Heaven escrita por Riena


Capítulo 1
I need you to come ease my mind


Notas iniciais do capítulo

Voltei com esta historia, pois ela tem um lugar especial no meu coração e (re) escrevê-la funcionou como uma terapia para mim.
Espero que toque o coração de alguem de algum jeito, em algum momento.

Boa leitura.

Dedicatoria:
Para os Anjos que me acompanharam na queda.
Em sonhos, ainda voamos juntos.



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Existe uma premonição, mais antiga que o tempo. Um Anjo, se apaixonará por uma humana. Não qualquer Anjo e não qualquer humana. Aqueles em que as linhas da existência se cruzam. Juntos serão mais fortes do que alguém alguma vez imaginou. Serão poderosos. O poder deles poderá acabar com o mundo como o conhecemos, se esse for seu desejo. O Anjo será castigado como prevenção. Ficará sem suas asas. Cairá. Passará de Anjo da Guarda e sua glória para um Anjo caído, um demônio amargurado. Quanto à humana, não existe dúvida que a morte a espera.  Quanto mais tempo passa, mais perto fica de acontecer. Os Anjos sabem. Todos os seres celestiais conhecem a premonição. Aprendem sobre ela desde o começo dos seus dias. Escutam-na como se fosse uma história de terror. Alguns dizem que é uma forma de manter os Anjos da Guarda no caminho certo. Para que não percam o foco da sua missão. Não pode existir nada mais importante do que isso. Proteger o humano que os Arcanjos decidem pertencer a cada Anjo da Guarda até ao fim dos seus contáveis dias. Ao chegar ao fim a linha da vida de cada protegido, tudo se repetirá e cada Anjo receberá um novo protegido. O ciclo vem se repetindo por milênios, mas todos sabem que a ligação entre anjos e humanos tem vindo a enfraquecer. Alguns culpam a proximidade da premonição. No fundo eles sabem, que o que tem que acontecer, acontecerá, porque o que está escrito vai perdurar até o fim dos incontáveis dias do mundo. 
A missão dos Anjos da Guarda é simples. Proteger o seu assinalado, também conhecido como o protegido, fazer os possíveis para o humano ter uma vida feliz. Ajudá-lo a fazer boas ações. Inspirá-lo. Os Anjos podem evitar acidentes, mas nunca fatalidades da vida, como doenças. Todos os humanos nascem com uma linha traçada. Alguns nascem com uma linha maior do que outros. Assim é a linha da vida. E se cada humano chegar ao final da sua linha da vida, então o Anjo cumpriu sua missão com sucesso. Não recebem nenhum tipo de recompensa, simplesmente porque existem para isso. Não recebem agradecimento dos humanos assinalados porque eles mesmo não sabem que são assinalados e protegidos. 
Não são todos os humanos que ficam sob a proteção do seu Anjo da Guarda por toda a linha da vida, embora todos nasçam com um. Os humanos têm tendência a seguir por caminhos que nem mesmo os seus protectores podem interferir e tomar decisões que acabam resultando no afastamento da proteção divina. É frustrante para os Anjos da Guarda quando perdem os seus assassinados, simplesmente por inconsequência dos humanos. 
Todos os assinalados nascem com uma marca em algum lugar no corpo. Enquanto sob proteção do seu guardião, a marca permanece. Simboliza a ligação entre o  Guardião e o seu Protegido. Todos os Anjos tem uma marca diferente e todos os assinalados têm a mesma marca do seu protetor. Humanos tendem a ver a marca como uma pequena mancha ou cicatriz, mas também existem os que não a enxergam de todo.
Os Anjos da Guarda vivem na terra. Podem visitar o céu, caso seja necessário, mas por norma não o fazem. São orgulhosamente conhecidos por saber fazer o seu trabalho e não precisarem de ajuda ou guiamento dos seus superiores. Eles são invisíveis aos humanos, embora possam se fazer mostrar caso seja necessário intervir. 

Ser Anjo da Guarda nem sempre é um trabalho fácil, mas cada humano é um humano e a coisa boa é que cada missão sempre acaba sendo diferente.

