A Deusa da Morte escrita por Aline Lupin


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Bom, é isso por enquanto. Até quarta que vem =)



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Os músicos foram admitidos na mansão do conde Derby, na entrada dos criados e foram conduzidos pela governanta até o salão de baile. Mais alguns companheiros compunham a orquestra daquela noite e já estavam aguardando eles. Todos se cumprimentaram. Emily ficou contente por ver que Amélia ainda compunha o grupo. Ela se sentia sozinha com aqueles cavaleiros e com a entrada de Amélia, tocando o segundo violino, ela tinha com quem conversar. Apesar de William e Richard aceitarem bem Emily, o restante a tratava com desdém ou até mesmo com brincadeiras de mau gosto. Eram repreendidos, é claro, por Mikael e seus dois amigos. E só por isso ela era tolerada. William, que tinha uma mente muito a frente de seu tempo, trouxe sua prima Amélia para compor a orquestra, pois o rapaz que tocava o segundo violino havia contraído tuberculose e estava à beira da morte.

E começaram a tocar, assim que o salão se encheu de pessoas da aristocracia, novos ricos e comerciantes. Conde Derby era conhecido em Londres por convidar vários tipos de pessoas e se relacionava com qualquer um. Ele era motivo de piada dentro dos círculos da nobreza, mas ele sempre dizia que era necessário fazer conexões, pois a aristocracia já estava com os tempos contados, desde o fim do século XIX. Ele não iria perder ótimos contatos e ser mesquinho, não abrindo suas portas para novos ricos e comerciantes. E em seu salão havia muitos americanos que procuravam casar suas filhas com nobres arruinados e apoiavam os investimentos de Derby, nos Estados Unidos. Derby apenas estava juntando o útil ao agradável.

As damas giravam no salão, com seus vestidos coloridos, junto com os cavaleiros elegantes. Havia máscaras de vários tipos. Com penas, multicoloridas. O baile era exótico. Algumas damas até mesmo escolheram trajes antes do período vitoriano, imitando Maria Antonieta. Ninguém quase se reconhecia e esse era o intento do baile, ser algo misterioso. Lady Derby fez questão que fossem assim, justamente para se tornar a sensação da temporada. Todos sorriam pela hospitalidade daquele casal e estavam ávidos para conhecer o filho deles, Perseu. Ele era o filho mais velho do casal, que iria assumir o título de conde. Era um ótimo partido e ainda não havia adentrado o salão. Se havia adentrado ninguém sabia como ele estava trajado e lady Derby  manteve segredo.

A orquestra tocava músicas de vários compositores. Emily sentia a melodia da orquestra e estava mergulhada naquele som divino. Não prestava a atenção nos casais, apenas em executar a música com seu violino. Ela estava de olhos fechados e não percebeu que era observada a distância. Um rapaz de cabelos castanhos e cacheados a admirava. Parecia embevecido pela beleza exótica de Emily. Com a máscara branca em seu rosto ele não seria reconhecido por ninguém e poderia desfilar pelo salão sem ser parado. Ele tentou ver mais daquela beldade e ficou o mais próximo que pode, para observa-la. Mikael, que tinha uma sensitividade aguçada, sentiu a presença do cavaleiro em questão. Não sabia dizer, mas estava incomodado. Emily, ao abrir seus olhos, pode ver o cavaleiro a observando. Ela notou que ele não vestia vestes de gala do século XIX, como era pedido expressamente pelos anfitriões, mas uma roupa mais moderna e elegante. Seus olhos azuis a fitaram com misto de surpresa e devoção. Ela ficou sem folego e até mesmo perdeu a atenção e desafinou, mas voltou ao normal em seguida. Ele lhe dirigiu um sorriso afável e continuou a fita-la. Ela fixou seu olhar em outro ponto, se sentindo incomodada.

Ele, para disfarçar, dançou com algumas damas, mas mal prestou a atenção na conversa entediante delas. Seu olhar era dirigido várias vezes a aquela dama misteriosa, tocando o violino. Queria e iria conhecê-la, essa era sua vontade. Os músicos tiveram uma pausa para descanso, depois de uma hora de baile. Emily estava cansada e suava, pelo calor abafado do salão. Foi direto a mesa de bebidas e se serviu de uma limonada. A mão de alguém tocou a sua e ela olhou para cima e pode ver o rosto do cavaleiro da máscara branca. Sobressaltou-se e deu alguns passos para trás. Viu que ele estendia uma taça de champanhe. Ela não bebia nada alcoólico e não aceitou o que lhe oferecia.

— Por favor, senhorita, queira me perdoar – ele diz. Sua voz de veludo era calma e serena, causando arrepios em Emily. Ele deixa a taça sobre a mesa e lhe dirige um olhar curioso – Minha intenção não era assusta-la.

— Claro, eu não o vi chegar perto. Eu estava distraída – ela diz, em um sussurro.

