Louca Inspiração escrita por Mililika, Bia Kenway


Capítulo 3
Não briga comigo, por favor...




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Brian acordou tarde. Ultimamente isso estava se tornando rotina já que andava indo dormir tarde para colocar os episódios atrasados em dia. Pelo menos não tinha que ouvir reclamações sobre a demora para escrever já que estava quase em dia e mais um pouco conseguiria começar a ficar adiantado e aí poderia relaxar um pouco.

Ele estava terminando de preparar o almoço quando a campainha tocou. Franzindo a testa, se perguntando quem poderia ser foi atender e levou um susto ao ver Dawson. 

— Nós combinamos alguma coisa?  - Perguntou com ar de dúvida. - E essa mala? Pra que é?

— Vou ficar aqui até a turnê. - O loiro explicou como se não fosse nada demais e foi entrando sem esperar convite. - Estou me sentindo solitário lá no meu apartamento.  E como eu sou a sua fonte de inspiração nada melhor do que eu ficar por perto 24h por dia! - Disse animado e já largou a mala em um canto e se atirou no sofá tirando as botinas. - Tô morto de fome. Tem algo pra comer?

Brian ficou olhando da porta para Dawson e de volta para a porta e depois para as botas do cantor no chão e para a porta de novo e depois para a mala.

— Como assim? Aqui só tem uma cama! - Brian exclamou em um tom de choque.

Dawson riu maroto. Obviamente ele não estava esperando que Brian o recebesse de braços abertos, mas não esperava que essa fosse ser a preocupação dele. Coisa de virgem. 

— Eu durmo no sofá, não me importo. - disse tranquilo. - Você é  virgem, ruivinho?

Sentindo que estava corando até a raiz dos cabelos, Brian suspirou e fechou a porta. Ele já havia percebido que Dawson era do tipo que quando decidia não voltava atrás.

— Não. Eu não sou virgem. - O rapaz respondeu e ficou com vergonha de dizer que, apesar de não ser virgem, era quase um já que só havia feito sexo uma vez e já fazia algum tempo. - E não é por isso que eu estou preocupado. Acho que você tem que dormir bem nos próximos dias já que vai ter essa maratona de shows e o meu sofá apertado não é exatamente confortável.  - Acrescentou enquanto voltava para a cozinha. Pegou mais dois ovos na geladeira e começou a preparar mais uma omelete para Dawson.

Dawson ficou até meio surpreso ao saber que o ruivo não era virgem. Ele o seguiu até a cozinha e se apoiou à mesa, observando-o cozinhar.

— Então tudo bem. Eu durmo na cama com você já que você faz questão. - Falou.

Brian quase deixou os ovos caírem. 

— Eu não disse que você pode dormir comigo! - Falou todo agitado. - Você fica colocando palavras na boca dos outros. - Resmungou. 

Olhou ressabiado para o cantor enquanto quebrava os ovos. 

— Ok. A cama é grande. É só manter as mãos comportadas. - Disse por fim. Estava realmente preocupado com as costas de Dawson.

Dawson sorriu malandro e se aproximou sorrateiro, para então abraçar Brian por trás e descansar o queixo no ombro dele.

— Tudo bem quando é comigo, mas alguém já te falou que você cede fácil demais? - Perguntou. - Quer dizer... Se eu insistir que não vou manter as mãos comportadas, você acabaria cedendo também?

Brian estremeceu e de repente ficou bem difícil de respirar. Ele não queria admitir, mas continuava confuso em relação aos seus sentimentos em relação a Dawson e ficar morando com ele alguns dias só pioria a situação. 

— Estou cedendo nesse caso porque você é meu amigo e eu quero o seu bem. Não é isso que amigos fazem? - Disse enquanto fingia que aquele abraço não o afetava em nada. - E se você tentar passar as mãos bobas em mim eu te chuto para o chão... E hoje talvez você tenha a cama só pra você. O Kaio vem me buscar pra gente ir comer uma pizza e se eu tiver coragem vou acompanhá-lo até o apartamento dele. - Murmurou a última parte todo tímido.

— Kaio? - Dawson o soltou então. Parecia errado agora já que ao que parecia Brian estava envolvendo-se com outro cara. - Hm, gostei de saber que me considera um amigo. - Abriu um sorriso e foi sentar-se à mesa depois de colocar os pratos e talheres. - É como você está se envolvendo com alguém me manterei comportado. - Garantiu. - É bom ver você saindo do "casulo". Mais um pouco e será uma linda borboleta. - Disse brincalhão.

— É aquele cara que eu conheci no dia do show... – Brian comentou e tentou não pensar que havia ficado subitamente frio sem os braços de Dawson ao redor dele. – Ele me ligou e perguntou se eu tinha um tempo livre. Falei que tudo bem. Se eu soubesse que você apareceria não teria marcado nada. E você é meu amigo. Me ajuda muito conversar com você. – Sorriu.

— Que isso! Não deixa de fazer as coisas por minha causa. Estou feliz por você, tomara que a noite seja ótima e vocês transem até desmaiar. - Falou num tom malicioso. - Tenho a impressão que você está precisando disso. Conversar comigo pode ajudar, mas uma boa noite de sexo relaxa a gente mais do que qualquer coisa. - Assegurou bem à vontade.

Brian mordeu o lábio inferior enquanto terminava de colocar a comida sobre a mesa. Sentou e começou a se servir sendo acompanhado pelo cantor.

— Vamos ver. Eu gostei da conversa dele e dos beijos naquele dia, mas não sei se eu me sentiria à vontade ainda para ir assim para a casa dele. – Disse. – Você perguntou se eu sou virgem... Eu não sou, mas é quase como se fosse. Só fiz uma vez, com um primo há muito tempo. Não sei se eu consigo sem entrar em pânico de novo... Vou lá comer a pizza com ele e ver no que vai dar. Se não rolar, tive mais experiências e um novo amigo que talvez futuramente possa se tornar algo mais. Não tenho pressa para transar.

— É uma forma de pensar. Mas se você for pra casa dele pode ter certeza que ele vai tentar te levar para a cama. Porém se você não estiver a fim, seja firme e diga que precisa de mais tempo. - Dawson aconselhou. - Mas se quer minha opinião, sexo é algo natural. Ele pode ou não significar muita coisa. Só uma forma de prazer, ou também uma forma de amar. Não consigo entender todo o drama e normas que a sociedade criou em cima de algo que o ser humano faz desde que o mundo é mundo. Mas, bem, respeito quem pensa diferente.  Sexo parece ser algo importante pra você.

— Eu sei que pode ou não significar algo... Só não me sinto pronto ainda. – Brian apertou as mãos e encarou o chão. Será que ele conseguiria dizer que não queria caso Kaio insistisse? E o advogado entenderia? De repente aquele encontro não pareceu ser uma boa ideia. – Vou cancelar. – O autor disse em pânico. – Eu não sinto bem perto dele como me sinto perto de você. – Disse num tom sincero. 

— Hei! - Dawson pegou a mão de Brian e a apertou. - Você mal o conhece! Ao menos dê a ele e a si mesmo uma chance! Quem sabe depois dessa noite você não passa a se sentir confortável perto dele também? É normal sentir nervosismo antes de um encontro, relaxe. - Riu de leve. - É ir num encontro certamente vai te inspirar! - Disse tentando passar confiança.

Brian puxou o ar e o soltou lentamente. É, não tinha porque ficar tão nervoso antes da hora. Se Kaio o convidasse para ir até o apartamento, Brian diria o que disse a Dawson: que não estava pronto. Aí se o advogado iria entender ou não já não era problema do ruivo.

— Tudo bem. Vamos almoçar. Não sei se está bom de sal. Não tenho costume de cozinhar para os outros. – O ruivinho disse em uma tentativa de mudar de assunto e parar de pensar no encontro por hora.

Dawson deu uma boa garfada e disse que estava ótimo.

E o resto do dia passou voando. Brian ficou escrevendo e Dawson tocando ou compondo. Algumas vezes o loiro parava e ia tentar xeretar por cima do ombro do ruivo, mas Brian o enxotava dali antes que ele pudesse ler muita coisa.

O loiro em certo momento acabou cochilando no sofá em meio a um filme que passava na TV, então perdeu o momento em que o ruivo se arrumava para o encontro. 

Quando acordou, depois de babar na almofada, viu Brian já pegando a chave para sair. 

— Está bonito. - Disse para ele. - Eu pegava. - Sorriu malandro.

— Pra você se está usando calça ou saia e se move, você pega! – Brian retrucou após soltar um “hupft!”.

— Assim você me ofende. Se quer saber, sou bastante seletivo. Também é preciso ter mais que dezoito anos, por exemplo.- Informou, sorrindo de lado. - Bom encontro.

Brian riu e estirou a língua para o cantor antes de sair. Kaio já estava esperando em frente ao prédio quando Brian desceu. Eles se cumprimentaram apenas com um aperto de mão e desceram a rua conversando até a pizzaria que ficava perto do loft do autor.

