Depois de alguns minutos encostada na porta, olho em volta percebo que estou sozinha, mamãe está no trabalho. Mais calma do que antes e ainda sim com os pensamentos a mil, sigo até meu quarto trocando de roupa e decido dar uma volta pela quadra. Colocar os pensamentos em dia, tentar entender o que está acontecendo comigo e por que, de repente, me sinto tão... Estranha perto de Eddie.

Caminhando pela vizinhança pareço observar tudo ao meu redor: os passarinhos cantando, a vizinha idosa regando suas flores, as crianças andando de bicicleta, o cachorro fazendo xixi na moita... Respiro fundo tentando manter os pensamentos em ordem. Certo, nos beijamos duas vezes. Isso não é nada demais, não é? Somos melhores amigos e já passamos por situações piores.

Como ele ter me visto nua. Já é uma situação bem pior.

Ok, respira. Sinto um gelar em minha barriga. Nas últimas semanas tem sido tão comum esse gelo que já quase somos amigos. Por um instante recordo-me das mãos de Eddie em minha cintura, como puxou-se em sua direção e tocou em meu lábios tão delicadamente e então fervorosamente, aprofundando nosso beijo.

Nosso beijo.

Puxo o ar com força notando, pela enésima vez em dias, que gostei do que aconteceu. Já nos beijamos antes, obviamente, a noite caótica do acordo ainda esta fresca em minha memória. Mas dessa vez... Dessa vez foi... Diferente. Um diferente bom, muito bom. Levo os dedos até meus lábios, onde ainda consigo sentir a sensação dele os tocando com os seus.

— Opa, cuidado por onde anda gatinha. - Escuto quando, presa em meus devaneios, esbarro com alguém. Billy.

— Desculpa, estava distraída. - Aceno com a cabeça e desvio-me dele parado no meio da calçada, fumando um cigarro.

— Bem, com um beijo daqueles eu também estaria distraído. - Ergue a sobrancelha sugestivo em minha direção. O encaro desconfiada. - Não foi muito difícil de ver vocês dois, parecia bom. Mas achava que você estava com Johnson.

— Isso não é da sua conta Billy. 

— Talvez não. - Deu de ombros. - Mas Liam é meu amigo.

Combinam na babaquisse, talvez devessem virar um casal.

— Você o conhece a um dia garoto. E não que seja do seu interesse, mas terminamos hoje. - Cruzo os braços e vejo a porta da frente da casa abrir, Max.

— Ei, Hazel não é? - Pergunta animada. Afirmo com a cabeça a cumprimentando.

— Oi Max.

— Billy, mamãe pediu para você mexer a cômoda de lugar. Antes de sair com seus amigos patéticos. - O loiro vira os olhos.

— Bem Hazel, muito bom conversar com você e... Observar você e seu amigo. - Me encara confiante e sai em direção a entrada da casa.

— Babaca. - Max fala olhando na direção de Billy.

— Devo concordar, ele e Liam se merecem.

— Esse idiota só está assim por que conseguiu entrar para o time de basquete. 

— Como? - Digo confusa. - Hoje foi o primeiro dia de aula de vocês.

— Billy consegue tudo o que ele quer, seja por bem ou por mal. - Deu de ombros. - Fez amizade com os meninos do time e conseguiu entrar. Provavelmente deve ter chupado as bolas de alguém, certeza que foi daquele mauricinho loiro. - Engasgo-me com a fala da garota. Não imaginava alguém tão delicada falando esse tipo de coisa.

— Uau.

— Desculpa, esqueço que muitas pessoas não são acostumadas com meu jeito. - Sorri minimamente, como se estivesse desculpando-se. Dou de ombros e digo que está tudo bem.

— Foi bom conversar com você Max, se precisar de alguma coisa pode me chamar. Já sabe onde eu moro, no colégio também, será sempre bem vinda a ficar comigo e meus amigos.

— Os esquisitões? - Sorri para mim, rindo afirmo com a cabeça. - Eles parecem legais, mas já fiz algumas amigas. Obrigada pelo convite. - Sorrindo nos despedimos e volto para casa.

Durante o dia todo não faço nada, permaneço apenas deitada em minha cama presa em meus próprios pensamentos. Recordando de todos os momentos que passei com Eddie na vida, seja antes ou depois do maldito acordo. Quando menos espero, já era noite e minha mãe já estava em casa, mas não estava animada para qualquer coisa e quando percebo já estou dormindo agarrada ao meu ursinho de pelúcia.

