The Hurting. The Healing. The Loving. escrita por Minerva Lestrange


Capítulo 10
Capítulo 9




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806749/chapter/10

No momento em que Wanda abriu a boca para dizer algo, os olhos dela se desviaram para algo abaixo de seu rosto e se fixaram na direção de seu pescoço enquanto se aproximava. 

— Está sangrando. - Bucky ainda a fitou em completo estranhamento, tentando encontrar resquícios escarlates na mulher completamente normal à sua frente, antes de acompanhá-la se abaixar ao seu lado e repetir, levando uma das mãos ao ferimento. A dor não era imensurável para o seu metabolismo resistente, mas o impacto fora forte o suficiente para fazer um corte fundo o bastante para jorrar uma quantidade de sangue suficiente para manchar a nuca, seus dedos e os dela, que agora os mostrava. – Bucky, você está sangrando, precisa limpar isso. Eu te ajudo. 

A ruiva segurou seu braço e o forçou a se levantar, como que para tirá-lo do transe, antes de empurrá-lo na direção do banheiro no fim do corredor, para onde seguiu sem questionar. O cômodo era pequeno, simples e provavelmente mais mal iluminado do que a situação pedia já que agora Wanda o fazia se sentar sobre a borda da banheira e esperar enquanto abria a gaveta do armário sob a pia pescando com facilidade algodão, gazes e soro fisiológico. 

Continuava a tentar encontrar nela aquela outra parte que, provavelmente, a pertencia, mas, ainda que anestesiado por toda a experiência completamente inesperada e questionável, conseguiu enxergar certa aflição contida, como se fosse culpada pelo corte. 

“Ela realmente era”, sua mente lhe sussurrou não muito baixo, afinal Wanda não faria mistério sobre o quarto trancado se não houvesse um motivo realmente plausível, embora não exatamente bom. Não sabia como, mas sabia que havia algo de sobrenatural naquilo que vira, naquela imagem projetada de uma Wanda que não existia não fosse inventada por algo ou alguém. 

Pelo reflexo do grande espelho redondo, podia enxergar a face concentrada da ruiva pressionando várias gazes sobre o corte para estancá-lo. Ferimentos na cabeça, embora não exatamente profundos, podiam ser dificultosos de conter pela quantidade de vasos sanguíneos na região, o que ela parecia encarar com naturalidade, sem se importar em sujar a mão enquanto enchia o lixo com as gazes encharcadas de vermelho.

Os dedos de Wanda eram sempre emblemáticos, como se fossem uma parte indispensável de sua personalidade. Por isso, ali não poderia ser diferente. Logo, ela substituiu as gazes por algodão e soro fisiológico simples, começando a limpar a parte interna do ferimento com cuidado, o que o levou a uma careta inevitável. 

De onde estava, tinha a visão completa do perfil tenso e dos lábios apertados enquanto os olhos claros se mantinham baixos e decididamente concentrados no que fazia. Notando que vinha sendo observada, no entanto, Wanda levantou os olhos diretamente para os dele pelo espelho, mas não durou mais que um segundo onde apenas voltou ao que fazia de maneira relutante e evasiva.

— Vamos falar sobre o que aconteceu? 

Perguntou em tom baixo, de certa forma esperando que Sam não chegasse justamente naquele instante. Teria um longo malabarismo pela frente se tivesse de explicar a ele o que aconteceu, especialmente levando em consideração que não sabia exatamente do que se tratava. Continuou a encará-la, quase capaz de enxergar as maçãs do rosto feminino coradas, se recusando a encará-lo de volta. 

Era como se Wanda estivesse acostumada a esconder as coisas de todo mundo o tempo todo e, querendo ou não, aquela fora uma intromissão mais do que invasiva à pequena realidade que ela parecia ter criado ali. O que fizera era um ponto fora de uma curva com um objetivo ainda invisível a ele, mas a forçava a lidar com o inesperado, com outra pessoa questionando fatores provavelmente não questionáveis sobre a vida dela e seus planos. 

A ruiva, entretanto, não se impressionou e terminou de jogar o material usado no lixo antes de se aproximar da pia para lavar as mãos, evitando o assunto e ao próprio Bucky. 

— É melhor dar pontos.

— Isso não é necessário. – Ignorando-o, Wanda começou a revirar outra gaveta sob a pia, concentradamente.  

— O corte foi profundo. – Declarou quase monossilábica, se virando para ele com agulha e linha em mãos, que levantou as sobrancelhas involuntariamente. 

— Você sabe usar isso? – Ela o fitou em contrariedade e se aproximou, novamente ignorando-o.

— Não há anestesia, mas posso usar... Um feitiço. – Estreitou os olhos para a parede de madeira da cabana antes de se voltar à Wanda, que já se posicionara ao seu lado pronta para começar a remexer novamente no ferimento e deu de ombros quando notou seu olhar cético e decididamente receoso pela sugestão. – É seguro. 

Ainda a encarou debaixo por um tempo, tentando encontrar alguma hesitação sob tanta seriedade, mas só via a tensão nela inteira por tudo o que acontecera antes. Então, sob a perturbadora imagem que agora tinha gravada dela em escarlate, recordou que seus poderes não pareceram tão ameaçadores antes. Na verdade, nada ameaçadores, mas até... Perigosamente sedutores.

