The Hurting. The Healing. The Loving. escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 8
Capítulo 7




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Quando retornou a cabana, não sabia por quanto tempo ou por quantos quilômetros andara, mas o sol já estava alto e Sam e Wanda estavam do lado de fora, conversando pacificamente sob a sombra de uma árvore frondosa próxima ao lago calmo. A jovem se encolhia em si mesma, tentando com todas as forças não rir e se entregar enquanto o outro se expandia na sua própria história. 

Soube que eles já haviam almoçado quando sentiu o aroma da comida preparada por Sam e as panelas no fogão, mas foi direto para o banho. Em sua mente, conjecturava sobre como simplesmente deixara Wanda fazer o que quisesse com sua mente naquela madrugada, sem questionamentos. 

Quando Ayo, finalmente, declarou que estava livre das intervenções da Hydra e do Soldado Invernal, jurou a si mesmo que nunca mais deixaria ninguém se aproximar o suficiente para mexer com sua cabeça denovo – não sem lutar. Por mais que não tivesse controle sobre o que fizera, era capaz de conservar as lembranças e sabia que estas nunca o deixariam. 

Portanto, aceitara o toque de Wanda tão pacificamente que fora quase vergonhoso. Imaginou que ela houvesse usado seus poderes para impedir que resistisse, mas duvidava que o fizesse. De qualquer forma, quando a olhou e viu somente a mulher à sua frente, instintivamente anuiu ao que ela fazia, deixando de lado a habitual desconfiança em nome de algo totalmente desconhecido – tanto para ele quanto para ela, afinal Wanda não conhecia os limites de seus próprios poderes. 

Este algo, todavia, apesar de desconhecido, parecia irresistível, concluiu após um tempo de caminhada sem rumo. Talvez, agora, pudesse entender parte do apelo que aquele poder, aquela magia, tinham para Wanda. Sem questionamentos. Sentira a magia se dobrando sob os dedos dela, o invadindo tão suavemente quanto o toque, embora sem pedir permissão, enredando-o. Então, sabia que, ainda que houvesse gozado apenas de uma mísera parcela da sensação quando ela o acomodou, tinha a impressão de que se submeteria muito facilmente denovo se fosse algo parecido com aquilo.

Ao sair do banho e se sentar à mesa, depois de esquentar em uma panela tudo o que havia sobrado do almoço deles, Sam abriu a porta sem qualquer cuidado e o olhou de forma examinadora antes de se dirigir à própria mochila.

— Ei cara, você está bem? – O viu se abaixar procurando algo entre seus pertences. 

— Eu só... Estava colocando as ideias no lugar. 

— Wanda não fez aquilo por mal. Sabe disso, não é? – Avisou Sam, se levantando após guardar alguns objetos de comunicação numa mochila menor.

— Não, é claro, eu... – Concordou sem pestanejar, enfiando os dedos nos fios molhados dos cabelos curtos apenas para ter o que fazer com a mão. – Isso não é sobre ela. É o sonho. É sempre recorrente, o mesmo sonho, como que numa eterna penitência. 

Sam pareceu arrependido por trazer o assunto à tona novamente, mas, ainda assim, se aproximou, apoiando-se na cadeira. 

— Contou isso a Raynor? 

— No começo, sim. – Deu de ombros, consciente de que sua terapeuta cruel sabia que mentia. – Mas, depois de um tempo, não fazia mais sentido continuar. É a HYDRA, Sam, sempre será. Isso é o que... A instituição faz com todos. 

Sam pareceu desconcertado por um momento, como que procurando palavras, embora soubesse que não havia exatamente o que dizer. Bucky lidava com isso – agora lidava. E não havia o que fazer, porquê a HYDRA fazia um bom trabalho em penetrar cada poro daqueles a quem queria atingir ou simplesmente usar. Entretanto, antes que elaborasse qualquer coisa, Wanda chegou e olhou de um a outro percebendo o clima.

— Sinto muito, eu estou...? 

— Não, terminamos aqui.

Bucky se levantou com o prato e seguiu para a varanda, passando por onde ela havia entrado. 

— Então, é a minha vez de caminhar. Pretendo encontrar algum sinal de internet no caminho, então... Vou demorar, crianças. 

Sam anunciou displicentemente quando passou por ele, já que havia decretado que a conversa entre eles terminara. Ainda ficara ali por um tempo após terminar o próprio almoço, apenas pensando e encarando sistematicamente a montanha mencionada pela estranha. Parecia apenas comum em comparação à paisagem local, mas se houvesse algo místico, suspeitava que não fosse conseguir identificar isso, já que a mulher que o abordara parecia apenas normal e não uma bruxa, como Wanda havia nomeado.

— Não vai se mover só com a força do pensamento.

Se voltou à ruiva, apoiada sobre o vão da porta de braços cruzados, também encarando a montanha. 

— Você também já tentou? 

Ela meneou a cabeça em meio a um riso contido e se sentou no último degrau da varanda, voltada para onde Bucky se acomodara. Pareceu hesitante por um momento, enquanto apertava as mãos contra si mesmas a ponto de os nós dos dedos se tornarem transparentes.

— Sobre o que aconteceu de madrugada... Não queria que se sentisse invadido ou algo do tipo, eu apenas tentei... – Ela franziu o cenho, como que para si mesma, até que abaixou os ombros. – Bem, não importa, eu não devia ter feito sem sua permissão. 

Entendia porque Wanda se preocupava tanto com sua mente e, por conseguinte, Sam. Não era apenas o histórico dele, mas dela, principalmente. O dano que causara àquela pequena cidade de uma só vez era notável, segundo a S.W.O.R.D. Se quisesse, deixaria a mente de Bucky ou de qualquer um em frangalhos. 