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Eddie não aparece na terça feira. O que é estranho, normalmente ele me avisa quando não vai ao colégio, já que é ele quem me dá carona. Preocupada peço para mamãe me levar, já que ir a pé estava fora de cogitação.

Hoje a manhã estava fria, o que era estranho, já que o verão estava se aproximando. Agasalhada com várias camadas de roupa sigo pelos corredores até chegar em meu armário. Observo o armário do cabeludo ao meu lado e pensativa imagino o que aconteceu para ele não aparecer. Desviando o olhar e abanando a cabeça, tenho que parar de pensar nele. Não deve ter acontecido nada.

Abro meu armário e imediatamente cai um pequeno pedaço de papel. Confusa pego-o do chão e meu coração para com o que leio.

Por falta de aviso não foi, melhor tomar cuidado com o que pode acontecer com a aberração que você chama de amigo.

— Liam

Assustada respiro com dificuldade, deixo o bilhete cair no chão. Fico alguns segundos parada, tentando regular o ar que entra em meus pulmões e pensar no que fazer. Onde está Eddie? O que aconteceu?

— Haz? Está tudo bem? - Ao fundo da minha mente escuto a voz de Nancy. Olho para o lado encontrando minha amiga, Robin e Steve. Os três me olhavam preocupados. - Você está chorando. - Ela me abraça. Assim que escuto sua fala percebo as lágrimas.

— Eles fizeram alguma coisa com Eddie. Eles vão machucar ele. - Sussurro em meio ao abraço.

— Eles quem? - Steve olha em volta, procurando por alguma coisa ou pessoa.

— E-eu não sei. Liam deixou um bilhete no meu armário e... - Robin pega o papel do chão lendo o recado. - E Eddie não veio hoje e não me avisou por que não veio. Acho que vou desmaiar. - Saio do abraço e encosto-me no armário, descendo aos poucos até sentar-me no chão.

— Precisamos de um telefone. - Robin declara guardando o papel no bolso.

— No jornal tem um, vamos. - Nancy ajuda-me a levantar e seguimos em direção a sala do jornal da escola.

A sala estava vazia, ainda não tinha começado as aulas e o jornal só começava a funcionar depois do horário de aula. Sento-me na primeira cadeira que vejo e Steve me oferece um copo de água, agradecendo bebo o conteúdo em questão de segundos.

— Você sabe o número dele? - Robin, com o telefone em mãos, me pergunta. Imediatamente falo o número do trailer dos Munson's. - Ninguém atende. - A loira diz baixo. 

— Vamos. - Steve se levanta da cadeira ao meu lado, o encaro confusa. - Se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé. Vamos encontrar Munson. - Tira a chave do carro do bolso e seguimos em direção a porta, antes de a alcançarmos o telefone toca. Nancy é quem atende.

— Alô? - Silêncio e abre um sorriso. - Munson! Onde você está? - Ele revira os olhos bufando. - Eu sei, eu sei... Ligamos para sua casa, onde mais você estaria e blá blá blá... Espera ai. - Estica o telefone em minha direção, trêmula eu o pego.

— Eddie? - Sussurro, minha voz tremia tanto quanto minhas mãos.

— Haz o que houve? - Sussurra também reconhecendo minha voz.

— Por que não avisou que não viria hoje?

— Desculpa, eu perdi o horário. Fiquei até tarde compondo ontem e perdi a noção do tempo pirralha. Está tudo bem? - Sinto a preocupação em sua voz.

— Está tudo bem mesmo ai? Não aconteceu nada não é? - Confirmo o que preciso saber, para meu coração não querer mais saltar pela minha boca.

— Sim Haz, está tudo bem. Estou em casa e bem.

— É que... Que... Hoje tinha um bilhete do Liam no meu armário e ele estava ameaçando você. Como não apareceu nas aulas eu... E-eu entrei em pânico, achando que aconteceu alguma coisa. 

— Ei pequena, não precisa se preocupar. Eu disse que vou ficar bem, ok? Se for necessário eu desço a porrada nesse babaca. - Sorrio limpando as lágrimas, nem havia percebido que voltava a chorar. - Não precisa esquentar a cabeça comigo, estou bem e estou em casa. Só perdi a hora mesmo. Se quiser eu te busco na volta pra casa.

