Reign On Fire escrita por Brê Milk


Capítulo 2
Chapter 01: Página em branco


Notas iniciais do capítulo

"Yeah, I miss all the times we had
Can't forget what you can't get back
And you can't find it in another"

— ONEREPUBLIC (RESCUE ME)



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ALEC VOLTURI

 

 

O corpo imóvel em seus braços deslizou para o chão imundo do beco em um baque surdo quando ele terminou de sugar a última gota de sangue. Era uma turista; não deveria ter mais do que vinte anos, loira, francesa e era atirada demais para seu próprio bem.

Alec saboreou o gosto doce do sangue da desconhecida bailando em sua boca, se misturando com o veneno amargo que ele não fazia questão de conter. E era naqueles momentos, onde o prazer e a saciedade se misturavam, que ele gostaria de permanecer. Afinal, os últimos tempos estavam sendo estranhos: nada mais o satisfazia como antes. Nada o divertia ou o interessava — um bom drinque, um bom assassinato, uma boa transa — e a cada dia que se passava, as coisas iam piorando. 

Havia se tornado frequente as vezes em que sentimentos inoportunos o acometiam. Não havia hora e nem lugar, mas quando eles batiam em sua porta como visitantes indesejados, Alec não conseguia mandá-los embora. Os sentimentos o arrastavam para o cerne do caos, para as profundezas obscuras de pensamentos inquietantes e o afogavam na sensação de vazio que nunca se findava.

 

Assim como naquele instante.

 

 

— Inferno! — Praguejou Alec, apoiando-se no muro atrás de si.

 

Assim como sua vítima jazida ali ao lado, o Volturi deslizou para o chão do beco e se deixou ficar em silencio, aguardando a onda de sentimentos transtornados passar por si. Era frustrante a ideia de que um vampiro como ele poderia passar por situações como aquela, mas era uma ideia realizada que o Volturi escondia muito bem. Faziam meses em que ele tinha momentos como aquele e os enfrentava sozinho, tentando não sucumbir aos sentimentos, tentando não submergir em seu próprio sofrimento, já que era o que estava acontecendo.

Alec Volturi estava sofrendo e nem ao menos sabia o motivo. A sensação de vazio e a dor contínua em seu peito... ele não conseguia entender, mas sabia que algo importante estava faltando em sua existência. Algo que ele havia se apegado em algum momento, três meses atrás. Ele só não sabia o que era e enquanto não descobrisse, continuaria vivendo aquele tormento que seus dias haviam se transformado, como se estivesse no inferno.

Um inferno particular em que ele era seu próprio carrasco e a lacuna em branco de uma ínfima parte de sua existência, era seu maior demônio.

 

 

***

 

Quando voltou para o castelo perto do raiar do dia, Heidi foi a primeira pessoa que encontrou. A bela vampira estava o esperando no andar de seus aposentos, encostada elegantemente na porta de seu quarto, atrativa como sempre. Um sorriso sedutor se formou nos lábios avermelhados quando os olhos da vampira encontraram com os de Alec e se tornaram mais escuros de desejo.

 

— Achei que tivesse esquecido o caminho de volta para casa, querido — ronronou Heidi, inclinando a cabeça para o lado, fazendo sua tentativa de expor o colo desnudo valer a pena. — Fiquei com saudades.

 

Alec se limitou a sacudir os ombros enquanto alcançava a porta de seu quarto e a abria. Ele entrou, mergulhando na escuridão profunda que o comodo estava e não demorou muito para escutar Heidi adentrando sem cerimonias ou convite. No instante seguinte, as mãos da vampira já estavam abrindo habilmente os botões da camisa do Volturi, os lábios frios e carnudos buscando a boca dele em um beijo sensual e frio, desprovido da fagulha que costumava explodir entre eles; algo a mais para acrescentar na lista de coisas que não eram mais como antes em sua existência.

O nó apertou na garganta de Alec e o peso constante em seu peito aumentou. A sensação de vazio ameaçou puxa-lo novamente enquanto uma voz no fundo  de sua cabeça o dizia que aquilo era errado. Como se transar com Heidi ou com qualquer outra mulher fosse errado, embora aquele aviso nunca o tivesse detido antes, confirmando para o vampiro que sua situação poderia piorar em níveis imagináveis.

 

— Vamos parar por aqui. Não estou no clima para sua companhia —  Declarou Alec, quando a vampira atirou a camisa dele do outro lado do quarto.

