que mesmo eu, às vezes, cometia erros e falava em público sobre assuntos que não deveria, como aquele tweet, que deveria ser apenas uma mulher desabafando em uma rede social sobre querer sua melhor amiga perto de si em um momento difícil.

Era para ser uma risada durante um momento caótico, não levar mais complicações para o caos.

— Uma brincadeira que trouxe dor de cabeça — Kate indicou que eu passasse primeiro pela porta. — Juro, Bella, você vai fazer minha terapeuta comprar cinco casas com o tanto que gasto lá para desabafar sobre trabalho.

Isso me fez rir, Kate poderia ser bem dura comigo algumas vezes, mas sabia que era alguém que podia confiar. Administrava minha carreira há dez anos e nunca tive problemas com ela, pelo contrário, a mulher era uma das primeiras pessoas a quem eu recorria para me ajudar a passar por adversidades.

— Olá! — Nós fomos abordadas por uma mulher de cabelos rosas, que se apresentou como Maggie, produtora do programa que eu iria gravar naquela tarde.

Maggie nos levou até meu camarim, que para felicidade de Kate estava abastecido com comida. Isto era óbvio, afinal o programa era justamente sobre culinária.

— Não, valeu, estou sem fome — falei quando Bree me ofereceu algumas frutas vermelhas. Minhas favoritas, o pessoal da produção do Cozinhando com Edward Cullen tinham sido bem atenciosos com aquilo, ou eu apenas era muito básica e gostava das frutas que a maioria das pessoas gostavam.

Me olhei no grande espelho do camarim, Maggie tinha nos deixado ali e avisado que logo maquiador e cabeleireira apareceriam para me preparar para a gravação do programa. O figurino tinha sido decidido com a equipe deles e a minha, já estava ali pendurado numa arara, protegido por uma capa.

Desfiz o rabo de cavalo alto que estava usando, meus cabelos eram longos e castanhos escuros, mais ondulados alguns dias do que em outros. Meus olhos também eram castanhos, idênticos aos do meu pai, minha mãe toda vez falava como ele e eu tínhamos olhos que faziam ela pensar em chocolate ao leite. 

Os olhos azuis dela, eram do tom exato do céu em uma manhã sem nuvens, segundo meu pai. Eles estavam casados por mais de trinta anos e continuavam trocando aquele tipo de palavras doces, que me faziam suspirar e choramingar, pensando que nunca tinha sido amada por alguém daquela forma e não seria no futuro.

Alguns dias atrás, quando conversei sobre aquilo com meu pai, ouvi em resposta dele a seguinte frase:

Você não ter tido filhos com Mike não significa que não foi amada por ele, Bells.

Papai afagou meu rosto e completou:

Eu acho sim que ele te amou muito, ter mudado de ideia sobre querer ou não ser pai não é sobre você, meu bem, é sobre ele. E não compactuo com o pensamento de que só há um grande amor em nossa vida, você não pode ficar pensando de que nunca mais irá amar, ou ser amada, com certeza irá conhecer outros homens que irão balançar seu coração.

Quando? — eu perguntei para papai, respirando fundo e encarando a xícara de chá que o escritor tinha preparado para mim. — Tem meses desde que ele e eu nos separamos, quase quatro da assinatura do divórcio e eu continuo sofrendo.

Eu estava relendo E o Vento Levou outro dia, há um trecho lá que diz: Era uma mera questão de tempo. Os tempos dificeis eram passageiros. — Papai ergueu meu rosto ao terminar a citação, fazendo com que olhasse para ele. 

E o Vento Levou é tão racista, papai — foi o que falei em resposta, fazendo ele rir e concordar.

Sim, é terrível, mas concordo com a passagem em questão. Sei que você ainda está triste pelo fim do seu casamento, mas essa dor não será eterna.

Sentei na cadeira diante ao espelho do camarim, percorrendo os dedos por meus cabelos e analisando meu rosto. Eu tinha feito uma rápida maquiagem antes de sair de casa, rímel, corretivo e batom vermelho, meu favorito. Estava usando uma camisa xadrez, nas cores bege, branca e marrom, calça jeans clara e tênis brancos nos pés.

Fiquei ali, sentada naquela cadeira, encarando a mim mesma pelo espelho por alguns segundos, até a porta do camarim se abrir e um grito soar pelo local:

— Bella, você chegou!

Eu sorri, vendo o reflexo de Liz no espelho. Nós duas atuavamos juntas na série As Viajantes, minha personagem era mãe da personagem dela. Liz era Elizabeth Denali Cullen, uma garota de 15 anos, seus cabelos eram pretos e atingiam o meio de suas costas, olhos azuis e dona de um sorriso contagiante.

Ela era uma excelente atriz, e não era uma adolescente chata — ao menos não na maior parte do tempo —, gostava dela como se fosse a irmã mais nova que não tinha. Já estavamos gravando a segunda temporada da série, então nossa amizade estava ainda mais próxima, mesmo com a diferença de idade entre os 15 anos dela e meus 32.

— Oi, oi! — Liz se aproximou mais de mim, eu levantei e nos abraçamos. — Estou tão animada, vamos nos divertir muito — a adolescente falou ainda me apertando em um abraço.

— Também estou animada, mas com medo de colocar fogo no estúdio — brinquei, Liz riu e me soltou.

— Não se preocupa, meu pai não vai deixar você incendiar o lugar.

Edward Cullen, o chef apresentador do programa, era pai da Liz. Um homem por volta dos seus 40 e chef de cozinha bom pra caramba, adorava o restaurante italiano que ele tinha na cidade.

Liz e eu gravariamos um episódio do programa que iria ao ar no próximo mês, na época do lançamento da segunda temporada da nossa série. Nós duas davamos várias entrevistas juntas como forma de divulgação de As Viajantes, e o programa do pai dela seria uma ótima forma de atrair mais visibilidade para nosso trabalho.

— Oi, Bella! — Alice Cullen, tia e empresária de Elizabeth, se aproximou também. Notei só ali que o pessoal que cuidaria do meu visual para a gravação já estava no camarim.

— Oi, tudo bem? — falei com a mulher.

Alice era muito legal e uma empresária menos estressada do que a minha, eu vivia brincando com Kate que iria demitir ela e contratar a tia de Liz.

— Tudo ótimo, mas preciso levar essa mocinha de volta para o camarim dela agora. Vocês precisam se arrumar para não atrasar o início das gravações, meu irmão é muito gente boa, mas odeia atrasos.

— Ele é um chato com horários — Liz reclamou.

— Vou contar para ele que você está o chamando de chato, garotinha — Alice provocou a sobrinha, que revirou seus olhos para a tia.

— Ok, até daqui a pouco, Bella — Liz resmungou, me deu mais um abraço e saiu do camarim com sua tia.

— Você também precisa se arrumar, Bella — Kate falou de boca cheia. — E espero que realmente não coloque fogo no estúdio.

— Cozinho melhor do que você!

— Qualquer um cozinha melhor do que eu, Bella. Por isso sou empresária e uma das boas. — Piscou para mim.

X

Já estava pronta, ainda no camarim, esperando chamarem por mim, quando Edward Cullen apareceu ali. Bateu na porta que Bree abriu, deixando o apresentador do programa entrar.

Edward era um homem muito alto, olhos verdes e cabelos ruivos ondulados que chegavam abaixo de suas orelhas. O chef de cozinha também tinha barba, nada exagerada, mas também não muito rala.

Naquele dia o homem estava usando dólmã e calças brancas, impondo pelo seu visual sua posição no programa. Não era apenas um apresentador que cozinhava, era de fato um chef, que tinha estudado nas melhores escolas de culinária do mundo e tudo. 

Isso todos sabiam, o Cullen era filho mais velho de duas figuras muito conhecidas em Hollywood. Como eu, ele também tinha nascido em uma família influente em Los Angeles, seu pai era um reconhecido diretor e sua mãe uma das atrizes mais premiadas de todos os tempos.

— Edward, oi! — Acenei para ele, que sorriu para mim.

Não era a primeira vez que nos víamos, eu tinha o conhecido logo que Liz foi escalada para o papel de Grace na série. E apesar dele ser bem ocupado e não agenciar a carreira da filha, ele sempre estava por perto dela e como eu tinha me aproximado muito de Elizabeth, o caminho dele e o meu acabavam se cruzando.

— Oi, oi — falou com Bree e Kate, depois andou para mais perto de mim. — Seja bem-vinda, não coloque fogo na minha cozinha — disse em um tom de voz bem humorado, isso me fez rir.

— Você e a Liz não confiam nos meus dotes culinários.

— Para ser justo, eu só confio nos meus dotes culinários. — Piscou para mim e ok, foi impossível não corar com aquele homem me lançando uma piscadela.

