CelleXty Saga escrita por Basco Khassan


Capítulo 28
O Vírus Legado - PARTE 2




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SERRA DA MANTIQUEIRA

Madalena decide adentrar a Serra da Mantiqueira. Um local onde apenas ela conhecia e há muito tempo utilizava como um “ponto de recarga” de autoconhecimento e onde sentia mais forte a presença dos seus ancestrais e o toque da lua. Pouco os CelleXtys conheciam do passado desta jovem. Muito reservada, Madalena preferia manter o enigma sobre o seu passado como uma estratégia de guerra. A Serra da Mantiqueira era um destes enigmas. Madalena tinha a pele parda, corpo esguio e cabelos longos e negros. Os seus amigos de equipe não sabiam, mas a jovem possuía sangue indígena. Suas origens provêm do milenar povo Puri. Tradicionalmente, os puri habitavam uma faixa de terra que se estende do Espírito Santo a São Paulo, passando pelo interior do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Numeroso, eles foram mortos ou escravizados conforme essas áreas ganhavam importância na economia colonial.

Ao longo dos séculos, os puris foram obrigados a se refugiar cada vez mais no interior para fugir das doenças, das guerras e da destruição da natureza que chegavam junto com os exploradores europeus, traficantes de escravizados e saqueadores. No século XVIII, os casamentos entre membros dos puri e escravizados africanos se tornaram frequentes em decorrência tanto do aumento sensível da população de origem africana em São Paulo quanto do acirramento na competição pela mão-de-obra disponível. Em 1972 o pai de Madalena era um pajé respeitável na reserva dos Puri e grande conhecedor dos antigos conhecimentos deste povo. A mãe, uma “filha de quilombo”, como se dizia na época, descendentes dos escravizados que em meados de 1885 fugiram de seus algozes e, mata adentro, formaram um quilombo protegido pelos puri! Quando Madalena nasceu foi vista pelo seu povo como um sinal de Jaci (como era conhecido, a Lua), de boas novas e grandes bênção!

No local onde Madalena despeja os seus pertences para acampar, restavam poucos vestígios do que, na sua infância, era a aldeia de seu pai. Há tempos os puri que ali viviam migraram para outra localidade, porém, era naquele local que a jovem mutante se sentia em casa e protegida. Após organizar a sua barraca e fazer uma fogueira, Madalena concentrava-se na lua que hoje estava cheia e muito brilhante, trazendo um iluminar intenso sobre a mata. No silêncio da floresta, Madalena podia ouvir o som, o respirar, o suspiro de cada planta e animal ao seu derredor. A jovem acreditava que, se conectar à terra, aos seus ancestrais e ao banho da luz da lua, poderia encontrar respostas para uma possível cura ao Vírus Legado que agora afligia a todo o mutante brasileiro. Enquanto meditava, de joelhos e sentindo a brisa do cair da noite, sussurrava palavras quase incompreensíveis ao homem branco, mas com um significado profundo para si e para a floresta! Animais começam a se aproximar de Madalena de diversas espécies e tamanhos. Capivaras, veados-mateiros, pacas, jaguatiricas, lobos-guará, tatus, macacos bugio e até um casal de onças pintadas. Os animais a cercavam à medida que seu corpo brilhava ao canalizar a luz da lua! Subitamente algo inesperado acontece! Os animais se assustam e correm em todas as direções, quebrando a concentração de Madalena. Em seguida, seus braços e pernas são amordaçados por fortes cipós que brotam da terra com extrema violência até suspendê-la no ar. O ataque foi tão rápido que nem ao menos houve tempo de reação em sacar o seu espadim e canalizar uma defesa! A metros do solo e durante alguns minutos, a jovem apenas esperou. Tentou se livrar dos cipós, mas quanto mais força empunhava, mas apertado ficavam as mordaças, como se tivessem vida própria. Em meio ao silêncio da mata, Madalena houve passos vindo em sua direção. Pareciam leves e com sua experiência, a jovem deduzia que o agressor poderia ser um adolescente ou uma....