 

Graças a visão periférica que tinha, ele observou a descrença surgindo no rosto impecável da vampira, a levando a rosnar em revolta.

 

— Qual é o seu problema, Alec? — Indagou Heidi, o analisando por inteiro, procurando o motivo para a loucura que ele falava: — Eu quero transar com você. Agora. E você nem ao menos está excitado?

 

—  Eu disse que não estou afim, Heidi. Agora saia, enquanto estou pedindo e não a obrigando — A resposta dele ecoou fria como a noite do lado de fora, os olhos desprovidos de qualquer emoção que indicasse vestígios de desejo, prazer ou qualquer outra fagulha de sentimento que constituísse uma alma. 

 

Era apenas Alec Volturi: O melhor vampiro da guarda Volturi. O general do exército que era temido ao redor do mundo por suas habilidades e poderes. Era ele, o melhor dos melhores e o pior dos piores. 

 

— Você é um babaca, Alec!

 

Rosnando, Heidi caminhou para fora do quarto; os saltos altos batendo furiosamente contra o assoalho enquanto ela tentava endireitar as roupas e os cabelos. Por fim, quando a porta bateu atrás da silhueta da vampira, o Volturi se permitiu relaxar.  Ele caminhou através da penumbra do cômodo até a enorme cama de casal posicionada no canto mais afastado, e se deitou com as costas pressionadas contra o colchão macio, os olhos fixos no teto acima como se ali estivessem todas as respostas que ele desejava ter. 

Não existia nada mais naquele momento que Alec pudesse desejar que não fosse saber o que significava a lacuna em sua memória referente a três meses atrás. O que significava aquela página em branco de sua vida que ele não conseguia se recordar para então lembrar o que nela havia escrito. Se havia algo que valesse a pena lembrar, embora ele tivesse a plena certeza de que sim. 

Era como um incomodo constante dentro de si, um alerta de que estava esquecendo de algo. Que algo faltava. Durante todo o dia, a cada segundo e ação que fizesse, o alerta estava presente, o puxando cada vez mais fundo para o poço de sentimentos destrutivos que alguém como ele nunca imaginou visitar um dia. Porém, aquela era a realidade: Alec estava sofrendo por algo que nem sabia o que era. E doía, doía tanto que ás vezes ele se perguntava se a morte não seria mais sossegada e indolor.  Mas Alec acreditava que almas como a dele eram condenadas ao inferno, embora ele achasse que já estava vivendo em um. O inferno onde ele mal conhecia seu maior demônio: a garota desconhecida naquela foto que Félix encontrara.

O rosto que habitava seus sonhos — se ele tivesse algum — era lindo e atormentado. Era o rosto que aparecia em sua mente quando o Volturi fechava os olhos e se permitia distrair por breves segundos, buscando por respostas. Era o rosto de um fantasma de um passado nem tão distante, talvez, embora ele não conseguisse recordar dela. De qualquer forma, era por aquela garota que o vampiro louro-acastanhado buscava, porque era dela que conseguiria respostas para aquela lacuna em suas memórias.

Quem era ela, no entanto, era um mistério. Um ao qual Alec desejava desvendar, mesmo quando todas as estatísticas indicassem que ele deveria deixar para lá; mesmo que ele estivesse fazendo papel de tolo e louco por se agarrar aquilo. Talvez não significasse nada. Ou talvez, apenas para variar pela primeira vez em quase um milênio, pudesse significar tudo...

Duas batidas vacilantes na porta o puxaram de volta para a superfície, o deixando alerta. Em dois segundos, o Volturi já estava recomposto e com a mão na maçaneta, pronto para abrir a porta e encarar a silhueta mirrada e baixa do vampiro ruivo e desengonçado que nunca sabia onde colocar as mãos nervosas e por isso andava estalando os dedos por aí — provavelmente o único da espécie que portava aquela descrição. 

 

— Você tem cinco segundos para dizer o que quer, antes que eu o pendure pelo manto nas torres do castelo por me incomodar, James.

 

Os olhos esbugalhados do vampiro ruivo se arregalaram ainda mais com a ameaça e ele estalou o dedo médio, um tique nervoso que ainda era uma das manias de humano que James não havia se desapegado. Ele havia sido transformado há pouco tempo e ainda não tinha se adaptado á vida imortal completamente, o que era bastante visível até mesmo a olho nu. 