Sim, eu ainda estava de luto pelo meu casamento fracassado, mas precisava ser franca com o universo… Edward Cullen era muito bonito e charmoso.

— Mais alguns minutos e a produtora vem te chamar — ele falou antes que eu pudesse me recuperar do impacto de um simples piscar de olho. — Mas queria conversar com você sobre algo. — Diminuiu o tom da sua voz. — A equipe do programa já falou com a sua sobre perguntas proibidas, mas se você quiser adicionar alguma pode me falar agora, sem problemas.

— Hum, não, está tudo bem, só aquelas mesmo. Quer dizer, apenas uma, não quero responder sobre nada envolvendo meu casamento, ou o divórcio.

— Beleza, nada sobre esse assunto. — Assentiu e tirou seu celular do bolso da dólmã. — Agora podemos tirar uma foto? Sempre infernizo os convidados no camarim e publico a foto do momento no dia anterior do programa ir ao ar.

— Ah, eu jurava que era a única recebendo uma visita sua — brinquei e ele deu um sorriso gigantesco.

— Se você quiser…

— Papai você está aqui! — o grito de Liz interrompeu o que Edward iria falar, a garota entrou no camarim saltitante e também já pronta para a gravação.

Ela estava usando uma calça wide jeans lilás, com um tricô listrado lilás de manga comprida. Meias de hot dog cinza e tênis branco tratorado. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo bem ondulado e alto.

— Bella, você está tão linda! — exclamou para mim.

Nisso precisava concordar, me sentia mesmo bonita. Meu look era composto por uma camisa branca que ia até o meio da coxa, que fazia o papel de um vestido com um pulôver de tricô na cor areia. Uma bota branca de cano médio e sola tratora. Meus cabelos estavam bem lisos e soltos.

— A Bella não está linda, papai? — Liz questionou Edward, ele nem teve tempo de abrir a boca, uma produtora do programa apareceu e avisou que tínhamos que começar a ir para o estúdio.

— Valeu, Anna, estamos indo — Edward respondeu pela gente. — Antes disso. — Apontou de Liz para mim. — Nossa foto!

Nos posicionamos e Edward tirou uma selfie de nós três, logo todo mundo deixou meu camarim e começamos a ir para o estúdio. Estávamos no caminho até lá quando o chef disse para mim, falando baixo para que ninguém mais escutasse.

— Você está mesmo muito linda, Bella. Falando isso de forma bem respeitosa. — Mais um sorriso e eu apertei meus lábios, controlando a vontade de sorrir de volta.

Eu queria que a dor pelo casamento ter dado errado fosse embora, queria me recuperar 100% por ter passado cinco anos com um homem, achando que iríamos ter filhos e ser um família, para que um belo dia ele dissesse que tinha mudado de ideia e não queria ser pai. Sim, eu queria tudo isso. Porém, ao mesmo tempo, não parecia certo flertar com Edward, ou qualquer outro homem, não com meu divórcio ainda sendo algo tão recente.

X

A gravação foi maravilhosa, toda a equipe do programa era incrível e Edward não era apenas um ótimo chef, mas um excelente apresentador também. Ele me deixou muito confortável durante o tempo todo, conduzindo a entrevista com Liz e eu de forma divertida, talvez ter a filha dele ali o ajudasse a ser mais relaxado, mas pelos outros episódios do programa que já tinha assistido sabia que o Cullen era realmente bom no que fazia.

Nós fizemos pizzas, Edward tinha feito parte da sua formação na Itália e minha avó paterna era italiana, dessa forma, pareceu o certo. Além do mais, pizza era a melhor comida salgada do mundo, sem dúvidas.

Cada um de nós três fez seu sabor favorito, Liz já era muito boa na cozinha como o pai dela, então eu recebi muita ajuda dos dois. Também fizemos tiramisú para sobremesa e tudo ficou delicioso, nada pegou fogo também, o que foi ótimo.

— Foi tão legal! — exclamei para Edward e Liz assim que as gravações acabaram e estavam tirando nossos microfones.

— Vamos jantar com parte da equipe no meu restaurante, você, Kate e Bree estão convidadas — Edward falou, tirando sua dólmã, por baixo dela estava usando uma camiseta branca.

A ideia foi tentadora, apesar de termos experimentado tudo que cozinhamos, não era como se tivessemos jantado de verdade.

— Ainda preciso resolver algumas coisas por aqui, então estaremos todos lá daqui duas horas — ele completou. — Você pode ir em casa trocar de roupas se quiser, não que tenha qualquer problema com sua roupa de agora — se apressou em dizer, seu olhar rapidamente percorrendo por minhas pernas nuas, vi Liz colocar uma mão na frente do rosto, escondendo um sorrisinho.

Elizabeth era uma adolescente muito sonhadora, uma das primeiras coisas que falou para mim depois que assinei o divórcio foi:

Você deveria ir a um encontro com meu pai.

Na ocasião eu ri, em meio a vontade de chorar, e mandei a garota parar de ser boba. Ela parou, mas outras vezes lançava insinuações de que eu deveria sair com o pai dela.

— Hum, acho que vou dar uma passada em casa sim — respondi. — Encontro vocês lá.

— Vou reservar a melhor mesa — Edward prometeu.

X

Vinte pessoas ocupavam uma mesa grande no restaurante Per Liz, o nome do local era uma clara homenagem de Edward para sua filha. Ele tinha inaugurado o Per Liz ali de Los Angeles um ano depois de Elizabeth nascer, outras unidades do restaurante podiam ser visitadas em New York, Chicago, Seattle e Miami.

— Meu Deus, eu também odeio! — exclamei rindo, talvez muito mais alto do que deveria já que estava tomando vinho, quando Edward contou o quanto detestava o filme A Freira.

Durante as gravações tínhamos descoberto que adorávamos filmes de terror e no jantar falamos sobre aquele, um dos piores que ambos já tínhamos assistido.

— Eu fiquei morrendo de vontade de sair no meio da sessão — ele falou rindo também, se servindo com mais vinho. Várias conversas permeavam as pessoas sentadas aquela mesa, mas era com Edward e Liz que eu mais estava conversando naquela noite. A garota estava sentada ao meu lado, enquanto seu pai diante de mim, com sua irmã junto de si. — Mas fiquei com medo das pessoas acharem que eu estava saindo por estar com medo. — Indicou a garrafa de vinho, eu estiquei minha taça, deixando com que ele colocasse mais da bebida para mim.

— Sorte que assisti esse em casa, pude ficar gritando para a TV, meu marido… — Me calei na hora, notando que tinha acabado de me referir a Mike como se ainda fosse meu marido, não meu ex.

Desviei o olhar para a taça de vinho, rapidamente bebendo um longo gole. Edward mudou de assunto, perguntando para Liz e eu como estavam indo as gravações, a garota começou a responder, bem empolgada.

Eu me perdi em pensamentos, lembrando com exatidão do dia que assisti A Freira com Mike, como foi uma noite divertida entre nós dois mesmo com o filme horroroso. Sentia falta dele, dos seus abraços, dos seus beijos e toques, da forma como passávamos horas conversando sobre filmes e séries.

Mike era um ator como eu, nos conhecemos por amigos em comuns e depois de cinco meses de namoro casamos. Sempre, desde o primeiro dia, deixei claro como queria ter filhos e ele falava que também queria ser pai.

Porém, em setembro do ano anterior, no meu aniversário, falei que sentia estar na hora de termos nosso primeiro filho. Primeiro Mike concordou, até que dois dias depois ele falou que não queria mais ser pai.

Não sei te explicar, Bella — murmurou com culpa em sua voz. — Só sei que mudei de ideia, não quero mais ter filhos.

Eu fiquei arrasada, por um mês inteiro mal sabia como lidar com aquilo. Até que Leah sugeriu que fizéssemos terapia de casal, Mike no começo relutou, mas acabou topando.

A cada sessão ficava mais óbvio de que ele não queria filhos e o quanto eu queria. A cada noite os beijos e toques diminuíam. E a cada manhã eu sentia que seria o último dia do meu casamento. Até que em uma tarde fria de janeiro isso realmente aconteceu.

Acho que devemos nos divorciar, Bella. Claramente não queremos mais as mesmas coisas para nossos futuros.

Ele foi embora da nossa casa três dias depois. O pedido de divórcio veio de fato em fevereiro e em abril assinamos a documentação.

Alguns dias eu acordava e me sentia culpada por tudo, o sonho de ser mãe era mesmo maior do que minha relação com Mike?

— Espera aí, é a mamãe, vou atender — Liz anunciou, me resgatando de meus pensamentos quando seu celular tocou, ela se levantou e afastou da mesa.

