The Hurting. The Healing. The Loving. escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 29
Capítulo 28




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Dessa vez, eles foram de carro. Seguiram lentamente pelo caminho que levava para fora da cidade de Tanier e, invés de pegarem a estrada para a cabana, seguiram à esquerda, por uma também de cascalhos, adentrando a mata sem demora até chegar na clareira próxima ao lago, onde ficava a casa da outra bruxa. 

O silêncio imperou na escuridão do carro, assim que o estacionou próximo a uma árvore e desligou, notando como Wanda não se moveu para descer. Com o rosto iluminado apenas pelas luzes do painel, pôde perceber que parecia indecisa sobre aquele passo, o que queria da bruxa ou até sobre a bruxa. 

Viu como os dedos juntos no colo da mulher se mexiam ansiosos em si mesmos, um gesto certamente inconsciente, que refletia, sem dúvida alguma, certo temor em relação à sua decisão. Naquele momento, Wanda pareceu tão jovem que o assustou. Sim, ela era jovem, mas tudo o que havia passado fazia com que parecesse madura de forma que não condizia com sua idade real.

— Wanda. - Antes que pudesse se conter, levou a mão até as dela, impedindo que os dedos continuassem a se torcerem ansiosos. A ruiva o encarou, saindo de sua divagação distraída, enquanto a examinava com firmeza. - Está tudo bem? 

— Sim, eu… - Ela abaixou os olhos para suas mãos juntas e meneou a cabeça, até deixar os ombros caírem em um suspiro, parecendo desistir de encontrar as palavras mais adequadas. - Eu não a conheço… E estou apostando todas as minhas fichas nela. 

— Você pode tomar o tempo que precisar. Sabe disso, não é? 

Foi tudo o que pensou para consolá-la, embora este fato também passasse por sua mente sempre que pensava na tal Bruxa Branca. Eles não a conheciam e, desde o início, ela estabelecera que sabia de sua presença ali e, especialmente, da presença de Wanda. 

— Acho que não tenho mais todo esse tempo, Bucky. - Ela apenas sorriu de maneira agridoce e levantou os olhos para ele, parecendo cansada. - Fique atento para qualquer coisa que soe estranha demais. 

Bucky apenas meneou a cabeça, deixando para si a conclusão de que tudo sobre aquela casa e aquela bruxa era totalmente fora de sua realidade, mas imaginou que estaria preparado para algo ainda mais estranho do que isso. Wanda quebrou o contato quente entre suas mãos para tirar o cinto e, finalmente, abriu a porta para sair do carro, deixando o tradicional boné cinza escuro sobre o banco. 

Como da primeira vez, a senhora abriu a porta sem que precisassem bater. Sprite, a garota que soava estranhamente mais madura do que aparentava, já estava lá dentro sustentando uma expressão despreocupada enquanto brincava com um gato estranhamente familiar de pelos muito claros. 

Estreitou os olhos para o animal, de forma suspeita, se lembrando que Wanda comentara que aquele gato era estranho, de fato. Bem, ele frequentava a cabana, mas bem que deveria ter imaginado que andava por toda a região. A garota sorriu discretamente e a bruxa fechou a porta, se virando para Wanda. 

— Acredito que tenha pedido para vir sozinha, Wanda. - Seu tom era cuidadoso e ele viu Wanda apenas levantar uma sobrancelha. - Não é bom presságio humanos comuns acompanharem a execução de magias importantes. 

— Bucky não é um humano comum. 

A bruxa sustentou o olhar de Wanda por um instante, como se ambas conversassem silenciosamente por ali. Não achava que fosse isso, literalmente, mas ainda assim era como se medissem forças através de suas convicções, mágicas ou não. 

— Ele não está aqui para atrapalhar. - Sprite se pronunciou, ganhando um olhar avaliativo da Bruxa Branca, que fez um gesto de dispensa desdenhoso com as mãos antes de seguir para a sala, que parecia ter sido previamente preparada. 

