Toda vez que chegava com as crianças em casa após as aulas extras, as meninas faziam exatamente a mesma coisa: jogar a mochila no quarto, lutar para ver quem era a primeira no banho, comer e passarem o resto da tarde na sala de jogos. Seus dias ao lado das crianças eram, em sua maioria, simples, porém, cansativos.

Elas já estavam na última parte, jogando UNO enquanto alguns clipes de Frozen passavam na TV quando os pais chegaram. Era quarta-feira, o que automaticamente significava noite da pizza! Bella sorria ao seguir as crianças que já estavam sentadas à mesa, cantando incessantemente o nome do alimento.

Ao avançar da refeição, a família conversava animada sobre o dia das crianças. O jantar era sempre um momento muito feliz. Jasper era sargento da Polícia e era difícil estar em casa para esses momentos; Alice era gerente de uma marca de grife, igualmente ocupada.

— E sobre seu dia, Bella? Como foi a semana para você?

— Foi tranquila, Alice - engoliu o primeiro pedaço de sua segunda fatia - Passei hoje a tarde com uma amiga e... Ah, nossa, vocês não vão acreditar! Eu estava em um café, esperando o horário de buscar as meninas e conheci Edward Cullen!

A menina riu da reação dos maiores. Alice ainda tinha uma sobrancelha arqueada, como se buscasse um rosto para o nome em sua mente. Jasper, por outro lado, continuou com a mesma expressão de nada.

— Edward Cullen, um cantor que está super em alta esses dias! Eu não o reconheci também de primeira, mas aí minha amiga me lembrou do nome...

— SIM, EDWARD CULLEN! - Alice largou os talheres, batendo as mãos no alto - Claro, sei quem é.... Hm, ele é bonitinho!

— Por Deus, ele é lindo, Alice! E tão simpático, cavalheiro, super prestativo, parece ter um-

— Você conheceu ele ou teve um encontro romântico? - a mulher interrompeu Bella com uma expressão muito bem calculada.

— Não, não, é que ele acabou tomando um café com a gente. Na verdade, nem foi um café. Ele sentou com a gente. E foram só alguns minutos. Enfim, Alice! 

Todos em volta da mesa começaram a rir de uma Bella se atrapalhando em suas próprias palavras.

— Sei, sei... É legal ter você toda empolgada com L.A., com a cidade e encontrando gente nova. Bom saber que você está se divertindo - Jasper colocou mais suco para Bella e para suas filhas.

— Foi a primeira vez que realmente encontrei alguém famoso, tipo, de perto, sabe? Acho que me empolguei.

— E por sorte foi um cara lindo...

— E por sorte foi um cara absurdamente lindo, Alice!

Quinta-feira à tarde estava chuvosa. Agradeceu a Deus pela aula de natação das meninas que seria em local coberto ou então seria mais uma tarde elétrica dentro de casa.

Bella desceu apressada, tentando equilibrar bolsa e chaves do carro e guarda-chuva que tentava fechar e, mais uma vez, o celular entre a orelha e o ombro. Não escorregando por muito pouco, ela chacoalhou um pouco os braços tentando se livrar das derradeiras gotas que conseguiram alcançá-la até sua entrada no café rotineiro, as notícias recebidas do outro lado da linha não eram promissoras.

— Rosalie, você poderia ter me falado isso antes, você sabe que não gosto de ficar assim sozinha! - Bella  ocupou a mesa de sempre, próxima à porta, de costas para o balcão. - Tá, ok. Não, agora já cheguei, vou gastar tempo até buscar Bree e Jane. É, conversamos mais tarde.

Bella logo soltou o celular na mesa, estava visivelmente frustrada, uma vez que sua amiga cancelou o café do dia de última hora. Kate estava começando a adoecer e ela achou melhor ficar em casa. Jamais reclamaria disso, mas não custava ter avisado antes. Bella sempre fora muito tímida, enfrentar locais públicos sozinha não estava em sua lista de passatempos favoritos. Victoria logo chegou, cumprimentando a menina.