— Eu a vi tocar e não pude deixar de me aproximar – ele continuou a falar – A senhorita toca divinamente. E nunca vi alguém tocar com tanta paixão. Estava de olhos fechados, muito diferente dos seus colegas. Aprecio muito a música e tinha que a conhecer, mais de perto. Sei que é de mau gosto falar contigo sem ao menos ser apresentado. Mas, veja, era uma questão muito importante. Também sou músico e tinha que trocar impressões com alguém que executa uma melodia tão bem. Qual seria seu nome? Estou muito curioso.

Ela respira fundo, ouvindo ele se explicar. Não sabia o que sentia, mas parecia atraída por ele e por seu mistério.

— Meu nome é Emily – ela responde – E tenho certeza que o senhor está exagerando quanto as minhas habilidades. Meus colegas também tocaram com muito afinco.

Ele ri. Sua risada preenche o ser dela, fazendo-a ficar tonta. Ninguém nunca havia despertado aquela sensação antes e ficou preocupada. Agarrou a saia do seu vestido, com força, tentando conter os tremores involuntários do seu corpo.

 - Não estou a mentir, senhorita Emily – ele diz – Eu sei quando reconheço um músico talentoso e a senhorita é. Mas, queira me perdoar, acho que fui muito intrometido.

Ela queria concordar que sim, que ele era muito intrometido e soberbo. Mas, não disse nada. Não sabia quem era e temia falar algo que o desagradasse.

— Bem, eu queria muito convida-la para dançar – ele comenta – Mas, vejo que não terei essa oportunidade tão cedo. Por favor, quero conhece-la melhor, se possível.

Ela estava prestes a negar, quando um cavaleiro se aproxima. Ele vestia uma mascara preta e trajava roupas adequadas para o evento. Seus cabelos castanhos estavam levemente bagunçados. Ela sabia quem era pelos olhos verdes.

— Senhor Adam, que surpresa – ela diz, contente ao vê-lo – Eu não sabia que estaria aqui.

Ele se aproxima. O cavaleiro de máscara branca parecia muito incomodado por ter sido interrompido e permaneceu no mesmo lugar a observa-los. Queria entender qual era a relação deles e se haveria empecilhos para ser mais próximo de Emily.

— Eu fui convidado – Adam diz, sorrindo – E não poderia deixar de vir, pois sabia que estaria aqui, essa noite – ele toma a mão de Emily e beija o seu dorso.

Ele afasta Emily da mesa e os dois caminham até a sacada, deixando o homem misterioso para trás. Ele sente a irá tomar conta de si, quase incontrolável. Se aproxima do casal, furtivamente, sem que eles notem.

— Senhorita Emily – ele diz, se apoiando no parapeito da sacada. Lá de baixo poderia se ver o jardim e alguns casais conversando – Eu quero que saiba que a estimo muito.

Ela assente, se recostando no parapeito, ao lado dele. Ela observa o céu estrelado, se sentindo entusiasmada pela presença de Adam.

— E eu também, senhor – ela diz, sincera.

— Eu sei que ainda é cedo, que mal nos conhecemos – ele continua, tomando a mão dela – Mas, não sei se consigo esperar.

Ela sente seu coração acelerar, quase sair pela boca.

— Eu quero que seja minha esposa – ele sussurra, quase não conseguindo dizer aquilo. Estava ruborizado.

Ela não precisou pedir que ele repetisse, pois havia escutado o pedido dele.

— Está a falar sério? – ela pergunta, perscrutando seu olhar.

Ele assente.

— Estou...eu, não sei o que está acontecendo comigo, Emily – ele diz, apertando as mãos dela – Somente sei que não consigo ficar longe de ti...eu preciso vê-la todos os dias. Seu sorriso me ilumina, sua voz me encanta. E quando toca o violino...eu... – ele respira fundo. Está tremulo da cabeça aos pés. Assim como ela – Eu acho que a amo.

Ela lhe sorri, ternamente.

— Não precisa explicar o que sente – ela diz, com candura – Pois aqui, dentro de mim, posso sentir suas intenções. Vejo em seus olhos e em seus gestos. E aceito ser sua esposa. Também sinto isso. Nunca imaginei sentir algo tão bonito.

Ele lhe sorri, beijando a mão dela. Estava extasiado por ser aceito. Havia conversado com seus pais, que aprovaram sua escolha. Com Mikael, já havia pedido a benção. E faltava Flora. Ele iria pela manhã pedir a mão de Emily. Ele, tomado pelo impulso apaixonado, enlaçou-a pela cintura e a levantou do chão, fazendo-a soltar um gritinho de surpresa.

— Estou tão feliz, Emily – ele diz, soltando a no chão, sem retirar suas mãos da dela.

— Eu também, Adam, eu também – ela diz, com a voz embargada.

O homem mascarado os fita, com ódio. Aperta seus punhos e se afasta daquela cena enjoativa. Não irá desistir de Emily, não agora que a encontrou.


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Notas finais do capítulo

Deixou aqui um link do youtube, com músicas que poderiam ter sido executadas por Emily, Mikael e seus colegas.
https://www.youtube.com/watch?v=nd-WQm9sFjo



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