— Não vai incomodar? 

— Que nada, por você eu movo céus e terra. - Escuto sua risada baixa. - Mas também tenho reunião com os meninos do Clube, então posso juntar o útil ao agradável. Mas você em primeiro lugar, é claro. - Consigo imaginar o cabeludo com as mãos erguidas, justificando sua resposta. Sorrindo eu agradeço. - Então volte pra aula, um de nós dois tem que ser o inteligente dessa amizade. - Nos despedimos e desligo o telefone, o engatando ao gancho.

Respiro fundo aliviada. Eddie está bem. Eddie está em casa.

— Nossa meu coração está a mil por hora, me senti como no filme do James Bond. - Robin diz com a mão em cima do peito. Nós três rimos e seguimos em direção as salas de aula, seria um longo dia sem a presença de Eddie para me perturbar. 

As horas passavam lentamente, tentava prestar atenção na aula, mas minha mente estava a mil. Liam faria alguma coisa com Eddie mesmo, ou era apenas uma ameaça sem conteúdo, sem fundamento? Apenas para me assustar. Respiro fundo e olho em volta da sala de aula, percebo que alguns meninos do time não estavam. Mas Billy estava ali, me encarando com as sobrancelhas erguidas e um olhar soberbo.

Não gosto disso. Desvio o olhar e tento manter a atenção na aula novamente, mas como em todo o dia de hoje, meus pensamentos se desviam para o cabeludo.

Depois do que pareceram anos o horário do intervalo chega. Como a boa pessoa que sou, sigo até a mesa do Hellfire avisando que Eddie não apareceria hoje.

— Mas e a nossa reunião? - Byers fala dando uma mordida na pizza.

— Ele disse que viria para a reunião no horário da saída. - Dou de ombros dando o recado e me despeço deles. Hoje era dia de sentar com Nancy, Steve e Robin. No meio do caminho encontro Max, com mais algumas meninas e cumprimento a ruiva.

— Avisou a galera? - Steve fala assim que me sento a mesa, apenas afirmo com a cabeça. - Seria tão mais fácil se inventassem um tipo de comunicação a distância né? Tipo de ligação, sem a gente precisar de um telefone fixo ou um walkie talkie. — Dá de ombros enquanto o encaramos confusas. - O quê? É uma ótima ideia ok?

— Você é muito esquisito. - Robin morde seu lanche.

— Olha quem fala. - Ele dá de ombros na direção dela.

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Depois do horário de saída, fico aguardando Eddie na lateral do prédio das salas extracurriculares, era ali que ficava a sede do Clube Hellfire. Queria esperar por ele aqui fora, os meninos já estavam no Clube apenas aguardando a chegada do líder. Assim que percebo a van chegando meu coração da um pulo e um sorriso se abre em meus lábios, não demora muito para que eu perceba o cabeludo vindo em minha direção com as mesmas roupas de sempre: camisa do Hellfire, jaqueta de couro, colete jeans cheia de botons das suas bandas favoritas e uma jeans preta. Sem nem pensar corro em sua direção o abraçando.

— Tudo isso é medo de me perder Williams? - Agarra minha cintura, devolvendo o abraço forte. - Se eu soubesse disso, teria pedido para Johnson me ameaçar antes. - Consigo sentir a lufada da sua risada acima da minha cabeça. Dou um beliscão em sua barriga. - Ai! Ok, não está mais aqui quem falou! - Rimos me separo do abraço o encarando sorrindo. - Quer deixar suas coisas lá na van? Pra não ter que carregar. - Afirmo e seguimos em direção a sua preciosa van, deixo a mochila no banco do passageiro e ele me abraça de lateral para irmos até o prédio que os meninos esperavam. 

E foi ai que tudo piorou. 

De trás de um carro, estacionado próximo a nós, sai Billy fumando um cigarro, ignoro a sua presença e tanto eu quanto Eddie tentamos seguir em direção a entrada do prédio. Mas somos barrados pelo loiro colocando a mão do peito do cabeludo.

— Opa meu querido. Onde vai? - Pergunta baixo, num tom ameaçador. Sinto meu coração despencar sete metros. Olho em volta procurando por ajuda e a única pessoa que encontro é Max. Ela estava trancada dentro do carro, batendo na janela e tentando forçar sua saída. Billy percebe que encontrei a ruiva desesperada.