— Que seja. - A ruiva a seguiu de maneira aparentemente destemida. - Acredito que esteja aqui para que a ensine a guardar um certo… Livro, não?

— Bem, você fez o dever de casa. - Apesar de tudo, dessa vez, não havia velas nem cartas ou objetos diferentes espalhados pela casa, somente o livro grosso de capa branca surrada, duas cadeiras e a iluminação mais baixa, de um candelabro de ferro sobre a mesa redonda. - Como sabe tanto sobre mim? 

— Ora… Você é um acontecimento, Wanda Maximoff. 

Bucky deixou de examinar os diversos livros que abarrotavam uma das estantes para se voltar à senhora enrugada de cabelos extremamente brancos. Notou a hesitação de Wanda, quando se tratava da extensão de seus poderes ou de como as pessoas ao seu redor pareciam ter mais noção sobre seu potencial mágico do que ela. Isso a incomodava, percebera há tempos, pois deixava a todos em maior vantagem sobre ela - amigos e, principalmente, inimigos. 

— Ninguém esperava que uma Feiticeira Escarlate fosse emergir em nossa era. Ainda assim… Aqui está você. - A senhora se aproximou da ruiva, colocando uma das mãos em seu ombro. - E nós sentimos o seu chamado, mesmo que não tenha noção disso. Estou feliz que esteja aqui, em meu santuário. Estou mais próxima da morte do que de viver grandes acontecimentos, então… É bom saber que fui útil quando precisou de mim. 

Sabia que ela tinha percebido o mesmo que ele, que havia mais pessoas como aquela senhora dispostas a ajudar, que sentiam seus poderes da mesma forma que ela, afinal como Agatha sabia quem era a Maximoff quando conseguira se infiltrar em sua realidade tão orquestrada? De qualquer forma, eram bruxas mais experientes, que detinham conhecimentos que ela não detinha, ao menos por enquanto. Por isso, observando a expressão cuidadosa no rosto dela, imaginou se gostaria de saber mais sobre si mesma para além do Livro. 

— Eu consegui navegar por outras realidades. Algumas vezes. - Wanda declarou, colocando as mãos dentro dos bolsos do casaco, como se o que acabasse de dizer não fosse muita coisa. - Chamam esse conceito de multiverso. Na verdade, acho que estava ficando boa demais nisso.

— O que a fez parar? - A Bruxa Branca se sentou à mesa redonda e a ruiva abaixou os olhos, por um instante, parecendo sem jeito. Bucky se lembrou daquela outra versão dela, a Feiticeira, dentro do quarto de hóspedes. 

— Estava… Me tomando energia demais. 

— Entendo. - Concordou a outra, de maneira lenta, tentando enxergar para além das palavras dela, assim como Bucky, que se perguntava se essa seria toda a verdade. - Isso, provavelmente, é apenas por conta da falta de experiência. 

— Posso esconder o livro em uma realidade diferente da nossa, mas… O problema é que não consigo manter essa informação completamente privada, nem o local onde o guardaria, caso algum feiticeiro tente tomá-la de mim por algum meio… Escuso. 

Racionalizou Wanda, o surpreendendo. Não imaginava nem em todos os seus delírios que seu plano fosse algo desse tipo, afinal Wanda não exatamente falava com ele sobre o assunto. 

Sabia que os servos de Chthon queriam o Livro, mas não sabia como poderia funcionar qualquer plano, pois sua mente era treinada para prever embates físicos e lógicos. Não imaginava nem mesmo a questão das realidades diferentes, afinal como poderia ser isso? Nos anos 40, qualquer coisa ligeiramente moderna se parecia com um avanço muito engenhoso para o futuro, mas aquilo era além de qualquer tecnologia, eram mundos completamente diferentes daquele em que viviam e era, ao mesmo tempo… Mais natural do que poderia pensar. 

— O feitiço que precisa aprender é, relativamente, simples, mas… Doloroso. - Com um aceno de mão, a mesa entre elas sumiu e a Bruxa se levantou em suas vestes largas. - É como se precisasse dobrar sua mente em si mesma para manter o que deseja sobre essa “dobra”. Sente-se no meu lugar.

