— Liam será que tem algum telefone por lá? - Digo preocupada, estávamos quase chegando no barracão.

— Acho que não linda, por quê? - Desviou o olhar para mim e rapidamente voltou para a estrada.

— É que preciso avisar Eddie que não vou voltar com ele. - Escuto um leve bufar de sua parte. 

— Não precisar avisar a aberração que é Eddie Munson, possivelmente ele vai estar com aqueles amigos esquisitões e esquecer de você. Aliás, o maluco deve saber que você está comigo, afinal ele nos viu. - O encaro confusa.

— Como assim nos viu? - Não me lembro de ter visto Eddie em nenhum momento.

— Ele e aquele grupo bizarro estavam saindo bem na hora que estávamos conversando no final do jogo, ele nos viu juntos.

— E por que você não me avisou? 

— Por que não precisava. - Ele estaciona na primeira vaga que aparece, próximo ao Lago dos Amantes. - E também, você está comigo e não com ele.

— Liam ele é meu melhor amigo, não só ele mas também os "esquisitões" do grupo. - Disse fazendo aspas. - E se você não os considera bons o suficientes para um mero telefonema, sinto muito, então eu não sirvo para você. - Saio do carro batendo a porta, seguindo em direção para o barracão.

Lá podia se ver de tudo: gente jogada no chão, gente dançando, gente cantando abraçados em grupo e... A lista é longa. Olhando em volta consigo localizar Matthew, há quem pertence essa joça. Ele não aparenta estar bêbado, então vou até ele.

— Oi Matthew, tudo bem?

— Ei, é a garota do Johnson! Que bom que veio, seja bem vinda. - Disse sorrindo.

— Hã, obrigada. Vocês tem algum telefone por aqui? - A essa altura Eddie já deveria estar em casa, daria pra fazer contato. Se tudo desse certo.

— Ah sim, fica por aqui. - Ele me encaminha até o cômodo onde tinha um telefone em cima de uma escrivaninha. Agradeci e ele saiu da sala, rapidamente disquei o número da casa de Eddie e aguardei.

Ninguém atendeu. Estranho.

Senhor Wayne não está em casa, a essa hora ele já saiu para o trabalho. Eddie deveria estar em casa.

Liguei novamente.

Nada.

E disquei novamente o maldito número. Será que disquei errado?

Nada, de novo.

Bufando me sentei na mesa e esperei por cerca de dez minutos, fazendo a ligação novamente, ficando atenta aos números para não errar.

Nada.

Desisto de tentar contato e sigo para a festa, encontrando Liam, que parecia estar me procurando.

— Ei minha linda, onde estava? - Perguntando me entregando uma garrafa de cerveja.

— Usando o telefone. - O encaro, ele me puxa um pouco mais para o lado, nos afastando dos amigos.

— Hã... Me desculpa pelo o que eu disse lá no carro ok? Munson é seu amigo e respeito isso, então se pra ter você, ele vem de brinde. Eu aceito. - O moreno sorri pra mim.

— Que bom que você sabe disso.

— E conseguiu avisar ele? 

— Não, o desgraçado não atende a porra do telefone. Ele ainda não está em casa.

— Então mais tarde você tenta de novo, daqui umas duas horas mais ou menos. - Diz olhando para o relógio em seu pulso. - Acho que até lá ele já deve estar em casa. Ele o grupinho de esqu... - Arqueio a sobrancelha pra ele. - Amigos, grupo de amigos devem estar comemorando. Seja lá o que eles fazem.

— Bom, talvez. Vamos esperar e depois eu tento novamente.

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Já passam das três da manhã quando Liam me deixa em casa, até poderia ter dormido no barracão, mas não me senti a vontade. Principalmente que só tinha os meninos no final da festa.

— E nem um beijinho? - Ele disse quando percebeu eu abrindo a porta do carro.

— Obrigada... - Beijo. - Pela... - Beijo. - Noite... - Beijo. - Me... - Beijo. - Diverti... - Beijo. - Muito. - Finalizo com um selinho longo.

— Isso já fez valer a pena toda a espera. - Ele beija o topo da minha cabeça e vou a caminho da entrada de casa.

Abro a porta tentando fazer o menor dos barulhos, mamãe nunca foi de se preocupar com essas coisas. Então não estava com a consciência pesada, mas eu também estou bêbada. Seria um milagre se estivesse com minha consciência.

Sigo o caminho em silêncio, pelo menos é isso que eu acho, até meu quarto. Tudo certo. Respiro fundo tirando o tênis, pego o pijama jogado em cima da cama e sigo para um banho rápido.

Bêbada sim, suja e fedendo jamais.

Logo depois do banho rápido, deito em minha cama e me deixo ser embalada pelos braços de Morfeu, sendo encaminhada para o mundo dos sonhos.

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Acordo com um jato de água na minha cara.

— Mas que merda é essa?! - Grito tirando a água irritando meu olhos. De um jeito bem embaçado consigo "ver" uma cabeleira preta e comprida.

Eddie.

