Uma armadilha de memórias escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 14
O outro Elvis




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Os Presleys passaram um pouco mais de tempo no Brasil, depois, decidindo ir um pouco mais longe. Foram pela primeira vez à Europa, passando por Portugal, Espanha, França e finalmente a Inglaterra. Todos esses lugares eram fascinantes de perto, tudo que Elvis tinha apenas ouvido falar ou visto em algum livro ou TV, estava bem vivo, diante dele.

—Incrivel o sucesso que esses rapazes fizeram por aqui - ele comentou quietamente enquanto visitavam Liverpool e os pontos turísticos que se formaram ali por causa dos Beatles.

—Não só por aqui, pelo mundo todo - Priscilla acrescentou - impossível não se lembrar das garotas histéricas, eu achei que você não gostava muito deles, chegou a ter ciúmes deles, El?

—Ciúmes? Por que eu teria ciúmes? - ele riu e deu de ombros, se esquivando do assunto que o deixou levemente encurralado.

—Ora, eles meio que tomaram seu holofote - ela explicou o que quis dizer - se inspiraram muito em você, sem dúvida, mas também mudaram o rock ao modo deles.

—Sabe, Cilla, na época me incomodou um pouco, mas mais no sentido de me fazer questionar minha relevância - ele confessou - não que eu tivesse inveja do sucesso deles, estava com medo do que poderia acontecer à minha carreira.

—Entendo - ela respondeu, reflexiva - e no fim, tudo acabou, digo, eles acharam melhor se separar.

—Pelo menos eles não tiveram que... armar um esquema e ter que se esconder do público - ele comparou - nisso tiveram mais sorte do que eu.

—E no que você deu mais sorte que eles? - Priscilla quis entender o que ele quis dizer.

—Em nada, talvez? Eu não sei, eles continuam bem, tiveram seu tempo de auge... - ele apresentou outras conclusões - é só que... aqueles garotos tímidos que encontrei aquela vez também viveram seu próprio tumulto de fama.

—Ah é disso que se lembra então, do silêncio constrangedor que tanto eles como você fizeram - ela se permitiu rir, mas depois voltou a refletir - mas falando sério, nenhum famoso está isento de passar por esse tumulto.

—Isso é verdade - Elvis a puxou para mais perto de si delicadamente - mas é bom ter deixado a fama para trás, definitivamente.

Depois de sua pequena estadia em Liverpool, dando o braço a torcer e admirando o trabalho dos Beatles na sua terra natal, rumaram para Tóquio, um lugar que certamente fazia parte do interesse de Elvis. A capital do Japão certamente era chamativa e impressionante com todas as suas luzes neon espalhadas por todo canto.

—A Times Square nem chega perto disso - Elvis comentou com admiração - olha só pra tudo isso...

—Dá pra se perder fácil por aqui - Priscilla respondeu, tentando acompanhar os olhos dele - é um espetáculo e tanto.

—Como será que eles fazem pra deixar tudo isso ligado? - Lisa levantou a questão enquanto caminhava com os pais - um milhão de lâmpadas? E será que eles nunca tem um blecaute?

—Bom, com certeza deve ter um milhão de lâmpadas sim - o pai dela concordou com essa parte da dedução - mas se eles tem um blecaute? Pode ser que tiveram sim, mas devem ter um baita gerador reserva.

Lisa acabou rindo das deduções, só de imaginar um aparato daquele tamanho, mas no fim, acabou que podia ser bem possível, diante da tecnologia que estava presenciando.

—Então, já que estamos aqui, qual vai ser nossa primeira parada? - Priscilla se voltou para o itinerário da família.

—Podíamos ir em algum shopping? Queria ver os jogos que tem por aqui! - sua filha manifestou o queria fazer.

—Jogar no fliperama? Não me parece má ideia, a não ser pelo fato de eu não conhecer os jogos muito bem - Elvis ponderou, mesmo interessado no que Lisa tinha proposto, soava divertido tentar jogar.

—Eu posso te ensinar, pai, não tem nada complicado - a menina se comprometeu e apressou os pais a ir até o destino que ela tanto desejava chegar.

Dentro do fliperama, tão colorido como o exterior que admiravam até um tempo atrás, Elvis se concentrou nas telas que se moviam com os ícones em rapidez, mais a coordenação motora de ser ágil o suficiente. Ele não era um jogador tão bom assim, mas se divertiu de qualquer maneira. A família acabou caminhando um pouco pelo local, depois de pararem para um lanche. Na simples caminhada pelo shopping, encontraram algo que não poderia escapar da atenção dos Presley nem se quisessem.

Ali estava um imitador de Elvis Presley, vestido com o clássico macacão branco com as pedrarias chamativas coloridas, os óculos escuros, topete e costeletas, gestual idêntico. Fazia muito tempo que ele não se vestia assim, mas ver outra pessoa com todo aquele aparato o pegou de surpresa e o deixou assustado. A primeira reação que seu cérebro teve foi "uau, é uma cópia minha" seguido de "então é assim que eu parecia exteriormente? Realmente chama atenção...".

Priscilla notou o homem da mesma maneira, com espanto, mas a seguir, pensando qual seria a reação de seu marido. Observou todas as impressões de Elvis por suas expressões faciais, o choque claro de se ver em outra pessoa.

—Está tudo bem? - ela sussurrou ao seu lado.

—Olha, ele é igual a vo... - Lisa ia falando até que sua mãe tocou o ombro dela levemente, negando com a cabeça freneticamente - claro, o segredo...

O pequeno deslize não intencional de Lisa foi o que despertou Elvis dos seus pensamentos distantes.

—Oi, meu bem, disse alguma coisa? - ele se voltou para a filha.

—Nada, papai, está tudo bem com você? - ela repetiu a pergunta de Priscilla e só agora ela tinha entendido.

—Está tudo bem, sim - Elvis respondeu, dando um pequeno sorriso.

Toda a conversa meio truncada da família, ainda mais dita em outra língua, chamou a atenção do imitador. Ele se aproximou arriscando um pouco de inglês, convidando-os para um show e lhe entregando um cartão de visitas, que, por sorte, também tinha uma tradução do que estava escrito em japonês.

—Arigato - Elvis arriscou de volta, pegando o cartão de visitas nas mãos e olhando para ele.

—É um convite pra um show tributo - Priscilla leu o cartão com ele - é no mínimo interessante, nunca pensei que teria fãs seus num lugar tão longe.

—É o que eu tô pensando... - ele soltou um longo suspiro que nem tinha notado ter segurado por tanto tempo - eu tive... tenho... não sei mais, um verdadeiro impacto mundial...

—Pois é, entendo que possa ser assustador - ela afagou o braço dele de leve, como um gesto de apoio, mostrando que estava ali por ele - quer se sentar e tomar um ar?

—Aham - ele murmurou, segurando a mão que a esposa tinha lhe oferecido.

Se sentaram um pouco em silêncio, pensando no que aquele encontro significava e como ir aos poucos conciliando a ideia de que sim, depois de estar fora daquele mundo por algum tempo, Elvis ainda era um fenômeno impactante.


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