— Não liguem pra ela, minha irmãzinha é um pouco... Agitada. - Olha em direção a Eddie. - Ainda não nos conhecemos, sou Billy e você deve ser Eddie The Freak Munson. Já ouvi falar sobre a sua pessoa.

— Prazer te conhecer cara. - Eddie tem a cara de pau de sorrir descaradamente para o loiro. - O papo esta legal, mas precisamos ir. - Nos guia em direção contraria a do loiro.

— Ei... Ei... Ei estou aqui só para manter um papo interessante. Afinal podemos ser amigos não? - O loiro da a volta ficando a nossa frente, impedindo que déssemos mais um passo.

— Não. - Respondo o encarando. - Estamos ocupados, saia da frente Billy. - Sinto a a mão de Eddie apertar minha cintura. Mas o loiro permanece no lugar, dá uma ultima tragada no cigarro e o apaga na jaqueta de Munson, fazendo ele o encarar possesso. 

— Com licença ô babaquinha de merda, não me lembro de ter virado um cinzeiro. - Me solta para limpar a manga da jaqueta, que foi levemente queimada pela bituca do cigarro.

— Certo, mas vai virar. - Billy diz baixo e percebo ele fazer um sinal com a cabeça.

De repente sinto alguém agarrar minha cintura e me segurar fortemente, prendendo-me e impedindo que eu consiga sair. Me debatendo tento me livrar dos braços da pessoa.

— Quanto mais você se mexer, pior vai ser. - Escuto o sussurro em minha orelha, Jason. Paraliso de medo do que pode acontecer a seguir.

Levemente confuso, com a agilidade dos fatos, Eddie segue em minha direção. Mas em menos de um segundo Billy o segura pelos braços, o deixando imóvel e sem escapatória.

— Mas... Que caralho é isso?! - Ele grita tentando se livrar dos braços do loiro, que claramente era mais forte que ele.

— Acho melhor você ficar quietinho ai aberração, quanto menos se mexer melhor vai ser para você. - Escuto Billy, imediatamente Eddie para de se mexer e joga a cabeça para trás com força. Acertando o rosto de Billy. - Mandei você ficar parado. - O loiro segura ainda mais forte e dá uma espécie de tranco, forçando ainda mais o braço de Eddie para trás, o machucando. Escuto ele resmungar de dor.

— Bem, por falta de aviso não foi. - Escuto uma terceira voz, a mesma voz que fui apaixonada por quatro anos da minha vida.

Se arrependimento matasse.

— Hazel meu amor. - Liam se aproxima, segura meu queixo obrigando-me a encará-lo. - Como você está?

— Deixa ele em paz. - Falo entre dentes.

— Mas por quê? Poxa Hazel, não vamos fazer nada. Queremos apenas conversar com o seu amiguinho. - Sibila baixo aponta com a cabeça na direção do cabeludo. - Não temos divergência nenhuma não é Munson? - Vira-se na direção de Eddie. Ele apenas o encarava desconfiado, quando a única coisa que eu sentia era medo. - Você roubou a minha garota de mim, o que ela viu em você só Deus sabe...

— Eu não sou sua garota e eu já disse que ele não tem nada a ver com nosso término Liam! - Debato-me nos braços de Jason novamente, ele firma ainda mais o "abraço" ao meu redor. - Me solta seu idiota. Nos deixe em paz! - Grito com raiva.

— Hazel... Hazel você não aprende não é? - Liam chega mais perto negando levemente com a cabeça. - Eu já te avisei, pelo menos, duas vezes. Agora é bom arcar com as consequências. - Volta-se para Eddie, segura com força o queixo dele forçando-o a olhá-lo. Eddie é alguns centímetros mais alto que Liam, mas Billy que o segurava era muito mais forte e mais alto, dando o apoio ideal para que Liam não se machucasse nas mãos de Eddie. - Fiquei sabendo sobre um beijo... - Aproxima-se ainda mais de Eddie sussurrando algo em seu ouvido, do qual eu não pude escutar. Mas, seja o que for, deixou-o com muita raiva e o próprio tentava se debater nos braços de Billy. - Eu avisei Munson. - Afasta-se de Eddie e em logo em seguida desfere um soco em seu estomago, fazendo o cabeludo curvar-se levemente pela dor. Imediatamente eu começo a gritar e me debater nos braços de Jason, enquanto observo Liam desferir mais e mais socos no meu melhor amigo.