O autor se divertiu com os casos que Kaio contava já ter defendido e ele contou que pensava um dia em escrever uma série policial de assassinatos e perguntou se poderia usar algumas daquelas histórias. Kaio disse que seria uma honra e que o ajudaria com mais histórias.

Mas o encontro não passou disso. Terminaram a pizza e o advogado o acompanhou de volta até o apartamento. Antes que o ruivinho entrasse, Kaio o beijou.

— Espero que a gente possa repetir em breve. – Kaio disse ao se afastar.

— Tudo bem. – Brian murmurou todo corado. 

Despediram-se e Brian entrou no loft.

— Voltei. – Disse para Dawson que estava no sofá.

— Já? Agora que eu estava pensando em chamar um pessoal pra jogar pôquer. - Lamentou. Obviamente estava mentindo, na verdade poucos dias antes de uma turnê ele preferia ficar mais em casa, regrado, descansar bastante, dormir bem, para depois aguentar o tranco e fazer ótimas performances, até por isso achou uma boa ideia ir ficar com Brian, ao menos teria uma companhia. 

— Ele não me convidou para ir no apartamento dele. – Brian comentou enquanto sentava ao lado de Dawson e tirava os sapatos. – A gente conversou e foi divertido... Teve um beijo no final, mas... Falta alguma coisa. – Disse mais para si do que para o cantor. – Pareceu um dos encontros do meu seriado. – Fez uma careta. 

— Eu ia dizer que não dá pra esperar que um primeiro encontro seja coisa de seriado, mas parece que foi mesmo. - Dawson ironizou com um sorriso divertido. - Vem cá, eu fiz umas pipocas, salgada e doce, e comprei um suco no mercado aqui perto.  Vai começar um filmáço na Telecine Pipoca. - Deu batidinhas no lugar vago no sofá.

Brian se largou no sofá e pegou um punhado de pipoca. 

— Não é que eu quisesse que fosse como um encontro de seriado... Mas sei lá. Eu não sinto nada de diferente com ele. É só... normal, entende? – Balançou levemente os ombros. – Acho que a noite vai ser fria. – Mudou completamente de assunto enquanto tirava os sapatos, mas manteve as meias. 

— Não tem problema ser fria. É até melhor. Aí a calefação não dá conta e você se agarra em mim durante a noite querendo calor. - Disse o loiro, crente de que isso aconteceria sem dúvidas.

Brian deu uma risadinha nervosa e sentiu que as orelhas estavam ficando quentes. Ele havia passado um bom tempo conversando com Kaio e não teve aquela reação e bastaram cinco minutos para que Dawson conseguisse deixá-lo todo quente.

— Você é muito convencido. E se eu falar dormindo e te chutar da cama? Nunca dormi com ninguém antes então não sei se isso pode acontecer. – Falou enquanto pegava mais pipoca.

— Aí minhas reações podem ser imprevisíveis. - O loiro sorriu cheio de sugestões em cada um dos dentes. - Mas, se me der licença, já que não tá rolando nada entre você e o Kaio... - Falou e, depois de puxar o sofá abrindo-o em um sofá-cama,  se achegou para perto de Brian.

Nem pediu por favor, no minuto seguinte Brian estava deitado no peito de Dawson, e esse parecia bem à vontade com os braços ao redor do ruivinho.

— Não precisa ficar tão vermelho. - Disse o cantor. - É filme de terror e eu preciso de algo pra apertar nas cenas fortes.

O coração de Brian estava parecendo um tambor e ele sabia que Dawson conseguiria sentir. Ficou quieto e não retrucou nada porque não sabia o que dizer. Além disso, os créditos iniciais do filme estavam começando e ele fingiu estar mais interessado em ver quais atores participariam.

“Nós somos amigos. Só isso. Eu não tenho nada que querer mais do que isso. Não posso estragar tudo agora. Ele me ajuda e as coisas vão ficar estranhas se acontecer qualquer coisa entre a gente. Além disso, ele fala essas coisas brincando. Não é sério. Mas e se fosse? O que eu faria? Não. Não. Só amizade. Tem que ser assim... Só que eu queria um beijo. Não! Foco, Brian, foco!”, a expressão de Brian era de concentração, mas sua mente era uma bagunça só.

Sem perceber sua mão deslizou até a barriga de Dawson e começou a subir e descer lentamente, em um carinho. Estava tão gostoso ficar daquele jeito, abraçadinho, curtindo o filme.

Dawson também ficou fazendo carinho nas costas do ruivo. O filme foi avançando e ele decidiu apagar a luz. Era só esticar o braço para alcançar o disjuntor, do contrário, ele não sairia dali. Dawson era uma vergonha de medroso para filmes de terror e ele não queria que Brian visse suas expressões de pânico. E, dito e feito, nas cenas fortes ele abraça o ruivinho com força e soltava umas exclamações de medo.

— Ai meu Deus! Meu Deus, meu Deus, meu Deus! Mas que homem burro, é pra fugir, não pra ir verificar o que foi aquele barulho. E no escuro! Gente burra... Fosse eu já tava na esquina correndo botando os bofes pra fora.

Brian riu com gosto.

— Ai. Nunca imaginei que você fosse do tipo medroso! – Brincou. – Eu iria investigar que nem ele. O que pode acontecer de ruim? Aparecer um zumbi... Aí é só estourar os miolos dele. – Falou num tom divertido. 

— Ah é? E se for fantasma, hein? Vai fazer o quê? Estourar miolo de fantasma não dá, ô Sr. Corajoso. - Dawson o apertou um pouquinho mais.

— O que um fantasma pode fazer de mal? – Brian retrucou e ergueu a cabeça um pouco para encará-lo, mas sem se afastar. – Hum... Se bem que ele pode te possuir. Mas aí é só chamar os caça fantasmas. – Riu ainda mais e lá na televisão o filme continuava tenso, mas Brian nunca foi de ter medo de filmes de terror. – Enfrentar uma sala cheia de gente bem viva querendo comer o seu fígado é bem pior. – Resmungou enquanto se lembrava da última reunião na empresa.

— Hunf. Fantasmas podem te matar e não tem como você se defender. Agora de pessoas... Elas só nos machucam se a gente deixar. - Dawson  continuou o carinho meio "apertado" em Brian. - E se você precisar, eu viro seu "caça-pessoas" e não deixo nenhuma delas te fazer mal. Mas claro que em troca você tem que me proteger dos fantasmas.

Brian mordeu o lábio inferior e estremeceu. Seus olhos desceram até os lábios de Dawson e retornaram para os olhos do cantor. 

— Tá. Prometo que se algum fantasma aparecer eu chuto o traseiro de ectoplasma pra você. – Sussurrou.

— Ecto-quê? Ah, esquece. É palavra de gente inteligente e pra mim o importante é a parte de chutar a bunda do fantasma. - O loiro falou. 

Aí houve uma cena de susto no filme e ele quase pulou do sofá. Apertou Brian com mais força e escondeu o rosto no pescoço dele. 

— Ai Jesus, me avisa quando essa cena terminar. - Pediu medroso.

Brian riu, sentindo cócegas, e fez um carinho na nuca do cantor.

— Por que você escolheu esse filme se passa mais tempo sem olhar pra tela do que olhando? – Perguntou num tom divertido.

— Eu gosto de filmes de terror. Dá uma adrenalina. E claro, é uma ótima desculpa pra te apertar sem ser chutado.

Brian corou ao se dar conta como estavam.

— Eu... Eu vou fazer chocolate quente. Você quer? – Perguntou, nervoso, tentando levantar, mas sem realmente fazer esforço para sair dos braços do cantor.

— Não, valeu. Depois de toda essa pipoca doce, já não consigo pensar em mais coisas com açúcar. - Dawson o soltou relutante. - Você vai mesmo me deixar aqui sozinho com as assombrações?

O ruivinho não queria realmente levantar e a cara de cachorro abandonado de Dawson não ajudou a fazê-lo sair do lugar. Por fim ele acabou desistindo de ir fazer o chocolate, murmurou um “vou ficar aqui” e continuou deitado sobre o peito do cantor. 

O filme terminou e uma comédia romântica começou, mas estava bem sem sal e Brian começou a cochilar.

Dawson se levantou e ergueu levando Brian no colo. Ele também estava cochilando no sofá. Foi uma luta para fazer Brian escovar os dentes, já que o ruivinho parecia mais interessado em dormir. Mas depois de alguns minutos estavam os dois de dentes escovados e pijamas colocados na cama.

— Se o Kaio tivesse te convidado pra casa dele... Você acha que teria ido pra cama com ele? - Dawson perguntou após um tempo curto de silêncio. Ele não sabia se Brian já estava dormindo, mas assim que a pergunta saiu de sua boca ele desejou que o ruivo estivesse, porque ele não tinha a mínima idéia de por que havia perguntado aquilo. Não deveria importar, certo? 

Ele e Brian... devia continuar como estava. Dawson não queria que o escritor se machucasse, e ele, Dawson, era sinônimo de decepção. O loiro era tão cheio dos defeitos. A começar por seu problema com drogas, e Brian merecia melhor.

