Mas eu sou! escrita por Kaline Bogard


Capítulo 1
... um territorialista também!


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!



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A noite deveria ter um tom trágico. E ela até começou assim: quando Kiba recebeu o telefonema desesperado de Naruto, reagiu como esperado. Se preocupou e foi em socorro do grande amigo.

Por algum tempo ouviu os lamentos inconsoláveis enquanto Naruto bebia goles e goles de sake, chorando pelo soco recebido. Não por sentir dor física ou algo assim, ele era um Alpha e apanhar de outras castas raramente surtia algum efeito. Mas quem tinha lhe acertado o queixo era Sasuke, seu namorado (ou melhor, “ex” conforme Sasuke gritou ao sair de casa, assim como nas vinte e três vezes anteriores, isso só no corrente ano).

— Foi uma mordidinha de leve — Naruto resmungou na voz pastosa padrão de todo bêbado, deitado sobre a mesa — Do tipo normal, sabem?

Foi impossível saber quem riu mais: Kiba ou Akamaru. Shikamaru resmungou um “problemático”, e Rock Lee continuou tentando dançar em cima da mesa. A cena era caótica: o drama de Naruto foi virando comédia a medida que mais amigos chegaram ao pub, por coincidência, e se juntaram à bebedeira. Chouji, Neji, Sai e Shino somaram presença a Kiba, Shikamaru e Rock Lee, na tentativa de consolar o pobre rapaz.

— Você é um besta, Naruto — Kiba, que já estava um tanto feliz pelo sake, tentou acertar um tapa na nuca do amigo, errou e perdeu o equilíbrio, acabando por terminar meio abraçado a ele — O pescoço de um Omega é muito sensível. Não seja le... le... leniano.

— “Leviano” — Shino corrigiu com seriedade, sentado em uma mesa próximo a Neji. Justamente a mesa em que Lee tentava usar como pista.

— Isso — Kiba riu. Era o único Omega entre eles, logo se considerava uma verdadeira e respeitável autoridade no assunto.

— Me deixei levar — Naruto soluçou — Eu não ia marcar o Sasuke!

Sabia que seu companheiro nutria horror de levar a Marca. Além disso, eram jovens. Tinham a vida toda pela frente antes de se comprometer dessa forma. Ainda que seu lado animal reconhecesse o outro como o parceiro da vida toda, Naruto respeitava e nunca passava do limite.

Naquela noite, Sasuke que já andava meio sensível, tão logo o namorado raspou os dentes no pescoço, se preparando para dar um chupão sensual; encerrou as carícias com um gesto brusco e acertou um golpe fulminante no queixo do Alpha, que agora desfilava com um curativo no local. E Sasuke saiu de casa. De novo.

— Alphas.

— Omegas são problemáticos, mas... — Shikamaru quase caiu pro lado quando Kiba se levantou soltando Naruto e o pobre coitado encostou-se nele, mais bêbado do que o recomendado.

— Problemático é teu rabo — Kiba irritou-se — Akamaru, pega! — instigou o grande ninken para atacar Shikamaru, mas o cachorro sequer se moveu.

Shikamaru ergueu uma sobrancelha e não se aborreceu:

— Mas Alphas são ainda piores — completou a frase interrompida. Ele era um Beta, não sofria com os ditames das duas castas tão extremas, ao menos não diretamente. Sua esposa era uma Alpha. O drama que vivia na pele era muito real.

— Territorialistas de merda!! — Kiba mudou de ideia e decidiu que Shikamaru era um aliado, ainda bem que Akamaru não o mordeu!

— As duas castas precisam de equilíbrio — Neji resolveu dar sua opinião. Ele era um Beta e namorava outra Beta, sua prima Hinata. Mas não desconhecia problemas dos relacionamentos entre Alphas e Omegas, claro.

— Akamaru, pega! — Kiba parecia tão disposto a usar o animal como arma quanto Akamaru parecia disposto a não obedecer — Traidor!

— Sasuke, volta — Naruto largou Shikamaru e voltou a se deitar sobre a mesa, sofrendo pelo término do namoro — Preciso de você.

O rapaz resolveu trazer o foco de volta à sua dor, esse era o assunto da noite! Por que a conversa virou para briga entre castas? Ele estava ali sofrendo de coração partido, precisava de apoio.

— Supera, cara! Você consegue coisa melhor!! — Kiba relevou — O Sasuke é um sonso.

