Nos meus piores momentos de solidão calada, a sua nuca sempre surge na minha cabeça, atropelando qualquer outro pensamento, sempre à espreita, esperando impaciente para me surpreender e me atacar, foder com meu foco de novo.

É meio ridículo que essa seja sua imagem que mais me persiga, porque nucas são… nucas. Enquanto se vive, você nunca verá ninguém dando exímios detalhes de nucas. Porque elas são nucas, irrelevantes em sua completude biológica. Ninguém se pega pensando subitamente qual a espessura da nuca do amigo, do namorado, do padrasto. Se ela é dura, se a pele ali é sensível ou está machucada.

Sim, é meio patético..., mas se envolve eu e você, há mesmo de ser patético. O merda sempre sou eu. E sempre sendo um merda pensando sobre você. Nunca nos preocupamos em inovar a forma como funcionávamos, então sempre fui patético. Certo. Eu entendo, consigo imaginar o porquê ou até os porquês de você nunca ter abaixado a guarda, nunca ter caído nessa situação de vulnerabilidade pra mim. Agora que nós passamos, eu consigo. Mas sempre que a imagem da sua maldita nuca volta na minha mente, os caroços que o aparamento total do cabelo deixaram profanando a pele, os quase inexistentes fios negros tentando brotar, você de costas pra mim, a porra da nuca bem na altura dos meus olhos, a pele dura molhada de suor, eu não consigo evitar me perguntar. Sempre que isso acontece, e meu cérebro patético garante que sempre signifique  muito, muito, muito, eu não consigo parar de pensar como tudo teria sido diferente se eu não fosse como eu sou e você como você é. 

Por que não consigo parar de pensar nisso? Que queria ter acariciado ela uma última vez.