— Eu não teria ido. Você está aqui porque eu iria para a casa dele? – Brian murmurou mais dormindo do que acordado, sem se dar a menor conta do que dizia e se aconchegando mais nos braços de Dawson.

Dawson franziu a testa e ergueu a cabeça para tentar olhar melhor para o ruivo e verificar se ele não estava falando de brincadeira. Mas pior do que isso... Brian estava era já ressonando tranquilamente no mundo dos sonhos.

O cantor soltou o ar pelas narinas e balançou de leve a cabeça antes de se deitar novamente, mantendo um braço circulando a cintura do mais novo.

— Ai se eu te pego, ruivinho... - Murmurou antes de também fechar os olhos e tentar dormir.

XxxX

O dia seguinte transcorreu tranquilo. Se você considerar tranquilo Dawson atrapalhando a cada dez minutos as tentativas de Brian de escrever. Ou era para perguntar onde ficavam os potes na cozinha, ou porque Brian tinha um casaco com ombreiros no armário, ou se ele já tinha terminado de escrever, se queria ver o filme que iria passar na televisão, se havia visto a notícia sobre o terremoto na Ásia, se queria comer um pouco da massa que ele havia feito e assim por diante. O loiro era hiperativo e não conseguia ficar quieto por muito tempo, exceção era quando tinha algum surto de inspiração e ia compor algumas músicas.

No meio da tarde, Dawson tomou um banho e então mandou Brian se arrumar e fazer o mesmo.

— Vamos sair! - Disse ele empolgado.

Brian nem tentou discutir quando Dawson começou a puxá-lo em direção à porta.

— Alguém já te disse que você parece uma criança ligada a 220 na tomada? – O ruivinho falou cansado só de imaginar o que Dawson queria fazer. – Nós não vamos no monstro de duas rodas não, né?

— É claro que vamos. Pra que eu ia gastar em táxi se tenho minha lindeza? - Perguntou.

Suspirando exasperado, Brian chaveou a porta e acompanhou o músico.

— Pelo menos posso saber o que você está aprontando ou vou dar de cara com outra montanha russa?

— Cassino. Estou com saudades de jogar. - Disse o loiro. - Tem um hotel perto da Universidade de Toronto que tem um. Eu costumava ir lá depois das aulas. Isso no pouco tempo em que frequentei uma faculdade.

— Eu nunca fui num cassino. – Brian comentou e ficou realmente empolgado com a ideia porque seria ótimo conhecer um lugar assim para usar como cenário futuramente em alguma cena do seriado. – E eu não consigo te imaginar sentado assistindo uma aula. De nada. Nem faculdade, nem na escola. Você devia ser o terror dos professores.

— É, dá pra dizer que nenhum professor nunca me adorou. - O loiro deu de ombros e suspirou.  - Justo eu que sempre tentei ser um bom aluno. Que culpa eu tenho se sou um pouco hiperativo? 

Brian apenas revirou os olhos e então eles subiram na moto. De novo, durante o percurso,  Dawson sorria ao sentir Brian apertando firme sua cintura, até mesmo quando não estava andando rápido.

Não demorou, no entanto, muito tempo para que chegassem no hotel. O interior era elegante e de aspecto caro. Dawson informou aonde queriam ir e um empregado do local os guiou até a área do cassino.

O lugar tinha o ar extravagante tal qual a maioria dos cassinos, as cores predominando em vermelho, uma longa área de slot machines, outras para roletas, blackjacks, poker e outros jogos de azar e fortuna. 

— Cá estamos. - Dawson inspirou profundamente como se o ar ali de dentro fosse mais puro. - O que você quer tentar primeiro?

— Vamos na roleta. – Brian disse animado segurando a mão de Dawson e o puxando até lá. – Eu vou apostar no número 3 e no 86. – Colocou duas fichas nos números e ficou sorrindo enquanto esperava as outras pessoas fazerem as suas apostas. – Parece aquele filme Onze homens e um segredo. Só falta o Brad Pitt.

— Vou no 4 e 56. - Dawson colocou as fichas também.

A roleta girou e o dado quicou. Para surpresa dos dois, um dos números de Brian foi onde o dado parou.

— Uau! Sorte de principiante chegando com tudo! - O loiro exclamou.

Nem Brian acreditou com a sorte de ganhar na primeira aposta. 

— Sabe como dizem... Azar no amor, sorte no jogo. – Falou com um ar despreocupado enquanto fazia outra aposta.

Eles continuaram jogando por um tempo, mas depois Brian quis tentar as slot machines e Dawson entrou em uma mesa de pôquer.  Uma meia hora depois Brian procurou o loiro com um baita sorriso no rosto já que havia ganhado uma boa grana nas máquinas.

Dawson ainda jogava concentrado no pôquer e Brian ficou observando-o. O loiro era muito bom no blefe. E era o tipo de jogador que não cala a boca, incomodando e desconcentrando os outros jogares. Um sorriso malandro estava sempre no rosto e era difícil dizer quando ele estava blefando. 

No fim, Dawson ganhou e deixou a mesa antes que começasse a perder. Já jogara em cassino vezes demais para não saber que insistir na sorte era um chamariz para o azar.

— Parece que você andou ganhando mais umas! - Dawson falou orgulhoso.

— Dá pra fazer uma festinha com o prêmio. O que você quer comer? É por minha conta! – Brian convidou. Ele estava se divertindo muito no cassino, mas achava que já era hora de parar antes que começasse a ficar muito viciado naquilo. Para quem não estava acostumado era fácil se deixar levar em um lugar como aquele. 

— Vamos no bar ver o que podemos comprar com o dinheiro que ganhamos. - O loiro falou sorrindo ao ver a empolgação do ruivinho. - Quem diria que você teria toda essa sorte, hum?

— Eu também fiquei surpreso, mas é melhor parar de abusar. Vai que eu continuo e saio daqui devendo até as calças? – Brian perguntou em um tom bem humorado. – Nunca me diverti tanto. Obrigado. O parque, aqui... Nem senti o tempo passar.

— Podemos entrar numa mesa de jogo de apostas baixas depois. Te ensino a jogar pôquer. - O loiro sugeriu quando sentaram ao bar. - Amigo, dois coquetéis aqui, o meu caprichado no álcool. - Dawson pediu ao garçom. - E o que você quer comer?

— Eu quero alguns pasteizinhos. Não estou com muita fome. – Brian disse após olhar as opções de lanche do lugar. – Não sei blefar como você. Ninguém na mesa sabia dizer se você estava falando sério ou não. Isso acontece muito comigo quando conversamos... – Confessou.

— É mesmo? - Dawson perguntou curioso, virando um pouco de lado para Brian e apoiando a bochecha na mão. - Dê um exemplo. Te digo agora se era brincadeira ou não.

— Quando você ganhou o Snoopy lá no parque e disse que era pra eu pensar em você sempre... – Murmurou. – Ou quando perguntou se eu queria ter a mesma sorte da menina que agarrou você lá no show. Você parecia querer algo mais além de amizade.

As bebidas chegaram e Dawson pegou seu copo e bebeu um gole, em seguida estalando a língua em apreciação. Ele demorou alguns segundos para responder. Queria escolher bem as palavras,  o que era algo raro já que costumava falar as primeiras coisas que lhe vinham à mente sem medir as consequências.

— Eu gosto de você, Brian. - Começou, e seu tom estava um pouco mais sério do que o normal. - Nós estamos convivendo há apenas alguns dias e eu já me sinto próximo de você. É loucura,  não é? A ideia de me tornar seu amigo se tornou preciosa para mim. Eu não quero estragar isso. E esse sentimento é a única coisa que me impede de te beijar e tentar te levar pra cama. - Admitiu, depois olhou para ele e sorriu o seu típico sorriso malandro.  - Olhe só, você até consegue arrancar de mim palavras sérias. Isso não é pouca coisa. - Disse e bebeu mais um pouco. - Além do mais você disse que seria melhor se nossa relação se resumisse apenas a amizade, e eu estou cumprindo com o seu desejo.

Brian ficou surpreso e, sem saber o que dizer, tomou um gole da sua bebida. Na sua mente, veio a imagem de Dawson o beijando e ele sentiu um frio gostoso subir pela sua espinha e o ruivinho sabia que não deveria sentir isso porque como o próprio cantor havia dito eles deveriam ficar só na amizade.

— Eu também gosto muito de você, de estar com você... Não quero que as coisas entre a gente mudem. Se você falar alguma coisa que me deixar em dúvida sobre ser sério ou não, vou perguntar diretamente e também vou dizer o que penso e não guardar para mim. – Falou enquanto estendia a mão para selarem um acordo. – Trato?

— Trato. - Dawson apertou a mão do ruivo e então eles também brindaram à amizade que se formava.

Mais tarde, Dawson realmente tentou ensinar Brian a jogar pôquer, mas o rapaz era uma negação, muito fácil de ler. Quando tirava cartas boas ficava com uma cara de criança que iria aprontar. Já quando as cartas eram ruins, era de criança que ficou de castigo. Não dava pra levar a sério.

