O Sequestro escrita por Rafaello


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo, vamos desenrolar um pouco do passeio de Violeta e Pedro. Será que foi uma boa ideia ter aceitado beber com ele?
Boa leitura!



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   Em pouco tempo chegamos ao 32. O bar do qual adorávamos ir quando estávamos juntos. O bar do qual ele conseguiu um bico para tocar bateria nas noites. O bar do qual ele me traiu com vagaba da garçonete.

   --Jura? – Perguntei.

   --Relaxa, ela não trabalha mais aqui – tentou tranquilizar-me, meio que inutilmente quando estacionamos.

   Estava cheio. As luzes coloridas lá dentro. Muita gente cumprimentou ele quando entramos. Garçons, a banda deu um alô, os dois barmans, a secretária na porta e umas pessoas nas mesas. Tudo bem até aí.

   Sentamos numa mesa alta pra dois bem no meio, aonde a música ecoava, as luzes bem acima de nossas cabeças.

   --Fala, chefe. Moça bonita.

   Um dos garçons parou de frente para nós com bloquinho de anotações e caneta. Eu sorri, estranhando.

   --Duas Coronas pra começar e umas fritas. Bem, rapidinho, Marcito – ele descontraiu com o menino.

   Ele se afastou e retornou em segundos, abrindo as long necks geladinhas na nossa frente.

   --Hum.... chefe? – Perguntei depois de uma golada.

   Ele riu.

   Pedro era assim. Era bonito. Muito bonito. Daqueles morenos com sorriso fácil e olhos sedutores, ombros não muito largos e o corpo magro. Mas ele tinha um tom hipnotizante se reparasse bem.

   --Você está sentada bebendo com o mais novo sócio do 32’s Bar.

   Ele virou a cerveja da garrafa e acenou, pedindo mais duas.

   Eu quase cuspi o líquido que tinha na minha boca.

   --Você o quê?

   Agora ele gargalhava.

   --Tá me zoando!

   --Não! – Ele quase gritou, mas ainda ria. – Eu realmente comprei parte do bar. Agora ao invés de tocar todos os dias, eu toco somente às sextas.

   Assimilei enquanto bebia. Legal, feliz por ele.

   --Espera! Hoje é sexta. Vai tocar hoje, então?

   Ele assentiu quando chegaram as outras cervejas. Virei a minha e comecei a nova.

   Bebi um pouco mais rápido tentando acompanhar o ritmo dele, ao mesmo tempo digerindo as informações recentes.

   --Quem diria. Como conseguiu dinheiro?

   Na época em que namorávamos, ele estava sempre duro. Mas nunca me importei de pagar as contas (sendo elas, TODAS).

   --Juntei uma grana tocando e acabei conseguindo o valor, já que o pai do dono morreu e ficou uma parte vaga.

   Uau!

   E seguimos bebendo.

   A música estava alta com o DJ, comemos as fritas que chegaram.

   E bebemos.

   Uma.

   Duas.

   Três.

   Quatro.

   Cinco.

   Seis.

   1h da manhã.

   Sete.

   Oito.

   Nove.

   Dez.

   Onze.

   Às 2h da manhã ele entrou no mini palco com a banda principal e sentou na bateria.

   Fiquei observando sentada na nossa mesa, tinha uma visão privilegiada dele. As luzes coloridas em todo o bar, galera pulando e gritando, vibe contagiante, música ecoando, cerveja fazendo um efeito terrível na cabeça. Estava tudo ótimo.

   O cabelo dele já estava colado na testa por causa do suor, mas eu não percebi quando ele começou a suar.

   Eu estava suada. Minha roupa estava molhada, o cabelo pingando.

   Ele sorriu pra secretária da porta?

   Eu pisquei, ele segredou alguma coisa no ouvido dela no meio das batidas nos pratos.

   Pisquei de novo, ela vinha na minha direção.

   Comecei a enxergar as coisas em vermelho.

   Demorei a me dar conta de que minha franja havia murchado para cima do meu olho todo devido ao suor que saía do meu cabelo.

   A secretária, porteira, segurança, eu realmente não sei dizer o que ela era, se aproximou de mim tão rápido. Um segundo estava com o ouvido na boca de Pedro, dois segundos, estava na minha frente.

   --Trouxe mais uma cerveja, Violeta.

   Ela abriu e colocou em cima mesa na minha frente.

   Eu fiz cara de poucos amigos. De fato, estava bêbada demais para disfarçar qualquer coisa.

   --Pedro me pediu que te acompanhasse até a sala dos fundos, que é por onde ele vai te levar pra casa. Ele pediu pra avisar que o show já está acabando -- ela tentava falar ao meu ouvido também, mas tinha que gritar para que eu ouvisse.

   Eu assenti com a cabeça e posso jurar que vi Pedro piscando para mim em meio aos movimentos na bateria.

   Catei minha nova cerveja aberta com as mãos e segui a mulher.