 

— O-Os mestres o aguardam na sala dos tronos. É urgente, senhor — Gaguejou o ruivo, evitando contato visual. 

 

— Estou indo. — Alec se limitou a revirar os olhos, mas balançou a cabeça. Ele observou James fazer uma reverencia totalmente desengonçada e virar as costas, impaciente para desaparecer de suas vistas, o que o divertia um tanto; o suficiente para emendar antes que o recém-criado desaparecesse por completo pelo corredor: — Continue estalando os dedos com tanta frequência e talvez eles se quebrem em diversos pedaços, James. Lembre-se disso quando aparecer em minha frente novamente.

 

Alec não podia ver seu rosto, mas sabia exatamente que a expressão do ruivo naquele momento era de puro terror com aquela possibilidade enquanto desaparecia por completo. O Volturi louro-acastanhado não detestava totalmente o recém-criado, mas não tolerava covardes amedrontados como ele. Para fazer parte de seu exército, para receber um lugar na guarda do castelo, tinha que estar á altura das exigências estabelecidas.

Diferente do que parecia, James tinha potencial. Precisava ser lapidado e moldado, mas também tinha muito medo. E em lugares como aquele em que estavam, ter medo poderia custar sua existência. Poderia custar a vitória de uma luta ou até mesmo de uma guerra. Medo significava hesitação e hesitação poderia levar á compaixão, seguida de segundas chances. Porém, o clã dos Volturi não oferecia segundas chances. Eles resolviam os problemas que colocassem sua identidade em risco e tomavam o que queriam, na hora que queriam. 

Na hierarquia do mundo sobrenatural, eles estavam no topo. Para se manter lá, eles tinham que ser nada menos do que perfeitos. Letais. Inteligentes. Leais. Na maioria das vezes e dependendo do ponto de vista, os vilões das histórias de outros clãs, embora Alec não se importasse de ser o vilão da história de alguém, desde que a vitória fosse sua no final. E sempre era.

Até aquele momento, antes do vampiro ir até a sala dos tronos para verificar o que os mestres queriam de tão urgente. Assim que passou pelas pesadas portas de mogno envelhecido do salão principal, um alarme disparou em sua cabeça logo de início com a visão que encontrou: o espaço estava vazio. Sem a presença dos outros membros da Guarda, sem Jane, sem turistas servindo como banquete principal. E, acima de tudo, sem a presença das três figuras translúcidas que há mais de um milênio ocupavam os três tronos mais adiante do salão. 

Atônito pela ausência de Aro, Caius e Marcus, Alec vasculhou em sua mente todos os motivos possíveis para aquilo, mas no fim não conseguiu nenhuma resposta. Ele repassou todos os momentos do dia anterior, tentando recordar se algum dos três havia dito algo relevante sobre afastamento ou saída do castelo, mas não havia nada do tipo. Confuso, o vampiro louro-acastanhado caminhou em direção aos tronos, procurando qualquer vestígio do que aquilo significava, atento aos pequenos detalhes. Não demorou muito até ele encontrar um envelope minuciosamente posicionado no assento de Aro, endereçado para Alec. 

Antes mesmo de abrir o envelope, o Volturi já sabia que não eram boas notícias. Ainda assim, ele não se interpolou e rompeu o selo, abrindo a carta e iniciando a leitura:

 

 

''Caro Alec,

 

Esperamos que seja você quem esteja lendo esta carta, caso contrário, é melhor parar por aqui agora mesmo  se não quiser ser mandado diretamente para o inferno em condições torturantes. Agora, supondo que você seja a pessoa que esperamos ser, podemos ir direto ao assunto. 

Enquanto você lê essa carta, nós já devemos estar longe. Após a derrota do Senhor das Sombras, pensamos que o regresso á normalidade não seria temporário, mas estávamos enganados. Com a nossa vitória e as regras do mundo sobrenatural reestabelecidas, veio a paz, mas ela é um doce desejo que para seres como nós, é impossível de ser mantido. Todos nós ficamos tão focados em reconquistar o controle do mundo que conhecemos que acabamos esquecendo que  para derrubar uma árvore não basta apenas cortá-la pela raiz; não se o solo for fértil. Após derrubar  a árvore, alguém pode voltar a plantar sementes que darão origem á novos frutos, talvez melhores. 