Bucky se encostou contra a prateleira de madeira, juntando os braços às costas enquanto Sprite entrava na sala e fechava a porta, também apenas para observar. Lentamente, Wanda retirou o casaco e se sentou, mantendo as costas eretas apoiando as mãos sobre os joelhos enquanto apenas encarava a bruxa, que lhe explicou o nome do Feitiço e o que precisava fazer, enquanto se posicionava a alguns passos da ruiva. 

— O nome do feitiço não é exatamente importante, precisa se concentrar mais em seus… Movimentos mentais, se é que me entende.

— Sim. - Wanda foi monossilábica. 

— Vamos fazer um exercício. - A Bruxa Branca o encarou por um momento, como que em tom de aviso. - Você precisa treinar a lógica por trás do feitiço até que a dependência dele para manter sua mente fechada se torne… Quase natural. Por isso, vamos começar como se já tivesse a informação de onde o livro se encontra e eu irei forçar sua mente para descobrir. 

Wanda concordou com um aceno. Respirando fundo, viu a ruiva fixar os olhos nos da mulher mais velha, claramente concentrada no que precisava fazer. No entanto, três segundos depois, ela fechou os olhos de forma abrupta e levou a mão à têmpora, como se a ação da Bruxa Branca fizesse com que a cabeça doesse fisicamente. 

— O que é isso?! - Ela perguntou um pouco indignada. - É como se tivesse acabado de… Me dar uma rasteira. 

— Algo do tipo. - A outra comentou. - Sua mente está inteiramente desprotegida, Wanda. Como eu disse, será doloroso até que aprenda a preservá-la da forma correta.

Wanda ainda massageou um pouco a cabeça e voltou a encarar a outra, agora mais determinada e preparada para o que ela faria. Era um tipo de decisão que preocupava Bucky, remexeu-se incomodado ao vê-la se curvar contra si mesma mais uma vez, como que atingida por algo invisível. Conhecia muito bem os efeitos que as tentativas de manipular a mente de alguém daquela forma poderia causar e não achava que aquele fosse, exatamente, o melhor caminho. Embora, fosse o caminho que se estendia à sua frente, considerando seu potencial. 

— Pense como se tivesse que levantar uma barreira, Wanda. Como se suas mãos se movimentassem no ar, puxando essa barreira invisível para cima. Exceto que se trata da sua mente. - Sprite orientou, o tom sério o surpreendendo, apesar da aparência infantil. Ela era um mistério para ele, de fato. 

— Seria mais fácil, se pudesse usar as mãos. - A Bruxa Branca pareceu insatisfeita por um instante, apertando os lábios em desgosto, como se esperasse mais da ruiva ou, então, da Feiticeira Escarlate. 

— Tente usá-las, mas não pense nisso como algo permanente. - A mais velha se preparou para iniciar novamente o ataque à mente de Wanda, que respirou fundo e ajeitou os ombros, começando a realmente transpirar pelo esforço que fazia. - Você irá precisar fazer sem que as pessoas ao redor se dêem conta disso. 

Ela atacou novamente e Wanda ofegou, apertando as mandíbulas com os olhos fixos na outra bruxa, mas, dessa vez, as mãos subiram no ar e foi como se energia escarlate as circundasse de maneira mística. Quase pôde ver o ar ondulando em torno dela e mesmo a iluminação pareceu ter cedido um pouco ante o poder que se instalou ali, o que Sprite também notou a julgar pela forma esperta como encarou o candelabro e depois a ele. 

Porém, o momento não durou muito, pois a outra pareceu ter dobrado a intensidade de seu ataque e Wanda se curvou novamente, levando as duas mãos ao rosto. Ela não reclamava, mas parecia prestes a machucar alguém apenas pela frustração e irritação de ter as barreiras de sua mente vasculhadas e, pior, quebradas. 

