Feliz Infelicidade escrita por Ciarán Honeylane


Capítulo 1
Capítulo Único




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Aquela flor despertava-lhe memórias. Memórias muito boas.

Juliet olhou para a margarida seca que estava entre as páginas de seu livro e sorriu, fechou o livro novamente e levou-o ao peito, abraçando-o como a uma amada criança.

Ela era fã de livros e filmes de romance, sejam eles com final triste ou feliz, e tinha certas esperanças em encontrar como um daqueles casais retratados nos filmes e livros em que as mocinhas se perdiam por amor e suas lágrimas tão puras quanto cristais.

Ela estava na beirada de um desfiladeiro onde, logo abaixo, não se via nada de tão profundo que era. Ainda mais de noite.

Olhava para o céu estrelado, seus olhos marejados e brilhantes, seus cabelos loiros que iam até os ombros balançavam suavemente com a brisa fresca noturna e não se ouvia nada já que o lugar era relativamente longe da pequena cidade que vivia.

Na beirada do desfiladeiro havia uma árvore, onde ela costumava sentar embaixo para pensar e ler seus livros românticos.

— Espero que não esteja pensando em nada.... Ameaçador a si mesma. – Disse uma voz perto dela e que a fez se virar. Adam, um rapaz bonito de traços razoavelmente andróginos, estava atrás dela e sorrindo. Os cabelos escuros dele, preso a um pequeno rabo de cavalo, pareciam fazer parte da noite e seus olhos azuis faiscavam.

Ela rapidamente secou os olhos usando a manga da jaqueta jeans que usava e sorriu para ele e viu-o pegar uma margarida solitária ao lado da árvore, oferecendo a garota que a recebeu com o sorriso ainda maior.

— Você quer fazer novas memórias comigo? – Ela perguntou.

— Tirou as palavras da minha boca. – O rapaz respondeu e a abraçou. Já era este um desejo dele havia muito tempo, os dois haviam estudado juntos e ele acabara de voltar à sua cidadezinha depois de formar-se numa grande faculdade.

O namoro dos dois parecia mesmo coisa de filme... Com exceção daquelas partes em que os casais brigavam e chegavam até a se separar para, no fim, voltar a relação e até se casar.

Quem não estava feliz era Jake, que trabalhava com seu pai fazendo peças de madeira que, na maioria, eram caixões. Jake até mesmo fez papel de coveiro uma vez, tudo por dinheiro!

Juliet e Adam estavam na sorveteria mais popular da cidade e, claro, dividindo um milk-shake de morango com dois canudos. Coisa de filme, não é? Jake estava perto deles e olhava para ambos, obsessivamente. Ele não era feio, era um rapaz até visado pelas garotas, tinha os cabelos longos e pele morena além de um físico até “sarado” mas tinha, as vezes, um comportamento estranho. O problema é que o rapaz não sabia como se declarar e sua “paixão” por Juliet já beirava alguns anos e agora estava mais como um stalker do que qualquer coisa e usava até um grande agasalho com touca.

Juliet se assustou quando a porta bateu com força, chegando a quebrar o vidro desta, após ver o rapaz de agasalho e touca saindo apressado pisando forte.

— Você realmente gosta desses livros, não é? – Disse um sorridente Adam deitado nu ao lado de sua namorada, coberto até a cintura.

Ela deu uma piscadinha para o rapaz enquanto colocou a margarida de volta no livro e fechou, dando logo um delicado beijado nos lábios do homem e bagunçou-lhe os cabelos.

— Eu não sabia que tinha um fetiche com uma versão masculina da Samara de ‘O Chamado’ – Respondeu risonho com seus cabelos tapando quase todo o seu rosto após ter eles bagunçados.

Ela riu e respondeu:

— Você é o meu fetiche.

Jake estava lá fora, ouvia a risada dos dois, parecia muito irritado. Mesmo naquela hora da noite, ficou a persegui-los. Agora ele partiu novamente, andando rápido, decidido.

Adam ouviu-a chorar.

Ele foi até a sala e encontrou-a lacrimejando enquanto assistia a mais um filme de romance, desta vez com um final triste. Abraçou-a de lado e lhe deu um beijo na cabeça.

— Elas parecem tão lindas quando choram... Não parecem? – Ela disse com a voz meio engrolada e ele sorriu para ela, consentindo.

O filme terminara e agora o jornal de notícias o substituía, um rapaz da cidade que desapareceu e não fora encontrado.

— Ele não estudou com a gente? Este rapaz? – Adam perguntou.

— Sim, era um bom rapaz, inclusive saímos juntos as vezes. – Ela respondeu, acariciando uma das mãos dele.

