Nem tão príncipe encantado assim. escrita por NikkiYori


Capítulo 2
Cafés, dinossauros e provocações.


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos leitores.
Teremos mais um capítulo só, e a próxima etapa é Bokuaka.
Boa leitura.



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Charlotte 

 

— Obrigada, Sol, por cuidar dela até agora e por trazer Mavi aqui. — agradeci minha vizinha adolescente com minha filha agarrada nas minhas pernas. 

— Não precisa disso, Charlotte. Sabe que eu adoro ficar com ela. — a morena fez um cafuné no cabelo platinado de Mavi, bagunçando os fios das duas tranças. — E é uma pena que já tenho um compromisso com o Magna, compramos ingressos para aquele filme novo de zumbis que está passando nos cinemas,   se não fosse isso, poderia ficar com ela o dia todo. Agora eu preciso ir, até depois Mavi, Charlotte. — ela se despediu e acenou um tchau com as mãos enquanto saia da loja. 

— Foi educada com a Sol e agradeceu por tomar conta de você? — perguntei me abaixando e dando um beijo na testa pequena dela.

— Sim, mamãe. — ela respondeu com aquela voz infantil que eu tanto amo.

— E se divertiu bastante? — peguei suas mãozinhas nas minhas e beijei as pontinhas dos dedos das duas, fazendo com que ela desse uma risada gostosa.

— Muitão. Achei a tia Sol quatro vezes no esconde-esconde. — contou vitoriosa.

— Que ótimo, meu amor. Você é muito boa nessa brincadeira. — elogiei a pequena. — Agora eu preciso que você me ajude, pode fazer isso? A mamãe precisa trabalhar e você vai pintar uns desenhos bem bonitos, combinado? —  pedi gentilmente, mas meu coração estava apertado por não poder ficar com ela. 

— Vou desenhar todos os dinossauros do meu desenho favorito pra você, mamãe. — Mavi decidiu determinada, afirmando com a cabeça que iria colaborar. 

— E eu vou adorar, não vejo a hora de ver sua arte. — comentei feliz, levantando e levando ela até uma mesa, que coloquei ao lado da bancada da floricultura. — Você vai ficar aqui, pertinho da tia Ino. Qualquer coisa me chama, mas se eu estiver ocupada, fale com ela. — apontei para a loira que atendia uma cliente, mas lançou uma piscadinha para Mavi. 

Tirei a mochila cor de rosa das costas da minha filha e abri o zíper, pegando os lápis de cor e o caderno de desenho, coloquei ambos em cima da mesa. Mavi puxou a Bolota de dentro também, o dinossauro de pelúcia que ela levava para todos os lugares, e abraçou afavelmente.

— Está com fome? Faz tempo que tomou o café da manhã. — questionei preocupada. 

— Não, tinham cookies para comer na casa da tia Sol. Ela colocou eles no iogurte, ficou uma delícia. — preferi não reclamar dessa refeição desbalanceada, uma vez, não faria tão mal. 

— Bom, se precisar ir ao banheiro, me chame que eu te levo. E se quiser algo para comer, pode pedir para tia Ino, ou pra mim. Mas não saia da loja e nem fique perambulando sozinha por aí, é perigoso.  Fique aqui sentadinha pintando seus desenhos, tudo bem, meu amor? — Mavi afirmou com a cabeça e dei dois beijinhos, um em cada lado da bochecha. 

Com o coração apertado deixei minha filha ali e fui recepcionar os clientes e atender telefonemas para reservas. Às vezes, auxiliava Ino preparando os arranjos e buquês, e levando para Makoto lá fora, para serem entregues por ele. Porém, não deixava de ficar de olho na garotinha sentada desenhando, e segurando em um dos braços o brinquedo preferido, que ela não largava nem quando ia dormir. 

Só que em um segundo ela desapareceu da minha vista. Procurei Ino com o olhar e ela estava ocupada atendendo um trio de três senhoras idosas, provavelmente nem viu quando a garotinha saiu. Meu coração acelerou na hora e vaguei desesperadamente o olhar por todo o estabelecimento. Cada segundo que passava minha angústia aumentava, até que encontrei ela. Estava sentada na mesma mesa que o cliente mais rabugentos que frequenta a cafeteria, Sukehiro. 

Ele vem fazer o desjejum aqui, trazendo uma pilha de papéis, que ficava analisando por horas e só parava para fumar uns cigarros na calçada, enquanto se entupia de café no processo. Não sei como não teve um ataque cardíaco até hoje de tanta cafeína, e tenho certeza que deve sair um líquido marrom das suas veias em vez de sangue. Não que eu esteja reclamando, a saúde dele só importa para ele, quanto mais café o Sukehiro beber, melhor para o lucro da minha loja. 

Andei na direção da minha filha e do homem de cara amarrada, com a barba por fazer e cabelo desgrenhado. 