— Boa tarde! Hoje vou querer um chocolate quente, eu acho.

— Ou seja, o mesmo de sempre - A simpática atendente nem se deu ao trabalho de colocar o cardápio para Bella - Volto rapidinho com seu chocolate e com seu sanduíche.

A jovem sorriu, observando a grande janela a sua frente. As pessoas estavam começando a usar casacos mais pesados e acessórios de frio, as chances de neve eram inexistentes, mas esse podia ser seu inverno da sorte, certo? Estava na lista de coisas a se fazer: ver a neve de fim de ano.

Ela sempre soube, desde que escolheu uma família na maior cidade da Califórnia, que o inverno não seria tão intenso. Na verdade, esse foi um fator muito positivo a ser considerado em sua vinda, não sofreria com as dores do inverno. Mas, uma neve de vez em quando não faria mal a ninguém, certo?

Seu fluxo de pensamento foi interrompido por uma presença que bateu levemente os dedos na mesa e um coçar de garganta.

— Hey, você de novo!

— Eu estava fazendo meu pedido no balcão quando você chegou. Sem mais acidentes hoje? - lá estava o sorriso ladrão de suspiros de novo.

— Hoje estamos inteiras, por enquanto - Bella fez questão de retirar seus pertences da cadeira a sua frente e oferecê-la.

Sentando-se, ele logo agradeceu a gentileza e passou as mãos pelos cabelos dourados, sem querer encará-la diretamente. E essa era uma sensação recíproca.

— Então... Edward Cullen, hum?

O loiro a sua frente saltou levemente na cadeira.

— Fica tranquilo, seu segredo está salvo comigo.

A piscada da menina fez com que Edward ficasse quase relaxado de novo. Ele estava contente em conversar com pessoas que não estivessem ligadas em toda sua bagagem, há dois segundos.

— Achei que você não soubesse quem eu era.

— E saber é algo ruim?

— Não exatamente, só que você não pareceu me reconhecer ontem. - Os braços cruzados na mesa e o corpo levemente lançado para frente exigiram de Bella um pouco mais de concentração para responder à conversa.

— E não reconheci mesmo! Mas, não por ser você, é que eu sou desligada mesmo, distraída, sabe? E péssima com rosto, tipo, muito péssima mesmo! É difícil eu reconhecer até as pessoas que fazem aula comigo, não é pessoal de verdade, tá?!

Edward riu da menina, aproveitando para pegar os donuts que Victoria trazia com um belo sorriso em seu rosto. A jovem com quem dividia a mesa era, no mínimo, divertida.

— Nesse caso, vou acreditar em você por enquanto - Edward praticamente gemeu ao pegar uma primeira mordida de seu donut - Nossa, muito bom! Você quer?

Bella apenas negou... como queria que seu sanduíche chegasse logo para se concentrar em outra coisa!

— Como você descobriu?

— O que? - as preces da garota foram atendidas e seu pedido chegou. Parecia que seu estômago estava prestes a gritar com ela se não recebesse comida logo.

— Minha identidade não secreta.

— AH, tá. Rose. - vendo a expressão confusa do garoto a sua frente, continuou - a amiga que estava comigo ontem. Ela te reconheceu na hora em que te viu. Mas, por Deus, ela conseguiu manter o mínimo de civilidade e não surtou. Ela queria, acredite em mim. Não sei o que aconteceu para ela não ter surtado , mas vamos agradecer, não é mesmo?

Como ela conseguia? A cada palavra atropelada que ela pronunciava, ele a achava um pouco mais adorável. Era confortável a maneira como as letras simplesmente saíam de sua boca, sem o menor controle.

— Ok, Cullen, sinto muito, eu tendo a falar demais quando estou desconfortável. Desculpe. E você pode me falar. Eu paro. Mesmo.