Liz era filha de uma atriz também, Irina Denali. Edward e Irina tinham sido casados por cinco anos e todo mundo sabia que o divórcio deles não rolou nos melhores termos, já que veio depois do chef de cozinha trair a esposa. Então, sim, ele era um ótimo profissional e muito bonito, mas não poderia esquecer de que também era um cara que tinha traido a mulher, na época Liz era bem pequena e tinha apenas dois anos de idade.

O produtor geral do programa, que estava sentado perto de Edward, engatou em uma conversa com o Cullen. Eu continuei concentrada em meu vinho, tentando tirar Mike dos meus pensamentos, até que meu olhar se encontrou com o de Alice.

A mulher sorriu para mim, se curvou um pouco sobre a mesa e falou:

— Advinha com quem terei um encontro semana que vem.

— Não faço ideia.

Eu gostava dela, mas não éramos próximas ao ponto de saber sobre seus interesses amorosos.

— Jasper.

— Whitlock? O produtor de As Viajantes? — perguntei surpresa, ela soltou uma risadinha e concordou com um aceno de cabeça.

— Ele me mandou mensagem mais cedo e convidou, sei que você conhece Jasper desde que trabalharam juntos quando eram mais novos, o que posso esperar dele?

— Ele é um cara muito legal, sempre foi um grande amigo para mim, acho que vocês irão se dar bem — respondi sinceramente. — Só não o leve para comer frutos do mar, ou o cara vai terminar na emergência por conta da alergia dele.

— Não, nem pensar — Alice falou e riu suavemente.

Ela não era fisicamente parecida com seu irmão, era baixinha, dona de cabelos escuros e olhos azuis. Os pais de Edward tinham adotado Alice e Emmett, o outro irmão deles, quando os dois eram crianças e alguns anos mais novos do que o apresentador. Mas apesar de não serem irmãos biológicos, nunca se ouviu falar que eles não se davam bem, pelo contrário. Eram tão próximos que Alice virou empresária de Liz a pedido do irmão, pelo que Elizabeth já tinha me contado Irina e Edward não queriam a garota sendo empresariada por alguém de fora da família, nem mesmo pelos empresários da sua mãe.

— Bella, sobremesa? — Edward perguntou para mim.

— Outro tiramisú! — implorei e ele sorriu para mim, concordando com um aceno de cabeça.

Mais tarde, na saída do restaurante, Edward me abordou com um pacote para levar de tiramisú.

— Para você ter em casa.

— Sério, muito obrigada — agradeci, segurando a embalagem. — O seu tiramisú é um dos melhores que já provei — declarei e naquele instante Edward soltou um sorriso envergonhado.

— Obrigado, fico realmente feliz que tenha gostado.

Liz apareceu, vindo do banheiro de onde tinha acabado de ir.

— Foi tão divertido hoje. — Ela me abraçou. — Te vejo na segunda.

 — Até segunda. — Afaguei o rosto dela quando nosso abraço acabou.

— E vejo o senhor no carro, papai — falou para Edward antes de sair pela porta traseira do restaurante por onde todos nós estávamos saindo.

— Nada de colocar Olivia Rodrigo para tocar, preciso de paz.

Liz riu e saiu dizendo que iria tentar.

— Algum problema com a Olivia, Cullen? — o confrontei rindo.

— Todos quando é só isso que a Liz escuta — ele disse soando exausto por isso, mas sorriu novamente e perguntou. — Quando posso te ver novamente, Bella?

— Hum, acho que no aniversário da Liz no final do mês? — perguntei confusa.

— Estava pensando em antes disso. — Afagou gentilmente meu braço. — Talvez eu pudesse cozinhar para você lá em casa, um jantar, só nós dois. Prometo fazer mais tiramisú.

Franzi o cenho e indaguei:

— Você está me convidando para um encontro?

— Sim. — Ele sorriu mais. — Deu certo? Já estou planejando todo o menu especial para nosso jantar.

Engoli em seco e me afastei um pouco dele, isso fez Edward parar de sorrir na hora.

— Desculpa, Bella — pediu rapidamente, pigarreando e falando com mais seriedade. — Eu deveria ter percebido que…

— Está tudo bem, eu só não me sinto pronta para isso agora — murmurei e indiquei a embalagem de tiramisú que estava carregando. — Muito obrigada, o programa foi incrível e o jantar maravilhoso. Te vejo no aniversário da Liz.

— Claro, até lá — concordou sem insistências.

Forcei um sorriso e deixei o restaurante primeiro, indo para o carro que me levaria para casa. No caminho até lá mandei uma mensagem para Leah.

Bella: Edward Cullen me convidou para um encontro…

Leah: Espero que você esteja me mandando essa mensagem diretamente do banheiro dele depois de dar pra esse gostoso.

Eu ri baixinho ao ler aquilo.

Bella: Não, sequer aceitei o encontro. Sei lá, eu não tô pronta. E ele traiu a esposa, vou querer me envolver com esse tipo de cara?

Leah: Ué, amiga. Ele traiu a ex dele, não você. Eu não vejo motivos para se preocupar com isso, sabe? Não é porque o cara traiu uma ex que vai trair todas as namoradas dele. Além do mais, ele te chamou para um encontro, não te pediu em casamento. Quem sabe ele fosse ser um chato e péssimo de cama, que você nem fosse querer mais ver na sua frente. Ou, poderia ser muito bom com ele. Só que não tem como você saber sem aceitar, esse seu medo de se machucar de novo vai te impedir de viver.

Bella: Ele é pai da Liz, se qualquer coisa entre a gente desse errado, mesmo que um encontro, poderia ficar um clima estranho entre nós duas.

Leah: Sei que você adora a Liz, que tem algum nível de cuidado e amizade entre vocês duas, mas ela ainda é em primeiro lugar sua colega de trabalho, né? Você não pode se privar de viver pensando nela, ou em qualquer outra pessoa. Se eu fosse você aceitava o encontro, mas sem deixar ela saber, via como é com Edward e só depois pensava nessas preocupações que estão te afligindo.

Suspirei, mas não respondi mais Leah naquele instante. Não sabia o que dizer, estava confusa. Eu com certeza achava Edward atraente e legal, mas também não era como se estivesse louca para ficar com ele. Só que também entendia o ponto de vista da minha amiga, eu estava completamente fechada desde que meu casamento acabou e se isso continuassem assim sabe-se lá até quando aquele luto não perduraria.

X

Minha personagem em As Viajantes se chamava Francesca, uma mulher de 32 anos que viajava no tempo do século XVIII para o século XXI ao lado de Grace, sua filha. Eu adorava a série, desde a primeira vez que li o roteiro, amava ainda mais o clima de amizade nos bastidores, como naquela manhã de segunda-feira.

Liz e eu estávamos no mesmo camarim, cantando Olivia Rodrigo juntas enquanto faziam nossas maquiagens e gravações para as filmagens daquela manhã. Jasper estava ali com a gente, como produtor executivo sempre visitava as gravações e iria as acompanhar aquele dia.

— Ei, será que sua mãe participaria da série? Uma cena, algo engraçadinho — Jasper falou comigo, atrapalhando nossa cantoria.

— Mamãe é modelo, não atriz, e agora uma empresária com a linha de cosméticos dela, duvido muito que ela vá topar atuar em algo.

— Mesmo por você?

— Sim, mesmo por mim. — Soltei uma risada. — Mas posso falar com ela, só me manda a ideia do que tem em mente para ela depois.

— Beleza, valeu, Bella! — agradeceu e levantou da cadeira onde estava. — Vou ir falar com o Caius, já falo com vocês de novo, garotas.

Caius era o ator que dava vida ao meu par romântico na série, ao menos um deles, já que Francesca vivia em meio a um triângulo amoroso. O outro ator era Garrett Hunter, o grande crush de Kate, não que ela admitisse isso em voz alta.

As gravações durante toda a manhã foram tranquilas, quase não tivemos de repetir nada e logo Liz e eu estávamos almoçando juntas, aproveitando para repassarmos falas das cenas que iríamos gravar após o almoço.

— Eu estava pensando — ela falou de boca cheia, durante uma pausa na leitura do roteiro. — Você se divertiu muito gravando o programa do meu pai na sexta, não foi?

— Sim, foi bem legal — confirmei e dei uma generosa mordida no meu sanduíche.

— Ele pareceu gostar muito de você — Liz falou com empolgação na voz.

Não respondi, pensando se Edward tinha dito para Liz sobre me convidar para um encontro. Isso era o que temia, ela ficar torcendo por nós dois e no final não dar certo, não queria ser a responsável por ferir os sentimentos da garota. Aquilo só me fez ter certeza de que não deveria aceitar sair com o Cullen, bagunçaria ainda mais minha vida já muito confusa.

— Vamos voltar para o roteiro — pedi para Liz, que ficou chateada com a mudança de assunto, mas não persistiu.

