The Hurting. The Healing. The Loving. escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 2
Capítulo 1




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Ela estava exausta.

Por mais que pudesse parecer apenas apatia à primeira vista, estava claramente mais magra do que vira nos registros da S.W.O.R.D, com as maçãs do rosto mais marcadas e as olheiras como bolsas fundas sob os olhos vermelhos e inchados, como se houvesse chorado por muito tempo e estivesse cansada disso também. 

Apesar da insistência de Sam, Wanda não tentou manter qualquer diálogo, respondendo apenas o necessário às perguntas do outro, que em algum momento pareceu irritado, embora houvesse lhe lançado um olhar preocupado ao vê-la se sentar no sofá com os joelhos junto ao corpo, uma xícara de chá fumegante entre as mãos e os pés repentinamente cobertos por meias que, - tinha certeza -, não estavam ali antes. 

Da janela de parapeito baixo onde se apoiava, apenas observando o movimento não recíproco entre Sam e a jovem, prestava mais atenção nos detalhes da cabana atipicamente impessoal, o que estranhou: Wanda parecia ser exatamente como Steve, dava valor às pequenas coisas que a ligavam a quem era ou costumava ser, tinha certeza disso. A falta de objetos com significado no lugar preenchido apenas por móveis de madeira genéricos e sofás de almofadas confortáveis gritava como ela não poderia estar bem depois de tudo o que fizera.

Repentinamente, a garota levantou os olhos castanhos muito escuros, estreitando-os para Bucky, como se ouvisse cada pensamento e impressão sobre ela. Levantou uma sobrancelha tentando decifrar como algo do tipo funcionaria para ela, sem realmente perguntar, apesar da sensação de ser lido com tanta facilidade por uma quase desconhecida ser extremamente incômoda. Ela devia se sentir do mesmo jeito pela abordagem deles, embora não soubessem nada sobre como ela se sentia realmente.  

— Ouça... – Sam se sentou ao lado de Wanda, juntando as mãos de maneira resignada, ainda que ela voltasse sua atenção a ele. – Não estamos aqui para condená-la. Só queremos saber como está depois de... Tudo. 

— Estou bem. – A observou colocar a xícara sobre a mesinha logo ao lado do sofá, respirando fundo, o sotaque tão grave quanto sempre fora. – Aquilo... Westview... Não era uma vida de verdade. 

— Mas era uma vida que desejava... Certo? – Ela o encarou por um instante e desviou os olhos em seguida, mágoa escorrendo por cada poro dela enquanto mastigava os lábios pensativamente.

— Na verdade, não sei como fiz aquilo. Eu não sabia... – Sam o olhou, refletindo o seu franzir de cenho pela perturbação finalmente emergindo. – Não sabia que era capaz de algo do tipo. Eu apenas... Brinquei com a realidade sem conhecer os riscos, tateando como se faz com algo ordinário.  

Os dedos dela tremeram contra si mesmos e Wanda logo fechou as mãos em punho, recolhendo-as. Desde que sabia que ela se hospedara em Wakanda por um tempo, entremeado por viagens clandestinas para encontrar Visão, imaginava que tivesse avançado no controle de seus poderes, especialmente após o acontecido na Nigéria. 

— Então... Ainda está aprendendo sobre seus poderes. 

Também tateou, imaginando em que nível de controle ela estaria àquela altura, tão pouco tempo depois do que houve, no que ela inclinou a cabeça como numa anuência. 

— Coisas ruins acontecem às pessoas quando não consigo controlar meus poderes. – Soou mais como uma frase feita que repetia e intoxicava a si mesma do que o que ela realmente acreditava.

— Wanda, não é assim... – Sam tentou, mas ela se levantou para terminar a conversa.

— Aconteceu em Lagos, aconteceu em Westview... – O tom dela se tornou embargado, o que o preocupou como não havia desde que chegara ali. Mesmo a aparência cansada não parecia tão derrotada quanto aquela versão à sua frente: era como se Wanda tivesse voltado do estalo, assim como ele e metade da população mundial, apenas para se quebrar em mais pedaços e desenvolver ainda mais traumas. – É a verdade, acho que sou capaz de fazer o mau mais facilmente do que quero acreditar. Então... É melhor que não fiquem por perto. 