A palavra desconfortável saltou ao ouvido de Edward. Era completamente o oposto e sentia muito pelo fato de ela estar se sentindo dessa maneira. Resolveu, então, voltar para o básico e tentar levá-la a um local bom.

— Agora que você já sabe quem eu sou, minha vez de adquirir informações.

— Ah. Bella. Isabella Swan, mas todo mundo me chama de Bella.

Teatralmente, ela lhe estendeu a mão, esperando um cumprimento: um aperto de mãos clássicos. O que recebeu, entretanto, foi um beijo em sua mão. E um fofo avermelhado de constrangimento no rosto.

— Isabella. É um ótimo nome.

Ela revirou os olhos:

— Não precisa dizer isso só por educação. E ninguém me chama assim, e só Bella mesmo.

— Mas, é sério. Minha mãe ama esse nome. Ela sempre nos disse que se tivesse uma filha, com certeza seria Isabella. Desde então, aprendi a ver quão forte, bonito e elegante esse nome soa.

Bella apenas ficou surpresa, não esperava por essa resposta. Apenas arrumou os cabelos atrás da orelha antes de dizer:

— Nesse caso, vou acreditar em você por enquanto.

A conversa continuou amena. Entre mordidas e risadas, o assunto voltou a ser o clima quando Edward retirou o casaco, discursando sobre o quão quente estava o café.

— Você é desregulado. Está fazendo, tipo, 10⁰C lá fora. Bota esse casaco, menino.

— Eu sou de Chicago, nenhum lugar é tão frio quanto Chicago no inverno - eles tiram, acompanhado de um balançar de cabeça dela.

— Ok, essa passa porque aqui sempre está bem quente, não porque o frio de Chicago blá blá blá.

— Falando nisso, você realmente vem pra cá todos os dias na mesma hora? É meio clichê, não é?

— Clichê sim e confortável também, senhor Cullen - ambos riram. Eles já estavam completamente confortáveis conversando agora e Edward começava a se sentir melhor com isso - Mas, sim. Venho aqui sempre para esperar minhas meninas saírem das aulas, como disse. É perto, não muito movimentado, bem aconchegante e tem comidas maravilhosas. Por quê não viria?

— Eu te entendo. Gosto daqui exatamente por isso, pouco movimento e essa sensação de caseiro. Cafeterias locais são os melhores lugares dessa cidade.

O silêncio permaneceu na mesa por poucos segundos. Na pouca intimidade que os jovens compartilhavam, pareceram horas até Victoria se aproximar com um pacote nas mãos, para a felicidade de ambos.

— Anthony, Emmett já está lá fora esperando. Pediu para que te chamasse depressa.

— Obrigada, Vic! - o menino se levantou, depositando um beijo no rosto da senhora - Bom, minha deixa novamente.

— Tudo bem, tenho que ir em poucos minutos também. Até outro dia por aí, então. - Bella se levantou na intenção de se despedir.

— Hm... Foi divertido hoje e, se você vem sempre aqui, a gente podia combinar de tomarmos outro café juntos amanhã. O que acha? - Edward terminou de dizer segurando firme em sua encomenda para não dar um beijo de despedida no rosto da menina a sua frente.

— Claro! Claro. Estarei aqui no mesmo horário, de qualquer maneira.

Em um abraço desajeitado, trazendo ambos de volta ao desconforto inicial, eles se despediram. Enquanto Edward entrava no carro, Bella sentava-se à mesa. Terminava seu chocolate e acertava as contas, com um sorriso confuso, não certa de que entendera muito bem tudo o que havia acontecido. O carro que virava a esquina abrigava um diálogo sem resposta, igualmente confuso com o decorrer dos acontecimentos, segurando o mesmo sorriso.

A atendente parecia ser a única consciente da narrativa que assistia. Já vira aquela história antes. Eram sorrisos muito promissores, disso ela tinha certeza.