Jogando os longos cabelos ruivos para trás, Wanda se levantou e colocou a cadeira de lado. Bucky a acompanhou de forma preocupada, os olhos haviam deixado o tom esverdeado para trás e estavam mais escuros e sem vida do que se lembrava de ter visto. Não era cansaço, nem determinação, era fúria. Pela primeira vez, desde que se manifestou na multidão da festa regional, o brilho escarlate se relampejou nos orbes escuros, como se, do fundo, ganhasse cada vez mais espaço  e ele descruzou os braços, mais desperto. 

— Wanda? Você está bem? - Perguntou de maneira cautelosa, mas ela sequer o olhou para responder. 

— Sim. - Notou que ela nunca quebrava o contato visual com a outra bruxa, que apenas ajeitou a postura, antes muito confiante e superior por ter quase certeza que Wanda não conseguiria reagir aos seus ataques em um primeiro momento. - Assim posso me movimentar com mais liberdade. 

Não soube se ela estava falando em relação ao espaço ou quanto à própria mente, mas apenas se empertigou e aguardou. A outra bruxa deveria saber com quem estava trabalhando naquele momento, pois, pelo o que havia compreendido de tudo o que ouvira, Wanda não era uma bruxa comum, mas uma Feiticeira Escarlate, algo raro, com o que poucas pessoas sabiam lidar. 

Com um aceno, ela permitiu que a platinada fizesse outro movimento e, novamente, suas mãos se moveram em magia. Bucky nunca pensou que presenciaria algo daquele tipo em toda a sua vida. Ainda que fosse um centenário, tinha a impressão de que, tudo o que vira, durante aqueles anos todos, tinha alguma explicação prática. Mas aquela força que Wanda manejava era maior, não-científica, pouco controlável e perigosa de verdade, especialmente por ser algo sobre o que poucos tinham conhecimento. 

Gotas de suor brotaram de verdade em sua testa, mas notou que a outra bruxa estava demorando cada vez mais para conseguir quebrar a barreira que a ruiva levantava, ainda que com muito esforço. Os minutos subiram de nada para dois, então para cinco, depois para seis e assim sucessivamente, mas notou que a respiração de Wanda parecia cada vez mais pesada e ela se curvava demais em si mesma, procurando algo em que se apoiar quando a dor em sua cabeça vinha após o ataque da bruxa. 

Mesmo os olhos dela pareceram mais escarlates e menos escuros quando, no último movimento da Bruxa Branca, aparentemente mais forte que os demais, caiu sentada sobre a cadeira que havia afastado. Apesar da evolução, os cabelos ruivos já grudavam em seu pescoço pelo suor e a camiseta escura pregava em seu corpo. Wanda ofegou surpresa e rapidamente olhou para a outra, muito mais Feiticeira do que humana, parecendo pronta para revidar da mesma forma que fizera com a seguidora de Chthon na antiga base da H.Y.D.R.A. 

— Acho melhor pararmos por hoje. - Bucky fez menção de se encaminhar à ruiva, mas a bruxa o impediu. 

— Não, ela está indo bem. - A encarou de maneira cética, levantando uma das sobrancelhas.

— À essa altura, estou mais preocupado com seu bem-estar do que com o dela. - Não esperou que ela estreitasse os olhos para ele e se encaminhou de vez até onde Wanda se concentrava em respirar fundo e deixar de lado o brilho escarlate. Colocando uma das mãos sobre o ombro de Wanda, se agachou à sua frente, abaixando o tom para falar com ela, mesmo sabendo que poderia estar se dirigindo mais para a Feiticeira do que para a mulher. - Wanda. Precisa de alguma coisa? 

Ela não respondeu inicialmente, mas podia sentir o corpo ligeiramente trêmulo em seus dedos, os quais apertou de forma delicada no espaço entre o ombro e o pescoço feminino, tentando fazê-la relaxar. Wanda levantou os olhos de maneira alarmada e, antes que sumisse de suas feições ofegantes, enxergou de perto o intenso brilho escarlate nos olhos que deveriam ser claros, colocados diretamente sobre si mesmo. 