Infelizmente, o Senhor das Sombras era um mal menor. Quando alguém como ele cai, não demora muito até que outro apareça, talvez mais forte e mais sábio. Até o momento, não sabemos quem ele é ou a que ponto pretende chegar, mas sabemos que é  mais letal para seres sobrenaturais do que para humanos, o que nos coloca em risco duplo. Alguns o chamam de Alquimista de Almas e ele virá atrás de nós. 

Prepare o seu exército e a Guarda Volturi. Fiquem atentos e protejam o castelo. A partir de agora, você está no comando pleno do clã e toma as decisões. Continue mantendo o segredo de nossa existência guardado e defenda os nossos. Voltaremos no momento certo.'' 

 

Ass. Aro, Caius e Marcus Volturi.

 

 

Os dedos de Alec esmagaram a carta ao final da leitura. Seu maxilar estava tão trincado que ele conseguia escutar suas próprias presas rangendo e a centelha de fúria contida dentro de si, pedindo para escapar. No entanto, ele não teve tempo para libertá-la ou para tentar entender o significado da carta de seus mestres ou para sentir mais nada. Atrás de si, ele escutou com clareza as dezenas de passos se aproximando do salão principal, todos ritmados, uniformes, o avisando que os membros da Guarda por quem era responsável a partir daquele momento, estavam chegando.

Quando as portas abriram novamente, Alec relaxou a mandíbula e ajeitou a postura, se virando com a carta presa entre os dedos. As expressões nos diversos rostos que encaravam os tronos além dele se espelhavam pelo salão — puro choque com a ausência dos três mestres. Nunca antes havia visto os olhos de Jane tão arregalados ou então Chelsea tão afetada com tantas emoções que recebia através do laço que ela mantinha entrelaçado em alguns deles. Até mesmo Kian, seu melhor amigo feiticeiro, sabia que algo estava errado, mesmo sendo recém- chegado no castelo. O alarme havia disparado para todos, afinal de contas. 

 

— O que está acontecendo irmão? Onde estão os mestres? — Disparou Jane, mal disfarçando a urgência no tom de voz.

 

Em sua mente, Alec recitou cada linha da carta que tinha em mãos. E enquanto olhava para os rostos de seus companheiros de Guarda há séculos, percebeu que não poderia depositar todo o conteúdo da carta sobre eles, não se quisesse evitar o pânico e o caos que se instalaria. Porque, se os próprios Volturi não conseguissem lidar com aquilo, ninguém mais no mundo das sombras o faria e tudo iria desmoronar.

Então, ele se obrigou a se manter no controle. 

 

— Os mestres se foram. Temos um novo inimigo e ao que parece, ele é o pior de todo. — disse Alec, simplesmente. Seus braços se cruzaram atrás das costas e ele assumiu a postura do general que era enquanto encarava cada rosto ali: — Tenho instruções de Aro, Caius e Marcus de como proceder, mas preciso que confiem em mim. 

 

As expressões chocadas deram lugar às espantadas, depois às confusas e então às mescladas entre pânico e raiva. Alec ignorou as diversas perguntas e dúvidas indagadas, mas aceitou a do Archetti encostado no ombro de uma estátua renascentista, parecendo um pouco entediado com a situação:

 

— Estamos fodidos, não estamos? 

 

— Não se eu tiver um plano. Dê-me uma hora. Até lá, reúnam os outros no pátio do castelo e mantenham a calma.

 

Mantendo-se impassível, Alec abriu caminho entre os outros vampiros e caminhou para fora do Salão Principal, levando junto consigo a maldita carta de seus mestres, se preparando para entrar de cabeça em outra missão infernal. 

Alec rumou diretamente para seu quarto, evitando cruzar com qualquer vampiro desavisado de seu estado de espírito, sentindo a centelha de cólera dentro de si começar a se alastrar, ameaçando engolir todo seu autocontrole. Dúvidas e mais dúvidas começaram a rodar em sua mente, o gosto da decepção e da raiva se misturando com o veneno em sua língua.

O fato de Aro, Caius e Marcus terem fugido sem aviso prévio do castelo só poderia significar que a situação era pior do que parecia. E agora teria que lidar com ela, mesmo que não soubesse como. Ele apenas teria que... Encontrar um jeito.

Em sessenta minutos.

Em menos de um, ele adentrou o quarto. O toque estridente do seu celular na cabeceira ecoava pelo cômodo mergulhado na escuridão, quebrando o silêncio sepulcral instalado. Alec caminhou até lá, olhando para a tela cujo brilhava com um número desconhecido. Ele ponderou se deveria perder tempo atendendo, e no final já tinha aceitado a chamada e levado o celular ao ouvido.