No entanto, de certa forma, ainda que inicialmente se receasse com a ideia de alguém explorando aquele lugar, que já passara por tanto antes de ser minimamente restabelecido para que, ao menos, confiasse em si novamente, não conseguia se ver ameaçado pela magia de Wanda. Tudo o que sentira dela, até então, não parecia abominável, ainda que perigoso nunca deixasse de ser um adjetivo cabível. 

— O que viu do pesadelo? 

Decidiu ir por um caminho aparentemente inesperado para ela, que apenas encolheu os ombros e o fitou melhor, de maneira pensativa, provavelmente imaginando onde queria chegar com tudo aquilo. 

— Não funciona assim. Bem, ao menos não para mim. – A observou molhar os lábios e ajeitar os cabelos compridos, procurando a melhor maneira de se fazer compreensível. – Eu sinto como você, mas... Não necessariamente vejo o que você vê, se isso faz algum sentido. 

— Acho que sim, considerando tudo... 

— De madrugada, quando notei aquela camada de sentimento que não estava em você antes, também percebi que... – Ela mordeu os lábios, repentinamente soando desconcertada. – A mesma sensação o rodeava quando o assunto era Stark. 

— Espera, você pode...  – Elaborou lentamente. – Ler a todos nós desde sempre? 

Apoiou os cotovelos contra os joelhos, franzindo o cenho em certa confusão enquanto traçava uma linha do tempo invisível em sua própria mente, afinal Stark estava morto há mais de um ano e aquela, para Bucky, era uma informação totalmente nova. Se perguntou se era o único que nunca havia se perguntado como os poderes da garota realmente funcionavam. 

— No começo era mais como uma... Sensibilidade. – Ela se colocou de pé, apoiando-se contra o pilar de madeira enquanto cruzava os braços. Não gostava de falar sobre si mesma, percebeu, se perguntando se o motivo era o fato de não conhecer tanto a si e a extensão de seus poderes. – Na época em que lutamos com Stark, eu ainda não interpretava muito bem o que conseguia fazer... Tangível com meus poderes. O sobrenome dele era uma dessas coisas... Então, eu sempre conseguia identificar as emoções que estavam ligadas a ele, fossem boas ou ruins.

— Entendo. - Bucky assentiu em compreensão. 

— Mesmo naquela época... – Wanda comentou em tom mais baixo, quase com suavidade. – O que sentia envolvendo Stark era... Confuso. Como o que sente agora e como... O que eu também sentia em relação ao que ele representava. 

Imaginou o que o sobrenome Stark realmente significava para a jovem. Steve o contou, há muito tempo, como ela e o irmão ficaram soterrados junto a um míssil não detonado das Indústrias Stark e isso a motivara a se juntar a HYDRA como uma organização terrorista que prometia a retaliação que achavam que Tony Stark, o símbolo daquela empresa, merecia. Tê-lo como uma figura próxima na época em que treinava como Vingadora provavelmente havia sido... Dúbio, no mínimo. Também imaginou como Steve lidou com a situação, balanceando os conflitos até... Os Acordos de Sokovia. Até ela ter motivos para se insurgir abertamente contra Stark.

Nesse ponto, a situação era inteiramente diferente. O que fizera aos pais dele justificava qualquer atitude que pudesse tomar contra Bucky, como o ódio cego e a vingança envolvendo Steve e todo o resto. Não era exatamente ideal e jamais seria, embora silenciosamente o respeitasse pelo sacrifício que fizera em nome de todos na batalha contra Thanos. Por Tony, esse era o único sentimento que havia restado. Porém, quanto a Maria e Howard...

— Não sei se há algo de confuso em mim sobre a morte dos pais dele. – Disse, mais para si mesmo do que para ela, ajeitando-se melhor na cadeira de madeira sob o olhar dela, esverdeado e atento. – Quando penso em Howard e Maria Stark ou quando sonho com a noite que os matei... É quando chego mais próximo do remorso que realmente deveria sentir pelo que fiz. 

— Acha que não se culpa o suficiente?

Wanda perguntou brandamente no que Bucky deu de ombros, agora também incomodado por colocar a si mesmo em voga ali. Com um suspiro pesado, deu de ombros e estreitou os olhos para a claridade da tarde, na direção da montanha. 

— Depois do que fizeram com a minha mente, não sei se meu parâmetro de culpabilidade é confiável. 

A realidade do trauma era a única que conhecia. Ainda que a ciência de Wakanda o houvesse libertado da HYDRA e tivesse conseguido retomar parte do próprio discernimento, jamais saberia com certeza quanto de si mesmo era Bucky e quanto era o Soldado Invernal e essas duas partes entravam em conflito em momentos como aquele. 

— Bem... A consciência disso talvez seja o melhor parâmetro. – Ela se afastou em direção a porta em silêncio, mas hesitou assim que chegou ao portal, se virando. – Mas vejo culpa em você inteiro, caso queira saber. 

Wanda o fitou com firmeza, demonstrando a propriedade do que falava e a certeza de seu próprio ‘diagnóstico’. Antes que respondesse, no entanto, ela realmente sumiu sob o portal e entrou na cabana, deixando-o sozinho com sua culpa e hesitações culposas voltando a encarar a grande e silenciosa montanha à frente.


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Notas finais do capítulo

Olá, como eu havia dito antes, a coisa sobre os Stark iria voltar!

E eu sinceramente amei escrever sobre esse lado em comum dos dois, porque eu acho que é uma coisa que realmente é uma questão pra eles!

Enfim, espero que tenham gostado de como tudo tá se desenvolvendo entre eles e, especialmente, essa trama que veio desde o capítulo anterior!

Como bem sabem, comentários são importantes pra eu saber suas opiniões sobre o desenvolvimento da fic!

Até breve!



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