No clarão formado pelo seu acampamento, seus pensamentos são interrompidos quando uma jovem surge à sua frente saída do meio da mata! Não parecia ter mais do que 25 anos. Magra, cabelos negros e cacheados, pele parda e vestindo um traje rústico, lembrando uma antiga guerreira indígena! A CelleXtys percebeu logo que os cipós que a prendiam eram obra da moça à sua frente

— Quem é você?— Perguntou Madalena

— Não te interessa! Você está invadindo...não é bem-vinda aqui! Esse é território sagrado!— Respondeu a jovem em posição de ataque!

— Não sei quem você é, mas é bom me soltar agora!— Ordena Madalena, porém, ao girar levemente o pulso, a mulher à sua frente parecia controlar os cipós que começam a subir ainda mais e a apertar braços e pernas da prisioneira.

— Eu....avisei....! Responde Madalena ao ataque. A mutante com poderes manifestados pela energia lunar manifesta o seu dom de maneira poderosa, violenta e sem a necessidade do seu espadim! A explosão de energia lunar estraçalha os cipós e lança a aparente adversária a metros de distância. Nem mesmo Madalena imaginava que conseguia fazer tal proeza quando flutua pela primeira vez! Seu corpo estava banhado pelo poder da lua de uma maneira inexplicável. Isso jamais havia acontecido nas outras vezes em que esteve naquele local. Havia algo diferente desta vez e tinha a ver com a mulher que tentou aprisioná-la.

Madalena ainda flutuava quando a jovem à sua frente se recompõe e com um simples gesto faz o solo estremecer e se erguer como se fosse emergir uma pequena montanha, levando a mulher as alturas até onde Madalena estava. Com um gesto de suas mãos, galhos de árvores viram flechas e lanças que atacam Madalena com furor, contudo, com um simples gesto da heroína, os artefatos são repelidos. Madalena sentia que a jovem não era uma ameaça e parecia realmente estar protegendo aquele local sagrado. Ela retorna ao solo, mas os ataques não cessam. A mulher a ataca com mais fervor num combate corpo a corpo!

....

— Eu não sou sua inimiga, seja lá você quem for! — Clamava Madalena se desviando dos socos e golpes da jovem! A mulher se afasta e com um gesto de seus braços as árvores cercam Madalena e pareciam furiosas! Seus caules brotavam do solo, seus galhos cortavam o ar como chicotes e navalhas! Madalena, porém, detinha grande destreza e agilidade, conseguindo se desviar da maioria dos golpes até que um tronco lhe golpeia certeiramente no estômago a arrastando pela terra!

— Você está invadindo! Saia da mata, agora!— Esbravejava a jovem de pele parda e espírito guerreiro

— Eu também sou filha dessa mata, sou filha de Jaci nos céus e do antigo Pajé Dauá Puri, nascido nestas terras!

Ao ouvir o nome Dauá Puri, a jovem guerreira, se afasta, sua respiração normaliza e ao baixar os seus braços, os ataques da mata contra Madalena também cessam.

— Você é filha de Dauá Puri? Você é Raial?— Pergunta a mulher

— Há muito tempo eu não escutava esse nome, mas sim...já fui conhecida como Raial Puri. Como eu nunca te vi por aqui?

— A mata é grande, Raial Puri! Eu viajar muito pela mata. Visitar outros lugares. Há muito tempo eu não vinha desse lado da mata. Quando eu ver um clarão da lua apontando pra cá, achar que era ameaça de fazendeiros ou posseiros! Raial...você é mesmo filha de Janci também? Guerreira da Lua?

— Pode me chamar de Madalena!

— Porque? Tem vergonha de nome Puri?

—Não é isso....é complicado! - Responde Madalena enquanto tirava a terra de suas roupas com as mãos

—Eu sei porque você aqui! Quer resposta pra doença que mata mutantes!

— Você fala bem o português e também sabe sobre o Vírus Legado! Quem é você afinal?

— Eu sou Málaca! Sou a última guardiã do conhecimento dos Puri!

 

 

Madalena olha para Málaca e sorri. Ao que parecia, Málaca também era mutante e a nossa heroína precisava de toda a ajuda possível diante da pandemia que parecia se expandir com rapidez! A lua brilhou com mais intensidade do que nunca naquele noite! Seria Janci abençoando aquele encontro inusitado? 

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Para quem quiser conhecer mais sobre o povo Puri, pode acessar:

https://povopuri.wixsite.com/memoriapuri
https://opierj.org/puri/



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