 

 — Seja lá quem for, tem um minuto para falar.

 

Houve um suspiro do outro lado da linha e, por um momento, Alec ficou intrigado.

 

  — Você leu a carta, não leu? — Uma voz feminina perguntou, tão melódica que parecia ser de um anjo. Um anjo familiar. — Tia Alice disse que você leu.

 

 — Híbrida?  — O Volturi piscou.  — É você, Renesmee Cullen?

 

 — É, sou eu. Mas isso não importa. Agora me diga se leu ou não a carta.

 

 — Como conseguiu meu número?  — Alec ignorou a pergunta dela.

 

 — Não faço ideia, simplesmente estava na minha agenda de contatos, embora eu também não saiba o motivo. Agora, responda a pergunta, Alec Volturi.

 

O vampiro passou a mão que estava livre no cabelo, tentando recordar desde quando mantinha contato com a híbrida dos Cullen. Nunca foi a resposta certa. Porém, ainda assim ele se esforçou para não encerrar a ligação.

 

 — Como você sabe sobre a carta? E o que mais a sua tia viu?

 

A linha ficou muda por alguns segundos que pareceram eternos. Alec sabia que a Cullen mais nova ainda estava lá, ponderando uma resposta e por isso manteve-se calmo. Ele não entendia como aquela sequência de coisas incomuns poderia estar acontecendo, mas sabia que não era por coincidência. De alguma forma, aquilo levaria a algum lugar.

 

 — Ouvi algumas conversas da minha família a respeito do Alquimista de Almas e minha tia teve algumas visões sobre o futuro devastador que ele causará, mas não é só isso. Há algo que está faltando, e algo me diz que você tem a mesma impressão, Alec. Algo, não. Alguém. Uma pessoa que não lembramos o nome ou a aparência, mas que deixou saudades.  Você sente o mesmo, não é?

 

Foi a vez de Alec manter a linha muda por breves segundos. Repentinamente, o rumo da conversa havia tomado caminhos muito diferentes e mais difíceis de discutir. Faziam três meses que não tinha contato nenhum com a híbrida e, de uma hora para outra, ela surgia no momento menos oportuno  falando sobre algo que ele havia mantido em sigilo durante todo aquele tempo, embora ela também tivesse conhecimento sobre ele.

E sentisse o mesmo, aliás.

Contudo, o Volturi não confiava em Renesmee Cullen para admitir aquilo. Ele não confiava em ninguém o suficiente, na verdade — quem ele seria se o fizesse? Até cinco minutos atrás, achava que aquela lacuna em sua mente era apenas um delírio. Agora, no entanto, ele sabia que era real. Que havia alguém preenchendo aquele vazio em suas memórias e em seu peito. Alguém importante, ao que parecia.

Certamente, a garota da foto que guardava entre as páginas da Bíblia antiga na primeira gaveta da cômoda ao lado da cama.

Mais um suspiro ecoou em seu ouvido, o trazendo ao presente momento.

 

— Tudo bem se não quiser falar, mas eu já sei a resposta. Eu sei que alguém existiu em nossas vidas até três meses atrás e que desapareceu sem deixar rastros ou lembranças e sei ainda mais que amávamos esse alguém... — A voz da híbrida falhou e ela precisou limpar a garganta. Mesmo sem poder vê-la, o Volturi apostava que haviam lágrimas em seus olhos brilhantes: — ... e esse alguém criou um vínculo entre nós, ao ponto de você ser a primeira pessoa que eu senti que poderia avisar sobre o que ouvi; não a minha família, mas você, Alec Volturi.

 

— Você ligou para a pessoa errada, Cullen. Não sei do que você está falando. — Cuspiu Alec, se recusando a aceitar as palavras da híbrida. Com o maxilar trincado, ele concluiu: — Faça um favor a si mesma e a sua família de tolos e não me ligue mais, muito menos se envolva em algo que não é da sua conta. Caso contrário, nosso acordo de paz estará desfeito.



E então o Volturi finalizou a ligação, recusando qualquer reposta que Renesmee Cullen poderia lhe oferecer e dando início a mais uma espiral de pensamentos e questionamentos em sua mente sobrecarregada que tinha, exatamente naquele momento, apenas quarenta e oito minutos para elaborar um plano que impedisse a queda do império de seu clã.









 

 

 

 
















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