   Fomos passando pelo meio da galera, alguns empurrões, deixaram alguma bebida bem melada cair em mim, molhou mais ainda meu casaco e respingaram gotas para dentro da minha bota, molhando minha meia.

   Saímos da muvuca e seguimos por um corredor longo e escuro.

   A música parecia reverberar pelas paredes. O chão tremia embaixo dos meus pés. Eu agarrei a cerveja com força e bebi pelo caminho.

   Em algum momento estava tão escuro, que eu só conseguia observar a mulher a minha frente. Seu uniforme branco guiava como luz pelo corredor. O cabelo preto em um coque bem preso. Ou era roxo? Não conseguia distinguir a cor dos cabelos dela. Deus, o quanto eu bebi?

   Andamos.

   --Essa sala fica aonde? Já estamos andando há um tempo...

   --É realmente bem nos fundos. Fica próxima da saída. Uma das últimas -- ela sorriu com uma voz tranquilizadora. -- Senhor Pedro é muito exigente e não gosta que as fãs da banda o sigam. Ninguém vem pra cá, vocês vão poder ficar a sós e depois saírem sem serem vistos.

   Meu passo diminuiu. Minha perna deu uma leve falhada.

   "Senhor Pedro?"

   --Olha... Eu não sei o que ele te disse, mas... Não vamos ficar a sós, eu não sou mais namorada dele...

   Eu consegui dizer isso em voz alta ou estou tão bêbada que não consigo nem me ouvir?

   Finalmente ela abriu a última porta no final do corredor. A sala estava apagada, e sem a luz do corredor, não pude enxergar nada.

   Mesmo assim entrei e olhei ao redor.

   --Não, menor condição de esperar p... ele aqui, frio... demais. Dá pra asssss... luz? -- Minhas palavras saíam rápidas e emboladas.

   --Você pode acender atrás da porta, bem aí.

   Ela disse como se eu estivesse enxergando alguma merda naquele lugar.

   E a bobona foi procurar o interruptor. Foi quando ela bateu a porta atrás de mim e trancou-me naquela sala escura e gélida.

   --Ei, -- eu bati. -- Tá brincando, né?

   Nada.

   --O senhor Pedro virá em breve.

   Gente, mas que merda é essa?

   Que mané senhor Pedro. Que palhaçada! Eu tinha mesmo que esperar trancada?

   --Garota, abre isso. Eu não quero esperar esse babaca aqui. Vou embora.... Ssssssozinha.

   Minhas palavras ainda estavam enroladas. Na minha cabeça, eu falava perfeitamente. Na realidade, a língua estava pesada demais para me deixar formular uma palavra correta.

   Fiquei batendo na porta por um tempo. Não sei quanto. A música do bar, por mais incrível que parecesse, não chegava até ali.

   Só havia o silêncio. Eu só podia ouvir a mim mesma batendo na porta.

   Quando cansei, tentei girar a maçaneta.

   Nada.

   Aos poucos, minha visão foi se acostumando ao ambiente escurecido.

   Pude vislumbrar a sala onde eu me encontrava. Havia um sofá grande, mas eu jamais acertaria a cor no estado em que eu estava. Realmente havia um bocal para uma lâmpada bem acima da minha cabeça, mas não tinha uma lâmpada nele. Não tinha janelas. Aliás, não tinha mais nada. Somente um sofá. Cheguei perto dele e sentei.

   --Bom, vou acabar de beber essssssssssa merda e esperar o senhor Petro -- eu cuspi com tanto ódio o nome dele, que acabei falando errado.

   Acabei a long neck no que pareceram horas.

   Levantei de novo e andei pela sala. Não deveria ter mais de 2m quadrados aquele lugar. Mas como eu poderia calcular bêbada e no escuro? Tropecei em alguma coisa que deu um grande estalo enquanto andava de um lado para o outro, e algo caiu no chão sem barulho. Fui apalpando e achei uma roupa. Tecido.

   Tecido fino. Parecia claro. Branco? Levei um tempo até descobrir que era um vestido de alça fina. Talvez branco. Ou amarelo, champanhe, rosa claro, poderia ser qualquer cor clara.

   Cheirei. Recém lavado com sabão em pó barato. Coloquei de volta no que descobri também depois ser uma arara de madeira com apenas um gancho.

   Sentei no sofá. Esperei mais tempo, batendo os pés. Que horas ele viria? Quanto tempo eu já estava ali? Estava tão bêbada e cansada.

   Minha visão começou a me pregar peças, inventando formas no escuro. Tive medo. Frio. E cansaço. Encostei no sofá. Era de couro gelado. Me enrosquei em mim mesma, apertando meu próprio corpo com meus braços. Só queria que minha roupa secasse daquele suor misturado com bebida, porque estava me causando arrepios de frio.

   Eu podia jurar que ouvi gritos e lamúrias quando caí no sono.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?
Comentem!!!

Sem lista de personagens.



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