Naruto virou o rosto de leve sobre o tampo de madeira e observou Kiba por alguns segundos, análise que terminou com uma torcida de nariz. Então os olhos marejaram e ele retomou à posição anterior, chorando na mesa.

— SASUKEEE!

— OE! — o Omega se arrepiou todinho, sentindo que saiu perdendo em uma comparação contra o entojado do Sasuke!

Mas antes que a cena se desenrolasse em mais confusão ou em mais um “Akamaru, pega!”, silencioso, Shino levantou-se do lugar e, largando a garrafinha vazia sobre a mesa, saiu sem se despedir de ninguém. Deu-se ao trabalho de deixar umas notas a mais para pagar a parte de Kiba também, gesto rotineiro nesses encontros.

Um clima incomodo caiu sobre o lugar. Até mesmo Chouji e Sai que estavam um tanto a parte interromperam a conversa para observar a saída do estoico Alpha.

— Caralho — Kiba resmungou de sobrancelhas franzidas.

— Territorialistas — Shikamaru deu de ombros, voltando a encher o pequeno copo com um gole de sake quente.

Kiba chamou o mascote e saiu em seguida, logo depois de um breve “Jaa”, que foi respondido por um mais longo e doloroso “SASUKKKEEEE” vindo de um sofredor que está perdendo a plateia.

Não demorou muito para localizar Shino, guiando-se mais por instinto do que por outra coisa. O rapaz já ia um tanto longe na rua, obrigou Kiba a acelerar o passo.

— Ei, maldito! O que houve?

Shino não respondeu. Continuou caminhando, a face séria ia levemente contraída. Só quem o conhecesse muito bem saberia de seu estado de ânimo alterado. Kiba conseguia captar a contrariedade fluindo, e um leve rancor. Sabia que Shino era de alimentar esses sentimentos, mas nunca esperou senti-los contra si.

Foi algo tão inusitado que dissipou o efeito da bebida, e ele acabou se ouvindo falar:

— Desculpa, Shino. Eu não quis colocar você como farinha do mesmo saco. Você é um Alpha legal.

O rapaz parou de andar e esperou que Kiba o alcançasse.

— Você não está errado. Eu também sou um “territorialista de merda”.

— Não! Que...

— Não, Kiba. Eu não estou sendo irônico ou debochando do que disse. Eu estou concordado com esse lado horrível de ser Alpha, de sentir que algo... que alguém é meu e não querer dividir.

— Shino... — o coração de Kiba disparou no peito.

— E isso é errado de tantas formas diferentes... porque ninguém pode ser dono de outra pessoa. Ainda que estejam em um relacionamento. E não é o caso aqui, o que só piora tudo.

Agora não era só o coração socando no peito. Era o sangue latejando na face subitamente corada do Omega.

— Ah, muito bom tocar nesse assunto, sabe? Porque Alphas são territorialistas de merda, menos o que me interessa. Sabe? Esse maldito nunca mostrou nem uma territoris... terrioto... aliesdade... FODA-SE. Você entendeu.

Shino ajeitou o óculos no rosto e deu um passo em direção ao outro, quase lhe invadindo o espaço pessoal.

— Não. Eu não entendi — falou com sinceridade.

— Eu sou um Ômega pica das galáxias. Um partidão. Sei que deve ter um monte de Alpha afim de mim, mas isso não me interessa. Eu... — o rompante foi morrendo aos poucos conforme Kiba compreendia que estava a um passo de se confessar.

A um passo de dizer que Shino era o Alpha que deveria demonstrar territorialidade sobre si! E não ser sempre tão indiferente sobre sua presença. Era isso que Alphas faziam, não? Quando gostavam de alguém? E se não havia o menor sinalzinho de posse, era sinônimo de não existir sentimentos. Tão simples quanto dois e dois são quatro. Exceto que o resultado “quatro” não fazia o coração doer tanto quanto a conclusão sobre a indiferença de Shino.

— Ter posse sobre alguém é egoísta e errado.

— Sim! Claro que é, ninguém pode ser dono. Mas... você não precisa ter posse. Só precisa sentir que quer ter. Ter aquela pessoa ao seu lado, com você, como companheiro. Isso é bacana e...

Foi a vez de Shino interromper Kiba. De um jeito inusitado: segurando-o pela nuca e anulando o espaço pessoal de ambos ao começar o beijo que ambos desejavam. Mas não um leve tocar de lábios. A carícia veio gulosa, quase brusca; dando a impressão de que se pudesse, Shino o devoraria ali mesmo.

