Caminhante noturno escrita por elda


Capítulo 1
único




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 Era noite, a cidade continuava movimentada e Zoro seguia para lugar nenhum vestido com um moletom por fazer frio. Em dado momento, começou a seguir a linha do trem sobre sua cabeça e encontrou alguns moradores de rua procurando algum lugar para se aquecerem naquele outono gelado, mas parou os passos ao ver um rapaz loiro apoiado numa pilastra, ele fumava um cigarro e tinha um olhar distante, exatamente como ficava na sua carteira fitando a janela da sala de aula.  

Se chamava Sanji. 

Não tinha o costume de guardar nomes ou rostos de colegas que não lhe eram muito íntimos, mas Zoro acreditava que guardava o rosto de Sanji por conta de suas sobrancelhas enroladas serem muito ridículas. Claro que o ar misterioso que o loiro exalava o deixava curioso, entretanto, ele nunca admitiria isso. Nunca admitiria que uma pessoa entretinha seus olhos castanhos.  

O fato era que, querendo ou não, Sanji mexia com ele por achar que os dois fossem iguais e, assim como ele, estava ali debaixo da linha do trem num horário fora do comum. Pensou em chegar perto e perguntar por que estava naquele local, mas não tinha intimidade pra isso, também achava que caso conhecesse Sanji, saberia que ele não seria especial e muito menos parecido com ele. Seria como os demais... 

Por isso, deu meia volta e passou a andar pra longe dali. Era o que pretendia até Sanji lhe chamar, embora não fosse bem o seu nome, era algo como “marimo”.  

Voltou para o sentido de antes, sentindo os olhos azuis mirando nele. Não teve dúvidas que o sobrancelhas se referia a ele, até porque não havia mais ninguém, e se aproximou acreditando que Sanji o chamara daquela forma por não saber o seu nome. Caso se apresentassem devidamente, não teriam mais dúvidas de como se chamavam.   

No entanto, Zoro se sentiu triste por Sanji não saber o seu nome. Não era como se fosse um iludido, ele tinha quase certeza que Sanji não prestava atenção nele, mas ainda havia um pouco de esperança que o loiro fizesse o mesmo: que o observava de longe e sentia curiosidade para conhecê-lo.  

Assim que esteve perto o bastante, Sanji assoprou a fumaça do cigarro no seu rosto, fazendo-o tossir imediatamente. O marimo voltou a abrir os olhos furioso e com um pensamento impertinente na cabeça de que Sanji era um babaca — e nada especial. No entanto, quando o olhou novamente, se encontrou com o sorriso petulante nos lábios rosados e teve uma sensação que nunca sentira antes na vida.  

Parecia que Sanji era o diabo e pedia sua alma em troca de algo. Por não estar de joelhos e nem estar desesperado, mas frio e firme, só fazia Zoro pensar que o loiro não seria um reles mortal. Que, na verdade, estaria brincando com fogo. Que, na verdade, seria especial. 

— Me diga, marimo, você me seguiu até aqui?  

Zoro piscou os olhos confuso e não respondeu, um certo temor apoderou-se dele.  

— Já notei seus olhares. — Completou ainda com o sorriso cínico, que carregava o cigarro aceso.  

O temor que sentia virou desespero, fazendo o sangue subir até sua cabeça. Zoro descobriu que Sanji percebera seus olhares e sentiu vontade de se esconder num buraco, ainda mais por ter sido descoberto pelo próprio, mas o loiro começou a rir.  

— Eu tô brincando! — Disse enxugando os olhos de tanto rir. — Eu só gosto de passar o tempo pensando que todos tem algum interesse por mim. Qual é o seu nome?  

Zoro se recompôs enquanto pensava que diachos de passatempo esquisito — como se o dele de observar e imaginar como Sanji seria não fosse um também —, então, respondeu:  

— Zoro.  

— O meu é Sanji. Nós somos da mesma turma, certo?  

— Sim.  

No exato momento em que Zoro respondeu, o trem passava nos trilhos e eles tiveram que tampar seus ouvidos com as mãos, rindo um para o outro com o barulho ensurdecedor e a velocidade que fazia esvoaçar suas roupas e cabelos.  

Marimo, não quer ir até o Mcdonalds? Acho que lá é melhor para conversar.  

De novo o chamara por aquele nome, embora tivessem se apresentado um para o outro. Dessa vez, não havia dúvidas que o loiro estava o provocando. 

Sobrancelhas, por que então resolveu vir pra cá?  

Sim, ele deu um apelido a Sanji também. Era igualmente infantil e até riu internamente ao se deparar com a cara descontente do outro. 

— Oras, eu não pretendia conversar com alguém. — Respondeu Sanji, ainda bravo com o apelido que ganhara. — E quanto a você?  

— Eu? — Disse mais perguntando pra si próprio do que para o loiro ao lado, que acendia outro cigarro dessa vez aborrecido — o de antes escapara pela boca quando o trem passou. — Eu não pretendia encontrar alguém.  

Sanji passou a andar ao redor de Zoro, deixando-o novamente constrangido. — É, parece que gostamos de um tempo só para nós.  

Zoro acenou com a cabeça e, embora estivesse encabulado com os olhos azuis mirados nele, respondeu:   

— Sim, um longe de gente babaca.  

Ao ouvir tais palavras, Sanji parou seus passos atônito, mas abriu um largo sorriso. — Eu te compreendo! — Exclamou e levou as mãos do bolso para os ombros de Zoro, impressionado por ele ter falado algo que pensava. — Ei, será que tu pode me passar seu whatsapp? 

E por mais que teimava de que não tinha interesse por ninguém, como a caminhada noturna e solitária lhe provaria naquela noite, Zoro deixou escapar um sorriso por descobrir que Sanji era de fato que nem ele. 

Durante aquela conversa, ele esteve preparadíssimo para se decepcionar, porque ele sabia que não seria logo a pessoa que mais observava que lhe compreenderia, mas parecia que a realidade não era assim tão dura. Seu coração se encheu de felicidade ao saber que não estava só. E seu companheiro era justamente o sobrancelhas que tanto admirava e que tanto gostaria de se aproximar. 

— Claro. 

Fora a solidão de ambos que os uniram. 


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