De repente no futuro escrita por WinnieCooper, Laura Vieira


Capítulo 10
Quem é Marcela?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806489/chapter/10

Petruchio não estava preparado para aquela conversa, na verdade nem sabia o que contar sobre Marcela. Era um passado de tanto tempo atrás, uma mulher tão insignificante em sua juventude. A única coisa que lembrava era do pai dela o acusando de corromper a sua inocência a levando ao mal caminho, por isso levou sua doce filha, um anjo, para morar na Europa.

— Marcela mora nas oropa, é insignificante.

Catarina estreitou seus olhos diante da resposta dele. Seu bichinho da desconfiança lhe gritando no ouvido que Marcela não era nada insignificante.

— Não foi isso que lhe perguntei Julião Petruchio! Não quer que confie em você? Como vou confiar se não me conta nada sobre ela? Parece até que tem medo dela.

— Eu? Medo de mulher? - ele riu sarcástico. - Onde já se viu Julião Petruchio com medo de mulher?

Desatou a rir e não parava, Catarina lhe deu um tapa no ombro o fazendo a encarar.

— Me conte sobre ela! - exigiu entredentes.

— Aí Catarina, Catarina… - ele coçou os cabelos da nuca, como iria fugir? Talvez se só narrasse por cima, a esposa não perceberia. Comprovou o fato de ter medo de mulher, pelo menos de sua mulher. - Era uma namorada minha, só…

— Uma namorada que te manda cartas até hoje? Mesmo casado e com filhos! CA-SA-DO Julião Petruchio! E ela te manda CARTAS!

— E eu tenho culpa? - ele deu de ombros tentando parecer inocente o que irritou mais ainda Catarina que começou a rugir. Petruchio engoliu em seco e começou a falar: - Ela gostava muito de eu quando era jovem, só que pra mim ela só era uma diversão, entende?

— Não, não entendo! - cruzou os braços na frente do corpo - Homens como sempre achando que mulheres são o que? Um pedaço de carne. - comentou mais para si mesma e chacoalhou a cabeça indicando para ele continuar a falar. - Vá! Continue!

— Eu sou home né Catarina, sempre tive minhas necessidades! - ela começou a negar com a cabeça e soltar ar pelas narinas. - E o pai dela, dessa Marcela, num gostô não quando discubriu que a filhinha não era o anjo que ele achava que ela era, e me culpou, por corromper ela.

— E o que? Continua! - nessa altura Catarina tinha deixado de lado todo o plano inicial de ser mais paciente com o suposto marido.

— E aí ele me ameaçou, falou que um dia ia ter volta, mas que ia mandar a menina pras oropa. Aí foi que passou anos, e eu achei que ele tinha era isquecido da promessa de vingança, só que aí ele começou a ameaçar de tirar a fazenda de mim! A fazenda Catarina, meu pão, meu sustento, minha herança de meus pais. Foi então que precisei arranjar dinheiro pra quitar a hipoteca, tava indo a leilão e o pai dessa Marcela ia comprar só pra se vingar!

Ela concordou com a cabeça se lembrando.

— Eu lembro de você desesperado vendo um jornal que sua fazenda estava indo a leilão. Como resolveu as coisas?

Ele respirou forte, será que podia contar a ela? Bom, já havia falado coisa bem pior a esposa.

— Seu pai.

— Meu pai? - perguntou surpreendida não entendendo.

— Seu pai… seu pai pagou a dívida da fazenda e ficou com os papel pra ele, entende? Só ia me devolver a fazenda quando eu… quando eu… casasse com ocê.

— O que?! - sentiu-se tonta. - O que ele fez?

— Então aí eu acordei aqui… - terminou de contar como se a esposa não estivesse passando mal pela informação que Petruchio repassou. - Num sei, mas ele tava praticamente te… te… ven… negociando num casamento… - sussurrou a informação a esposa como se aliviasse a fúria que se seguiu.

Ela rugiu nervosa, fechou os olhos de raiva, procurou alguma coisa no quarto para jogar tamanha fúria, só encontrou as botinas velhas do marido no chão, jogou as duas contra o guarda-roupa.

— Meu pai me vendeu para você?!

— É uma palavra muito forte vendê né? Todo pai faz isso Catarina. - ele deu de ombros, começou a bater no ombro dela.

— Meu pai sempre quis se livrar de mim, sempre fui um fardo para ele! Mas ao ponto de me vender?!