— Dá vontade de apertar suas bochechas quando você está jogando. - O loiro disse quando saíram da mesa, e apertou mesmo uma das bochechas do ruivinho.

— Não me trate como uma criança! – Brian fez bico e isso o deixou parecendo ainda mais com um menino birrento. – Você já se distraiu o bastante? Quero ir para casa escrever! – Disse com os olhos brilhando de empolgação.

— Tudo bem. - Dawson riu. - É ótimo ver você tão inspirado. 

Eles trocaram as fichas pelo dinheiro e depois voltaram para a casa. Chegando lá, Brian correu para o computador, e Dawson trocou de roupa e foi zapear canais na TV em busca de alguma distração. Ele olhou o celular e fez algumas combinações com o pessoal da banda, depois acabou cochilando.

Até o momento em que alguém tocou a campainha e ele, meio grogue, foi atender, nem lembrando que estava apenas com as calças largas do pijama.

Deu de cara com um velho de aspecto rabugento.

— Er... Oi? - Disse incerto.

Brian ouviu a campainha tocar, mas estava tão animado escrevendo como se tivesse um tique nervoso nos dedos que nem ao menos se incomodou em ir ver quem era. Imaginou que fosse alguma das vizinhas querendo pedir algo emprestado ou então trazer algum lanche para ele. Mas ele gelou ao ouvir a voz do seu avô.

Engolindo em seco, largou o computador e correu para a sala.

— Vovô! – Exclamou surpreso. – Eu não estava esperando... O senhor não avisou que viria... Como vai?

— O que, por tudo que é mais sagrado, esse homem está fazendo aqui, Brian? – O homem disse sem nem ao menos cumprimentá-lo de volta. – E nu!

— Dawson é meu amigo... Está passando uns dias. – Brian abaixou a cabeça e murmurou.

— Amigo? Desde quando você tem esse tipo de amizade? – O avô de Brian lançou um olhar que só poderia ser definido como de “nojo” para o cantor. – Todas essas tatuagens... Esse cabelo...! Vai começar a andar assim também?

— Vovô! – Brian abriu a boca e olhou para Dawson sem saber o que dizer.

— Aposto que é como aquele autor que você tanto admira e que vive com outro homem! – O velho continuou sem se importar com a expressão do neto e muito menos com o convidado dele. – Esse mundo está perdido mesmo! Mas eu não vou permitir que você se perca dessa forma. Vá embora, rapaz! – Falou para Dawson. – Aqui é uma casa de um rapaz direito.

— Vovô, pare! – Brian gritou e o homem olhou para o neto com os olhos arregalados. – Você não pode invadir a minha casa e ficar falando esse tipo de coisas para o meu convidado! A casa é minha! Eu recebo quem eu quiser. Aliás, eu já sou maior de idade e sou capaz de escolher os meus amigos sozinho! Eu o respeito muito, mas o senhor não pode vir aqui e ficar me dizendo como agir!

O ruivinho nem soube de onde tirou coragem para dizer tudo aquilo. O sangue simplesmente subiu à cabeça ao ouvir as barbaridades que o avô dizia para Dawson.

— É disso que eu estou falando! – O homem apontou o dedo para Brian como se estivesse diante de algo terrível. – Você nunca levantou a voz para mim e nunca me respondeu! O que esse homem está fazendo com você? Ainda bem que sua avó não veio. Ela morreria de desgosto!

— Ele não está fazendo nada comigo! O senhor que não pode vir aqui e destratar o primeiro amigo de verdade que eu tenho em muito tempo, que gosta de mim pra valer, só porque ele tem tatuagens e cabelo cumprido! E daí se ele gostar de homens como o Damien gosta? É a vida dele! Não temos nada que nos meter nisso! – Brian exclamou num tom irado que ele nunca havia usado antes.

— A culpa é sua! – O avô de Brian se virou para Dawson. – Você está fazendo lavagem cerebral no meu neto!

— Na verdade, eu só estou ajudando o seu neto a se desfazer da lavagem cerebral que você fez nele. - Dawson deu de ombros com a maior cara de inocente. - E obrigado por se preocupar tanto com minha vida pessoal. Estou comovido.

— Vá embora, vovô, por favor. – Brian falou num tom baixo, mas decidido.

— Você está me expulsando? 

— Eu não estou em condições de conversar com o senhor agora. Amanhã eu passo na sua casa e conversamos com calma.

— Se você vai manter esse homem aqui nem precisa ir! – O avô de Brian ameaçou em uma tentativa de fazer o neto voltar a ser obediente.

— O Dawson vai continuar aqui. – Brian disse bem sério.

O avô do ruivinho lançou um olhar mortal para o cantor antes de deixar o loft batendo a porta ao passar.

Assim que ele saiu, Brian desabou no chão e começou a soluçar. Estava assustado e todo o peso do que havia feito pareceu cair sobre suas costas de uma vez, fazendo com que suas pernas cedessem.

Dawson arregalou os olhos ao ver Brian cair de joelhos. Ele não era bom com lágrimas, mas aquilo não era algo que poderia ignorar. Ele foi até o ruivo, o pegou no colo e o levou para o sofá.

— Me desculpe. - Abraçou o corpo pequeno em seu colo, em seus braços. - Você não precisava ter brigado com seu avô por minha causa.  Ainda que, eu preciso dizer, foi incrível ver você defendendo a sua opinião daquela forma. Estou orgulhoso. - Falou baixinho, não que achasse que seu orgulho valesse de muita coisa.

Brian tentou controlar o choro e se afastou um pouquinho para poder encará-lo. 

— É claro que eu precisava brigar com ele. – Murmurou. – Ele já me falou muitas coisas horríveis, mas eu não podia ficar quieto e ver ele te enxotar daqui como se você não fosse nada pra mim. Eu nunca tive força pra me rebelar contra ele e dizer o que eu penso, mas você é muito importante pra mim, Dawson. Pela primeira vez na vida eu quero ser eu mesmo, eu quero dizer o que eu sinto... Porque você me dá coragem e força pra isso.

Dawson fez um carinho no rosto sardento do ruivo, limpando uma lágrima que caía.

— Obrigado. Ninguém nunca me defendeu de maneira tão corajosa antes. - Disse sincero, sentindo algo se remexer dentro do peito. Peito este em que Brian voltou a deitar a cabeça, certamente escutando as batidas aceleradas do coração do loiro.

Aos poucos as lágrimas de Brian pararam de cair e o ruivinho se afastou para encará-lo tentando sorrir.

— Será que tem algum filme de terror passando? – Perguntou tentando parecer bem humorado.

— Não precisa se esforçar para parar de chorar. Posso servir de almofada pelo tempo que precisar. – Dawson falou, com um novo carinho no rosto do ruivo.

— Os meus pais eram cientistas. – Brian contou enquanto voltava a se aconchegar nos braços do cantor. – Um dia teve um acidente no laboratório. Algo inflamável... Não sei bem. Meu pai era o chefe e quis se certificar que todos haviam saído do prédio com segurança. Minha mãe estava ajudando... Aí aconteceu a explosão. Eu tinha oito anos. Meus avôs paternos ficaram com a minha guarda. Quando eu fiz dezoito, comecei a trabalhar e saí de casa, mas eles continuam fiscalizando e querendo que eu case, arrume um trabalho “decente”. Eu sempre ouvi calado e ia levando assim, mas não dá mais. Amanhã eu vou lá e vou falar tudo o que eu penso e sinto. Tirar esse bolo da minha garganta, sabe?

— Sinto muito por seus pais. – Dawson falou, apertando-o um pouquinho mais firme. – E eu acho muito corajoso da sua parte fazer o que fez hoje e o que pretende fazer. Eu dou meu maior apoio.

O loiro guardou para si o fato de que havia brigado com sua família há vários anos e nunca tentara se reconciliar, pelo contrário, fugira e ignorara todas as tentativas dos pais, irmã e dois irmãos de se reaproximar. Eles sempre tentavam “colocá-lo nos eixos” e, no fundo, Dawson sabia que eles apenas queriam o seu bem. O problema é que ele próprio não buscava o próprio bem. Mas com Brian era diferente, aqueles avós pareciam sufocá-lo e o fato de ele querer enfim erguer a cabeça e enfrentar seus medos era um sinal de que o ruivo estava mudando.

Mas e ele, Dawson, quando iria mudar? “Não é hora de pensar nisso”.

Pela primeira vez, o loiro pensava nisso. E o “culpado” era Brian. O quão estranho era querer se tornar alguém melhor por outra pessoa?

— Você é mais forte do que deixa transparecer, ruivinho. – Disse o cantor com um sorriso encorajador.

Brian deu um sorriso tímido e afundou o rosto na curva do pescoço de Dawson.