 



Yami

Preciso de mais cafeína depois de corrigir isso. Não é possível que essa criatura errou todas as questões desta prova fácil.  O que ele anda fazendo na minha aula? Estudar é que não é. 

Levantei da cadeira, deixando os papéis sobre a mesa de qualquer jeito, já que ninguém mexeria, e fui até o balcão da cafeteria.  

O lugar está um pouco mais cheio do que o habitual, esperei alguns minutos até ser atendido pelo garoto esfuziante de cabelo platinado e sorriso exagerado no rosto.

— Um ristretto. — pedi devolvendo a xícara vazia, que ele colocou na pia, pegando uma limpa na bancada e despejando o café quente nela. 

— Deseja mais alguma coisa? — o garoto me entregou a xícara e pensei em várias formas de responder aquela pergunta genérica, a maioria de forma grosseira.

— Não. — falei apenas e sai andando.

— De nada. E aproveite o café. — o garoto gritou e estreitei os olhos, virei para conferir se estava debochando, mas ele já atendia outro cliente com aquele sorriso estúpido nos lábios. 

Voltei para a mesa, pedindo paciência aos céus para corrigir a próxima prova, da qual foi mais uma decepção. 

As crianças realmente não estão indo bem nesse conteúdo novo. Tenho que repassar a matéria e fazer uma recuperação, rezando para que eles entendam dessa vez, pois o cronograma escolar já está apertado, não posso perder muito tempo voltando nisso. 

São poucos os que têm dificuldades de verdade, a grande maioria só precisa se esforçar e dedicar um tempo para os estudos, mas só querem saber de gravar dancinhas estranhas para a internet.  

Minha alma já velha e ranzinza não entende o propósito de tal coisa. 

Beberiquei o líquido quente, conhecido como o néctar dos cafés. Sim, sou viciado em cafeína, e provavelmente ultrapasso o limite tolerável do dia. 

Dei um gole e quase suspirei, de tão bom que era esse café. O melhor das redondezas, e só por isso frequento esse lugar que não faz o meu estilo. 

Vanessa me trouxe aqui uma vez, em um encontro, e torci o nariz, mas quando experimentei a bebida, passei a frequentar a Roselei's assiduamente.   

— O meu favorito é o ankylosaurus. — perdi a linha de raciocínio quando escutei uma voz infantil ao meu lado, a garotinha de cabelo prateado me mostrou uma pelúcia que segurava em uma das mãos, na outra ela segurava folhas de papel e uma caixa de lápis de cor.  Stegosaurus é o seu favorito? — perguntou olhando na direção da minha bolsa e notei que ela estava falando do chaveiro que Asta tinha me dado de presente.

— Esse é o nome dele? Eu não fazia ideia, foi presente de um dos meus sobrinhos que adora dinossauros, provavelmente como você. — não sei por que me dei ao trabalho de explicar, mas aqueles olhinhos azuis brilhantes, com certeza, eram um dos motivos. 

— São espécies. — corrigiu com um tom professoral e segurei um riso. 

— Cadê os seus pais? — achei  preocupante ela estar sozinha e ainda falar com um desconhecido, olhei ao redor tentando achar os responsáveis da criança, na verdade, os irresponsáveis.

— Meu pai tá passeando com a namorada nova, ele esqueceu que tinha que me levar pra ver os dinossauros hoje. Eu chorei bastante, minha mãe ficou triste também, e depois brigou com ele no celular quando eu estava dormindo. — ela fez um biquinho e tive certeza que o progenitor era um babaca idiota. — A mamãe tá ali trabalhando, pra comprar os meus brinquedos, lápis de cor, as comidas que eu gosto. Ah, eu tô ajudando ela, pintando meu desenho favorito. — a garota primeiro apontou uma mulher loira e de cabelo comprido, que estava de costas, mas eu reconheci a silhueta familiar da dona da cafeteria sem nenhum esforço, depois a pequena me estendeu uma folha com uns desenhos de vários dinossauros, notoriamente muito bom para a sua idade. 

— Você é muito boa nisso. — elogiei sinceramente e a garotinha abriu um sorriso caloroso. 

— Quando crescer vou ser uma artista. — falou convicta. — E também paleontóloga e veterinária. — não quis estragar a graça da criança, achando que poderia ser tudo isso, já é difícil ter uma profissão, quem dirá três. 

— Boa sorte. — soltei sem sarcasmo.

— Mamãe disse que posso ser o que quiser se me esforçar. — explicou como se já tivesse escutado isso várias vezes. 

A garotinha colocou os itens que estavam nas suas mãos em cima da mesa e puxou a cadeira do outro lado para se sentar. 

— E ela não te ensinou que você não deveria falar com estranho? — puxei algumas folhas de papel espalhadas e coloquei em uma pilha na minha frente, para que ela acomodasse melhor as suas coisas.

