Chrissy, this is for you escrita por Camélia Bardon


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Ai, olha, eu escrevi isso em uma hora em um surto xD Na minha cabeça, é canon e eles viveram felizes para sempre.
Boa leitura! Espero que vocês gostem ♥



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Era a décima vez que ele errava a nota. Aquela mesma maldita nota que encerrava a maldita canção. Ele conseguia fazer uma sequência de notas incrivelmente difíceis e humanamente duvidosas, mas não conseguia fazer com que seus dedos trabalhassem de forma a conseguir terminar um maldito solo de guitarra. Ao chegar ao final seus dedos transformavam um belo mi em uma coisa horripilante e medonha.

E a pobre Chrissy ouvia tudo, vez após vez, com seu sorriso adorável de quem ouvia uma bela sinfonia de Bach. Pobre, pobre Chrissy.

— Isso não vai dar certo — ele resmungou, passando a alça da guitarra pela cabeça e atirando-a na cama com pouca cerimônia. Depois, virou-se de costas para Chrissy e acrescentou em tom carinhoso para a guitarra: — Desculpe, querida.

— Talvez devesse descansar um pouco...

Primeiro ele apenas arqueou as sobrancelhas para ela, para depois juntar-se à guitarra dramaticamente. Seu impacto na cama quase fez com que a guitarra se atirasse para fora, quase como se estivesse protestando com o descaso do dono.

— Não há tempo para descanso. O show é amanhã. Os caras não vão me perdoar se eu não acertar essa nota. Quer dizer, ele e os cinco bêbados do bar do Joe que vão assistir a gente.

— Mas já faz duas semanas que você está tentando... — Chrissy juntou-se a ele na cama. No projeto de cama. Era vergonhoso dizer que aquilo era algo próprio de uma dama. Sentou-se ao seu lado e segurou a mão dele com toda a doçura que apenas ela conseguia ter. — Acho que se descansar um pouco vai fazer bem...

Eddie resmungou outra vez. Feito um cão velho.

— E tenho quase certeza de que os bêbados perdoariam a sua nota... Hã...

— De taquara rachada?

Chrissy gargalhou baixo, abafando o som com as mãozinhas.

— Não estava tão ruim!

— Ah, estava sim. Parecia que eu estava acertando cachorros com um taco de beisebol. Ou gatinhos. Sim, gatinhos miando em desespero. Estava um desastre.

— Eddie! — ela censurou-o vermelha de tanto rir.

— É o fim, Chrissy Cunningham, é o fim. Minha carreira musical acabou.

Ela olhou-o com piedade. E ele não teve outra opção além de deitar em seu colo. Os cabelos compridos espalharam-se pelas pernas dela, e Chrissy adiantou-se para arrumá-los antes que se tornassem um ninho de ratos.

Estava animalesco, hoje.

— Não é verdade — ela franziu a testa.

— É, sim. Estou decorando essa música há duas semanas. E eu acerto todo o solo, menos o vibrato.

— Aquela alavanca é bem assustadora.

— É uma alavanca horripilante, Chrissy. Vou ter pesadelo com ela pelo ano inteiro. E aí eu nunca vou me formar. De novo.

Dava para ver na cara dela que ela estava tentando levar seu drama a sério. Mas Eddie podia ler em seus olhos que o sorriso não era o sorriso de sempre, era o sorriso de “você não acha que está exagerando?”. Entretanto, Chrissy era Chrissy e jamais falaria qualquer coisa maldosa que fosse. Ela era a bondade em pessoa. Em compensação, ele não podia dizer o mesmo.

— Dê suas mãos — pediu ela. — Vou lhe fazer uma massagem.

Eddie ergueu as mãos como se estivesse esperando as algemas, porém Chrissy massageou seus dedos com todo o cuidado. Eddie não podia dizer que os dedos não estavam lotados de calos de tanto estourá-los nas cordas, mas Chrissy não pareceu se importar com esse detalhe.

— Você vai conseguir — ela sorriu. Aquele sorriso que ele era tão fascinado, mas não que ele fosse dizer isso em voz alta. Ele amava aquelas covinhas que se abriam na parte superior das bochechas e o fato de seus olhos fecharem sempre que ela sorria. Ah, a quem queria enganar? Eddie amava tudo sobre ela. — E os meninos e os cinco bêbados não vão ficar decepcionados. Vai ser o maior solo de guitarra de todos os tempos.

Ele olhou para cima, para o seu rosto.

— Muito gentil da sua parte em confiar no meu potencial, Chrissy.

— Eu confio! — Chrissy protestou com um riso frouxo. — É sério!

— Sei... Você não está me passando muita credibilidade, mocinha!

E então, Chrissy se contorceu de tanto rir pelas cócegas. Ela não estava esperando um ataque daqueles, então sua risada foi mesclada a gritinhos de espasmos. Eddie teve de se desviar dos chutinhos que ela dava, do contrário além das mãos podres ficaria com as pernas ou pior inutilizáveis.

— Para! Para! Eddie! Isso... não... é... legal!

— Ok, rainha do baile — Eddie cedeu, com um sorriso maroto. — Eu prometo descansar. Por hoje. Amanhã tentamos de novo. Quer dizer, se quiser comparecer. Sei que não faz o seu tipo de passeio de princesa, mas... É. Bem. Se não der certo, eu sumo do mapa de Hawkins em vergonha e desolação.

Chrissy respirou fundo, recuperando o fôlego, mas abriu um sorriso doce em seguida. E beijou a ponta de seus dedos com tanta delicadeza que Eddie não pode sentir-se outra coisa além de um bruto. As pessoas já o enxergavam assim, de qualquer maneira. Não estaria errado.