Engoliu em seco, decidindo não recuar e levou uma das mãos à franja úmida, tentando ajeitar a bagunça que eram os fios ruivos naquele momento, depois de ter sua mente revirada. Uma vez, Wanda havia demonstrado saber a importância de poder invadir sua mente e, agora, era como se passasse pelo mesmo. O pior, a escolha era apenas dela e da consciência que a levava a esconder o Livro de terceiros, o que a fazia ter que optar por sacrifícios como aquele - algo que o próprio Bucky, àquela altura de sua vida, não faria por ninguém.

Então, ela fechou os olhos e levou uma das mãos à frente da testa, uma careta se espalhando por toda a sua expressão. Com um xingamento baixo, a Feiticeira voltou a abaixar a cabeça, apoiando-a levemente contra seu ombro, sem se importar com sua presença ou a proximidade. Notou que, ainda que tudo sobre o feitiço utilizasse o potencial mágico mental dela, havia reflexos físicos de verdade, como a respiração ofegante, a repentina perda de força, o tremor nos dedos e, é claro, a dor de cabeça. 

Sprite surgiu ao lado oferecendo uma garrafa d’água, que ele aceitou e se afastou de Wanda para oferecer a ela. A Bruxa se aproximou com cautela, os olhos avaliativos sobre eles ao levar uma das mãos aos cabelos de Wanda, de maneira surpreendentemente carinhosa.

— Enxaqueca é normal quando se dispõe de muito esforço neural. Ela precisa descansar. - Ela explicou.

— Wanda. - Chamou a atenção de Wanda, que abriu os olhos com cuidado, como que testando o movimento ao encará-lo estreitamente. Não havia mais resquício escarlate, mas não estavam tão esverdeados quanto costumavam ser. - Está pronta para ir para casa? 

Ela assentiu sem pressa, pois o esforço deveria demandar alguma dor em sua cabeça e Bucky se levantou, a ajudando a fazer o mesmo. 

— Você foi bem hoje, Wanda. Se continuar nesse ritmo, logo conseguirá fechar completamente sua mente. 

A Bruxa Branca os seguiu até a antessala, no que Wanda apenas concordou se esforçando para andar até a porta. Ali, Sprite se encontrava distraída, encarando algo através do vidro embaçado da janela, sem dar muita atenção à eles até que se encaminhassem à saída. 

— Sabe… Já está tarde para voltar para a casa. - Ela cruzou os braços, encarando-os de maneira tão temerosa que até mesmo Wanda, um pouco pesada em seus braços, ajeitou um pouco a postura enquanto a Bruxa encarava a menor, juntando as mãos.

— O que está sabendo, Sprite? - Perguntou a senhora, no que a menina respirou de forma temerosa. 

— Forças ocultas estão o tempo todo tentando se colocar no caminho de Wanda. Se encontrá-los vulneráveis dessa forma… - Deu de ombros, procurando as palavras corretas. - Não vai ser capaz de se defender. 

Por um instante, todos ficaram em silêncio e pode sentir a própria ruiva um pouco mais tensa, imaginando todos os cenários possíveis que poderiam se desenrolar no caminho para a cabana. Infelizmente, era um raciocínio bastante lógico, pois a segurança deles dependia, exclusivamente, de como Wanda poderia utilizar seus poderes e bastava uma olhada para seu estado que qualquer um saberia como estava. 

Trocou um olhar com ela, quase como se concordassem sobre isso, enquanto a Bruxa Branca fechava os olhos e pedia para que todos fizessem silêncio dentro da casa. Enquanto a segurava pela cintura, notou que Wanda parecia cada vez mais sem forças para se manter de pé, o que o preocupou. 

— De fato… A madrugada está bastante silenciosa. - O tom de aviso fez com que a ruiva suspirasse, provavelmente irritada com tudo aquilo que passava a atormentá-la mais e mais, levando a mão à cabeça, como se acabasse de sofrer uma pontada de enxaqueca. - Tenho acomodações no andar de cima, a cidade está lotada de turistas e não deve ter quartos disponíveis. Venham. 