— Não vai ser fácil, mas eu conheço meus avôs e se eu não for firme agora eles vão conseguir me afastar de você e eu não vou deixar isso acontecer. Eu tenho uma tia por parte de mãe, na verdade ela era prima da minha mãe, e sempre conversou muito comigo sobre isso... Em me libertar desse controle que os meus avôs colocaram em mim. Ela queria a minha guarda, mas os juízes consideraram os meus avôs com melhores condições financeiras. Bateu uma saudade da tia Pâmela agora... Vou ligar pra ela amanhã e contar o que tá acontecendo. Ela mora na França. Ela, o meu primo Talles e a esposa dele. – Murmurou a última parte já que falar no primo e no casamento dele ainda era bem dolorido. Seu primo havia sido o seu primeiro amor e na mente romântica de Brian eles teriam se acertado após a primeira vez em frente a lareira e estariam juntos agora, mas Talles casou e Brian não o via desde então.

Dawson acariciou as costas do ruivo. Não sabia mais o que dizer. Brian estava fazendo tudo aquilo para que os dois não acabassem se afastando... Era normal se sentir tão feliz com isso? Ele se levantou com Brian no colo, apagou a luz da sala e o levou de volta para o quarto.

— Você vai precisar de uma boa noite de sono para botar tudo que tem em mente em prática amanhã. – Falou colocando-o na cama. – Chega de escrever por hoje para você.

Brian se aconchegou nos braços de Dawson. Estava se sentindo exausto e seus olhos estavam vermelhos, inchados e doendo de tanto chorar.

— Fica comigo. Estou com medo. – Sussurrou enquanto o abraçava com força.

— Estou aqui. - Dawson murmurou e o manteve bem seguro em seus braços.

Na manhã seguinte, Brian acordou cedo. Estava com muita dor de cabeça e parecia que um caminhão havia passado por cima dele. Tentou se mover, mas Dawson o abraçava e estava difícil de sair sem acordar o cantor.

Brian girou e ficou olhando o rosto adormecido do loiro. Sem resistir, o ruivinho deslizou os dedos pela pele dele, contornando as sobrancelhas, tocando os lábios de leve... Seu coração acelerou dentro do peito e seu pênis, endurecido pela ereção matinal, ficou ainda mais duro apenas com aqueles leves toques.

“Pare! Pare com isso! Ontem mesmo vocês fizeram um acordo de apenas amizade. Não estrague isso!”, Brian se repreendeu mentalmente e, com cuidado, afastou o braço de Dawson e escapou da cama. Praticamente correu para o banheiro e se enfiou embaixo da ducha fria.

Depois do banho e se sentindo mais vivo, Brian saiu do banheiro e viu que Dawson continuava num sono pesado. Ele deveria estar acostumado a dividir a cama com outras pessoas porque, aparentemente, nem deu por falta de Brian na cama e estava agarrado a um dos travesseiros.

Com um suspiro e decidido a não se sentir enciumado por isso, Brian rabiscou um bilhete avisando que havia ido até a casa dos avós e deixou na mesa de cabeceira perto do Snoopy que ele batizou de Daw-Daw em homenagem ao cantor.

A conversa com os avôs não foi fácil. Bem, dizer isso era elogio já que a conversa foi um verdadeiro barraco. O avô gritava, a avó chorava e Brian foi inflexível em suas convicções. Falou que não permitiria mais que eles tentassem dizer como ele deveria viver.

No final das contas eles acabaram rompendo de vez e Brian foi expulso da casa dos avôs. Lá no fundo, Brian saiu da casa com a esperança de que eles o perdoariam e voltariam a falar com ele. E ele não chorou nenhuma vez e ainda saiu da casa sentindo que um peso enorme havia sido tirado das suas costas.

Quando chegou em casa, se largou no sofá e ficou encarando o teto. Mas ao contrário da noite anterior em que só conseguia chorar e chorar, agora ele sorria. Estava se sentindo bem.

— Droga, dormi demais. – Dawson chegou na sala coçando os olhos e parou ao se deparar com o ruivo sorrindo que nem bobo sozinho. Ele havia lido o bilhete, mas fingiu que não para que Brian falasse a respeito apenas se quisesse. – O que houve? Pensando em mim?

Brian soltou um “Hupfh! O mundo não gira ao seu redor, senhor egocêntrico!” fingindo indignação e começou a tirar os tênis. Depois deitou no sofá e colocou os pés na mesa de centro.

— Rompi com os meus avôs. Acabei de chegar. Falei tudo o que eu penso e sinto desde os oito anos... Só não falei sobre preferir homens porque aí eu acho que mataria os dois de desgosto. Aí eles me expulsaram de lá. Mas, se eles me amam pelo menos um pouquinho vão me procurar depois que a poeira abaixar. 

— Deve ter sido um choque pra eles você não obedecer o que eles mandaram. Mas com o tempo eles vão aceitar esse novo Brian. – Dawson sentou no sofá e bocejou. – Tenho ensaio e algumas preparações para a turnê com a banda hoje... Eu cancelaria se você estivesse deprê pelo que aconteceu, mas como você parece bem melhor e revigorado, é melhor eu ir. A não ser que você queira que eu fique aqui com você.

Sem pensar muito no que fazia, Brian se “chegou” mais e encostou a cabeça no peito de Dawson.

— Não é que eu não esteja chateado com tudo isso, mas eu também me sinto bem, sabe? Não posso viver mais assim. Eu precisava desse empurrão para criar coragem e me libertar. – Brian falou e sorriu. – E você pode ir resolver suas coisas. Eu até prefiro porque você parece uma formiguinha procurando açúcar dentro casa... Não para um segundo! Você vai resolver as suas coisas e eu vou escrever. Quanto tempo vai durar a turnê? – Perguntou.

O loiro sorriu da comparação que Brian fez, depois suspirou.

— Serão seis meses de turnê. - Contou. - Vou sentir saudades.

— Seis meses?! – Brian exclamou em um tom espantado. – Como eu vou ficar seis meses sem a minha fonte de inspiração? Você precisa me ligar sempre que der e me contar tudo que está fazendo para me inspirar! – Brincou. – E eu vou sentir saudades também... – Murmurou todo tímido.

— Pode deixar. Vou ligar. - Dawson piscou e se levantou. - Eu vou ir encontrar a banda agora. A gente foi convidado para uma festa de uns amigos hoje à noite. Você quer ir? Caso esteja preocupado que não terá ninguém conhecido por lá, Josh vai estar lá a trabalho.

— Tá. Estou mesmo querendo falar com o Josh. – Brian disse animado enquanto pulava do sofá. Seria sua primeira festa sem preocupação de ter que dar qualquer explicação para ninguém sobre a sua vida. – Vou trabalhar um pouco agora! – Inclinou-se e deu um beijo na bochecha de Dawson. 

A vontade de Dawson era puxar Brian de volta e roubar um beijo da boca avermelhada dele, mas ignorou essa vontade e então se ajeitou para sair. 

O dia transcorreu agitado e o tempo voou, como sempre acontecia quando estava com a banda, ensaiando, brincando, falando bobagens. Depois eles terminaram de decidir os últimos detalhes da turnê e àquela altura já passava das sete da noite.

— Vejo vocês na festa. Vou buscar o ruivinho. - Dawson avisou, e claro que ouviu brincadeiras sobre estar amarrado, apaixonado, que iria rolar casamento e coisas assim.

Dawson apenas os ignorou e voltou de moto para o prédio de Brian. Como de costume, encontrou o ruivinho com a cara enfiada na frente do computador.

— Não me diga que está desde aquela hora escrevendo sem parar? - Perguntou exasperado.

Brian levou um susto e olhou para o cantor com uma expressão de criança levada que foi pega aprontando.

— Perdi a noção do tempo... Já é de noite? – Perguntou espantado.

Dawson suspirou e soltou uma risada. 

— Vamos, você tem que tomar um banho e eu também. A festa já começou a essas alturas. - Falou e foi até o banheiro, abrindo o chuveiro.

As bochechas de Brian ficaram vermelhas enquanto ele ouvia o som da água.

— Você sabe que, assim como a cama, só há um chuveiro aqui. – O autor falou enquanto ia até o armário para catar alguma roupa. Estava precisando fazer algumas compras. Chamaria Josh para ajudá-lo com isso.

Dawson saiu do banheiro sem a parte de cima das roupas. 

— Já está quente. - Falou perto da orelha dele ao parar atrás do ruivo. - Você pode ir primeiro.

Um gemido quase escapou dos lábios de Brian e ele correu para o banheiro, chaveando a porta ao passar, e se encostou à porta enquanto sentia a respiração rasa.

“Ainda bem que ele vai viajar. Isso de estar perto demais não ia funcionar. Quando ele voltar, eu vou estar mais no controle disso que eu sinto”, tentou se convencer.

Só quando saiu da ducha percebeu que não havia pegado a roupa. E não poderia ficar enfurnado dentro do banheiro, então reunindo toda a coragem e engolindo a timidez, enrolou a toalha em volta da cintura e voltou para o quarto. Como estava molhado, saiu deixando pingos pelo chão, mas não se incomodou com isso. Brian nunca foi de se estressar com bagunça.

— Pronto. Você pode ir enquanto eu procuro uma roupa. – Tentou manter a voz firme enquanto atravessava o quarto.