Minutos depois, antes de voltarmos a sermos maquiadas e penteadas para as gravações, eu estava sozinha no camarim mexendo no Instagram quando vi que Mike tinha postado uma foto. Não apenas dele, meu ex-marido estava ao lado de uma mulher de cabelos loiros escuros, os dois se beijavam e a legenda dizia:

“Meu novo amor.”

O nome dela, pela marcação na foto era Jessica Stanley. Em choque com aquilo, entrei no perfil dela e vi que a mulher era uma fotógrafa. Ela também tinha postado a mesma foto que Mike, a legenda tinha apenas vários corações e o nome dele.

Nos comentários, no perfil dos dois, parte dos fãs de Mike comemoravam que ele tinha uma nova namorada. Outros fãs, aqueles que gostavam dele e de mim como um casal, se lamentavam por meu ex estar com alguém.

Eu… Bom, eu quis chorar. Mas precisava trabalhar, não podia deixar aquilo atingir as gravações.

X

Mamãe me serviu com uma xícara de chá, enquanto beberia praticamente um balde de café.

— Não é saudável o tanto que você consome de café, mãe — falei, ela revirou seus olhos e beliscou minha bochecha.

— Cuide da sua saúde, coisinha.

Eu sorri para o apelido, desde sempre ela me chamava daquele jeito. Alguns achavam ser um apelido nada fofo, mas para mim era o melhor de todos, sempre me senti muito amada por meus pais. Eles com certeza eram os melhores do mundo.

— Não estou cuidando? Temos aulas de yoga ao menos uma vez por semana. — Era por isso que eu estava na casa dos meus pais naquela manhã de quarta, nós duas tínhamos acabado de ter uma aula de yoga no quintal da mansão onde cresci.

Meu pai estava trancado em seu escritório no segundo andar escrevendo seu próximo livro, o homem era uma máquina e lançava ao menos um por ano. Seu gênero principal era terror, depois ficção científica. Todos os livros dele já tinham sido adaptados para o cinema ou tv, eu participei de dois filmes quando mais nova, e papai disse que seria a atriz perfeita para interpretar nas telonas a protagonista do livro que ele estava escrevendo no momento, mas só nos deixava ler qualquer coisa quando terminava de escrever.

— Você adora as aulas de yoga — mamãe disse, percorrendo uma mão por seus cabelos pintados de loiros, que naturalmente eram castanhos como os meus.

— Eu gosto de compartilhar momentos com você, a yoga é só um sacrifício — falei, fazendo com que minha mãe risse.

— Você fumava maconha com o seu pai, mas yoga comigo é um sacrifício? —  alfinetou, isso me fez gargalhar, ela revirou seus olhos.

Sim, eu já tinha fumado maconha com meu pai algumas vezes, mas tinha parado com isso. Ele, por outro lado, continuava fumando e mandava a gente parar de fiscalizar a vida dele se pegávamos no seu pé por isso.

— Não fumo mais, não jogue meu passado em mim. — Tomei um pouco do meu chá. — Ficaria muito bom com um tiramisú — observei, gesticulando para a bebida.

— Um doce feito com café, sua coisinha hipócrita — ela brincou. — Me diga, sem palhaçadas agora, como você está? Não acredito que aquele merdinha está namorando outra.

— Mãe!

— O quê?

— Não chama o Mike assim.

— Como eu deveria chamar um cara escroto como ele?

— Mamãe, o Mike nunca me tratou mal, ele ter mudado de ideia sobre o futuro não te dá direito de falar dele dessa forma.

— Ele partiu o coração da minha filha, posso chamar o merdinha como quiser.

— Você é impossível. — Bebi mais um pouco do meu chá, também peguei meu celular e tirei uma foto, postando nos stories do Instagram.

“Depois de uma aula de yoga só queria estar bebendo esse chá com um bom tiramisú para acompanhar!”

— Ela é feia — Renée proclamou. — Você é muito mais bonita do que aquela tal Jessica.

— Mãe, sério, para.

— Ok, parei. É sério, como você está?

— Como acha que estou? Nada bem, né? — Dei um sorriso triste. — Ele seguiu em frente, eu ainda tenho sonhos com a assinatura do divórcio. E mesmo divorciada continuo na mesma, ainda sou uma mulher sem filhos.

— Você pode adotar, ou fazer uma in vitro.

— Sei lá, não curto a ideia da in vitro. Adoção, é algo a se considerar, cogitei isso algumas vezes nos últimos meses, mas também é um processo bem demorado. E eu sempre pensei em ser mãe com um cara que amasse ao meu lado para ser o pai do meu filho, não sozinha. Enfim, minha vida é bem legal — ironizei.

— Por isso Mike é um merdinha — mamãe afirmou, bebeu todo seu café de uma vez e se levantou para ir pegar mais.

Meu celular tocou, eu o peguei e vi que tinha recebido uma mensagem. Edward, que tinha meu número por conta de Liz que um dia ficou sem bateria e precisou usar o meu para falar com seu pai, tinha me enviado um print do meu post do chá e complementou.

Edward: Você vai gravar hoje? Se quiser mando tiramisú para você no estúdio.

Bella: Oiii, não tô. Vou gravar só amanhã, estou de folga hoje.

Edward: Beleza, para onde posso mandar? Se você não se importar em compartilhar o endereço.

Edward: Juro, só quero mandar o tiramisú.

— Tá com um sorrisinho bobo no rosto, por quê? — Mamãe voltou  e percebi que eu estava mesmo toda sorridente.

— Nada, tô só falando com o pai da Liz.

— O chef de cozinha bonito?

— Se você acha ele bonito — desconversei.

— Não vem me dizer que você não acha ele bonito, Isabella. O que estão conversando?

— Nada demais, mãe. A gente só tá falando sobre comida.

— Isso é ótimo, pelo menos esse sabe cozinhar, o merdinha não sabia.

— Mamãe!

Ela me ignorou.

— Me conta melhor sobre essa sua conversa com o Edward.

— Ele tá perguntando se eu quero tiramisú, você quer? 

— Claro que quero, manda ele vir almoçar com a gente.

— Nem pensar. — Fiquei de pé. — Vou deitar um pouco no meu antigo quarto, me chama quando o almoço estiver pronto, e irei pedir para Edward mandar o tiramisú.

— Ok, ok — concordou.

Eu subi para meu antigo quarto e voltei a responder Edward.

Bella: Você pode mandar o suficiente para minha mãe, meu pai e eu? Sem querer abusar.

Edward: De boa, estou no restaurante hoje e eu mesmo irei preparar para vocês. Manda aí o endereço.

Enviei o endereço e continuamos a conversar por mais um tempo. Falamos sobre o aniversário de Liz chegando, minhas aulas de yoga e como ele estava pensando em abrir um restaurante na Inglaterra. Infelizmente, a conversa precisou ser interrompida para que ele pudesse trabalhar e eu acabei pegando no sono, dormi serenamente, sonhando com Edward e eu no restaurante dele, mas daquela vez apenas nós dois estávamos lá.

X

O aniversário de Liz estava sendo realizado na mansão da mãe dela, a adolescente se revezava entre a casa de Irina e a de Edward. Porém, pelo que Elizabeth tinha contado, a de Irina era bem maior e perfeita para a festa.

— Ei, tá sendo bem servida? — Irina perguntou para mim enquanto eu tirava selfies com a decoração, já tinha bebido uma taça de vinho e outra, comido algo e dançado um pouco com meus colegas de elenco que estavam todos ali.

— Sim, está tudo perfeito, Irina — declarei para a mulher. Liz parecia muito com ela, mas a mãe dela, assim como a minha, agora pintava seus cabelos de loiro.

— Graças a Deus — Irina falou e riu um pouco. — Liz ama festas de aniversário, mas a coitadinha sempre fica muito nervosa temendo que algo dê errado. Mas todo mundo parece mesmo estar se divertindo.

— Sim, está tudo realmente perfeito. E sua casa é linda.

— Vamos reformar em outubro — contou animada. — Aumentar a piscina, fazer um cinema novo, investir mais na área de lazer, sabe? O bom é que o irmão do Laurent é arquiteto, assim temos alguém de confiança pra ajudar a gente nessa. — Laurent era marido de Irina, cantor e ator. Mas, era muito melhor cantando do que atuando, não que eu fosse falar isso na cara dele, ou na da esposa do homem.

— Irina. — Edward apareceu perto da gente. — A Liz tá te procurando para vocês tirarem umas fotos.

— Beleza, tô indo lá. Até mais, Bella! — Ela se afastou, desaparecendo entre os muitos convidados lotando o quintal da mansão.

— Gostando da festa? — Edward me perguntou.

— Sim, tudo maravilhoso. Inclusive a comida.

Ele sorriu.

— Agradecido, está mesmo ótima. Vou pedir o contato de quem está fornecendo.

