Uma armadilha de memórias escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 2
Uma visitante




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Elvis acabou se acostumando à rotina mais tranquila após uma semana, acordava nos mesmos horários todos os dias, comia bem, assistia televisão e dava suas caminhadas ao fim de tarde. Apesar de ser discreto entre os pacientes e afirmar que seu nome era John, vez ou outra ele escutava que parecia muito com Elvis Presley. Sua resposta era apenas dar uma risadinha e afirmar de novo que não sabia cantar. Mal reconhecia essa pessoa, mas talvez era quem ele fosse agora.

De tempos em tempos, tinha uma certa ansiedade, como se seu corpo esperasse pelo momento da performance, mas ele nunca chegava. Nessas horas, tomava um copo de água e respirava fundo, se lembrando de onde estava agora. Sentia falta de Priscilla e Lisa e se perguntava constantemente onde elas poderiam estar e o que estariam fazendo. Sabia que era importante manter a discrição e não se comunicar muito com o lado exterior, mas queria pedir de alguma forma que Priscilla viesse visitá-lo.

Assim, enquanto ele estava sentado em um dos bancos, tentando manter a cabeça desocupada, alguém o interrompeu.

—John, tem alguém aqui que gostaria de vê-lo - avisou a enfermeira.

Quando Elvis ergueu os olhos, avistou o rosto de Priscilla, tão angelical quanto se lembrava, embora ele percebesse um certo cansaço nele.

—Cilla... - deixou sair de seus lábios e a engalfinhou num abraço, repentino, mas bem vindo.

Ela tinha que admitir, era reconfortante estar ali envolta por ele, sua figura alta parecendo mais forte e capaz até de protegê-la, como fora um dia.

—Oi - ela respondeu, o observando depois do abraço, notando pequenas melhoras.

—É muito bom te ver - ele disse sinceramente, um pouco embasbacado, vergonhoso com a situação, tinha desejado tanto que isso acontecesse, mas agora não sabia exatamente como agir.

—Eu digo o mesmo, você parece ótimo - ela comentou.

—Ah obrigado, estou me esforçando para melhorar cada vez mais - Elvis respondeu- ainda é um trabalho em andamento.

—Claro - ela concordou, assentindo.

—Escuta, se quiser conversar, podemos ir até o meu quarto, o que acha? - ele sugeriu, buscando um pouco de privacidade.

—Sim, me parece uma boa ideia - Priscilla concordou e o seguiu.

Foi uma caminhada em silêncio, os dois aproveitando aquele tempinho para pensar e organizar o que diriam um ao outro, o que queriam realmente dizer um ao outro.

—Vejo que está bem instalado - Priscilla deu uma inspecionada no lugar, o achando espaçoso e arejado o suficiente.

—Sim, eu não tenho do que reclamar - ele sorriu, mas desfez a expressão descontraída lentamente, deixando sentimentos sinceros à mostra - a não ser de uma coisa.

—O que? - o comentário a deixou preocupada.

—Você não ter vindo me visitar antes, eu confesso que senti sua falta - ele se explicou.

Aquilo fez Priscilla corar, um resquício do velho charme dele, não sabia se era um bom ou mal sinal, nem sobre o que fazer quanto a isso no momento.

—Eu estava ocupada resolvendo algumas coisas - ela respondeu com doçura, sendo paciente com ele - mas eu estou aqui agora.

—Está e eu agradeço por vir - ele disse mais uma vez.

—Não tem de quê, me preocupo com você - dessa vez ela foi mais sincera.

—Eu sei - Elvis respondeu quietamente, refletindo sobre isso, tentando não deixar a conversa cair num silêncio constrangedor - e como está a Lisa?

—Pergunta muito de você - Priscilla sorriu ao se lembrar da filha - eu digo que o papai está descansando e que em breve ela vai poder te ver.

—Vai mesmo? - ele quis ter certeza.

—Vai, eu mesma vou trazer, mas é claro que você tem que fazer sua parte - ela condicionou.

—Eu estou me cuidando, pode perceber que eu estou melhor - Elvis comentou e a ex esposa o olhou um tanto impressionada.

—Conseguiu ler meus pensamentos - ela se entregou - era exatamente isso que eu estava pensando.

—Isso me deixa contente, quer dizer que ainda não perdi essa habilidade - ele disse de forma vaga.

—Qual delas? - Priscilla o olhou estreitando os olhos.

—De ler a sua mente, de estarmos tão próximos que sabíamos os pensamentos um do outro - ele explicou.

—Isso, entendo... - ela murmurou, não querendo estender mais o assunto, sentindo onde ele poderia chegar.

Ela esquivou o olhar dele, pensando em como responder àquilo.

—Me desculpe - Elvis falou de repente, percebendo que a tinha deixado constrangida, aproveitando a oportunidade para dizer tudo que sentia, tudo que devia dizer a ela - me perdoe, em nome de Deus, por todo mal que eu te causei, eu a tratei mal, traí sua confiança, te decepcionei com meu comportamento... - ele fez uma pausa inesperada, cedendo ao choro - eu muitas vezes não fui o marido que você merecia, que eu prometi que eu seria, ou até mesmo o pai, e... por mais que eu encontrei paz estando aqui, ela não vai estar completa se você não me perdoar, por favor, Priscilla.

Ela o viu se desmanchar atirado aos seus pés, chorando copiosamente, arrependido de tudo que tinha vivido até aqui.

—Está tudo bem... - Priscilla o abraçou, murmurando baixinho ao seu ouvido - estou vendo que está sendo sincero, e eu respeito você, entendendo o que quer dizer. Talvez eu precise de mais tempo para te perdoar, mas eu me importo com você e pode contar comigo sempre que precisar.

Elvis teve forças de olhá-la novamente por conta de suas palavras, encontrando um olhar de bondade e ternura. Era um tolo por não tê-la valorizado, mas um privilegiado por ela estar ali ainda. Era difícil para Priscilla não se comover com aquela postura, como tinha dito, seria seu suporte a partir de então.

 


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