Ela os mandou embora novamente e sumiu pelo corredor sem um segundo olhar, os olhos marejados e a face tensa. Sam se colocou de pé no instante seguinte, parecendo um pouco incrédulo pela resistência da outra. Não era como se achasse que Wanda fosse estar receptiva tendo se escondido no meio do nada em algum lugar entre a fronteira da Sokovia e da República Tcheca, porém, não imaginava a extensão do conflito interno que ela aparentemente vivia e o motivo pelo qual realmente escolhera se recolher ali. 

— Isso vai ser mais complicado do que pensei. – Sam se aproximou com um semblante preocupado, abaixando o tom. – Acha que ela tem razão? Sobre nos afastar para não nos colocar em risco...

Pensou por um instante, fitando distraidamente a paisagem ao pé da montanha. Apesar de acreditar no temor dela, parecia que Wanda estava mais concentrada em si mesma e em seus poderes do que disposta a colocar suas questões psicológicas na mesa. E detestava qualquer coisa que envolvesse esse campo, mas sabia que ela precisava de ajuda. 

— Talvez. É melhor sermos honestos com ela e não... Tornar as coisas ainda mais difíceis. 

Sam concordou com um aceno sem hesitar. Detestava se encontrar naquela terra inóspita, culturalmente diferente, sem um meio de locomoção e lidando com uma bruxa, mas tinha consciência da necessidade de estarem ali. Então, ele fez uma careta e encarou a si mesmo, o rosto se contorcendo ainda mais.

— Deus, preciso de um banho. 

Ele se dirigiu à própria mochila e olhou ao redor por um segundo antes de encontrar a porta do banheiro, no fim do pequeno corredor, logo depois da porta por onde ela sumira. Ainda havia outra porta, a qual provavelmente dava para um segundo quarto, talvez de hóspedes. Porém, se tinha uma certeza nesse momento era que não seria ofertado tão gratuitamente a ele ou ao próprio Sam. 

A Maximoff não os queria ali e isso fazia algo dentro de Bucky se agitar em alerta; não sabia se pelo fato de parecer estar abandonando a garota sozinha à própria sorte, sem realmente conhecer seus poderes, ou se por imediatamente imaginar que algo parecia errado em toda aquela situação – algo que escapava aos seus olhos treinados. 

Rodeou a sala e a cozinha conjugada, dividida apenas por uma mesa de madeira comprida e de aspecto muito pesado em conjunto com quatro cadeiras, mas com armários que pareciam bastante espaçosos e uma janela larga sobre a pia que dava vista para o lago. Uma lareira de pedra fora instalada na parede à esquerda ao lado do corredor, parecendo ter sido usada recentemente e alguns livros de história local estavam espalhados pela mesinha de centro. Fora isso, não havia nada que parecesse de Wanda realmente. 

De longe, notou um brilho estranho sobre o balcão do armário ao lado do fogão e se aproximou apenas para notar uma torradeira muito antiga. Porém, o que chamou atenção foi o logo das Indústrias Stark no canto direito, algo que... Definitivamente não estava correto, pois Tony e Howard Stark nunca fabricaram torradeiras ou qualquer objeto que remetesse a uma. Passou o dedo pela marca, se perguntando de onde aquilo teria surgido e porquê.

Um pouco mais ousado, adentrou o corredor medindo os próprios passos mesmo que sua bota parecesse pesada sob o piso de madeira, ignorando a porta do quarto que deveria ser de Wanda para se dirigir ao outro, apenas para encontrá-lo trancado. Aproximando o ouvido da madeira um pouco mais, constatou o completo silêncio do outro lado e, por enquanto, resolveu deixar aquilo de lado. 

Se quisessem ajudá-la, não poderiam soar vigilantes e repressores, como ela provavelmente os classificava após aparecerem sem qualquer aviso prévio.


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Notas finais do capítulo

Olá!

Mais uma pequena parte dessa história, dessa vez com mais interações pra eles começarem a se entender e entender o que tá acontecendo. Lembrando que isso se passa depois de WandaVision e não tem a ver com os acontecimentos de Doutor Estranho.

E se você gostou, deixe um comentário pra eu saber sua opinião. É sempre importante saber o que tão achando pra continuar ♥

Até breve!