 

*

 

Fazia séculos que Camael não se divertia tanto por conta de um assinalado. Esta humana era sem dúvida sua favorita de todos os tempos. Muitas vezes ele sentia vontade de se mostrar a ela. Se apresentar como um humano normal. Os Anjos podiam sentir o que seus assinalados estavam sentindo. O guardião poderia até enviar emoções até seu protegido, mas não conseguiam saber seus pensamentos e Camael dava por si, várias vezes querendo entrar na cabeça da sua assinalada. Simplesmente porque queria saber o que ela pensava, achando que com certeza seria muito divertido.
Bella caminhava apressada pelo campus na faculdade. Estava atrasada por culpa da sua colega de casa, Alice. Era sua melhor amiga desde os tempos de escola, mas isso não impediria Bella de ter vontade de a esganar. Com os livros na mão, Bella apressou o passo. Camael caminhava calmamente ao seu lado, um pouco divertido pelo desespero dela. Ela odiava chegar atrasada. Camael podia sentir a sua frustração. Os livros caíram das suas mãos. Coisas inexplicáveis sempre lhe aconteciam, principalmente quando estava atrasada. Bella olhou o céu. —Sério? —Ela perguntou indignada. 
Humanos sempre tinham tendência para querer culpar algo ou alguém por suas inabilidades. Bella bufou, se abaixando para pegar os livros. Camael se abaixou junto com ela, rindo, mas então ele sentiu as emoções dela caindo pesadas sobre ele. Sentia que o coração dela acelerava. Camael se aproximou quando ela pareceu desistir e se sentou no gramado, com os livros espalhados na sua frente. Ela fechou os olhos e Camael viu as lágrimas escorrendo pelas bochechas dela. Camael já a viu chorar imensas outras vezes. Principalmente no último ano, quando ela perdeu os pais em um acidente. Camael como um eficiente Anjo da Guarda a salvou do meio dos destroços. —Hey pequena. Levanta. Vai para a aula. — Camael disse. 
Sabia que ela não o podia escutar, mas sabia que ela podia sentir. Ele levou a mão ao queixo dela. Não a conseguia sentir, não em sua forma invisível, mas sabia que ela continuava sentindo. Bella sentiu uma brisa fresca no rosto. Abriu os olhos e secou as lágrimas. Sentindo-se subitamente confiante, ela pegou seus livros e se levantou. Camael se levantou junto com ela, sorrindo orgulhoso e Bella seguiu para sua aula com Camael do seu lado.

 

  *

 

Depois de um longo dia, finalmente era hora de voltar para casa. Camael podia sentir o cansaço dela. Distraída, Bella saia do edifício principal. Camael sussurrou um “Cuidado” para que ela não caísse os 5 degraus e quebrasse uma perna. Bella levantou os olhos do livro e olhou os degraus. —Boa menina. — Camael disse. 
Caminhando pelo campus a caminho de casa, Alice surgiu na frente de Bella. Camael agradecia os Arcanjos por não terem assinalado ela como sua protegida. Ela era incontrolável. 
—E então amiga, preparada para logo de noite? —Alice perguntou animada. 
—Logo de noite? — Bella perguntou se fazendo de desentendida, embora soubesse perfeitamente que Alice falava sobre a festa. 
Alice revirou os olhos. — Não vou aceitar desculpas para não ir. Vamos nessa festa e vamos arrasar. Já cuidei dos  nossos vestidos e além disso, que tal se divertir um pouco? O teu cérebro vai fritar de tanto estudar. — Alice falou como se tivesse muita certeza disso. Camael nunca soube de nenhum humano, qual seu cérebro fritou de tanto estudar, ou de tanto qualquer outra coisa. Bella concordou. Camael não sentiu nela nenhuma vontade de realmente ir na festa, mas humanos, por alguma razão inexplicável, sempre acabam fazendo coisas que não querem. Dizendo coisas que não sentem. Alice bateu palmas e gargalhou. Parecia exageradamente feliz. Beijou sua amiga e falou que se encontrariam mais tarde e iriam se arrumar juntas para a festa. Camael fez uma nota mental de que não queria participar disso. Ele era um ser imortal, mas sua paciência não era e tudo tinha limites. Com certeza Bella não correria riscos enquanto se preparava para a festa a ponto de precisar da presença dele. Claro que ela poderia ter uma crise de tédio desesperador, mas Camael poderia ajudá-la sobre isso depois.  
Em casa Bella jogou seus livros na mesa. Tirou seus tênis e soltou seu cabelo. Camael observou como os cabelos negros dela eram brilhantes e se perguntou se seriam tão macios quanto ele imaginava. Ela se jogou na cama, exausta mas com um ar de satisfação momentânea. Camael, como sempre, ficou no canto do quarto e lhe enviou a tranquilidade que ela parecia precisar. Bella fechou os olhos. —Shhhh pequena. Dorme. — Camael disse. Bella suspirou. Camael se aproximou e tocou com a sua mão no rosto dela, embora não sentisse nada. Bella sentiu a brisa familiar. Não sabia o que era, mas a deixava tranquila. Tinha crescido sentindo a presença constante. Nunca a mencionou a ninguém porque não precisava de um atestado de loucura. Sentindo a leveza no corpo, Bella se deixou dormir. 

