A Procura de uma Mãe escrita por brunadanih
Ariana estava a dormir profundamente, era de manhã, mas estava demasiado cansada. Porém subitamente foi acordada por uma mão que lhe dava leve palmadinhas no rosto.
— Mamã, mamã. – A mulher abriu os olhos e sorriu para a filha de dois anos.
— O que foi Eleanor? – A filha estava visivelmente excitada. – O pai foi só comprar croissant.
— Olha mamã. – De repente, Ariana viu uma asas de cor creme saírem das costas da filha e ela começar a voar em direção ao teto o que a fez agarrá-la num impulso. O coração estava acelerado. A filha mal falava, a filha mal andava e agora tinha asas? Raphael não a avisara de tal, é claro que era uma hipótese, mas assim do nada? – Estás chateada, mamã?
— Claro que não, minha querida, mas temos que ter cuidado, tens que ter cuidado para não mostrar às outras pessoas e… Não sabes como voar, podes perder o controlo e eu também não te posso ensinar isso. Vamos esperar pelo pai. Agora, que me dizes, queres os croissants ou faço umas panquecas deliciosas? – Os olhos da pequena brilharam, ela gostava de croissant, mas preferia ainda mais as panquecas da mãe.
— Panquecas! – Ariana esperou que a filha recolhesse as asas e levou-a até à cozinha sentando-a num banco da ilha enquanto cozinhava as panquecas. Quando já tinha 10 panquecas preparadas, Raphael chegou.
— Bom dia às mulheres da minha vida. – Ele cumprimentou bem-disposto, dando um beijo na testa á filha e de seguida um beijo profundo nos lábios de Ariana segurando-a fortemente pela cintura. Adorava o facto de estar constantemente a sentir necessidade dela e do seu toque. – Tínhamos combinado croissants. – Ele falou sério, sem se chatear, era impossível zangar-se com Ariana.
— Eu sei, mas precisei de distrair a Eleanor. – Ela sussurrou-lhe ao ouvido o que lhe despertou a curiosidade. – Filha, não queres mostrar ao teu pai o que me mostraste há pouco?
— Sim. – Raphael olhou as asas da filha com orgulho e com lágrimas nos olhos. Sabia que era uma possibilidade, mas vê-las ali tão reais era indescritível. – Papá…
— Oh Eleanor, estou tão feliz e com tanta inveja da mãe ter sido a primeira a ver esta maravilha. – As duas riram. – Vou-te ensinar tanto. Achas que consegues tirar umas férias? – o Anjo perguntou-lhe.
— Vou fazer o que conseguir. Quero assistir a essas aulas de perto. – Ela sorriu. – Agora vamos às panquecas e aos croissants com nutella. – Os três sentaram-se e tomaram o pequeno-almoço com toda a alegria que era provocada por aquela atmosfera de amor.
Ariana acordou com lágrimas nos olhos. Sentia saudades da filha que provavelmente estaria o dobro do tamanho. Era nestes momentos que ela mais se revoltava contra Raphael. Não lhe dera ela indícios que faria tudo por eles?
Quando chegou à esquadra naquele dia, dirigiu-se para o seu gabinete e sentou-se esperando que alguém a requisitasse. Não tardou que lhe batessem à porta.
— Entre. – Lucifer mostrou ser a pessoa por trás da porta e apareceu com o semblante sério.
— Rapaz de 19 anos, Luke Evans, morto largado ao pé de uns contentores de lixo. – A mulher suspirou. Investigar crimes não era nada fácil, muito menos quando envolviam a morte de pessoas. Era terrível perceber o quão as pessoas se julgavam Deus para tirar assim vidas. A mulher tinha a certeza que apenas seria capaz de matar uma outra pessoa em legítima defesa de si e das pessoas que amava. Levantou-se e pegou nas chaves do carro.
— Hoje levo o meu carro, quero almoçar quando tiver fome. Ver se a Ella hoje vai. – Lucifer deixou-a passar e de seguida fechou a porta.