— Bobo. — Ele sorriu mais.

Nós tínhamos trocado mais algumas mensagens nos últimos dias, desde que ele mandou tiramisú para meus pais e eu. Nenhuma conversa picante, ou qualquer coisa do tipo como Leah pensou que estivesse rolando quando contei sobre para ela. Apenas falávamos sobre programas de tv que gostávamos, filmes, ele me sugeria seus restaurantes favoritos em outras cidades ao redor do mundo e me mimou outras duas vezes com mais sobremesas do seu restaurante.

Ok, de certa forma estávamos flertando. Eu sabia disso, mas não queria pensar muito sobre, pois corria o risco de assustar meu cérebro pensando muito a respeito daquilo.

— Escuta, você sabe algo sobre esse tal de Chris Lawson? — ele perguntou citando um amigo de Liz, os dois tinham a mesma idade e faziam aulas de tênis no mesmo lugar. 

— O amigo da Liz? O que tem ele? — perguntei fingindo não entender o ponto de Edward. Eu sabia que Chris era a nova paixonite de Liz, mas nada tinha acontecido entre os dois.

— Você sabe de algo, senhorita Swan — falou me analisando atentamente. — E Irina também, porque ela me mandou ficar quieto na minha. Entretanto, eu preciso saber o que a Elizabeth e esse garoto tem. Eles estavam conversando sem parar minutos atrás, cheios de sorrisinhos um para o outro.

— Ela tem 16, não pode ter amigos?

— Sim, apenas amigos. Namorados não, é muito nova pra isso, uma criança — ele praticamente choramigou, achei graça do sofrimento dele. — É sério, Bella. A Liz é muito nova.

— Vai me dizer que você não tinha namoradas aos 16 anos?

Ele bufou, mas respondeu sinceramente.

— Tá, eu tinha.

— Sendo assim só tá sendo, perdão a palavra que irei usar, um idiota com sua filha.

— Eu sei — admitiu. — Não é um dos meus melhores momentos como pai, mas fico com medo dela se machucar.

— Olha, falando como alguém que tem o melhor pai do mundo — me gabei um pouco. — Não adianta nada colocar a Liz em uma redoma de vidro, tá? Isso só vai acabar levando a garota a fazer coisas por suas costas, sendo assim, meu conselho é ter diálogo com a Elizabeth, a orientar e ajudar no que necessário, nunca a proibir de tudo.

— Por isso ela gosta tanto de você — Edward falou. 

— Sim, sou uma ótima mãe na ficção — brinquei, mas senti o amargor tomar conta de mim, pensando que pelo andar da carruagem acabaria sendo apenas mãe na ficção e nunca na vida real.

— Ok, chega de conversa séria e com alto potencial para tristeza — Edward ordenou. — Vamos encher nossa cara de vinho. — Esticou um braço para mim e eu aceitei, seguindo com ele atrás de vinho.

Nós ficamos circulando pela festa juntos, conversando com outros convidados, sozinhos, tiramos fotos com Liz. Até que acabei arrastando ele para a pista de dança quando o Cullen confessou não ter jeito nenhum para dança, estava tocando Pretty Please da Dua Lipa, então não era a melhor música para aulas de dança em par, mas foi divertido ver Edward se esforçar e quando a canção acabou Liz o arrastou para dançar alguma música que não reconheci.

— Não acredito que você fez Edward Cullen dançar — Irina me encontrou quando deixei a pista de dança e falou pasma. — Ele ficou reclamando por dias porque insisti na primeira dança no nosso casamento. 

Peguei uma taça de champanhe da mesa mais próxima e perguntei:

— Ele também pisou nos seus pés? Porque ele pisou nos meus.

— Sim, ele é um péssimo dançarino — se queixou. — Mas parece estar muito afim de você.

Eu engasguei com o champanhe, Irina deu batidinhas em minhas costas.

— Irina, eu não, Edward, não — me enrolei toda pra falar, temendo que ela estivesse com raiva de qualquer aproximação minha com seu ex.

— Relaxa, Bella. Edward e eu nos separamos há mais de uma década, tá tudo bem. E olha, ele não foi o melhor marido do mundo pra mim, com todo o lance da traição, mas ele amadureceu muito e tá um cara bem mais sério agora, talvez seja um ótimo namorado para você.

— Não, ele e eu não temos nada. Somos… Sei lá o que somos!

— Sério, relaxa. — Piscou para mim. — Você divorciou tem pouco tempo, né?

— Sim — confirmei.

— Sei bem como divórcios podem ser complicados e sofridos, passei por isso. Mas meu conselho é que você não se feche, não estou dizendo pra você arranjar um namorado hoje e casar amanhã, mas que se permita conhecer outras pessoas.

— Obrigada pelo conselho, de verdade.

— Ao seu dispor. Agora vou dar conselhos para dois adolescentes que estão de olho em cerveja. — Ela seguiu até dois amigos de Liz que claramente queriam pegar duas garrafas de Budweiser do refrigerador no bar.

Eu segui até o pessoal do elenco de As Viajantes, indo conversar um pouco. De lá também fiquei observando Edward na pista de dança com Liz, depois ela indo dançar com Chris e ele se afastando, ainda que tivesse feito cara feia.

Pedi licença e fui até o chef, que estava se servindo com alguns doces. Meu coração agitado, minha mente lutando contra a decisão que ela mesma tinha tomado.

— Eu topo! — exclamei para Edward, que me olhou confuso.

— O quê?

— Topo um encontro com você.

Os olhos dele brilharam, o que achei bem fofo.

— Tá falando sério?

— Tô sim. Mas você não vai contar pra Liz, tá? Vamos primeiro ver como isso se desenrola e aí a gente pensa em contar pra ela. Fechado? — Estiquei uma mão para selar nosso acordo, ele riu um pouco, mas apertou a minha de volta. A dele era grossa, quente e com algumas marcas de queimadura.

— Parece que somos da máfia e estamos orquestrando um crime juntos. É divertido. Devo servir tiramisú como sobremesa do nosso jantar?

— Deve!

X

Respirei fundo, mais uma vez em um curto espaço de tempo. Também não parava de mexer na pulseira em meu pulso esquerdo, precisando extravasar energia de alguma forma.

Sentada no banco de trás do meu carro, que estava sendo guiado pelo motorista que trabalhava para mim, eu me perguntava se tinha sido uma boa decisão aceitar ter aquele encontro com Edward Cullen. Centenas de questionamentos e temores apavoravam minha cabeça, eu estava quase pedindo para que o motorista me levasse de volta para casa, porém o restinho de coragem em meu corpo não permitiu isso.

Olhei pela janela, vendo Los Angeles passar por mim naquela noite de sexta-feira. O encontro aconteceria seis dias depois do aniversário de Liz, e eu tinha concordado com ele acontecer na casa de Edward, assim seria mais fácil inventar uma desculpa e ir embora se fosse o caso. 

Aquele dia foi a melhor data para nós dois, eu tinha gravado só pela manhã e ele estava de folga de todos seus trabalhos. Liz estava gravando cenas que não seriam filmadas comigo em uma externa, então isso também foi um grande fator para escolhermos nos encontrar naquela sexta-feira, a garota estaria ocupada e poderíamos esconder com mais facilidade o encontro, até porque depois do trabalho ela iria ficar na casa de Irina.

Quando o carro entrou no condomínio em que Edward morava, após nos identificarmos, fiz o contrário de respirar fundo, prendi a respiração por alguns segundos e expirei alto. Minha reação fez o motorista perguntar:

— Tudo bem, senhorita Swan?

— Sim, tudo ótimo. Obrigada por perguntar, Patrick.

O homem continuou dirigindo, até pararmos diante aos portões da mansão de Edward. Patrick nos identificou para o segurança na entrada e pudemos entrar.

Patrick cruzou os portões e logo vi Edward perto do carro, abrindo a porta para que eu pudesse sair. Um sorriso imenso tomou conta do rosto dele e o homem falou:

— Oi, você!

— Oi. — Sorri timidamente, segurando na mão que ele estendeu para mim e por fim deixando o carro, mas antes falei para Patrick que poderia ir, eu entraria em contato quando fosse para ir embora.

Ainda com nossas mãos unidas segui com Edward para o interior da sua casa, sua mansão tinha predominantemente as cores brancas, cinza e preto, mas mesmo assim o lugar não tinha cara de ter saído de páginas de decoração. Parecia mesmo uma casa, com fotos da Liz e da família Cullen em porta-retratos, cheiro de biscoitos, um gato dormindo em uma poltrona…

— Qual o nome dele? — Apontei para o gatinho, era todo branco e parecia tão bonzinho dormindo todo encolhidinho.