Deitados sobre uma toalha de piquenique, em um grande campo de girassóis, eles riam e conversavam sobre a vida e coisas aleatórias. Mal sabiam eles que estavam sendo, mais uma vez, observados de longe sob um olhar obcecado. Em seu ombro uma pá e na bolsa, uma tesoura de jardineiro.

Adam já estava decidido. Iria pedi-la em casamento.

Para isso já estava planejando o que ia fazer e como até mesmo surpreendê-la. Já tinha até mesmo comprado um anel para ela, no desenho de uma margarida com um diamante de gema. Muito provavelmente ela estava ou em casa ou na biblioteca, assistindo a mais um filme de romance ou lendo um livro do mesmo gênero, se debulhando em lágrimas como fazia quase sempre.

Ele foi até a madeireira local, ia comprar uma caixinha bonitinha para o anel.

Chegou no local, que cheirava a madeira e tinha várias peças já prontas a exposição para venda, tocou o pequeno sino para ser atendido e um rapaz forte e moreno o atendera, Jake.

O moreno já o fuzilava com os olhos e Adam sentiu certa inquietação com aquele olhar.

— Olá... Eu gostaria de ver pequenas caixas para jóias... Como aliança... Planejo dar para minha namorada. – Ele disse, logo reestabelecendo sua firmeza de sempre.

— Uma aliança? – Um músculo do rosto de Jake tremeu.

Adam consentiu.

— Um momento. – Jake respondeu e se retirou.

As luzes se apagaram repentinamente, ficando num enorme breu, já que estava anoitecendo. Adam sentiu movimentações perto de suas costas e se colocou em estado de alerta. Um clarão logo o deixou temporariamente cego.

— Mil desculpas, acabou a luz no bairro inteiro, parece. – Ouviu uma voz macia e logo viu que era um senhor baixo e bigodudo de pele morena. – Meu filho até saiu para verificar o que houve e mal terminou dois itens funerários que estava fazendo. Então... Bom, como eu posso ajudá-lo?

Adam se dirigiu até a casa de Juliet e, no decorrer do caminho, percebeu que parecia que só na madeireira havia acabado a energia. Passara até da floricultura para comprar flores, mas eles não tinham mais rosas para vender, logo as favoritas de Juliet.

— Aonde vamos? – Ela disse, sorridente, ao entrar no carro.

Ele sorriu e começou a dirigir em direção a um lugar conhecido, sem notar que havia um carro escuro seguindo-os de uma boa distância.

— Eu lhe trouxe aqui por um motivo. – Um Adam um tanto hesitante mas sorridente disse para Juliet.

Eles estavam naquele desfiladeiro mais uma vez, uma noite linda com céu estrelado e a brisa do verão a dançar com os fios de seus cabelos, suavemente, uma valsa silenciosa.

O farfalhar das folhas da árvore do desfiladeiro, os olhos esverdeados dela a refletir as estrelas e a conter ansiedade. Estava tudo perfeito. Os passos bem embaixo do desfiladeiro a subi-lo devagar não eram escutados por ninguém.

— Foi aqui que começou o nosso amor e é aqui que eu gostaria de deixá-los ainda maior. Juliet... Case-se comigo.

Foi tudo momentâneo, como se o tempo tivesse parado.

Ela sorriu e seus olhos começaram a lacrimejar, contente e trêmula. Abraçou-o fortemente e beijou-o com todo seu coração, ambos a ouvir apenas o coração que batia em sincronia. Deslizou as mãos por suas costas, seu peito e empurrou-o contra a escuridão do desfiladeiro. De seus braços, para os braços da morte enquanto num grito silencioso e engolfado pela escuridão. Seu corpo, embora amparado pelo outro, desaparecera.

Ela ficou a olhar para o escuro, Adam sumira, engolido. O sussurrar das estrelas. Ela logo fechou as mãos e levou ao rosto e chorou... Como ficavam lindas quando choram... Lágrimas de cristais... Puras e femininas, únicas.

Jake chegou ao topo do desfiladeiro e encontrou Juliet sozinha e em lágrimas... Como estava linda... As maçãs de seu rosto estavam coradas e seus olhos verdes reluzindo... Onde estava Adam? Na certa havia dispensado ela... Ou vice-versa.

O rapaz envolveu-a em seus braços.

— Não chore... – Ele disse, suave embora acabou gaguejando e engolindo o resto das palavras. – T-Trouxe isso para você.

Deu a ela um ramalhete de rosas tão vermelhas... Quanto sangue.

Ela puxou uma das rosas, ergueu o rosto e sorrindo para ele disse:

— Quer fazer novas memórias comigo?


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