— Hoje vou convosco. – Ella já se dirigia a eles.
— Ótimo, então vamos. Lucifer, põe aí a localização no meu telemóvel, por favor. – Ariana pediu enquanto ajudava Ella. O homem pegou no telemóvel dela que já estava na aplicação do mapa, porém saiu sem querer e verificou que o fundo de Ariana eram dois pares de asas de anjo de cor creme, um maior e outro mais pequeno.
— És mesmo crente, não és? Até asas de anjos tens como fundo no smartphone. – Ele comentou entregando-lhe o telemóvel enquanto Ella e Ariana arrumavam as coisas na mala.
— E por que razão tiveste que sair do mapa? Eu não te dei o telemóvel para andares a coscuvilhar! – Ariana estava irritada, tinha essa imagem porque com o desaparecimento Raphael de alguma forma desaparecera com todas as fotos da filha e dele. Era uma representação das pessoas que ela mais amava no mundo.
— Não foi minha intenção. – O homem falou sem pedir desculpa, não tinha feito nada de errado. Lucifer dirigiu-se para a porta do passageiro.
— Não, a Ella hoje vai à frente. – Ariana respondeu com um sorriso.
— Ah, não é preciso. – Ella falou sem graça. Entendia que Ariana não ficara contente com a ação de Lucifer. O anjo olhava para Ariana irritado.
— Mas eu prefiro a tua companhia, portanto agradeço que vás à frente. – Ariana direcionou o seu olhar para a morena. Lucifer dirigiu-se à porta de trás e sentou-se. Ela ia ter aquilo que quisesse, mas ele não se calaria durante toda a viagem.
Assim que arrancaram viagem, Lucifer começou a falar:
— Foi um acidente ter visto a imagem de fundo, Ariana.
— Já o disseste. Aconteceu, agora já está.
— Mas já que vi, não queres explicar essa imagem? – Tanto Ella como Lucifer a olhavam atentamente. Queriam descobrir mais sobre ela.
— É como tu dizes, menina criada em colégio de freiras tradicional. É normal que ponha em prática as minhas crenças. – Ela respondeu simples. Não estava a dizer a verdade, mas eles não precisavam de a ouvir.
— Mas porquê umas mais pequenas e outras maiores?
— E por que não? – Não sabendo o que responder pareceu-lhe o mais fácil a ser dito.
— Então acreditas em Deus? – Desta foi Ella que questionou. Ela própria tinha acreditado, mas após os últimos eventos duvidava da sua fé.
— Sim.
— Não sentes dúvidas? – Ariana olhou de relance para Ella e percebeu a dúvida no seu olhar. A mulher ao seu lado passava por uma altura de questionamentos.
— Claro que sim. – E era verdade. Ariana, desde os 8 anos, estudara num colégio interno, de freiras, e isso incutira-lhe o catolicismo e a fé cristã e com tudo isso a vontade de ajudar e de mudar o mundo. Por isso decidira que quisera fazer um curso na área da saúde e que gostava de ajudar a justiça, não por pensar que as pessoas devessem ser aprisionadas ou julgadas, mas por acreditar na inserção e na educação. Afinal, a maior parte dos criminosos de crimes mais violentos surgia vindo de uma situação de pobreza e faziam tudo para sobreviver. Porém, Ariana acreditava que se houvesse igualdade de oportunidades para todos, se todos tivessem acesso à educação, se houvesse tratamentos para quem cometia um crime, a taxa criminal diminuiria em todo o mundo. – Mas é completamente natural termos dúvidas da nossa fé. O questionar é tão importante como o acreditar cegamente. A procura de respostas é tão importante como o alcançar delas. Todos nós já acreditamos que Deus nos abandonou. Para te ser sincera, Ella, eu acredito que Ele me abandonou, mas não acredito que Te tenha abandonado a ti! – E era verdade, Deus não acolhia as suas preces de encontrar a filha e Ariana bem sabia que suplicava todos os dias.
