A ideia de estar apaixonada por uma garota em pleno ensino médio e no auge dos seus 14 anos pode ser bela, entretanto, devo afirmar que nem tudo são flores. Quantos suspiros eu não perdi pensando nela. Aquele rosto alva com aquelas preciosas bochechas ruborizadas em uma tonalidade vermelha, logo, indo para um degrade único e singelo. Olhar para os seus pequenos olhos era como observar a imensidão de uma floresta viva e cheia de energia em uma estação autunal. Ahhh, eu não deveria perder meu tempo pensando nela, mas não nego que o meu coração se enche de alegria quando a vejo.

Seria amor? Seria paixão? Seria um simples gostar?

Não tenho certeza dos meus sentimentos. Porém a única coisa que tenho é a vontade que tenho de ficar com ela. Nunca conheci uma pessoa que tocasse tão fundo no meu coração ao ponto de doer. A sua inocência beirando os seus amáveis 14 anos; tão tímida e tão bela. Os seus cabelos curtos pretos contrastando a sua pele se tornara tão exóticos; ressaltando uma beleza particular e única. Ela tem sido o motivo de noites em claro e pensamentos apaixonados. Seu nome? Laura Helena, o anjo dos meus sonhos e o terror do meu coração. 

Como poderia me esquecer do nosso primeiro encontro? Lembro-me de chegar em na escola na primeira semana de março, era o segundo ano do ensino médio e não conhecer absolutamente ninguém. Pessoas diferentes, rostos novos, ansiedade subindo... Até que me deparei com ela. Laura Helena me encarou por conta da minha mochila de Adventure Time; ficou atraída pela mesma. Logo, tive a oportunidade de olhar bem para aquela garota delicada e amável. Seus traços faciais foram desenhados com tanta maestria ao ponto de não parecer mais humano, mas sim, um anjo etéreo. Confesso que já havia beijado outras garotas antes, entretanto, devo dizer que nunca me senti tão atraída como fiquei com a doce LH. Talvez estivesse a idealizando demais, porém, isso não importava para mim. Tudo que sentia ou pensava era real, mas se fosse contrário dos meus preciosos sonhos com a Laura Helena, apenas era desconsiderado.     

Em uma adorável quarta-feira, notei a LH sozinha em um canto. Sempre tive um jeito meio extrovertido e conseguia me aproximar das pessoas com facilidade, então bolei uma pequena estratégia para conseguir falar com a mesma. Chamei Laura Helena para sentar comigo e mais algumas garotas que eu havia conhecido. Ela ficou tão feliz! Disse que era a primeira vez que havia feito novos amigos. Nos aproximamos por gostos em comum e isso foi incrível; tive a oportunidade de conhecê-la melhor.  Ela se sentiu parte de um grupo pela primeira vez em sua vida. Tudo ao nosso redor se tornou colorido, era como se nós estivéssemos realizando os nossos sonhos mais coloridos e amáveis que já existiram. Laura Helena fez isso comigo; fez a minha vida ter sentido. Não podemos simplesmente fechar os nossos olhos para tamanhos acontecimentos que abalam a nossa estrutura de uma forma positiva. Tudo se tornou um paraíso na Terra com ela. 

Garanto que era uma amizade muito bela. Laura Helena vivia escrevendo “Amo a Ana Flávia” no meu caderno e deixava recadinhos carinhosos. Sentia que ela também gostava de mim... Até o momento em que comecei a namorar com um garoto. Eu, Ana Flávia, tinha certeza que não gostava dele, mas precisava passar aquela imagem de uma jovem heterossexual para a minha família. Resultado? Afastei a minha doce paixão de mim. Após seis longos meses depois, Laura Helena resolveu me contar que estava completamente apaixonada por mim. Culpei-me muito por ter sido covarde e não falar sobre os meus sentimentos. Deveria ter sido forte e me expressar para ela, mas aquele friozinho com aquele leve medo de levar um não me assombravam. Havia a questão familiar que me perseguia até as portas do inferno! Então como ser a Ana Flávia? Como lidar com os olhares reprovadores querendo comer o meu fígado? E se fizerem algo comigo... ou com ela? São tantos questionamentos que preferi não estragar o único vínculo que nos unia por medo. Agora ela estava na minha frente, declarando todo o seu amor para mim. As coisas mudam tanto para melhor ou para pior. 

Em uma manhã quente de novembro, chamei a doce garota para me declarar. Para a minha surpresa, foi uma declaração mútua e inesperada. Estávamos apaixonadas uma pela outra e senti um sentimento tão puro queimar no meu peito. Como consequência, terminei o meu namoro e comecei a sair com a Laura Helena. Todos sempre me falaram do quanto nós éramos um casal perfeito; sem falhas. Nos beijávamos no cinema, andávamos de mãos entrelaçadas no shopping e trocávamos as mais belas lindas palavras entre dois indivíduos completamente apaixonados. Aqueles meus medos desapareceram e eu me lembrei como era ser feliz de novo. Acreditava que as coisas se acertariam e provavelmente se ajustariam com o tempo. Bem, pelo menos era o que eu acreditava. 

 Nem tudo nesta vida é um conto de fadas romântico e amável. A realidade é exposta na sua frente e você deve lidar com as consequências. Laura Helena mudou da água para o vinho, não queria  um relacionamento monogâmico e não deu os seus motivos. Sempre tentei buscar entender o porquê de uma mudança tão bruta e fatal, porém sem respostas. Logo, a mesma disse que queria curtir a vida e beber todas e deixou claro que eu não era nada para ela. Ela amava colecionar pessoas e tratá-los como pequenos escravos, pessoas descartáveis que fariam de tudo por ela. A paixão sumiu. O gostar evaporou. O amor nunca existiu. Dei-me de conta o quanto a paixão pode nos distorcer a imagem de alguém e que com apenas o tempo, nós conhecemos as pessoas. E isso é a doce vida, contada nas minhas palavras. Agora sim tive a certeza dos meus sentimentos, era uma mera paixão mascarada com perfeição. Essa é a narrativa de uma adolescente de 14 anos que teve o seu coração partido e traído pelo seu próprio paraíso na Terra.