Era noite, Rei tomou banho e quando esteve no quarto já arrumada, resolveu ligar para Ami a fim de saber se ela conseguira se confessar para Makoto. 

— Ham?! Ela chorou?! — Enxugava seus cabelos negros com uma toalha e segurava o telefone no ombro esquerdo, ficando cada vez mais boquiaberta com o relato de Ami. 

— Ela bebeu um pouco e lembrou da mãe. — Explicou Ami, no outro lado da linha. 

Rei deu um suspiro. — E ela te achou bonita? 

Um silêncio se seguiu, mas Ami respondeu. — Na verdade, ela me estranhou... disse que eu estava apaixonada por andar tão bonita e que iria deixá-la. 

Rei deu mais um suspiro. — Bem, pelo menos ela acertou quando disse que está apaixonada.

— Rei, não sei se posso continuar com isso... eu nem ao menos sei se Mako-chan gosta de garotas...

— E você pretende levar isso pro caixão? Querendo ou não, vocês são amigas e amigas precisam ser sinceras uma com a outra.

Outro silêncio se seguiu.

— E se tudo acabar?

Rei ficou sem palavras.

— Não quero te pressionar, Ami... fico feliz por ter falado algo tão pessoal para mim, porque é difícil carregar algo pesado e não poder compartilhar com ninguém. Não sei se serei a melhor pessoa pra te ajudar, mas eu estarei ao seu lado.

Rei ouviu alguns murmúrios e entendeu que Ami estava chorando.

— Rei, não pense que está sendo inútil. Você é a mais presente no grupo, por isso falei com você. Agora preciso desligar, nos vemos no café após as aulas.

Elas desligaram seus telefones, Rei ficou ainda alguns segundos sentada na beirada da cama, olhando o objeto que segurava nas mãos, pensando se não era possível Makoto não sentir nada por Ami. Sentiu-se impotente, às vezes se achava uma péssima amiga.

No entanto, ouviu um barulho que a assustou. Olhou por cima do ombro e se encontrou com a figura angustiada de Usagi batendo no vidro da janela, pedindo para entrar.

— Usagi?! O que você tá fazendo a essa hora na rua? — Perguntou Rei ao abrir a janela e depois ver sua amiga pulando o parapeito para entrar no quarto.

— Rei!!! Preciso usar o banheiro!!!

Usagi saiu correndo em direção ao banheiro sem precisar de instruções, conhecia bem a casa de Rei por visitá-la constantemente, embora brigassem muito nesses encontros.

— Então, você tomou 3 milkshakes e achou que não ia parar no banheiro?

Estavam sentadas no tapete do quarto, Rei fez a pergunta enquanto via sua amiga pegando nos seus mangás.

— Ué, Rei, estão faltando volumes!!

— É porque eu doei para um grupo de leitura voltado a crianças. Fazia tempo que não lia e também percebi que já estava "grandinha" pra ler algo assim.

— Fez isso sem me perguntar antes?!

— Os mangás eram meus! E, sem querer te ofender, não acha que também está "grandinha"?

Usagi inflou as bochechas, enquanto segurava um choro. Rei revirou os olhos.

— Bem, se veio aqui só pra usar o banheiro, pode ir embora. Preciso acordar cedo amanhã, porque diferente de você, eu tenho um templo para cuidar com muito zelo.

— Eu não vim aqui pra usar o banheiro. — O tom da voz de Usagi saiu sério e Rei se desfez da pose autoritária um pouco surpresa. Tinha certeza que a amiga replicaria como de costume. — Eu vim aqui pra te dizer que tenho tido um sonho toda noite... bem, não é o mesmo sonho... acontece coisas diferentes. Então, eu pensei se você saberia o que isso pode significar com os seus poderes.

— Já te expliquei que não são pode-

— Tá, tá, tá! Eu sei, mas me ajude nisso por favor.

— Ok, pode contar.

Usagi pigarreou antes de narrar o seu sonho, ajeitou a postura, ficando sentada de joelhos como Rei, ainda que não aguentasse ficar nem um minuto naquela posição. Rei pensou que Usagi estava diferente naquela noite.

— Toda noite eu sonho com você e as meninas, nós 5 somos guerreiras da justiça e lutamos contra o mal.

Rei não se aguentou e deu risadinhas. — Você precisa mesmo parar de ler mangás!!

— Ei, Rei, não ria! Eu sonho com isso todas as noites, embora o vilão seja diferente em cada sonho. Tá num ponto que sinto medo só de ir pra cama, isso não significa algo?

Rei deu um sorriso que quando Usagi via, sabia que a amiga estava a levando a sério. — Pode ser por causa dos mangás mesmo, mas pode ser que se misture com o seu poder de amar e ajudar as pessoas.

— Poder de amar e ajudar?

Usagi não entendeu e Rei não explicou mais nada. Desde que a conheceu, Rei sentiu uma aura agradável envolvendo o corpo de Usagi e com o passar do tempo, ela só tinha mais certeza que Usagi era especial. E por ser tão pura, Rei sentia necessidade de protegê-la.

— Sabe, Rei, você é o meu braço direito nesses sonhos...

— Mentira, só está dizendo isso porque te chamei de gentil.

— Não!! Rei, você é a mais forte de todas e me protege quando é sempre a primeira a aparecer. — Usagi gesticulava bastante, fazendo caretas que davam a Rei uma vontade de rir. — Eu acho que você é a líder de nós 5!

— E nós brigamos muito lá também?

— Claro! Porque você quer nosso bem! No último sonho, me impediu de tomar um milkshake envenenado.

Rei riu.

— Usagi, tá ficando tarde. — Ela se levantou do chão. — Acho melhor você ir.

Usagi se levantou também. — É verdade! Minha mãe vai me matar, mesmo eu fazendo faculdade. Ninguém merece ela me ver como criança ainda.

— Talvez precise ler menos mangás.

Antes de pular na janela, Usagi pegou nas mãos de Rei. — Um dia serei uma grande mulher e você poderá descansar. Eu acho que quem ama e quer ajudar aqui é você, Rei. Nunca pense que é a pior, você é a melhor de todas.

Rei se emocionou, ainda mais por ter se lembrado do telefonema com Ami e de se sentir inútil para ajudá-la com Makoto.

Usagi estava no parapeito quando quis acrescentar algo. — Não diga pras outras que eu falei que você é a melhor, certo?

Depois partiu, fazendo Rei enxugar uma lágrima e a se perguntar por que ela não usara a porta da frente.