— Oh que bonito. Deus é um sacana, abandonou toda a gente há muito tempo. – Ariana olhou para Lucifer pelo retrovisor. – De que te vale acreditar Nele se achas que Ele te abandonou?
— Bem, se tu, sendo o Diabo, andas pela Terra, é bom que acredite Nele. Deus nos livre de ti! – Ariana exclamou divertida fazendo Ella rir. Sabia que a morena precisava de algo para desanuviar o ambiente. Lucifer acompanhou o riso de ambas, era bom ver Ella a rir.
A conversa seguiu muito mais leve. Apesar de Lucifer e Ella desconfiarem nela e dela estar constantemente a analisar Lucifer, ela gostava deles e acreditava que eles também gostavam dela, mas estavam na defensiva.
Ao chegarem ao local, Ariana apercebeu-se que era um sítio mais precário e perigoso.
— Luke Evans, ninguém viu nada, dois tiros modelo execução de gang. – Daniel falou assim que eles se aproximaram. Ella começou logo a tirar fotos. Ariana olhou em volta, não se via ninguém para além da pessoa que encontrara o corpo, um homem nos seus quarenta com um cão beagle. – Martin Lowe, passeia o cão aqui todos os dias, para o poder soltar à vontade.
— Vou falar com ele. Lucifer queres vir?
— Sim, claro.
— Bom dia, Mr. Lowe. – Ariana cumprimentou com um aperto de mão assim que chegou com Lucifer. – Ariana Carvalho, FBI, trabalho para a LAPD. Este é o meu colega, Lucifer Morningstar.
— Bom dia. – O homem estava visivelmente transtornado pelo cenário. – Eu estava a passear com a Nala e… Ele estava ali assim, liguei assim que retomei a mim. Ariana abaixou-se e fez festas à cadela, sempre adorara animais, mas não tinha tempo para os ter.
— Percebo que deve ter sido muito difícil, Mr. Lowe, mas fez o certo. Conhece a vítima?
— Não, mas parece tão jovem. – O homem estava triste.
— Não mexeu no corpo, pois não?
— Não, está como o encontrei. Queria ter-lhe fechado os olhos, mas achei que seria melhor não. – Ariana acenou com a cabeça.
— E viu mais alguma coisa fora do normal neste local. – O homem acenou negativamente com a cabeça. – Pode ir, Mr. Lowe. Se precisarmos de si, voltamos a contactar e pode ficar com o meu número caso se lembre de algo. – O homem afastou-se com Nala e Ariana virou-se para Lucifer, tinham poucas pistas para avançar com o caso. Seguiu para junto de Daniel. – O que sabemos da nossa vítima?
— Não muito, Luke Evans, andava ainda no secundário, vivia em West Adam, sem família. Era ajudado pela igreja de St Peter. – Ariana olhou-o, era a igreja que ela agora ajudava com as crianças.
— Vou falar com Padre Johnatan. – Ariana falou convicta. – Eu vou àquela igreja e já falei algumas vezes com o Padre, pode ser que nos ajude a perceber com quem ele estava envolvido.
Quando Ella acabou a perícia e enviou a recolha para laboratório, juntou-se a eles que ainda conversavam sobre o pouco que sabiam de Luke.
— Miss Lopez, temos que ir à igreja de St Peter. – Lucifer avisou.
— Importas-te que passemos lá, Ella, ou ponho-te primeiro na delegacia?
— Eu apanho boleia e vou com as pistas. – Ella dirigiu-se à carrinha acenando para eles. Lucifer e Ariana avançaram para o carro da última.
— Agora podes vir à frente. – Ela afirmou sorridente.
Chegando à igreja, Ariana apressou-se em direção à sacristia sendo seguida de Lucifer. Quando Padre Johnatan a viu cumprimentou-a com um sorriso e com um abraço. Era um homem na casa dos 30 que nutria uma simpatia por todos e que gostava de ajudar sem olhar a quem.
— Ariana, que te traz aqui?