No seu sonho ela viu a figura de sempre. A mesma pessoa que sempre estava lá. Bella não sabia quem era, muito menos alguma vez o tinha visto, ainda assim o achava lindo. Parecia habilmente desenhado pelo melhor artista. Seus olhos eram verdes. Tão verdes que Bella sabia que não podia ser real. Os cabelos eram ruivos e bagunçados. Refletiam os raios de sol, parecendo que os fios pegavam fogo. A pele dele era clara, em um contraste chocante com sua roupa sempre escura. Os lábios eram perfeitamente desenhados como qualquer outra parte dele. Ele era alto, o corpo era forte, mas esbelto. Olhava para ela sorrindo. Um sorriso que parecia guardar segredos. Bella sabia que era um sonho mas não conseguia evitar ficar nervosa. Bella nunca viu homem mais lindo e muito menos olhando para ela daquele jeito. Ele desceu da moto e caminhou até ela, parecendo um Anjo vingador, sorrindo o mesmo sorriso que provavelmente Lúcifer sorriu quando caiu do céu. O coração de Bella quase queria saltar pela boca. Ele passou o braço em volta da cintura dela, apertou o corpo junto ao dele. Bella mordeu o lábio querendo impedir um gemido surpresa de sair da sua boca sem autorização. Não queria parecer desesperada nem mesmo no seu sonho. Ele levou o rosto até ao seu pescoço. A pele dele queimou a dela, ainda assim ela o ofereceu de bom grado. Ela sabia, mesmo sem saber como, que lhe daria tudo o que ele quisesse.
— Senti a tua falta. — Ele disse. 
Bella sentiu os lábios dele na sua pele. Sentiu a língua dele provar-lhe o sabor. O gesto foi familiar, como se a língua dele tivesse provado a sua pele inúmeras vezes. Bella queria perguntar quem ele era porque metade dela realmente não o conhecia, mas então, acordou subitamente. O coração ainda batia rápido. Ela estava suada. Ainda sentia a pele quente onde ele a tinha tocado. Camael a observava com uma curiosidade quase clínica. Queria saber o que ela estava sonhando. Seria muito útil conseguir entrar na cabeça da sua protegida. Bella se levantou rapidamente. Foi até a sua porta do quarto e a trancou. Camael que nunca ficava por perto enquanto ela dormia, decidiu que talvez fosse uma boa ideia, visto que era muito interessante observar seus comportamentos. Bella continuou encostada na porta trancada, com a respiração acelerada. Camael se perguntou, se ela estava com medo, mas ele não sentia nenhuma dessas emoções vindo dela. Se sentia inquieto com um formigueiro estranho no corpo. Ela fechou os olhos, mordeu o lábio. Camael sentiu algo que ele não conseguia explicar. Bella levou uma das suas mãos a um dos seios e o apertou. Camael percebeu os mamilos dela enrijecidos em baixo da blusa. Percebeu que não era suposto ele notar esses detalhes ou sequer estar ali. Que os humanos têm direito a sua privacidade. Percebeu que não era suposto estar sentindo o que estava sentindo, embora ele não soubesse explicar exatamente o quê. Viu ela apertar o seu seio mais uma vez, rodear o mamilo com a ponta dos dedos. Camael sentiu a ponta dos seus próprios dedos pinicar. Camael susteve a respiração na expectativa. Deu por si querendo ver mais dela. Estava curioso. Com um sorriso frustrado, ela parou de se tocar. Caminhou até ao banheiro e bateu a porta com força. Como que em choque, Camael ficou quieto. Escutou ela entrar no duche. Escutou a água cair. Olhou suas mãos que pareciam tremer um pouco. Quase parecia ter sentido a pele dela nos seus dedos. Sentiu as emoções desconhecidas se acalmar. Não sabia quais os nomes que se dava ao que estava sentindo. Sabia que não era apenas as emoções dela correndo o corpo dele. Eram também as suas próprias e isso era o mais assustador. Nunca antes sentiu as suas emoções se misturarem com as dos seus assinalados. No geral ele não sentia nada, apenas enviava emoções para ajudar os protegidos e fazê-los sentir melhor. Camael saiu do quarto. Talvez ele estivesse passando muito tempo observando sua assinalada.