Ela comentou consigo mesma raivosa, o marido continuava a bater no ombro.

— Bom, pensa pelo lado bom, pelo menos ocê casou com eu, deu tudo certo e nois inté tivemo nossos filho, somos uma família feliz e eu quitei a dívida da fazenda.

— Feliz? Feliz?! - ela olhou raivosa para ele. - Você chama isso de felicidade? Morar nesse fim de mundo, me prender a um marido, viver amarrada para sempre e não poder mais ser a mulher que pretendia ser porque meu pai resolveu quitar sua dívida e você teve que me conquistar para casar com você? Chama isso de vida?!

Para Petruchio era sim a melhor vida que um dia ele quis e enfim vivia, a fazenda prosperando e os filhos com saúde. Mas para Catarina parecia sempre um castigo.

— Ocê é assim memo né não? Uma ingrata! Isso porque ocê começou a conversar comigo de manhã toda delicada, quereno paz! Tô vendo a paz. - começou a sair do quarto chateado, mas Catarina levantou a voz não deixando.

— Espere aí! Quero ler a carta!

— Que carta? - Petruchio olhou para ela confuso.

— Sabe muito bem que carta!

Ele negou com a cabeça, não queria lhe entregar a carta de Marcela, nem ele sabia seu conteúdo.

— Oh Catarina, essa vida é a melhor vida que um dia eu sonhei ter, ocê acha que esse Petruchio ia memo ligar pra o que essa Marcela falaria?

— Eu não sei, não conheço esse Petruchio tão bem, só conheço você, que até então achei que havia casado comigo porque queria e não porque tinha uma dívida com meu pai.

Ele negou com a cabeça cansado de brigar com ela. Sentou-se na cama.

— O Calixto me entregou a carta e me disse que esse Petruchio dessa realidade nunca lia e sempre amontoava a carta no guarda-roupa.

— Ah! Então existem mais cartas?! - questionou com a voz fina e perplexa.

— Eu não sei Catarina, acordei aqui junto com ocê sem saber de nada, se esqueceu?

— Então deve entender que não vou brigar com você se fez algo que não devia porque tecnicamente não era esse Petruchio que está na minha frente agora. Vá pegue a carta! - exigiu entredentes e sem paciência

Petruchio tinha certeza que ela brigaria consigo seja por qual motivo fosse mesmo não sendo culpa dele, mas não disse nada. Foi até o lugar que tinha escondido a carta no dia anterior e resgatou o envelope receoso.

Catarina esticou a mão esperando, mas ele falou:

— Ocê deixa eu ler primeiro então.

— Pra quê? - ela perguntou com as mãos na cintura quase sem paciência.

— Pra saber se eu vou ter que dormir com as vacas pra sempre antes d'ocê.

Ela revirou os olhos para cima, não confirmou que ele podia ler primeiro, mas esperou que ele abrisse o envelope e pegasse o papel, quando correu a arrancar o envelope de suas mãos e se atentou ao remetente.

MURIEL MARCELA DE ALMEIDA LEAL

— Que nome mais… - não sabia o que esperar daquele nome, achou que Marcela seria seu primeiro nome.

Tentou imaginar as feições da mulher quando se atentou ao lugar da onde ela enviava a carta.

PARIS - FRANÇA.

— Ela mora na França e te envia cartas?!

Petruchio não estava prestando atenção nela passava os olhos por todo papel e sua testa estava enrugada, Catarina bufou nervosa e não aguentando mais de curiosidade, puxou a carta para si. Começou a ler.