Então, com um suspiro, se virou no assento sobre a borda da banheira, concedendo que ela fizesse os pontos do jeito dela. Wanda era costumeiramente silenciosa, assim, fechou os olhos e se concentrou nos movimentos dos dedos suaves em seu couro cabeludo, embora não deixasse de se manter alerta – como sempre. Esperava que ela não se utilizasse da oportunidade para qualquer outro fim.

— Você não devia ter aberto aquela porta. Não devia ter visto aquilo. 

A voz dela foi muito baixa e ressentida, não exatamente frustrada, mas magoada de certa forma. Para Bucky, deveria ter a intenção de continuar a esconder o que acontecia ali ou, simplesmente... Quebrava alguma confiança que nascia aos poucos no terreno infértil que ela se tornara. Soube que não evitou o óbvio e visível tensionar dos ombros sob a visão privilegiada dela. 

— E o que é aquilo? 

Não conseguiu não se voltar para encará-la, quando sentiu que terminou os pontos. A ruiva, no entanto, evitou seu olhar e se dirigiu até a pia, lavando a agulha em silêncio antes de encharcar o algodão em iodo e voltar. 

— Isso não vem ao caso. 

‘Não é da sua conta’, ela quisera dizer. Porém insistiu, uma vez que o assunto estava ali, borbulhando entre eles como um incômodo latente, e se deixasse passar talvez não surgisse outra oportunidade de fazê-la falar.

— Ouça... Eu sei, não foi correto invadir sua… Privacidade daquela forma. – Anuiu. – Mas Wanda... Você já esteve encrencada, mais de uma vez. O que está fazendo ali...? 

Não conseguiu encontrar palavras para descrever, pois nada o havia treinado para magia e situações sobrenaturais, e Wanda apenas segurou sua cabeça com suavidade, fazendo com que se virasse novamente para que pudesse passar o algodão molhado na região do ferimento. 

— Não quero falar sobre isso, Bucky. 

Ela declarou firmemente ao terminar, jogando o algodão no lixo e se dirigindo para o corredor, a fim de ignorá-lo, o que estava determinado a impedir. A seguiu imediatamente, sentindo um fisgar no corte após o efeito do que quer que Wanda tenha usado ali terminar. 

— O que vi naquele quarto, que você insiste em não nomear, soou como um grande alarme, se quer saber. Especialmente depois do que fez em Westview. – Já na sala, a Maximoff se voltou a ele parecendo ofendida por ter mencionado a pequena cidade. 

— Pare de tentar me interrogar. – Viu um resquício de brilho escarlate nos olhos castanhos, mas não recuou quando ela avançou. – Não sou Steve, não sou Sam ou qualquer outro amigo que possa ter tido. Você não tem o direito, assim como não tinha o direito de ter invadido aquele quarto. Essa é a minha casa, a minha vida, você é o intruso aqui!

Ela terminou de maneira ofegante, parecendo repentinamente exausta ao olhá-lo em silêncio por um instante, como se só então tivesse se dado conta de que perdera o controle, apesar de tudo ser realmente verdade. Eles não eram amigos, mas mero conhecidos que faziam parte do mesmo grupo de aliados. Trabalhavam bem juntos, mas não sabiam os gostos pessoais um do outro, não se conheciam e, de qualquer forma, Sam era muito melhor nisso do que ele. 

O brilho escarlate sumiu quando Wanda fechou os olhos e levou uma das mãos à testa antes de se dirigir à cozinha para buscar um copo d’água. Passou por cima de qualquer sentimento raso de ofensa e se apoiou à grande mesa de madeira. 

— Lembra da senhora que me abordou? A bruxa, como você disse? – Cruzou os braços vendo-a paralisar junto à pia da cozinha, os dedos firmemente fechados junto ao copo de vidro e a cabeça baixa. Não conhecia o limite de Wanda e, sinceramente, essa talvez fosse a parte que mais o assustava sobre os poderes dela, não eles em si mesmos, mas precisava... Conseguir extrair algo daquilo que surgiu, ainda que fosse invasivo, inconveniente e aparentemente dolorido. – Ela me mandou ficar longe de você, me afastar enquanto ainda posso. Soa como se ela soubesse de algo, não é?

Wanda sorriu enquanto bufava parecendo tão irônica quanto repentinamente triste e ainda mais... Cansada. As feições, geralmente apáticas com raras exceções, aparentavam ainda mais exaustão do que o dia em que Sam e ele chegaram, o que era notável. Se perguntou se isso tinha algo a ver com o que vira, mas jamais poderia ter certeza se ela não confirmasse nada. Aquele campo era totalmente desconhecido para Bucky, assim como a própria Wanda também era.

— O que viu... – A observou levar a mão molhada a testa novamente ao dizer no sotaque mais estafado e pesado que já ouvira dela. – Aquilo não é o problema, eu sou. Eu sou o problema, Bucky. O caos está totalmente em mim e não há nada que você, Sam ou eu possamos fazer.

— Wanda... 

Ela colocou o copo sobre a mesa e se dirigiu ao corredor novamente enquanto declarava.  

— Eu também disse que era melhor se manter longe de mim.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Finalmente, um conflito e os primeiros desdobramentos do último capítulo.
Me digam se têm gostado da história, porque eu simplesmente amo escrever esses embates entre eles tentando se compreender, principalmente Bucky! ♥

Até breve!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "The Hurting. The Healing. The Loving." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.