— Ah padre Johnatan, estou em trabalho, este é o meu colega Lucifer Morningstar. – Assim que falou, a mulher percebeu que talvez tinha sido um erro levar Lucifer, o nome dele era praticamente um insulto dentro duma igreja.
— Ah que nome deveras interessante. – Eles apertaram as mãos.
— Oras Padre, é algo que um simples exorcismo resolve. – Lucifer respondeu com ironia.
— Bem, o que me traz aqui não são boas notícias, Padre Johnatan. – Ela falou mais séria. – O Luke Evans foi encontrado morto.
— Não é possível. – O homem sentou-se sendo acompanhado por Ariana. – Ele só precisava de uma oportunidade para sair desse mundo em que sempre viveu.
— Eu sei que é difícil Padre, mas pode-nos dizer com quem estava envolvido? – Ela questionou.
— Com os White Gems. – Ele respondeu. – Acho que tem a ver com drogas…
— Obrigada, Padre, é uma ajuda muito importante.
Lucifer e Ariana seguiram para a esquadra, porém antes Ariana parara num local para comprar hamburgers, comprando para ela, Daniel, Lucifer e Ella. Assim que chegaram lá foram todos para o gabinete dela para falarem do caso e comerem.
— O que sabemos dos White Gems? – Ela questionou Daniel.
— Um dos piores gangues que há na rua em LA. Droga, prostituição, contrabando, tráfico. Mas são poderosos, não é fácil chegar a eles.
— Eu tenho uma forma de chegar a eles. – Lucifer afirmou de sorriso bem aberto. – Fui convidado para uma festa por um associado deles, Paul Smith, pelo menos é o que dizem.
— E quando é essa festa? – Ariana perguntou.
— Esta noite, às 9h30.
— Não convém ir uma força policial, não sabemos se estão envolvidos e pode haver problemas. – Daniel afirmou.
— Claro. Achas que me consegues arranjar um convite, Lucifer? – Ariana olhou-o expectativa.
— Não.
— Mas ela pode ir como tua acompanhante. – Ella sugeriu. – Nessas festas deve ser o mais comum, homens andarem com mulheres exibindo-as como um troféu. – Ariana concordou com a afirmação, infelizmente nada fugia ao machismo da sociedade.
— Eu não vou a uma festa com ela!
— É trabalho Lucifer, não é uma festa para nós. – Eles olharam-se enquanto ele tomava uma decisão.
— Tens razão. Eu vou buscar-te a tua casa.
— Podemos ir com o meu carro. Eu vou buscar-te ao Lux.
— Eu não vou aparecer numa festa com o teu carro. – Lucifer falou simples.
— Muito bem. Eu passo-te a morada. Como é suposto ir vestida? – O homem olhou-a de alto a baixo.
— Sexy, se fores capaz. – Ela assentiu sem ligar a provocação.
— Como assim, Lucifer? Tu sabes bem que a Ariana é capaz disso! - Ella afirmou ao que todos a olharam. – Hum, quer dizer, olha para ela. - Ella disfarçou gesticulando as mãos na direção da loira. – Ela é linda.
— Obrigada, Ella. Não te preocupes, Lucifer, eu não quero manchar a tua reputação. Bem, Daniel, podes ficar aqui para conversarmos com o capitão sobre esta operação?
— Eu não tenho nada a dizer? – Lucifer estava irritado.
— Penso que o Daniel vai ser muito melhor nesta negociação. E precisamos de alguém que esteja como apoio, acho que o Daniel pode desempenhar esse papel.
— Eu não me importo por ti, Lucifer, mas é meu dever proteger a minha colega. – Lucifer saiu junto com Ella.
— Daniel, se quiseres podes falar comigo sobre o que sentes. – Ariana falou suavemente.
— Ele sabia, Ella, ele sabia que o Pierce não era quem dizia ser, e não avisou ninguém sobre isso. Porque ele dizia que não iam acreditar, mas ele nem tentou. Pelo menos a mim... E a Charlote morreu por causa dele. – Ariana suspirou, não sabia dessa história, apenas sabia que o Pierce era na verdade o Sinnerman. – Ou pelo menos desconfiava. Eu culpo-o a ele.