"Continua ignorando minhas cartas? Oras Petruchio, alguma delas você deve ter lido, a curiosidade deve ter lhe corroído. Como sempre, vou te atualizar, sim moro na França, Paris é apaixonante, é tudo tão moderno e contagiante, as pessoas não reparam em nada, eu sou livre aqui. Saio todos os dias, para bares, restaurantes e teatros, me delicio com as melhores comidas, com os melhores vinhos e drys Martines e é claro, com os melhores espetáculos. Meu último marido morreu faz dois meses e estou sozinha. Sei que você também está sozinho já faz algum tempo. Quando irá desistir dela? Catarina não irá voltar mais para você, precisa aceitar e deixar ela partir. Eu posso te fazer feliz, seria uma ótima madrasta para seus filhos, imagina a educação primorosa que daria para esses gêmeos adoráveis, olha que eduquei Bianca, aquela menina mimada.
Ainda lembro dos seus beijos, da sua barba passando por meu pescoço, dos seus dedos me tocando em toda extensão do corpo fazendo minha pele arrepiar e todas as sensações que só senti com você. Só você me causou isso. Sei que prometi que sempre teria ódio de você, me traiu nos meus últimos dias no Brasil indo atrás de sua adorável favo de mel, você me passou para trás, mas como posso me culpar, me deixei iludir por você. O único capaz de me causar todas as sensações adormecidas e que quero e preciso sentir de novo. Já vivenciei tanta coisa Petruchio, nada e nem ninguém chegou aos seus pés. Sabe aquele ditado que o proibido é mais gostoso? O inalcançável para mim é o mais saboroso, mas irei alcançar, sei que sim, está cada vez mais perto. Eu sinto.
Deixe Catarina partir, é errado retardar o final. Quando a deixar ir, estarei aqui lhe esperando, para cuidar de você como merece.

Marcela".

Catarina amassou a carta em seus dedos raivosa, olhou para Petruchio que estava de cabeça baixa sentado na cama.

— O que significa isso?

— Eu não sei.

— O que significa tudo isso que ela falou?

— Não sei Catarina. - negou com a cabeça encarando a esposa que estava vermelha, seu rosto inteiro estava vermelho, parecia uma panela de pressão prestes a explodir.

— Por que ela insistiu em dizer para você me deixar partir?

— Eu já te disse antes de abrir essa carta que eu não sabia de nada como ocê não sabe da realidade desse Petruchio. Eu não sei porque ela falou pra deixar ocê partir.

Catarina podia sentir uma lágrima se formando no canto de seu olho, certeza que era de raiva.

— Anda me traindo nessa realidade, só há essa explicação para ela insistir para que você me liberte e me deixe ir! - concluiu por si mesma o que Marcela dizia em carta. - Pois fique sabendo Petruchio que não vou deixar que tire meus filhos de mim, eles jamais terão uma madrasta como ela! Eles tem uma mãe em primeiro lugar!

Petruchio que até então continuava com a cabeça baixa, levantou encarando ela surpreendido.

— Então quer dizer que ocê se apegou neles. - não deixou de sorrir.

— Me apeguei a o quê?! - não entendeu sobre o que ele dizia.

— Aos nossos filhos Catarina, nossos! Até dias atrás eles era só meus filhos, e eu tinha me apaixonado por eles muito rápido. Agora parece é uma mãe pata com os patinhos debaixo das asa. - ele sorriu dando uma pequena risada no final o que irritou Catarina mais ainda.

— Que tipo de vitória acha que está tendo sobre mim? Isso aqui não é sobre nossos filhos, mas sobre o fato de provar que o Petruchio dessa realidade e o de qualquer outra é igual a todos os homens! VOCÊ É UM TRAIDOR!

Terminou enfática saindo do quarto pisando alto. Petruchio abanou a cabeça tentando não pensar nisso. Pegou os restos da carta jogada no chão, começou a pensar o que as palavras de Marcela queriam dizer.

Catarina tremia de raiva, parecia que ia desmaiar, fora seus olhos que estavam marejados, tinha certeza que se falasse alguma coisa em voz alta ia começar a chorar. Foi para a cozinha, percebeu que Neca estava sozinha. Precisava perguntar.

— Neca… - sussurrou.

— Ara dona Catarina, a senhora tá é branca. O que aconteceu?

Catarina abanou a cabeça e olhou para o lado, certificou-se que não havia ninguém por perto e continuou:

— Você conhece o Petruchio, não é?

Neca estreitou as sobrancelhas estranhando:

— Mas ocêis não cansam de brigar, num é? - Neca nem esperou a patroa terminar a pergunta.

— Acha que o Petruchio poderia me trair? Mesmo com dois filhos pequenos e um na barriga?

Neca negou com a cabeça pensando que a vida naquela fazenda era mesmo uma vitrola riscada, sempre voltavam para os mesmos problemas.

— Não, não e não, seu Petruchio nunca que ia trair a senhora e ele ama demais essas crianças pra perder elas pra uma mulher qualquer.

— Então porque ele está recebendo cartas de outra mulher. Pior Neca! Uma ex-namorada. - sua voz estava tão fina e baixa que Neca achou ter ouvido um soluço de choro.