— Sim, mas você não é um estranho. Sempre toma café aqui. — rebateu como se eu não pudesse refutar a sua lógica. 

— Mesmo assim, eu continuo sendo um desconhecido. — argumentei enquanto ela tirava os lápis de cor da caixa. — Você não sabe meu nome, nem eu sei o seu. E não deveria conversar com pessoas que sua mãe não conhece e nem autorizou, é muito perigoso. — expliquei didático.

— Eu sou a Mavi. — ela ignorou todo o resto que eu discursei. — Qual o seu nome? — perguntou olhando diretamente para mim. 

— Yami Sukehiro. — respondi me rendendo. 

— Agora somos amigos então. — disse simplista e sorri, coisa da qual não fazia há muito tempo. — Minha mãe se chama Charlotte, e o meu pai Nozel. Você pode ser amigo deles também. — definitivamente não, foi o que pensei. 

Mavi continuou tagarelando enquanto pintava seus dinossauros, e eu respondia esporadicamente as perguntas que ela fazia no processo. Não demorou muito para a mãe dela perceber que a filha estava na minha mesa, e veio, visivelmente assustada, na nossa direção.

O rosto bonito expressava preocupação, alívio, ternura, descontentamento, em milésimos de segundos. A postura sempre tão impecável vacilou e, pela primeira vez, ela parecia um ser humano de verdade, esboçando sentimentos naquela face, e não aquela máscara frígida que usava diariamente. A Roselei sempre se mostrava muito bem educada, e ficava evidente que vinha de uma família rica, por causa de seus modos refinados demais. Parecia uma boneca intocável, menos neste instante, ela praticamente corria para chegar aqui. Era só uma mãe zelosa típica.

Quando a mulher parou ao lado da mesa, seus olhos azuis gelo desconfiados percorreram meu corpo inteiro antes de se abaixar, ficando na altura da filha, para conversar com ela. 

— Mavi, você não deveria estar naquela mesa? Por que saiu dali? — a loira apontou para o outro lado da cafeteria. — Eu me assustei quando não te vi, sabe como é perigoso andar sozinha e conversar com estranhos. Nunca mais faça isso. E também não incomode o senhor Sukehiro, ele está ocupado. - ela pronunciou o meu sobrenome de uma maneira engraçada, se não fosse tão certinha, acharia até que foi desdenhosa. 

— Desculpa, mamãe. É que eu queria fazer companhia para o meu amigo. — a Roselei me fintou interrogativamente e dei de ombros. — Sabia que o sobrinho dele também gosta de dinossauros? Acho que a espécie favorita dele é o stegosaurus. O Espora é um deles, aquele que você mais gosta no desenho. — Mavi apontou para uma das figuras no papel e a mulher sorriu, acariciando a bochecha da filha. 

— Ele deve ser muito inteligente e interessante, como você. — disse se levantando, dando uma breve olhada na minha pilha de papéis, e recolheu os materiais da garota que estavam na mesa. — Agora, vamos deixar o senhor Sukehiro trabalhar, e a senhorita de volta para o seu lugar. Vou levar algumas frutas para você comer. — Mavi levantou da cadeira, mas parou do meu lado e olhou para a Roselei.

— Eles podem ir com a gente ao museu? — pediu e vi pavor estampado nos olhos da mulher, e quase ri alto do desespero dela de querer se livrar dessa situação. 

— O senhor Sukehiro não pode, quase não tem tempo livre, Mavi. Ele é muito atarefado . — inventou e fez um gesto com a cabeça, esperando que eu a ajudasse, concordando com a sua desculpa.

— Na verdade, tenho uma folga no sábado. Asta adoraria conhecer você, Mavi. E o Yuno também, meu outro sobrinho. — proferi e vi as sobrancelhas loiras levantarem contrariadas. — Aqui, meu número de telefone. Mande uma mensagem para combinarmos o horário. — rabisquei em um pedaço de papel e entreguei para a Roselei.

Posso ter começado só para provocar a loira, mas, agora, estava interessado em descobrir todas as expressões que ela não conseguiria esconder naquela fachada habitual. A mulher pegou o papelzinho a contragosto e levou a filha por uma das mãos, com a outra, a garotinha acenou uma despedida.

 — No final, a princesa é divertida. — murmurei com os lábios levemente repuxados para cima.












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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem.

Algumas curiosidades:
Bolota é referência a Jurassic World: Camp Cretaceous.
O desenho favorito da Mavi é Em Busca do Vale Encantado.

Mavi, to apaixonada por essa criança, gente. Tão amorzinho. Amoleceu até o coração do Yami.

Bokuto não debochou do Yami, mas deveria. hahaha maleducado da peste esse Sukehiro.

E agora como tu vai se livrar dessa, Charlotte? Todo mundo jogando contra você. hahaha



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