— Não se engane com essa pose de bom moço dele — Edward falou, enquanto sua mão praticamente massageava a minha. — Ele é o Google, o gato do meu irmão. Emmett e minha cunhada viajaram, aí o gato fica aqui quando eles estão fora da cidade. Essa ferinha foi expulsa de todos os hotéis para animais de Los Angeles e arredores.

Eu ri daquela história e o jeito como Edward falava do gato como se fosse a personificação do mal em forma de bichinho. O Cullen se aproximou mais de mim, sem soltar minha mão por um segundo que fosse e perguntou:

— Alguém já te falou que sua risada é contagiante?

— Sim — fui sincera em minha resposta. — Meus fãs vivem falando isso.

— Bom, eu acho que irei montar um fã clube seu. — Com a mão livre ele colocou uma mecha de cabelo meu atrás da minha orelha. Eu tinha os deixado soltos e ondulados, fiz minha maquiagem sozinha e ela era bem simples, nada extravagante. Para vestir estava usando um vestido amarelo longo com flores azuis estampadas, não era formal, sim despojado, com alças finas, mas eu tinha uma jaqueta jeans azul por cima e completando o visual sandálias nos pés e uma bolsa marrom. Leah, quando mandei para ela a roupa que usaria, disse que eu estava brega, porém torceu para eu terminar a noite nua na cama de Edward e livre daquelas roupas. 

— Vai, é? — Minhas bochechas estavam coradas, Edward assentiu e ficou ainda mais próximo. Meu coração disparou, o homem parecia que ia me beijar, na hora fechei meus olhos e esperei o beijo, mas os lábios dele não tocaram os meus, sim meu rosto, demoradamente.

Fiquei ainda mais agitada, sentindo sua boca em minha pele, sua barba me arranhar de leve e o seu perfume que se misturava ao cheiro de biscoitos. Algo cítrico, baunilha e chocolate, era uma delícia.

Os lábios dele seguiram uma trilha até minha orelha, isso fez com que arrepios cruzassem meu corpo. E fazia tanto tempo que não me sentia… Por Deus, excitada, a palavra era essa. Há muito tempo não me sentia excitada daquele jeito. Como ele conseguia me deixar daquela forma com apenas beijos no rosto?

— Não vamos nos apressar — ele sussurrou em minha orelha, naquele instante me questionei o motivo de Edward não largar a carreira de chef e apresentador para se tornar um cantor, a voz dele era tão linda e charmosa. — Você está com desejo…

— Muito — me vi falando antes de ele terminar de perguntar, Edward riu ainda com a boca junto a minha orelha. 

— Eu iria perguntar se você está com desejo de vinho ou champanhe. — Se afastou um pouco, seus olhos se encontraram com os meus. 

— Vinho — murmurei, ele concordou com um aceno de cabeça.

— Não se preocupe. — Ergueu minha mão e a beijou. — Vou realizar todos os seus desejos.

Talvez Leah estivesse certa e eu fosse terminar aquela noite nua.

X

Estava sendo uma noite maravilhosa, Edward lembrou de algo que falei na gravação do seu programa e fez minha lasanha favorita, de camarão. Era excelente, parecia um prato divino e ele ainda escolheu o vinho certo para harmonizar, minha boca e meu estômago estavam muito agradecidos por isso.

Entretanto, a noite não estava sendo boa apenas por isso, a conversa com Edward era tão legal. Ele era muito, atencioso, divertido e inteligente, também tínhamos várias coisas em comum.

— Que bom ouvir isso! — exclamei quando Edward disse que também não acreditava em signos.

— Eu juro, não foi de mim que a Liz herdou esse apreço por astrologia.

— Irina, né? 

— A própria. — Edward nos serviu com mais vinho, estávamos dando um tempo até atacarmos o tiramisú que ele tinha feito, mas eu já tinha comido alguns biscoitos que o chef também assou para a gente.

— Posso perguntar sobre o casamento de vocês? — questionei, ele sorriu e suspirou, olhando para a piscina, nós tínhamos jantado em uma mesa da área externa da mansão.

— Quer saber sobre a traição, né? — Voltou a olhar para mim.

— É, sim. Mas tudo bem se você não quiser falar.

— Eu falo. — Bebeu um pouco de vinho antes de contar tudo. — Irina era incrível, eu um escroto. Poderia parar aí, mas aprofundado a história, posso dizer que fui um péssimo marido, obviamente. Conheci essa mulher, me apaixonei e comecei a me afastar da minha esposa. Irina estava trabalhando muito na época, o primeiro trabalho depois de termos a Liz, eu como um filho da puta, estava me sentindo de lado. Então, eu traí ela e ainda tive a cara de pau de tentar reverter o jogo e falar pra mãe da minha filha que a culpa era dela por estar distante. Eu agradeço muito ao universo por Irina ter me dado um belo soco e pedido o divórcio no dia seguinte, iria continuar traindo ela e não seria um lar saudável para a Liz viver. Nos separamos, eu chorei e implorei pra voltar, mas com o tempo percebi que ela estava muito melhor sem mim e que deveria recomeçar minha vida amorosa. Eu amava ela, ainda amo de certa forma, é a mãe da minha filha, mas desde antes da traição não gostava mais da Irina, então sim, eu acabaria traindo ela outras vezes e teria sido muito pior.

— Já assistiu ao filme Um Dia? A protagonista fala algo parecido sobre ainda amar, mas não gostar do carinha.

— Liz já me fez assistir. — Sorriu. — Eu não gosto, o final é horrível.

— Acho um filme real. — Dei de ombros. 

— Agora eu posso perguntar sobre o divórcio? O seu não teve o motivo revelado na imprensa como o meu, vocês só soltaram um comunicado falando em separação amigável e sem brigas, algo assim, né? 

— O seu foi exposto porque você traiu sua ex publicamente, tem fotos suas beijando a mulher no meio de uma festa.

— Touché! Foi traição no seu caso também?

Neguei com um aceno de cabeça, por um segundo pensei em fugir da resposta, mas contei a verdade para Edward.

— Não, nada disso. Quando Mike e eu ficamos juntos ambos queríamos filhos, ano passado achei que estava na hora de finalmente termos, mas ele tinha mudado de ideia. Fizemos terapia, só que não adiantou e aí veio o divórcio.

— Sinto muito, Bella. Quer dizer, não muito, porque se você ainda estivesse casada não estaria aqui comigo. Então, eu sinto um pouco.

Tentei conter a risada que aquilo me causou, mas não aguentei e gargalhei.

— Você é bobo, Cullen.

— Um pouco. — Se levantou da cadeira do outro lado da mesa e sentou na que estava mais próxima de mim. — Como um divorciado posso falar que você vai superar.

— Será? — Arqueei uma sobrancelha.

— Sim e eu estou aqui para te ajudar com isso, que tal? — Piscou para mim e pegou minha mão esquerda entre as suas.

Não respondi aquilo, olhei para nossas mãos e perguntei sobre a marca de queimadura que ele tinha perto do polegar direito.

— Como conseguiu essa queimadura?

— No começo do ano, estava fazendo churrasco e me distraí com celular. 

— Eu tinha um corte na mão, consegui descascando batatas. — Ele olhou minha mão entre as suas procurando por cicatriz. — Fiz um tratamento para não deixar marcas, ninguém quer uma atriz com o corpo imperfeito.

Ele franziu o cenho e voltou a me olhar.

— Você é perfeita, do seu jeito, com ou sem cicatrizes seria.

— Não é o que os outros pensam. — Dei um sorriso triste. — Para muitos o meu divórcio aconteceu porque engordei alguns poucos quilos por conta do papel na série.

— Um bando de idiotas, você é linda. — Edward beijou minha mão, depois se inclinou e deu um beijo perto dos meus lábios, mas ainda me deixando só no desejo por aquilo. — Pronta para um pouco de tiramisú? — Ele se afastou e senti falta das suas mãos cobrindo a minha e da boca dele em mim.

— Sim, por favor — sussurrei, me recuperando do quase beijo.

Edward entrou na casa para buscar nossa sobremesa, bem naquela hora meu celular vibrou na minha bolsa. Eu o peguei para desligar, mas não tive coragem quando vi a mensagem recebida.

Mike: Oi, como você tá? Eu acabei de ser internado, apendicite, acredita? Só consigo lembrar quando você teve três anos atrás… Estou com saudades, e aqui nesse quarto de hospital pensando em como queria você ao meu lado. Com certeza ficou sabendo do namoro com a Jessica, né? Nós terminamos ontem, um namoro rápido e que não deu certo. Bom, não deu certo porque ela não era a mulher que amo. Vem me ver? Podemos conversar antes da cirurgia e pensar melhor sobre o futuro de novo.

Eu deveria ir? Nós poderíamos voltar? Ele iria ter filhos comigo?