Ela se voltou à escada de madeira sem esperar confirmações e Wanda apenas anuiu, seguindo logo atrás da senhora, que segurou a barra do longo vestido escuro para não tropeçar nos degraus. Wanda subiu com a ajuda do corrimão, fazendo com que engolisse a vontade de perguntar se precisava de ajuda. Estava preocupado demais, comprometido demais, envolvido demais, de forma que tudo passava a girar em torno dela. 

Evitou começar a adentrar tal seara novamente quando logo chegaram ao segundo andar. Era um pouco mais espaçoso que o térreo, com uma sala de TV mais confortável, adornada por tapetes e diversos sofás macios, e três portas de madeira se estendendo em direções diferentes sem exatamente uma ordem. A Bruxa disse que o último quarto era o dela, que Sprite estava hospedada na porta à esquerda e eles ficariam à direita, no cômodo que daria para a lateral da cabana, de frente para o lago. 

Ainda que não falassem nada a respeito, foi impossível não pensar na insinuação por trás disso: ela estava assumindo que fossem um casal. Contudo, apenas passaram pela porta que a senhora segurava, enquanto ela dizia que procuraria por roupas da cama e cobertores limpos, pois o quarto não era usado com frequência. 

Bucky observou Wanda se dirigir à janela com cautela, os olhos cansados, mas presos na escuridão lá fora. Quis dizer que não era seguro que ficasse justamente ali, onde poderia ser vista por qualquer um que estivesse escondido pela escuridão do lado de fora, mas, quando ela encostou o rosto contra o vidro fechado e fechou os olhos, notou que ela parecia cansada demais para se importar. 

Se aproximou, sem pressa, após retirar a jaqueta de couro, se apoiando contra a parede de madeira com as mãos escondidas no bolso da calça. Examinou o rosto dela, por um instante, notando que Wanda parecia prestes a dormir em pé, tão esgotada se encontrava por todo o esforço de minutos antes. 

— Está tudo bem… Com tudo o que aconteceu lá embaixo? - Perguntou baixo, para que o assunto ficasse apenas entre eles, no que Wanda confirmou com um aceno. 

— O único problema é… Me fez ter certeza de que não tenho muito controle sobre a Feiticeira Escarlate. - Wanda abriu os olhos, se movendo incomodada antes de cruzar os braços. - É como se estivesse o tempo todo lutando contra ela, invés de… Andar ao seu lado. Entende? 

— Você vai encontrar uma forma de compreendê-la. Isso deve demandar tempo. 

A observou forçar um sorriso, mesmo em seu estado exausto e não demorou para que o silêncio anterior da madrugada se instalasse entre eles, que apenas se encaravam. Não sabia o que dizer a ela, depois de tudo o que aconteceu naquele dia, e Wanda não parecia realmente querer manter um diálogo, embora o encarasse pensativamente, quase distraidamente. 

Seus olhos só deixaram os dela, mais claros, quando a bruxa bateu a porta e entrou, sem pedir permissão, dizendo que iria arrumar a cama, o que fez de maneira rápida, avisando que não costumavam levantar muito cedo e, como todos os habitantes de Tanier, Sprite e ela estariam “de ressaca” por conta das festividades da noite anterior. 

Observando-a sair com os ombros um pouco mais baixos do que entrou, lembrou da senhora comentando que “estava perto da morte” e não duvidava de que também estivesse um tanto cansada pela forma como usou sua mente contra a de Wanda mais cedo, impondo invasões cada vez mais pesadas a depender de como a outra a recebia. 

— Você ainda não tinha comentado sobre essa coisa de multiverso. 

Comentou ao se sentar no sofá de dois lugares contra a parede de madeira junto à porta para tirar suas botas e meias. Wanda deu de ombros, fazendo o mesmo já do lado direito da cama, junto a uma mesinha de cabeceira de tampo arredondado. 