— Essa Marcela sempre que tentou separar ocêis, sempre! E a senhora nunca que deixou. Vai abalar o casamento por causa de uma carta? Seu Petruchio nunca que saiu dessa fazenda pra ir atrais dela. Seu Petruchio ama demais a senhora para arruinar tudo por essa mulher que só quer o mal dele.

Catarina parou de encarar ela, não conseguiu mais disfarçar algumas lágrimas que caiam, respirou fundo tentando se controlar, ouviu passos, se Petruchio entrasse na cozinha e visse ela chorando que desculpa arranjaria?

— Madrinha, a senhora não vai na cidade com nós? Seu Calixto tá esperando com a carroça, achei que a madrinha ia escrever para o jornal hoje.

Catarina se assustou, pensou rápido, fez sim com a cabeça, analisou sua roupa.

— Um minuto Buscapé.

Foi correndo se trocar, afinal ela tinha um emprego, como pôde se esquecer disso? Petruchio observou ela toda arrumada depois de trocada. Parecia que ia a uma festa, estava de vestido de alças e um xale nos ombros, seu perfume em seu pescoço embriagante, um salto tão fino que se preocupou em como ela conseguia parar em pé.

— Cê vai na onde? - perguntou vendo ela pegar uma bolsa na sala apressada.

— Não interessa. - respondeu rude. - Um traidor não merece minha resposta.

Deu as costas a ele e correu até a carroça. Enfiou o salto na terra fofa antes de conseguir subir, (com muito esforço, depois de remexer muitas vezes e por fim com a ajuda de Buscapé) na carroça.

— Arriegua dona Catarina, inté parece que a senhora vorto nos tempos de nunca ter andado de carroça. - Calixto comentou dando um puxão na corda fazendo o cavalo andar.

Catarina gritou assustada com os braços esticados tentando manter o equilíbrio. Sentiu seu bumbum doer a cada solavanco do veículo. Olhou para trás. Viu Petruchio chateado na varanda olhando para ela se distanciando cada vez mais. Pensou que era melhor assim, ficar um tempo longe dele lhe faria bem.

— Evite os buracos seu Calixto! Aiii! - Pior experiência de sua vida andar naquela carroça, se soubesse onde trabalhava certamente iria dirigindo, mesmo nunca tendo dirigido antes em sua vida.

Depois de longos minutos que pareceram horas para Catarina, Calixto parou a carroça em frente ao prédio da revista feminina.

— É aqui?! - ela perguntou frustrada.

— Mudou o endereço? Num tô sabendo. - Calixto respondeu confuso.

Catarina tentou descer sozinha, mas ficou confusa em qual lugar colocar seu pé. Por fim, Buscapé ajudou ela a descer. Catarina reparou nos rostos confusos de ambos. Pelo jeito aquela Catarina não só dirigia um automóvel e galopava em seu cavalo perfeitamente por aí, mas também utilizava aquela carroça sem estranhamento ou dor alguma.

— Por que estão me olhando? Estou grávida se esqueceram? Não queria machucar o bebê se acaso pisasse em falso para descer da carroça.

Calixto e Buscapé concordaram com a cabeça assim que compreenderam tudo.

— Na hora do almoço eu passo e pego a senhora então. Inté mais tarde dona Catarina. - Catarina se despediu de ambos e se voltou para o prédio do jornalista Serafim. Estava intrigada. Será que escrevia para ele? Mas ela havia lido uma matéria sua em um dos jornais mais importantes de São Paulo. Abanou a cabeça, resolveu entrar, não resolveria mistério algum ficando parada.

Empurrou a porta da revista e encarou a mudança no local, dias atrás havia estado lá com Dinorá, agora percebia que as máquinas de escrever pareciam mais modernas e encontrou duas mulheres trabalhando num canto, anteriormente havia só homens.

— Catarina, achei que não viesse. Se atrasou? - Catarina olhou para seu anfitrião. Jornalista Serafim estava a encarando sorridente, reparou que ele estava mais velho, seu cabelo com fios de cabelo branco mais aparentes e sua mão carregava uma aliança, se lembrou que tinha o visto com Dalva na igreja.

— Até onde sei, cheguei no horário. - Catarina lhe respondeu sem paciência.

Continuou a olhar em volta reparou nos armários de ferro que certamente continham documentos ou no mínimo algumas informações de todos aqueles anos que se passaram. Tentou caminhar até lá, mas a voz do jornalista lhe interrompeu novamente.