— Bella! — Edward reapareceu, sem o doce e agitado, preocupação estampando seu rosto. — Alice acabou de me ligar, Liz se machucou durante as gravações.

— Ela o que? — eu gritei em pânico ao pensar na garota machucada. — Como assim? O que aconteceu? — Fiquei de pé, apertando o celular em minhas mãos.

— Parece que ela caiu. — Edward começou a chorar. — Não sei direito como ela tá, só que desmaiou. Eu vou para o hospital, você quer vir comigo?

Sabia a resposta antes mesmo dele perguntar.

— Claro que sim, vamos logo. — Peguei minha bolsa e segui atrás dele.

O motorista de Edward, que estava no anexo da mansão, foi avisado e logo estávamos no carro. O chef de cozinha falava ao celular com Irina, enquanto eu respondia a mensagem de Mike.

Bella: Sinto muito pelo seu apêndice, é um saco, mas vai dar tudo certo na sua cirurgia. Eu não acho que seja uma boa ideia a gente se ver. Fica bem, Mike.

Guardei o celular na bolsa, bem na hora que Edward finalizou a ligação e começou a chorar.

— Se acontecer alguma coisa com aquela menina… — Ele soluçou. 

— Vai ficar tudo bem. — Afaguei seus ombros. — Calma, ela é muito forte.

Eu também queria chorar de preocupação, só que naquele momento ele precisava de alguém para segurar as pontas da situação. E estava disposta a ser essa pessoa.

X

Nós sequer bolamos um plano para não sermos flagrados chegando ao hospital juntos, não era a maior preocupação que tínhamos. Liz machucada era a prioridade, sendo assim, logo estávamos entrando no quarto que ela estava com Alice a acompanhando.

— Pai! — Liz exclamou quando viu Edward, estava sentada na cama do hospital, vestindo uma roupa hospitalar verde e branca. Parecia cansada, tinha um acesso no braço esquerdo e o direito imobilizado. — Estou… — a garota se calou quando me viu atrás do pai dela. — Bella? Oi, você também veio. — Na hora ficou desconfiada.

Edward, voltando a chorar, foi até a filha e a abraçou com cuidado. Também a encheu de perguntas.

— Estou bem, pai, juro. Foi um acidente estúpido.

— Ela estava gravando na caçamba de uma caminhonete, quando foi descer tropeçou e caiu — Alice contou, olhando com pena para a sobrinha. — Bateu a cabeça e o braço. — Edward suspirou alto e soltou Liz, limpando o rosto dele molhado por lágrimas.

— Está quebrado? — me aproximei também.

— Sim — Liz confirmou. — Mas foi uma coisinha de nada, a minha cabeça também tá legal, cheguei aqui e foram logo me colocando para fazer exames e acordei pouco depois de me colocarem na ambulância. Vocês estavam juntos? — Apontou de mim para o pai com a cabeça.

— E-Eu — gaguejei, Edward foi mais rápido em inventar uma desculpa.

— Bella foi jantar lá no restaurante com umas amigas, eu recebi a notícia do seu acidente e contei para ela, viemos juntos te ver. Sua mãe já está chegando, ok?

— Beleza, já falei com a mamãe por ligação. Espera, você não tinha tirado o dia de folga, papai? — Liz questionou, Alice sufocou uma risadinha.

— Precisei ir até o restaurante resolver algumas coisas — Edward respondeu e checou os remédios que Liz estava tomando através do soro. 

— Você nos deu um susto — falei para Elizabeth, mexendo em seus cabelos.

— E vou te dar mais trabalho, terei que ficar afastada das gravações por um tempo — se lamentou.

— Não se preocupa com isso, tá? — Sorri para a garota. — O importante é você ficar boa, cuida direitinho do seu braço, por favor.

— Pode deixar. — Ela lançou um olhar curioso para o pai e um sorrisinho travesso. — Quem sabe a Bella pode ir lá pra casa ajudar a cuidar de mim, né?

— Liz, você está se recuperando, seja uma paciente quietinha — ele exigiu, estava sorrindo, mas ainda podia ver as lágrimas em seus olhos.

Irina apareceu naquele instante, chorando e tirando todo mundo da sua frente para colocar a filha em seus braços. Eu considerei aquele o momento ideal para ir embora, adorava Liz, mas seria melhor ela ficar ali apenas com seus pais e tia.

— Você pode pedir para seu motorista me deixar em casa? — perguntei baixinho para Edward, sabendo que ele tinha dito para seu funcionário esperar no estacionamento do hospital. — Demoraria até o meu vir, acho que será melhor para a Liz ficar sem tanta gente em cima dela agora.

— Sim, ele te leva — Edward confirmou. — Eu te deixo no estacionamento.

— Tem certeza? — perguntei, mais pessoas nos veriam juntos e isso poderia ser arriscado, mas Edward não parecia se importar.

— Claro.

Eu assenti, ainda que o temor de fofocas de ser vista com Edward vazasse por aí. Avisaria logo Kate do que estava rolando, caso algo pipocasse pela internet, minha empresária iria cuidar disso por mim, mas sem revelar que eu tinha estado em um encontro com o chef de cozinha.

Fui me despedir de Liz, Irina e Alice. Elizabeth não gostou nada de saber que eu já estava indo, mas insisti que ela precisava descansar e que iria vê-la logo, segundo sua tia nos informou a garota provavelmente receberia alta na manhã seguinte, precisando apenas de uma noite em observação no hospital.

— Não me assusta mais assim — murmurei antes de soltar Liz de um abraço.

— Vou me comportar, querida futura madrasta?

— Tchau, Liz! — exclamei ignorando o jeito que ela me chamou.

— Vou deixar a Bella no carro — Edward avisou.

— Ai ai. — Liz riu baixinho.

— Viemos do restaurante com meu motorista, não crie um filme na sua cabeça, Elizabeth — ordenou para a filha e indicou a saída para mim.

Seguimos em silêncio até o estacionamento, lá Edward falou para o motorista que ele deveria me levar para onde eu quisesse e depois nos despedimos.

— Vamos terminar esse encontro outro dia. — Afagou meus cabelos.

— Vamos sim. — Sorri para ele. — Me manda notícias da Liz?

— Vou te manter atualizada — prometeu, segurou minha mão esquerda entre as suas. — Eu te beijaria agora, mas acho que nosso primeiro beijo tem de acontecer em um momento e lugar melhores.

Com a mão livre afaguei o rosto dele, sentindo a barba e depois os lábios dele tocando minha palma rapidamente.

— Boa noite, Edward. — Tirei minha mão do rosto dele, porém Edward segurou o meu e beijou minha testa demoradamente.

— Boa noite, Bella.

Abriu a porta do seu carro para mim e me ajudou a entrar, depois voltou para sua filha na vida real e minha filha na ficção. Dei o endereço para o motorista, e só ali voltei a mexer em meu celular.

Mike: Bella, por favor, vem me ver.

Mike: Precisamos conversar melhor, me deixa consertar as coisas.

Um nó se formou em minha garganta, na outra mensagem ele dizia qual era o hospital, não o mesmo que Liz estava, porém eu não pedi para o motorista mudar nosso destino. Também não respondi Mike, apenas falei com Kate o que era necessário e atualizei Leah sobre o encontro.

Em casa, depois de tomar banho e me vestir com um pijama quente e confortável, sentei no sofá com uma taça de vinho em mãos. Fiquei lá, por um bom tempo no silêncio, pensando em como tinha gostado de passar aquela noite com Edward, tirando o fato de Liz ter se machucado. 

No entanto, se eu tinha gostado tanto de estar com ele, por que não conseguia esquecer Mike? E por que não jogava meu orgulho no lixo e ia atrás do meu ex se ainda sentia algo por ele?

Cansada dos meus próprios pensamentos confusos, acabei ligando para meu pai, sabendo que mamãe estava ocupada em um evento.

— Oi, Bells. Como você está?

— Por que ainda dói? O senhor disse que seria passageiro, citou aquele livro e tudo.

— Filha, vai parar de doer, você só precisa ser um pouco paciente. Lemba-se de Patience do Guns N’ Roses? Era uma das suas canções favoritas.

— Lembro, claro.

— É como dizem na música e não vou citar fielmente, mas você não pode acelerar o tempo¹, querida.

— Isso me faz pensar naquele filme do Adam Sandler.

— Click?

— Sim. — Sorri para o celular. — É tipo isso?

— É, tipo isso. — Papai riu um pouco. — Você precisa viver o momento, Bells. Não pode adiantar tudo com um controle remoto, mesmo que queira adiantar até a dor passar, precisa sentir isso agora para depois reconhecer quando parar de doer.

— Obrigada por ser você, papai.

— Ao seu dispor, filha. 

— Vou desligar agora.

— Vai ficar bem sozinha?