Dawson sorriu daquela sua forma toda maliciosa, e Brian lhe mostrou a língua.

— Se não tivéssemos combinado de sermos apenas amigos eu acharia que você está me provocando. - Falou por cima do ombro enquanto ia para o banheiro, levando uma toalha e algumas roupas.

Ele tomou um banho e lavou os cabelos, mas não demorou mais do que dez minutos. Quando saiu, Brian já estava arrumado e eles rumaram para a festa, que aconteceria numa mansão particular. 

Quando chegaram, já havia bastante gente e a dona da festa, uma mulher de longos cabelos negros e corpo esguio, veio cumprimentar Dawson com os braços apertos.

— Meu amor. - Disse ela de maneira carinhosa e os dois trocaram um abraço assim que Dawson e Brian desceram da moto. - Já estava achando que não viria.

— Jamais deixaria um convite seu passar, Elena. - O loiro sorriu de volta.

— E esse rapaz bonito, quem seria?  - Ela perguntou com genuíno interesse e simpatia.

— O nome dele é Brian. É um amigo. - Dawson informou.

— Espero que só amigo, tenho outros planos para você hoje, meu querido. - Ela se aproximou do loiro colocando as mãos no peito dele. Estava claro que os planos dela envolviam os dois nus numa cama. - É quanto a você, Brian,  venha, tenho amigos que vão adorar conhecer um ruivo como você.

— Elena... Ele... - Dawson tentou dizer, mas a mulher abanou a mão.

— É apenas conhecer, Dawson. - Ela riu. - Não precisa ficar tão preocupado.

— Tudo bem, Dawson. Eu vim também pra conhecer pessoas novas e quem sabe eu me dou bem? - Disse num tom bem humorado enquanto sorria para a morena apesar de lá no fundo ter ficado um pouquinho enciumado pela forma como os dois pareciam ser íntimos, mas logo afastou o pensamento afinal ele mesmo havia começado com a história de somente amizade e não podia agora ficar se sentindo chateado quando Dawson estava com alguma companhia. - Pode ir lá falar com os seus amigos.

Dawson ficou mais tranquilo e foi procurar o pessoal da banda. Já Elena levou Brian até Logan,  Chaterine e Kieran, apresentou-os e depois já se afastou para conversar com outros convidados. Kieran era russo e pintor,  já Cath era uma atriz australiana e Logan um pianista inglês. 

— Ah, eu tinha falado para Elena que precisava de um modelo ruivo para minha próxima pintura. - Kieran contou sorrindo, entendendo o porquê da apresentação. Tinha o sotaque forte e charmoso.

Brian corou com olhar do pintor.

— Seria interessante posar para você porque eu escrevo um seriado sobre um pintor e seria uma experiência e tanto ser o modelo. - O ruivinho disse todo sem jeito.

— Podemos providenciar isso mais tarde. - Kieran assentiu e pegou duas taças de champanhe de um garçom que passava com uma bandeja cheia. Entregou uma das taças a Brian como que para comemorar o encontro "destinado" dos dois.

Cath perguntou qual o seriado que ele escrevia e o assunto entre os quatro emendou por esse caminho. 

Dawson olhava Brian de longe e sorriu ao vê-lo menos fechado e tímido, interagindo com outras pessoas de maneira natural. Enfrentar os avós realmente o deixara mais solto e o loiro ficava feliz por isso.

— Esse sorriso é novo. - Alguém falou em um tom divertido e Dawson tomou um susto. Olhou para o lado e viu Josh usando o uniforme dos garçons e carregando uma bandeja com petiscos caros. - Parece que o Brian se tornou bastante importante para você.

— Não nego. - Dawson deu de ombros e pegou um petisco. - Convivi com ele apenas alguns dias e já me importo mais com ele do que com muita gente. 

O sorriso de Josh ficou cheio de sugestões. 

— Não, nós dois não temos nada disso que você está pensando. Eu não quero estragar tudo levando-o para a cama. 

— Uau, acho que é a primeira vez que te ouço falando uma coisa dessas. Então Dawson Devile consegue pensar além do próprio pau.

Dawson deu um peteleco na orelha do mais novo.

— Larga de ser bagaceiro. - Recriminou na brincadeira. - Viu o pessoal da banda por aí?

— Estão no quiosque lá da piscina. - Josh falou e seguiu em frente.  Não podia ficar parado muito tempo papeando.   

Dawson encontrou os amigos pouco depois e os quatro ficaram bebendo e conversando entre si e com outros por um bom tempo. Dawson dispensou algumas moças interessadas e foi procurar Brian novamente depois de algum tempo.

Quando o viu de longe, ele estava no bar, desacompanhado, conversando com Josh.

— ... Aí agora ele foi preparar o material para fazer uma pintura minha. Estou morrendo de vergonha e preciso de alguma coisa forte pra conseguir ir até aquele quarto. – Brian contou tudo para Josh. Os passeios com Dawson pelo parque de diversões, o cassino, a briga com os avôs... Elena passou por perto dos dois em um momento e Brian pediu para que ela não brigasse com Josh porque eles se conheciam e ele estava precisando conversar um pouco com ele enquanto Kieran preparava o seu material de pintura. – Não sei se é cedo demais pra isso... Eu dispensei o Kaio porque mal o conhecia e se eu for naquele quarto... – Falou com nítido pânico na voz.

— Hei, relaxe! - Josh pediu. - Sinceramente, acho que você colocou a ideia de transar em um pedestal, por isso sempre entra em pânico com a possibilidade. Você deveria criar coragem e ir lá. Você mesmo disse que é uma oportunidade única servir de modelo para um pintor, e outra... Fazer sexo sem compromisso é uma experiência que todo mundo deveria ter. Você é livre para fazer isso, Brian. Se achar ruim, é só não fazer mais.  Se achar bom, será uma noite ótima, além de uma forma muito prazerosa de ganhar inspiração. - Josh piscou um olho. E então entregou uma bebida bem forte para o ruivinho.  

Dawson os alcançou naquele momento e perguntou o que estava rolando. 

— Um pintor russo quer usar o Brian de modelo. O Brian tá meio nervoso, mas com essa bebida que fiz ele vai se soltar rapidinho. - Josh contou e ficou observando a reação de Dawson.

O loiro titubeou.  Óbvio que ele não era inocente de achar que tudo que o tal pintor queria era pintar. Na verdade, "pintar" Brian de várias formas possíveis era o que ele acabaria fazendo.

— Ah... Bem. - O loiro sentiu um mal estar no estômago. Isso não havia acontecido quando Brian ia sair com Kaio. - Eu vou procurar a Elena então. Aproveite, ruivinho. - Sorriu e se afastou.

Josh franziu a testa, achando aquilo suspeito. Era ciúmes? Ele nunca vira Dawson com ciúmes antes.

— Então, decidiu o que irá fazer? - Josh perguntou para Brian.

Brian já havia virado todo o conteúdo do copo e mordeu o lábio inferior com força enquanto observava Dawson se afastar para procurar Elena.

— Você tem razão. Eu vou até lá. Se eu não gostar, é só não fazer mais. – Murmurou. – E talvez nem role nada. – Acrescentou em uma inocência típica dele. – Obrigado pelos conselhos. Depois a gente tem que marcar pra você ir me ajudar a comprar umas roupas. Quero um estilo meu, sabe?

— Pode deixar! Adoro comprar roupas! - Josh falou empolgado.

Kieran já havia ajeitado tudo quando Brian chegou. O russo pedira um dos muitos quartos da mansão emprestado para Elena, que concordou prontamente.  O ambiente tinha um ar um tanto árabe,  cheio de tecidos e sedas pendurados, inclusive na ampla cama de dossel.  As sedas refletiam a luz das velas acesas. O cheiro de incenso permeava o quarto.  Kieran precisava deles para pintar,  uma mania excêntrica. 

— Separei uma roupa para você. Falei para Elena como imaginava a pintura e ela me emprestou esse quarto. - Kieran pegou a roupa e a ergueu. Era uma espécie de roupa de dança do ventre, mas unissex, em tons de vermelho e preto. - Se não achar muita ousadia da minha parte pedir para usá-la...

A ideia de usar aquela roupa não desagradou Brian. Pelo contrário. Talvez fosse a bebida que estivesse fazendo efeito e o deixou se sentindo em um dos episódios do seriado. Era como se não fosse ele ali, mas um dos seus personagens.

— Tudo bem. – Concordou e foi até o banheiro para trocar de roupa. 

Jogou o véu sobre os ombros ao sair do cômodo e olhou para Kieran. Quis desviar o olhar ao perceber como o pintor o secava da cabeça aos pés, mas se manteve firme. 

— Onde eu fico? – Perguntou. Estava se sentindo quente e queria ser tocado por aquele homem. Imaginou as mãos dele na sua pele e isso, ao contrário do que pensou, não causava nenhum desconforto. Ainda havia aquela timidez lá no fundo o dizendo para sair correndo, mas certamente a bebida que Josh preparou e os conselhos dele estavam o mantendo ali. Era uma oportunidade única e Brian não ia dispensá-la. 