— E seus escritos? Achei que viria com vários papéis na mão como sempre vem.

— Decidi escrever por aqui mesmo. Afinal suas máquinas de escrever são mais rápidas que meus frágeis dedos, não é? - ela o olhou sarcástica. - Sabe jornalista Serafim, queria fazer uma pesquisa nos arquivos, procurar algumas informações antigas para comparar com algumas atuais.

— Fique a vontade, estarei na minha mesa. Só se lembre que o artigo deve ficar pronto até o final do dia. O dono do jornal não permite atrasos.

Ela concordou com a cabeça e se encaminhou para o armário. Viu que as edições das revistas estavam todas lá, separadas por ano e meses. Foi para cinco anos atrás, no mês em que a festa de carnaval fora de época que seu pai deu. Percebeu que tinha uma matéria sobre o evento.

"Na mansão do banqueiro Nicanor Batista muitas pessoas participaram do carnaval fora de época, com as mais variadas fantasias, indo dos tempos mais antigos como homem das cavernas (uma fantasia que causava espanto em todas as mulheres inocentes não acostumadas a ver um homem semi nu - quase um desrespeito) até as mais inusitadas como uma mulher pirata…"

Catarina correu os olhos e percebeu que Serafim havia escrito aquele artigo. Ergueu seu olhar até ele e reparou que ele estava escorado na cadeira, com o chapéu sob sua cabeça, parecia estar tirando um cochilo. Deu dê ombros, voltou a procurar revistas. Naquele mesmo ano encontrou uma com outra fofoca de sua família e pôde então ver a foto da tal Marcela.

"No mínimo inusitado e moderno o casamento do banqueiro Nicanor Batista e a jovem Muriel Marcela. A noiva entrou de vermelho. No começo da cerimônia ela estava de branco, começou a se coçar loucamente e aL gritar que era pó de mico. Sem saber qual a origem do pó de mico (dizem as más línguas ter sido obra da filha mais velha do senhor Batista - Catarina), todos os convidados esperaram pacientemente na igreja a noiva voltar. Logo estava ela, entrando triunfalmente de vermelho e chamando toda a atenção para si. O casamento ainda teve outra surpresa maior na festa. A filha do senhor banqueiro havia guardado apólices aplicadas por seu pai, toda herança de sua mãe, no cofre da casa de Batista. E tudo foi roubado. Catarina Batista Petruchio, ficou rica e pobre novamente no mesmo dia. A polícia está averiguando toda situação e os suspeitos, qualquer informação é válida já que qualquer pessoa pode resgatar essas apólices e ficar rica”.

Catarina parou de ler. Tentou raciocinar. Ela sabia que sua mãe havia lhe deixado uma herança, mas não sabia que fim havia levado. Será que tinha sido roubada e nunca recuperou o dinheiro?

Resolveu perguntar disfarçadamente para Serafim:

— Ahahahah estava aqui relembrando o casamento de papai com Marcela. Se lembra jornalista Serafim? - ela tentou rir dando a entender ser uma lembrança engraçada. Serafim ergueu o rosto assustado com a pergunta.

— Uma sucessão de surpresas naquele casamento.

— Sim, o pó de mico, quem será que colocou no vestido da noiva? - Catarina fingiu inocência sabendo mesmo sem ver a cena e saber os trâmites que havia sido ela mesma a realizar o ato.

— Odiava a Marcela desde aquela época, não é Catarina?

— Por que? Teria outros motivos para odiar ela mais agora?

— Depois de tudo o que ela fez com você, Petruchio, Bianca e seu próprio pai, acho que sim. Mas veja. Ela está na Europa, até onde sei…

— Viúva! Marcela está viúva! - Catarina não aguentou e lembrou da informação que havia lido na carta.

— Dizem as más línguas que ela é uma viúva negra. Sabe? Igual aquela aranha que depois do acasalamento mata seu macho. Todos seus casamentos com homens ricos e idosos acabaram em tragédia, dois deles em menos de seis anos. As duas mortes suspeitas, um se afogou na própria banheira, outro morreu de infarto num restaurante depois de ingerir um dry martine. Todos sem família para deixar a herança ficando tudo para ela.

— Está insinuando que… - Catarina não completou seu pensamento.