— Sim, vou sim. — Olhei ao redor, para a casa que tinha comprado com Mike e ficou comigo depois do divórcio. Eu começaria a ver um novo lugar para morar na segunda-feira, uma casa nova para recomeçar.

Papai deu boa noite e desligou, ainda com o celular em mãos vi que tinha recebido uma mensagem de Edward.

Edward: Tudo bem? O motorista te deixou em casa sem problemas?

Bella: Sim, desculpa não ter te falado nada antes.

Edward: Relaxa, eu estava ocupado com a Liz.

Bella: Como ela está?

Edward: Dormiu, está no hospital com Irina. Alice foi para casa descansar um pouco, eu vim para a minha pegar roupas para Liz deixar o hospital amanhã e já volto para lá.

Bella: Bom saber que ela dormiu, precisa disso para se recuperar melhor.

Edward: Obrigado.

Bella: Por?

Edward: Por ter ido comigo hoje.

Um sorriso nasceu em meus lábios.

Edward: A parte do hospital não foi legal, eu não queria Liz machucada, mas ter sua companhia foi algo bom no meio de algo ruim.

Bella: Ansiosa pelo tiramisú que deixamos para trás. E pelo beijo.

Edward: Não faz ideia de como estou ansioso pelo beijo.

Bella: Docinho, vá com calma.²

Citei a música do Guns N’ Roses.

Edward: Acabou de citar Patience do Guns?

Bella: Citei.

Edward: Caramba, eu preciso mesmo te beijar!

X

Meu aniversário aquele ano caiu em uma terça-feira, um dia depois da cerimônia do Emmy. Eu não estava planejando nada, mas meus pais e Leah organizaram uma festa surpresa e foi a melhor coisa que poderiam ter feito.

A festa rolou na casa dos meus pais, toda minha família e amigos estavam lá. Isso incluía Liz e o pai dela.

— Tem certeza de que está bem? — perguntei para a adolescente enquanto dançávamos juntas.

— Tudo ótimo, só não consigo me mover muito, né? — se queixou.

Os últimos onze dias não tinham sido fáceis para Liz, o braço quebrado lhe incomodava muito e ainda estava a mantendo afastada do trabalho. Porém, ela estava se recuperando bem e os roteiristas da série mexeram no enredo para conseguir incluir o braço machucado da atriz em sua personagem, isso permitiria Liz voltar a gravar dali três dias.

Eu adorei isso, já sentia a falta dela nas gravações. Os últimos dias também tinham sido bem corridos para mim, gravando para a série as cenas que Liz não fazia parte, uma curta viagem para New York para o lançamento de uma marca que me patrocinava e uma para São Francisco com Leah, depois o Emmy e no meio disso tudo a procura por uma casa nova.

Isso me fez não ter tempo para encontrar Edward, já que ele também estava ocupado com o trabalho e ainda mais cuidando da filha. Já era protetor com ela, mas ficou ainda mais com a filha machucada.

Prova disso era ele aparecendo no meio da pista de dança, com remédios e uma garrafa de água.

— Seus remédios, Elizabeth.

— Ai, que saco — ela reclamou, entretanto tomou tudo. — Pronto. Posso voltar a curtir agora?

— Você bem que poderia descansar um pouco, não é? Mesmo que não esteja mexendo o braço, está mexendo o resto do corpo e isso acaba impactando, pode influenciar sua recuperação, Liz.

— Eu saio da pista de dança, mas só se o senhor dançar com a Bella no meu lugar — ela o desafiou, Edward e eu nos olhamos. Já mexida por conta do vinho que tinha consumido aquela noite, soltei uma risada e gesticulei um dedo para Liz.

— Você é muito atrevida, menina.

— É um dom. — Ela sorriu largamente para mim e deixou a pista de dança, uma mão quente e grossa segurou a minha.

Voltei o olhar para Edward e o homem me puxou para perto de si, até nossos corpos estarem unidos o máximo possível. Seus braços me envolveram, depois dele colocar as minhas mãos em seus ombros.

Logo sua boca estava em minha bochecha, sua barba mais uma vez me arranhando, entretanto não reclamaria disso. Ele nos balançou, só que não estávamos nem perto do ritmo da canção da Cardi B tocando.

— Não é uma música para se dançar assim — alertei.

— Eu não dou a mínima, quero ficar assim com você — sussurrou, levando sua boca em seguida até minha orelha. — Feliz aniversário, meu doce.

Fui atingida, me arrepiei totalmente com ele me chamando daquele jeito. Um de seus polegares ficou afagando minhas costas, que estavam nuas por conta do vestido vermelho que eu usava aberto atrás.

— Obrigada — agradeci, levando uma mão até seus cabelos, os lábios dele pressionaram o ponto abaixo da minha orelha. — Vai pra minha casa depois? — perguntei, queria tanto aquilo, retomar nosso encontro interrompido. — Quero passar um tempo com você.

— Vou sim. — Edward me apertou mais contra si antes de me soltar, o que detestei. — Depois te coloco nos meus braços de novo — prometeu, falando aquilo segurando meu queixo. — Só não quero monopolizar a aniversariante. Curta sua festa. — Beijou meu rosto outra vez antes de se afastar.

X

Edward me deu de presente um relógio, o chef de cozinha tinha assistido a um story que gravei dias antes, no meu camarim, onde deixava o meu cair no chão.

— Gosto de relógios analógicos — comentei, com meu novo relógio em meu pulso.

Já estávamos em minha casa, eu tinha ido primeiro e ele foi me encontrar lá depois de deixar Liz na casa da mãe dela. Edward não tinha contado para ela que iria me encontrar, só que a garota continuava suspeitando. Ao menos era Elizabeth com suspeitas, não a internet, tínhamos tido sorte que nada sobre nós dois chegou aos ouvidos do Instagram ou Twitter.

Edward percorreu um dedo pelo relógio, depois por meu braço. Meus olhos acompanharam o movimento, até que sua mão achou lugar em meu pescoço, umedeci os lábios, ele sorriu.

Acenei positivamente com a cabeça e Edward Cullen me beijou no instante seguinte. Lábios incrivelmente macios encontraram os meus, a mão em meu pescoço era firme e calorosa, a outra se fixou em minha coxa.

Um beijo lento, mas quente e atiçador. Eu queria mais, desejava a boca dele explorando meu corpo. Ainda assim, apesar de querer muito, não achava a hora certa.

Interrompi o beijo, Edward apoiou sua testa na minha. Afaguei sua barba, ele beijou meus dedos e perguntou:

— Quer que eu vá embora?

— Não, quero que você fique aqui mais um pouco. Eu só não quero transar hoje.

— Sem problemas. — Ele me abraçou, não poderia dizer que aquele abraço estava curando minhas feridas, mas era tão bom. Eu sorri, o abraçando de volta e beijando seu rosto.

O abraço durou mais um tempo, até eu falar sobre minha adega e irmos escolher um vinho para beber. De volta à sala que estávamos antes, colocamos música para tocar, uma playlist de rock dos anos 90.

Sentei com minhas pernas sobre as coxas dele, sua mão livre apoiada em mim, a minha livre brincava com seus cabelos ruivos. Nós conversamos, rimos, bebemos e beijamos mais.

Today is the greatest. Today is the greatest day. Today is the greatest day. That I have ever really know.³

O observei cantar o final de Today do The Smashing Pumpkins, Edward tinha fechado os olhos, mas sua expressão era relaxada e feliz. Foi contagiante, percebi como aquele era o melhor dia na minha casa desde o divórcio.

Meu pai, com toda aquelas suas citações, estava certo. Os tempos difíceis não eram eternos, eu só precisava ser paciente e esperar os tempos bons voltarem.

A playlist acabou no final daquela canção, Edward reabriu os olhos e perguntou:

— Foi um bom aniversário, meu doce?

Coloquei minha taça na mesinha ao lado, também peguei a dele e deixei lá. Segurei no rosto do homem ali comigo, nós dois sorrindo um para o outro, ele beijou meu queixo, meus lábios, minha bochecha e minha testa.

— Foi um excelente aniversário — respondi com convicção.

— Ansiosa para o do ano que vem?

— Não. — Fui sincera ao proferir tal palavra. — Quero aproveitar cada dia até lá com calma.

— Posso aproveitar com você?

— Sim, você pode.

Nos beijamos e aproveitamos. 


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Notas finais do capítulo

¹O trecho se refere à passagem 'But I can't speed up the time' da música Patience da banda Guns N' Roses.
²O trecho se refere à passagem 'Sugar, take the time' da música Patience da banda Guns N' Roses.
³Hoje é o melhor. Hoje é o melhor dia. Hoje é o melhor dia. Que eu realmente vivi.

......

Mil beijos, até a próxima!
Lola Royal.
10.09.22



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