— Deitado na cama , de lado. Olhos em mim. - Kieran pediu num tom rouco. Brian tinha um corpo lindo, a pele clara, com algumas sardas nos ombros,  a barriga delicada, um umbigo feito para ser beijado. - Coloque a mão sobre a sua coxa. - O russo pediu quando o ruivo deitou.

Kieran podia perceber a maneira como a respiração de Brian estava rasa, denunciando que, conforme o pintava, olhando-o de maneira intensa, ele ficava mais e mais ofegante, o ar escapando por entre os lábios entreabertos e vermelhos. 

Havia muitos detalhes para captar na pintura sobre o corpo do ruivo. Os cachos eram ondulados e rebeldes, mas possuíam uma harmonia entre eles, os olhos azuis pareciam adquirir um tom esverdeado naquela pouca luz, e cada sarda do rosto e dos ombros tinha sua particularidade.  Brian tinha olhos chamativo devido aos cílios longos e curvados, e o nariz pequeno parecia tímido perto daqueles olhos, o que combinava com a personalidade dele. A cada pincelada, Kieran se sentia tocando as coxas do ruivo, acariciando as costas delgadas, ou chupando os mamilos eriçados e rosados.

Ele havia feito amor com o corpo inteiro do ruivo quando enfim, após mais de uma hora, chegou ao ponto em que queria. E sorriu ao ver o rosto afogueado e o pênis endurecido sob o tecido que Brian usava. O ruivinho tinha emoções e reações sinceras demais para conseguir disfarçar aquilo.

Kieran contornou a pintura e começou a caminhar até a cama.

— Agora só falta eu descobrir os detalhes finais sobre o seu corpo. - O russo disse em um sussurro. 

Ele se livrou das vestes superiores, revelando o corpo definido e forte. Sua pele era apenas levemente mais escura que a de Brian, mas todo o resto sobre si era de tons negros: cabelo, olhos, sobrancelhas. Os pelos ralos que desciam do umbigo em direção ao púbis, um ponto que também revelava uma ereção apertada sob a calça.

Os olhos de Brian desceram pelo corpo de Kieran e o ruivinho ofegou baixinho, sem aguentar mais toda aquela pressão e necessidade que sentia em seu corpo. Gemendo levou uma das mãos até a sua ereção e começou a massageá-la de leve.

Há quanto tempo Brian não se tocava? Há quanto tempo ninguém o tocava? Ele nem conseguia lembrar. E toda aquela necessidade pareceu o atingir como um trem de carga e ele nem se importava que estava se masturbando na frente de um estranho total. Bem, eles tecnicamente nunca mais se encontrariam depois daquilo então nem tinha porque sentir vergonha. 

— Kieran... – Brian murmurou excitado. – Me toca... – Pediu com a voz fraca.

Kieran obedeceu.

XxxX

Dawson sentou-se no divã após o orgasmo. Elena estava estirada atrás dele, ainda ofegante e com um sorriso de prazer no rosto. O loiro pegou um cigarro, mas a anfitriã o impediu.

— Odeio cheiro de cigarro. Pela primeira vez em muito tempo você chegou aqui sem ter esse cheiro impregnado em você. - Ela falou.

— Estou morando com o Brian... Ele também não gosta. Não fumei nos últimos dias. - Dawson falou e então seus pensamentos voltaram para o ruivo. 

Elena contara sobre o interesse de Kieran. Quando Dawson vira Brian deixando o bar e indo em direção às escadas, sentiu novamente aquela sensação estranha nas entranhas. Elena servira perfeitamente para afastar sua mente disso quando ela o arrastou para uma sala de estar privativa.

Ele não pensou em nada enquanto transava com ela, mas lá estava Brian de volta à sua mente. Certamente, àquela altura, ele e Kieran já deveriam ter ido para a cama. 

Kieran teria sido cuidadoso? Carinhoso? Paciente? Brian teria gostado? Ou se arrependido? Aquelas e várias outras perguntas começaram a encher a cabeça do loiro.

— Aquele ruivo parece uma boa influência para você. - Elena sorriu e se sentou atrás dele, abraçando-o pela cintura e o beijando no ombro. - Está tenso... O que foi?

— Nada. - Dawson deu de ombros. - Apenas distraído.

— Sei maneiras melhores de continuar te distraindo... - Ela sussurrou antes de deixar a mão escorregar pelo abdome do cantor, alcançando o falo dele.

Dawson sorriu. Elena sempre fora insaciável.

XxxX

Brian estava ofegante. Seu corpo estava empapado de suor e seus cílios ainda tremulavam enquanto ele sentia os lábios de Kieran em seus ombros após o orgasmo. O russo havia tentado beijá-lo, mas Brian não permitiu. Ele não quis beijos. Não soube o motivo disso. Só sentiu que era errado e desviou os lábios.

— Isso certamente foi uma experiência intensa. – O ruivo murmurou.

— Fico satisfeito que esteja satisfeito. - Kieran murmurou enquanto continuava a beijá-lo. - Uma pena que amanhã estarei voltando para a Rússia. Mas ao menos terei a pintura para me lembrar de você.

— Bem, e eu tenho ótimas ideias pra o meu seriado. Se você assistir vai lembrar ainda mais de mim. – Brian brincou.

Eles ainda conversaram um pouco enquanto se vestiam. Brian disse que estava com fome e que iria voltar para a festa para beliscar alguma coisa e Kieran falou que ficaria pelo quarto para terminar a pintura.

Quando desceu, Brian foi correndo procurar por Josh.

— Eu fiz! – O rapaz exclamou com um ar todo travesso.

— Conte tudo! Quero detalhes! – Josh exigiu ao arrastá-lo para um canto.

Brian riu e, corado, começou a contar como havia começado, como ele havia sentido desejo e vontade que Kieran o tocasse, mas que não permitiu que ele o beijasse na boca.

— Sei lá. Pareceu íntimo demais deixar ele me beijar... Não sei se foi porque eu entrei em pânico quando o Kaio me beijou e eu não quis repetir a experiência... E de qualquer jeito eu não queria a boca dele. Eu queria o pênis dele. – Brian contou entre risadas. Enquanto ele estava no quarto com Kieran bebeu mais e agora estava bem altinho. – Mas foi bom. Não espetacular nem nada assim. A experiência valeu e eu tenho muito material de “estudo” para o seriado.

— Alguém é exigente! Esse Kieran sempre que vem visitar a Elena leva homens e mulheres para a cama e tem a fama de bom de cama. – Josh disse o que havia escutado dos fofoqueiros de plantão. – Ou será que é porque você, no fundo, queria outra pessoa? – Perguntou com um sorriso sabido.

O ruivinho parou de rir e desviou o olhar. Ele estava, a todo custo, tentando não pensar em Dawson. Enquanto estava com Kieran estava tão agitado e ansioso que conseguiu, mas desde que deixou o quarto não conseguia parar de pensar no cantor.

— Nós somos apenas amigos. – Murmurou sabendo que Josh saberia de quem ele estava falando. – Eu quis assim e tenho medo de estragar isso.

— Sabe, eu conheço o Dawson há muitos anos. Mesmo se não desse certo entre vocês, ele não deixaria de ser seu amigo. – Josh falou. – E de novo você está com medo de algo que nem tentou. Talvez você possa começar a se deixar levar com o Dawson a partir de agora, sem se precisar rotular a relação de vocês. – Josh sorriu. – Bem, eu tenho que continuar trabalhando. Quando sairmos para fazer compras teremos tempo de sobra para conversar! 

Brian observou Josh se afastar antes de deixar um suspiro escapar dos seus lábios. Não queria pensar na sua relação com Dawson naquele momento. Ele queria aproveitar a noite, queria curtir a festa sem nenhuma preocupação cutucando em sua mente.

Foi até a mesa para se servir e viu Dawson com Elena. Os dois estavam sorrindo e a forma descontraída como o cantor sorria para a morena fez com que o coração do ruivinho desse um solavanco no peito. Ele queria aquele sorriso só para ele sempre.

“Mas que droga, Brian!”, se censurou enquanto colocava alguns salgados no prato. “Você acabou de transar com outro cara! Você quer o Dawson só como seu amigo! Pare de ficar se sentindo enciumado!”.

Irritado consigo mesmo acabou largando o pratinho com os salgados e foi procurar por Kieran para ver se ele já havia voltado para a festa. O encontrou conversando com os amigos.

— Dança comigo. – Pediu ao russo. – Quero suas mãos em mim mais um pouco. – Sussurrou próximo à orelha dele.

Kieran sorriu e acompanhou o ruivinho até o lugar onde havia pessoas dançando. A música era lenta naquele momento, havia uma cantora em um palco cantando a canção romântica, e Kieran abraçou Brian pela cintura, começando a guiá-lo.

De longe, Dawson captou o ruivo pela visão periférica e observou aquilo com a testa franzida.

— Dawson?

— Oi. – O loiro respondeu automático, sem desviar os olhos da pista.