— Acredite, mesmo para mim… Parece loucura demais. - Ela se deitou em meio a um suspiro, fechando os olhos por um instante, como se desfrutasse do conforto de um travesseiro macio pela primeira vez. Já Bucky começou a colocar as almofadas do sofá no chão, onde poderia se esticar melhor do que em cima dele, a julgar pelo tamanho. Alcançou o travesseiro do lado esquerdo e um dos cobertores que a bruxa havia deixado aos pés da cama, o que chamou a atenção da ruiva, que colocou os olhos diretamente sobre ele. - O que está fazendo? 

— Vou dormir no chão. - Respondeu de maneira prática, estendendo um lençol. 

— Bucky. - Ela se cobriu um pouco melhor até o pescoço, se deitando de bruços na cama, confortável demais para se levantar e elaborar muito mais do que aquilo. Ainda assim, fez um esforço para esticar a mão sobre o colchão, os dedos levantados em sua direção, como se invisivelmente o puxasse. Em meio a um suspiro quase resignado, apenas se aproximou, se sentando à ponta do lado esquerdo enquanto alcançava a mão, que ela ainda mantinha em sua direção. - Eu confio em você, pode se deitar na cama. 

— É melhor não. - Seus dedos rodearam os dela da maneira mais delicada que conseguia, no que Wanda piscou, meio sonolenta. 

— Porquê? - Em contrapartida, os dedos dela apertaram os seus, como se quisesse demonstrar toda a teimosia que podia naquele gesto, o que o fez sorrir e encará-la novamente, os cabelos ruivos já secos caídos em uma cascata bagunçada ao redor do rosto deixando-a bonita sob a iluminação dos dois abajures antigos que ficavam no quarto, que a bruxa acendeu com magia. - Eu dormi ao seu lado quando estava desacordado por conta do veneno. 

Ele sorriu de verdade, pois imaginava que isso tinha mesmo acontecido, mas Wanda nunca fizera questão de adentrar o assunto e ele jamais perguntaria onde ela ficara ao decidir acomodá-la em seu próprio quarto para tratá-lo. 

Então, ele se concentrou na primeira questão e deixou a lógica escorrer por ele enquanto seu coração reagia fortemente à forma que ela vinha, realmente, deixando claro que confiava nele, mesmo em relação às suas escolhas mais pessoais, as quais ele sempre questionava. 

Seus dedos acariciaram o pulso fino em seu colo e Bucky voltou a encará-la, os olhos mais sérios nos dela, que ainda processava tudo o que acontecera lá embaixo e, certamente, não tinha resposta concreta para qualquer outra coisa, mas, de boa vontade, esperava uma dele.

— Acho que sabe o motivo. 

Falou cautelosamente, examinando cada expressão do rosto da ruiva, que apenas o encarava de forma séria, pesando o que havia acabado de dizer. Engolindo um suspiro também pesado por tudo o que foi aquele dia, apenas levou a mão dela aos lábios e depositou um beijo simples, acompanhado pelo silêncio de Wanda, antes de deixá-la sobre o colchão e se levantar. Era mais do que poderia ter feito, mas já era demais para ambos, pois vira a forma como ela apenas piscou, processando sua fala, antes de apagar os abajures e se acomodar em sua cama improvisada.


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Notas finais do capítulo

UFA, capítulo enorme dar um passo a mais nessa relação, afinal estamos chegando no capítulo 30!

E vamos do clichê de uma cama só, que eu simplesmente AMO, não tem melhor pra mim kkkkkkkk Mas com limites, porque o Bucky é dos anos 40! rs

Enfim, agora estamos adentrando um outro lado da história, onde abordaremos um pouco mais desse lado Feiticeira, que o Bucky não conhece muito, mas sem deixar o sentimento de lado, afinal ele está ali - indo aos poucos, mas está!

Espero que tenham gostado desse capítulo e me digam o que têm achado da história, porque sigo amando esses dois!

Até breve ♥



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