— Isso foi por você me abandonar naquele caralho de colégio por duas horas Hazel. DUAS HORAS. - Geralmente eu achava hilário os surtos de Eddie, já que sua voz aumentava algumas oitavas. Hoje não foi um desses dias, me sinto arrependida.

— Por favor, não grita. Minha cabeça está explodindo. - Disse colocando a mão na cabeça, sentando na beira da cama. - Me desculpa ok? Em minha defesa eu te liguei diversas vezes assim que cheguei na festa com...

— Liam, é eu sei. Vi os dois ao amassos antes de você entrar no carro daquele mauricinho. Pensei que você fosse voltar, por isso fiquei esperando. - Ele diz sentando na cadeira em minha escrivaninha, segurando minha caneca da Madonna.

Então é dai que veio a água.

— Eu juro Eddie, te liguei pelo menos umas quatro vezes quando chegamos lá! Mas ninguém atendia o telefone na sua casa, deixei para te ligar mais tarde, mas bem... Meio que acabei esquecendo. Eu... Eu não fiz por mal, ok? Me desculpa de verdade. - Disse me levantando, meio cambaleante por conta da bebedeira de ontem, e cheguei até sua frente.

Ele me olhava de baixo para cima, com o seu famoso "olhos de jabuticaba", dos quais sempre fui apaixonada, por que me sentia acolhida pelo calor que eles emanavam. Mas agora só enxergava ali tristeza. Puta merda, sou uma péssima amiga.

— Eu não fiz por mal Ed... - Sussurro meio choramingando. Senti o bolo de lágrimas se acumular dentro de mim.

Sim, eu sou uma pessoa chorona.

— Ok pirralha, venha aqui. - Se levanta, ficando de frente pra mim e segurando meus ombros. - Eu entendo, essas coisas acontecem. Mas da próxima vez não me deixa esperando tanto tempo. - Ele me embala em um abraço apertado, beijando o topo da minha cabeça. - Já tomou um banho?

— Assim que cheguei.

— Tem certeza? Por que você esta fedendo. - Belisco sua barriga no meio do abraço. Ele se assusta dando risada. - Tô só brincando. Cheirinho de morango, como sempre. - Da uma fungada no meu cabelo. - Enfim... - Desvia o assunto rapidamente, me soltando do abraço gostoso. - Vamos lá que eu vou fazer alguma coisa pra você comer. - Me puxa para o andar de baixo, na cozinha, onde prepara um café da manhã simples.

Torrada com manteiga e um copo de água com aspirina. Não da pra exigir demais dos "dotes culinários" de Eddie Munson.

— A festa estava boa, pelo menos? - Perguntou enquanto comi a torrada. Afirmo com a cabeça. - Passou a noite com o Liam? - Assinto novamente. - Alguma coisa além de beijinhos? - Faz um movimento com a sobrancelha que quase me fez cuspir a comida de tanto rir.

— Não Muson foram apenas beijos. - Disse bebendo um pouco do suco, que peguei depois de tomar a aspirina com água. - E a campanha? Como foi? - Sabia que perguntar sobre deixaria ele radiante, o sorriso estampando na cara dele era a prova disso.

— Foi simplesmente sádica! Mas, aqueles moleques conseguiram me vencer. Foi um ótimo encerramento para o recesso de primavera. - Diz orgulhoso, estou tão perdida que até esqueci do recesso. Finalmente uma semana de descanso. - Acho que você iria curtir estar lá, Cecília estava, você teria uma companhia.

É o que, ôh caralho?

— Como assim ela estava lá? Pensei que era a única mulher que aqueles pirralhos gostavam. - O encaro, que se foda os bons costumes. - Primeiro ela senta na mesa da Hellfire, depois fica pegando no seu maldito cabelo... Do qual você tem mais ciúmes do que daquela merda de guitarra e que SÓ EU posso tocar. E então a bonita é chamada pra assistir a campanha do grupo. Sério Munson? 

Ele sorri.

— Está com ciúmes Williams?

— Você sabe muito bem que sim Edward. Agora desembucha logo esse caralho, por que de repente está tão pertinho dessa garota? Sendo que nunca a viu na vida e ela muito menos percebeu sua presença. Por que duvido muito que ela tenha te percebido desde sempre e de repente ela já esta sentada na mesa d...

— Você tagarela mais que a Robin, por Deus. - Me interrompe, mas que abusado do caralho. - Não é nado ok? É só um romancezinho de colégio, ela tem sua idade, é repetente também como nós dois... Ela gosta de D&D, mas não sabe jogar. - Disse dando de ombros, mas consigo perceber um sorriso pequeno na lateral da sua boca.

Como eu disse: que se foda os bons costumes.

— Hoje vamos ao shopping. - Levantei brutalmente, indo levar a louça suja para a pia. E a lavando com muito ódio.

Eu poderia ter quebrado aquele copo, só com a força do ódio.

— O que? Você sabe que não é meu lugar favorito!

— É? Poxa... - Me viro em sua direção sorrindo malignamente. - Pena que pau no seu cu. 

Subindo as escadas consigo escutar a gargalhada do cabeludo.