— Eu não insinuei nada. Você que pensou. Mas onde há fumaça há fogo! Às vezes fico imaginando do que Petruchio escapou. Lembra? Você grávida e ela planejando cruzeiro com seu marido. No fim, Petruchio só queria que você recuperasse sua herança. E conseguiu.

Catarina começou a respirar forte. Colocou a mão na barriga. Tentou imaginar ela tentando separar Petruchio de si com ela grávida dos gêmeos.

— Como ela pôde? E Petruchio caiu na conversinha dela? Se ele cair de novo eu juro que pego essa criança e ele nunca mais a vê!

Falou sozinha, num súbito surto de raiva, mas Serafim estava atento e ouviu tudo. Raciocinou rapidamente:

— Está grávida Catarina!

Catarina o encarou preocupada. Ele não havia lhe feito uma pergunta.

xx

Petruchio correu para o guarda-roupa, começou a procurar todas as outras cartas que Marcela havia lhe supostamente enviado, já que Calixto havia soltado essa informação antes, achou algumas soltas e jogadas. Recolheu dez no total. Começou a observar a data e descobriu qual fora a primeira. Abriu:

“Meu Deus Petruchio que tragédia, não sei o que te escrever. Mas precisei rapidamente lhe enviar esse telegrama pra te dizer que estou aqui para lhe dar todo o suporte que precisar. Li hoje no jornal que a renomada jornalista estava entre a vida e a morte no hospital depois de sofrer um acidente de carroça no meio da chuva. Logo associei a Catarina. Pior, ela está grávida, que situação triste. Não consigo imaginar o quão devastado deve estar. Estou cogitando ir ao Brasil para lhe auxiliar nesse momento difícil. Me mande notícias. Marcela”

Petruchio abanou a cabeça não entendendo nada, do que Marcela estava falando?

Abriu a segunda carta:

“Duas semanas sem acordar. Não acha estranho Petruchio? Catarina está sobrevivendo por aparelhos, não é justo deixar ela na terra quando Deus quer ela ao seu lado. Oras não se preocupe com seus filhos, sei que arranjará uma esposa a altura para cuidar deles. Me mande notícias. Marcela”.

Petruchio abriu todas as outras cartas, todas com a mesma variação de assunto: “deixe Catarina partir”, “faz muito tempo”, “está gastando muito dinheiro mantendo ela viva no hospital”, “deixe ela partir”. “Olhe meu marido acabou de morrer, me candidato a ser madrasta do seus filhos…”

Petruchio estava cada vez mais confuso. Voltou a olhar no guarda-roupa, subiu numa cadeira para ver se não tinha nenhuma outra carta com mais informações para que ele lesse e entendesse toda aquela loucura. Marcela só poderia estar doente, Catarina estava bem e do seu lado o tempo todo durante aquela viagem no tempo que viviam. Achou algo mais curioso. Uma notícia de um jornal, recortada e dobrada. Desdobrou. Começou a ler:

 

“Catarina Batista Petruchio sofre acidente gravíssimo na estrada voltando a sua casa nessa segunda-feira dia 13 de fevereiro

 

 

Parecia uma segunda-feira comum, depois de um dia de trabalho chegar em casa e encontrar os filhos a recepcionando e seu marido. Catarina sempre foi uma mulher à frente de seu tempo. É ela que trabalha fora e não Julião Petruchio, que fica em casa cuidando da produção de queijo e outros laticínios de sua empresa, Catarina voltava de carroça naquele 13 de fevereiro, mesmo tendo um automóvel de última geração em sua fazenda, estava chovendo bastante, a estrada tinha vários buracos, ela mesma havia feito várias reclamações formais na prefeitura sobre as péssimas condições de percurso. Testemunhas disseram que foi numa curva que o cavalo acostumado com aquela estrada deu um solavanco e fez a carroça virar. Catarina bateu a cabeça numa pedra. No hospital descobriram que ela está grávida, ainda em um começo de gestação. Seu marido está bem abalado e não sabe como vai dar a notícia a seus filhos sobre a mãe que agora está dormindo em estado de coma”.


Petruchio negou com a cabeça, correu para o calendário pendurado em cima da escrivaninha. O mês: fevereiro de 1932, era uma segunda-feira, dia 13”.

Sentiu um frio na espinha. Sua visão começou a ficar escura. Precisou se sentar. O que estava acontecendo?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "De repente no futuro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.