Elena seguiu o olhar do loiro e viu Brian sorrindo de algo que Kieran murmurava em sua orelha.

— Está com ciúmes. – Ela constatou.

— O quê? – Dawson se voltou para ela novamente.

— Foi morar com ele, parou de fumar por conta dele, depois me diz que pretende parar de vez de usar cocaína e maconha quando te convido para cheirar uma carreira comigo. – Ela suspirou. Havia drogas rolando na festa, era o típico “uso social”. – Tudo por causa dele?

— Samuel morreu por overdose, Elena! Acha que eu preciso de um motivo além desse para querer parar? – Dawson perguntou irritado. 

A mulher ergueu as mãos para o alto.

— Tudo bem. – Ela se levantou. – Continue aí encarando ele dançando com outro, fingindo que não gostaria de estar no lugar de Kieran.

Dawson bufou quando ela se afastou e voltou a olhar para a pista. Perdeu a conta de quantos copos de bebida alcoólica ingeriu naquele intervalo. Até que, ainda mais irritado, se levantou e foi até a pista. Não falou nada. Apenas pegou Brian pelo braço e o arrastou para fora da mansão com ele.

Só parou quando estavam os dois em meio ao jardim, longe dos outros. E, então, ele não sabia o que dizer.

— Aquele cara parece muito chato. – Falou, evitando olhar para Brian.

— Ele não é chato não. – Brian disse após franzir a testa. – Ele vai voltar pra Rússia amanhã. Estava me contando sobre algumas coisas e tentando me convencer a visitá-lo... E, você está bêbado? – Segurou o rosto de Dawson e o encarou. – Pensei que você não ficasse bêbado.

Dawson fechou os olhos. Precisava se concentrar. Quais eram mesmo os motivos para não agarrar Brian naquele exato momento? 

— Bebi de barriga vazia. – Falou e segurou os pulsos de Brian, tirando as mãos dele de seu rosto. – Pode voltar para o russo então. Desculpe por ter atrapalhado os planos de vocês dois para você visitá-lo.

Os ombros de Brian caíram e seus lábios tremularam.

— Por que você está zangado comigo? – Perguntou sem entender nada. – Você disse que seria bom eu conhecer pessoas novas... E eu não vou para a Rússia.

— Eu não estou zangado. Quem disse que estou zangado? – Dawson perguntou ainda sem olhá-lo e se virou tirando um cigarro e um isqueiro do bolso pra fumar um pouco.

— Não está zangado e vai fumar! Você sabe que eu não gosto do cheiro desse negócio... – Brian resmungou irritado enquanto cruzava os braços. – Eu não estou entendendo mais nada! Você me trouxe aqui para que eu me inspirasse, né? Com certeza o Kieran me deixou bem inspirado para as cenas de sexo que eu tenho que escrever. Ele nem tinha me tocado ainda e eu já estava praticamente gozando... Ele tem um olhar bem intenso. Você devia ficar feliz com isso porque aí as cenas do seriado vão melhorar, a audiência vai subir, o seriado não vai ser cancelado e aí ‘tá garantido que suas músicas vão continuar tocando lá. – Falou tudo de forma desencontrada e sem pensar nem um pouco no que dizia.

Dawson ficou em choque com o que escutou. Ele ficou alguns segundos em silêncio, com os olhos arregalados, até que uma risada amarga deixou sua garganta.

— Então é isso que você vinha pensando? Que tudo que eu estou fazendo é para garantir que minhas músicas continuem tocando no seu seriado? – Apagou o cigarro e o amassou na mão. Virou-se para Brian com o olhar duro e magoado. Por trás, ainda havia o ciúmes pelo que havia escutado sobre Kieran. – É isso que você pensa de mim então. – Riu de novo, balançando a cabeça. – Mas você tem razão, Brian. Eu queria que o seriado melhorasse, que a audiência subisse. Não por mim. Por você. – Falou. - Pode voltar lá para o Kieran e garantir suas cenas de sexo. Para isso, você não precisa de mim. – Dawson passou por Brian e começou a se afastar.

A mente de Brian demorou um pouco para processar o que estava acontecendo. Eles estavam brigando? E por quê? Estava tudo tão bem! Eles estavam rindo naquela manhã mesmo e dizendo que iriam sentir saudade um do outro. E agora aquela briga sem sentido algum!

— Dawson! – Brian foi até o loiro em passos rápidos e o segurou pelo pulso. – Desculpa, desculpa! Eu não sei porque eu falei isso. É verdade que isso passou pela minha cabeça uma vez, mas... Nós não nos conhecíamos bem e ainda não nos conhecemos. – Murmurou confuso. – E eu não entendia porque você estava sendo tão gentil e atencioso. As pessoas geralmente se aproximam de mim querendo alguma coisa... Um papel no seriado ou algum tipo de favor que possam cobrar de mim depois. Eu não... – Acabou deixando um soluço escapar e tentou engolir o choro. – Não briga comigo, por favor... Por favor. – Implorou.

Os ombros tensos de Dawson caíram e ele fechou os olhos, suspirando baixo. Sua mente estava uma confusão de uma forma que ele nunca sentira antes, e era assustador porque ele e Brian mal se conheciam, como o próprio ruivo falara. Havia caído de cabeça naquela relação que se formava e só agora percebia isso. O simples fato de que queria muito aquela amizade, misturado com o fato de que queria beijá-lo na maior parte do tempo, e ainda sentia, ao que parecia, ciúmes de outro com ele... Como lidar com tudo aquilo?

Dawson o puxou e o abraçou, deixando-o soluçar baixinho contra seu peito.

— Não chore. É minha culpa, bebi demais e agi mal. – Murmurou descansando o queixo no topo da cabeça do ruivo. – Eu não sei se consigo só ser seu amigo, Brian. Ao menos, não por muito tempo. Eu sinto desejo por você. E não gostei de te ver com o Kieran. É isso. Acho que depois do Kaio eu estava imaginando que você não conseguiria ficar com nenhum cara. 

Brian arregalou os olhos e seu coração acelerou de uma forma assustadora enquanto um frio gostoso tomava conta da sua barriga. Ele não deveria se sentir tão feliz. Mas, ao mesmo tempo que pensava isso, se perguntava por que não? Por que não seguir os conselhos de Josh e ver se dariam certo ou não? A resposta era bem clara para Brian: ele estava com muito medo de se apaixonar por Dawson, não dar certo e ficar sem seu amigo depois porque não conseguiria ficar perto dele estando apaixonado.

— Mas... Você tinha me dito pra ir e... – Brian parou de falar. Não ia ficar justificando as suas ações pelo que Dawson havia dito para ele fazer. Tinha que ser adulto e assumir seus próprios passos. Ele havia ido para a cama com Kieran porque quis e não porque Dawson o incentivou a transar com outras pessoas. – Eu também sinto desejo por você, mas eu tenho medo de perder a sua amizade se não der certo então vamos fazer assim: se ainda nos sentirmos assim quando você voltar da turnê nós nos damos uma chance para algo além da amizade. O que você acha?

— Não fique fazendo planos, Brian. Apenas deixe rolar. – Dawson falou e o beijou na testa. – Eu vou tocar um pouco. Prometi para a Elena que a banda tocaria um pouco hoje. – Avisou e dessa vez se afastou de fato, voltando para a festa.

Brian não o seguiu. Pelo menos não de imediato. Sua cabeça e seu coração estavam uma bagunça e ele ficou algum tempo no jardim tentando colocar aquela confusão em ordem.

Quando se sentiu um pouco menos angustiado, voltou para a festa, mas passou o resto da noite quieto, em um canto, apenas observando as pessoas interagirem.

Kieran ainda se aproximou dele e tentou iniciar uma conversa, mas Brian o dispensou sem muita cortesia. Não estava mais com ânimo para joguinhos de sedução.

Quando terminaram, Dawson desceu do palco e foi até o ruivo.

— Vamos para casa. Parece que eu estraguei a sua noite hoje a partir do momento que te arrastei até o jardim. – Dawson falou, pegando a mão do mais novo. – E, chame-me de velho, mas já estou morrendo de sono. 

Brian sorriu enquanto antes de girar os olhos.

— O dia vai raiar daqui a pouco. Me admiraria se você não estivesse com sono. Eu ia procurar o Josh para me despedir, mas acho que ele já levou algumas broncas por minha causa hoje.

— Esqueça o Josh. – Dawson falou e o arrastou com ele. Também não se despediu de ninguém.

Subiu na moto e a ligou. Assim que Brian subiu, arrancou.

Logo que chegaram em casa, ele apenas escovou os dentes e capotou na cama. 

Brian deitou ao lado de Dawson, mas ao contrário do cantor, não conseguiu dormir de imediato e ficou ali, de lado, o observando até cair no sono em algum momento.


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Notas finais do capítulo

Eu amo esse capítulo, na verdade gente eu sou apaixonada pelo Dawson e pelo Brian, e é isso, hahaha! Espero que vocês estejam gostando tanto quanto eu curti isso aqui.
Se gostou, comenta! ;*



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