 

*

 

Bella e Alice chegaram na casa onde acontecia a festa. A música era alta e quase toda a faculdade parecia ter sido convidada. Bella se perguntou porque não fingiu uma doença repentina. Ajustou o vestido curto no corpo, tomando coragem. Era preto que nem seus cabelos e seus olhos e Alice dissera que a fazia parecer poderosa e até mesmo assustadora. Bella não sabia como parecer assustadora, poderia ser uma coisa boa, mas não questionou. No caminho até a festa Bella falou do seu sonho com o homem misterioso. Deixou alguns detalhes de lado, claro. Não mencionou que ele sempre aparecia nos seus sonhos e não mencionou que queria que ele fosse real. Não mencionou o sentimento de familiaridade que sempre a envolvia. Como se ela sempre o esperasse. Como se ela soubesse que ele iria aparecer com sua moto intimidante para a encontrar. Alice disse que Bella estava carente. Essa era a única explicação e que era normal tentar se compensar em sonhos. Que fazia muito tempo desde que ela tinha estado junto com alguém e que provavelmente era a hora. Mesmo que sua mente não quisesse ninguém, o corpo continuava tendo vontades e necessidades básicas. Alice sugeriu que Bella tentasse se divertir na festa e que Mike estava interessado nela.
As duas amigas entraram. Estava calor dentro de casa. As duas pegaram bebidas. Bella sentiu o álcool queimar todo o seu interior. Bella e Alice se juntaram às suas colegas para dançar. Bella decidiu então que iria se divertir. Mesmo que fosse sozinha. Tencionava dançar até não ter mais força e seus pés doerem. Todo o tempo que ela dançou, segurou um copo com bebida na mão. Sentia que algo lhe estava dizendo para ela parar. Que estava passando dos limites. Decidiu ignorar todos os avisos. Mike se aproximou, sorridente e lhe ofereceu uma outra bebida. Bella escutou sua consciência gritar para ela não beber. Sentiu a familiar brisa fresca na sua mão. Ignorou tudo. Não estava em condições de interpretar sinais. Mike tirou o copo da mão dela. Perdendo o equilíbrio, Bella jogou os braços em volta de Mike, rindo como se fosse tudo muito engraçado. Mike riu com ela. Falou algo no ouvido dela que ela não escutou. Mike pegou sua mão. Bella esqueceu de perguntar onde estavam indo e de dar tchau para as meninas. No meio da multidão, Bella perdeu a mão de Mike e tropeçou em algo. Alguém. Sentiu braços fortes e quentes em volta dela, suportando o seu peso. Bella levantou seu olhar. Viu os olhos verdes. A boca desenhada. Os cabelos ruivos. Deixou-se ficar nos braços dele porque eram familiares e acolhedores. Ele não parecia feliz em a ver como no seu último sonho, no entanto. Na verdade, parecia até meio chateado. Bella teve certeza que tinha bebido demais. Ou talvez precisasse do seu atestado de loucura, visto que estava tendo alucinações graves. — Você . — Ela tentou dizer. 
O estranho franziu a testa. Ele era tão lindo, mas estava tão chateado. Bella escutou a voz de Mike de longe. Fechou os olhos e sentindo os braços fortes ao redor dela, encostou a cabeça no peito dele. A voz de Mike desapareceu. Bella não ligou. Sentiu seus pés perderem o chão. Sentiu que flutuava e que algo quente a envolvia. Se esforçou para abrir os olhos. Viu o céu estrelado em cima dela, se viu coberta de algo macio e dourado. Fechou os olhos não conseguindo enxergar tanta luz e beleza. Escutou uma voz doce no seu ouvido.
— Está tudo bem pequena. —
Aquela voz. Aquela voz que poderia comandá-la a fazer qualquer coisa. Ela relaxou no conforto do que a envolvia. A última coisa que sentiu foi uma brisa no seu rosto seguido por um toque quente que parecia aquecer sua pele.

Bella sonhou com anjos de asas brilhantes e vozes cantadas em sussurros.


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Notas finais do capítulo

Feedback sempre é bem vindo :)
Até ao proximo cap.



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