E ainda assim a correspondência veio à altura. Tão logo as línguas se tocaram, se envolveram e se sentiram, tornando o ato mais íntimo e satisfatório. Por sorte estava tarde na noite, havia privacidade o bastante para aproveitarem o momento e esquecerem de tudo ao redor.

E quando o beijo acabou, Shino não permitiu que o outro se afastasse, mantendo-o bem preso em seus braços, de encontro ao peito cujo coração estava disparado.

— Wow — foi tudo o que Kiba disse.

— É — Shino respondeu.

— Você nunca deu sinal! Nem uma pista. Nunca pareceu ser te... territorialista a meu respeito — a acusação veio naquela posição confortável, usufruindo do calor do corpo alheio.

— Mas eu sou. Eu sou, Kiba. Muito. Venho lutando com esse sentimento desde que entramos na puberdade e meu lado Alpha começou a te ver como um parceiro ideal. Não é fácil, mas mantive sob controle.

— Por quê?! — Kiba não entendeu. Apesar de ser um Omega, compreendia fácil a luta que Shino enfrentou para dominar algo que era inerente a sua casta.

Antes de responder, ele se afastou e apoiou as duas mãos sobre o ombro de Kiba, mirando-o com intensidade por baixo dos óculos escuros.

— Porque você é um espírito livre, Kiba! E sempre reclamou sobre alguns aspectos dos Alphas. Lá no pub eu estava muito... incomodado com você tão perto do Naruto. Então reclamou do territorialismo Alpha e eu entendi como uma indireta. Pareceu ter percebido o que eu sentia e me mandou um recado sobre...

— Não! Maldito! Quem desdenha quer comprar — Kiba resmungou. Sentiu as orelhas queimando, já que ele detestava se expor assim, mas o momento não pedia nada além de abrir o coração — Eu estava salvando minha dignidade. Você parecia tão indiferente sobre mim! Nunca deu nem a porra de um sinal...

— E por que você não deu um sinal? — Shino perguntou suave. Não era uma acusação, somente curiosidade.

— Porque eu sou um Omega. São Alphas que têm a coisa de marcar território e esse inferno todo — além disso, sem Shino dar mostras de interesse, na mente de Kiba, a rejeição já era algo certo.

— Então vivemos os últimos anos em um grande desencontro. O que eu mais quero é ter você para mim, ao meu lado.

Assim que ouviu a declaração, Kiba sorriu largo, feliz.

— Pode querer, cara. E pode ter! — acertou um tapinha camarada no ombro do rapaz, antes de levar o dedo indicador ao nariz e coçar um tanto sem jeito — Sabe, mostrar possessividade de vez em quando não é ruim não e... CARALHO! Você estava incomodado? Incomodado...?! Com ciúmes do Naruto, Shino?!! Do Naruto?!!

O Alpha teve a decência de parecer sem jeito. Fazer o quê? Era um Alpha, afinal. Teria que lidar a vida toda com aspectos complicados e melindrosos com relação ao Omega que reconheceu como companheiro...

Ia puxar Kiba para um novo abraço, ganhando uma pausa antes de abordar o assunto “ciúmes”, mas uma intuição sobre o perigo iminente roubou toda sua atenção e Shino moveu a perna no instante exato em que Akamaru tentou mordê-la, salvando-se por um triz de uma bela e violenta dentada!

— Akamaru! — Kiba ralhou — Nada de “pega” contra o Shino!

O ninken virou o rosto pro lado, e nunca pareceu tão ofendido antes, para diversão dos dois rapazes.

Naquela noite Shino e Kiba acertaram os ponteiros, colocando todos os pingos nos is.

Shino ganhou a correspondência aos sentimentos que nutria e descobriu que Kiba não se incomodava com um ciuminho aqui e ali, pelo contrário. Isso servia como polimento ao ego. Afinal, um partidão desses despertava ciúmes mesmo.

Kiba ganhou um namorado, um companheiro para a vida toda, alguém que lhe daria amor e uma família linda, através dos anos em que viveriam juntos. E, de bônus, descobriu que Aburame Shino não era o único Alpha territorialista em sua vida, como Akamaru fez questão de mostrar dali em diante. Pois dividir “seu humano” foi algo que o ninken nunca aceitou!!


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Notas finais do capítulo

SASUKEEEEE

Diz a lenda que o Naruto ainda está lá, chorando as pitangas...

xD



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