— Tenho um bom pressentimento sobre isso — e ela continuou segurando sua mão.

— É? Han Solo está se sentindo positivo hoje?

— Quem?

— Ah, Chrissy... Voltando do show, nós vamos assistir Star Wars. Isso é inaceitável.

☆ ☆ ☆ 

Tinham seis bêbados à espera. Ah, meu Deus. Daria tudo errado. Será que dava tempo de fugir pela porta dos fundos?

— Nem pense nisso — Gareth advertiu, estreitando os olhos para ele. — Estamos ganhando para estar aqui. E bebida, apesar de não ser legal.

— Quem é que liga para legalidade? — Jeff debochou, verificando todos os instrumentos pela centésima vez na hora. Estava quase na hora. — Ok. Vamos nessa, galera.

Eddie respirou fundo e ajeitou a alça da guitarra. As mãos estavam empapadas de suor. Agora, sim, aconteceria uma tragédia. Estragaria sua preciosa guitarra na tentativa de ser um rockstar.

— Em nome de Hetfield, Osbourne e Dickinson — ele sussurrou.

— Amém — os outros dois ecoaram.

E Eddie deu introdução à Orion.

Seria uma epopeia. Tinham vinte minutos para se apresentar, então por que não usar duas músicas de 8 minutos para preencher o tempo?

O tempo passou com os olhares do dono sobre os três, pesadíssimo. Eddie perdeu a conta de quantas vezes engoliu em seco e esquadrinhou o ambiente à procura de um ponto onde pudesse se focar.

Foi então que ele a viu.

Aquela coisinha adorável em seus cabelos ruivos brilhantes, vestido verde e sua sombra de olhos turquesa. Ele já havia decorado cada parte dela, como uma obra-prima. Chrissy era uma obra-prima. Eddie não sabia quando começara a falar daquela forma tão melodramática, mas talvez fosse só o Vórtex Cunningham arrastando-o para o seu olho de furacão.

Depois, veio o sobressalto. Atrás dela seguiam-se outras pessoas. Figurinhas carimbadas: os irmãos Wheeler, Henderson, Buckley e Harrington e os irmãos Sinclair. Até mesmo a garota Mayfield e sua pose de garota durona estavam ali. Eddie podia ser capaz de chorar, mas não fez isso. Durante o solo de Orion, Eddie deu seu suor para fazer uma performance à altura de seus ídolos.

Quando acabou, nenhum dos seis bêbados fez menção de aplaudir, mas foi Dustin quem conduziu os assovios na plateia.

É! — ele berrou, agarrando-se às “grades do palco”, lê-se à beirada do balcão, como um headbanger enfurecido. Eddie pode jurar que ele havia babado no processo. — Maneiro pra caralho, Eddie!

Alguém tinha que dar um jeito naquela boca suja.

Fosse como fosse...

Ela sorria para ele. Um encorajamento sutil. Silencioso. Diferente de todo aquele barulho que estava no ambiente.

Corajosamente, ele aproximou-se do microfone e abriu um sorriso ladino. Não iria fugir.

— Chrissy — disse ele, em seu melhor tom rockstar sedutor. — Essa é pra você.

E beijou a palheta.

O público foi à loucura. E Chrissy sorriu como se aquele fosse o melhor presente de toda a sua vida. Aquilo, um headbanger cabeludo repetente que morava nos fundos de um trailer.

Eddie foi tomado pela euforia do momento.

E acertou. O. Maldito. Mi.

Sim! — talvez tenha sido impressão, mas ele sentia que tinha aberto um daqueles sorrisos maníacos. E talvez tivesse colocado a língua pra fora. Nada atraente. — SIM!

Todos gritavam, ensandecidos pela magia do rock. E, enquanto todos o aplaudiam e gritavam, Eddie aposentou a guitarra, largando-a de qualquer jeito ao lado da bateria. Ela não havia caído por algum milagre divino. Obrigado, James Hetfield, Eddie agradeceu silenciosamente enquanto saltava do palco em direção ao público. Em direção a ela.

— Você conseguiu! — Chrissy atirou-se em seu pescoço para presenteá-lo com um abraço esmagador. — Ah, meu Deus! Eu sabia que você iria conseguir!

— É claro que eu ia! — Eddie sorriu, com as bochechas pegando fogo. Jogou os cabelos para trás e abraçou-a pela cintura. — Você veio! E trouxe pessoas! Achei que eu fosse morrer!

— Mas não morreu! Ah, eu estou tão orgulhosa!

Eddie mordeu o lábio, reprimindo um soluço. Ao invés de chorar, ele fez melhor. Puxou-a para um beijo tão caótico quanto o momento. Era o primeiro que trocavam. Sempre havia algo pairando no ar, mas agora Eddie queria provocar um furacão. Dane-se o clichê.

— Chrissy Cunningham, você é maneira pra caralho — Eddie sussurrou após se separarem, por mais que o barulho do “público” tivesse se empolgado com a demonstração de afeto.

— Me sinto uma menina má — e ela sorriu docemente, como se ele sequer tivesse sido indelicado. Suas bochechas estavam adoravelmente vermelhas sob a luz dos holofotes. — Mas acho que hoje posso concordar com isso.

Com muita coragem, ela ergueu-se na ponta dos pés para dar-lhe outro beijo.

Os deuses do rock o abençoaram. Infelizmente, para Chrissy, isso significava ter de acompanhá-lo em todos os shows dali em diante.

Bem, ela não parecia nada incomodada com isso. Então ele também não se incomodava.


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Notas finais do capítulo

Feliz Dia do Rock (atrasado)!



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