— Daniel, percebo a tua dor, e admiro-te por conseguires trabalhar com ele. Até eu tenho algumas dificuldades para lidar com o Lucifer. Ele é arrogante, inconveniente, intrometido e desconfia de mim, embora isso todos o façam.
— Mas gostas dele. – O outro constatou.
— Ah, é uma pessoa leve, às vezes o facto de ele me irritar dá-me vontade de o irritar de volta e adoro isso. – Daniel riu. – Mas Daniel, não vale de nada culpar as pessoas, o importante é lidares com a tua perda. E sei que não é fácil, mas o tempo ajuda, sabes? – Ariana já vivera muitas perdas, primeiro o pai, depois o avô e de momento Raphael e Eleanor.
— Mas esta raiva que sinto está a consumir-me.
— Já tentaste terapia? Daniel, se quiseres, marcamos umas conversas para te ajudar com o luto. Sem pressões, só se for essa a tua vontade. – O homem olhou para ela e assentiu.
— É importante conseguires dizer a quem quer que seja o que a Charlote significava para ti, o que a sua perda te leva a sentir, verbalizar é muito importante.
Na hora seguinte, Daniel falou tudo o que tinha vivido com Charlote, tudo o que tinha sentido e sentia por ela e Ariana escutou, viu-lhe as lágrimas correrem pelo rosto e ambos deixaram que isso acontecesse.
Na meia hora seguinte falaram com o capitão e organizaram a missão e quando saíram, dirigiram-se ao laboratório onde estavam Ella e Lúcifer.
— Temos autorização para avançar. – Daniel afirmou. – Podemos sair mais cedo. Diz-me onde é a festa para poder estar por perto sem levantar suspeitas.
— Posso ir? – Ella perguntou.
— Deixa-me perguntar ao capitão. – Daniel afastou-se para ligar ao chefe.
— Enviei-te a minha morada, Lucifer.
— Já reparei, local muito fancy para uma Agente do FBI. - O homem comentou. Já reparara que Ariana teria algumas posses pela roupa que usava.
— Herança de família. – Ela respondeu simples.
— Ella, podes ficar na carrinha comigo. – Daniel voltou a entrar no laboratório. – Vamos descobrir quem matou o Luke.
Todos eles estavam focados naquele caso, era praticamente uma criança que morrera por não ter tido a hipótese de viver uma vida normal. Ariana sabia que estes casos afetavam ainda mais os investigadores, ela própria o sentia.
Quando Ariana chegou a casa decidiu que o melhor seria descansar um pouco e decidiu dormir até às 18. Estas missões à paisana deixavam-na sempre ansiosa, pois muita coisa podia sair do controlo.
Quando se levantou foi tomar um banho e comer algo rápido. Ao escolher um vestido optou por um dourado e curto, sexy como Lucifer tinha pedido. Calçou umas sandálias do mesmo tom, secou o cabelo colocando um creme para não estragar, maquilhou-se e verificou que não conseguia pôr nenhuma arma escondida. Porém, aquilo era uma simples festa para interrogar alguém que podia dar mais informações.
Por volta das 20h30, Lúcifer mandou-lhe um SMS dizendo que estava à sua espera na entrada. Espreitando para fora, Ariana observou Lúcifer encostado ao carro no lado do passageiro examinando os arredores.
Quando Lúcifer viu a casa, percebeu que só poderia ser mesmo herança porque Ariana não podia ser corrupta, ela já passara por muitos sítios para conseguir fazer tal coisa e chegara há pouco tempo ali. Assim que Ariana saiu de casa, Lucifer deteve o seu olhar nela. Como é que era possível ela estar ainda melhor do que a noite que a tinha visto no Lux? Usava um vestido curto dourado com um decote revelador que tinha umas correntes que traçavam a linha dos seus seios, o mesmo tipo de correntes que apertava o vestido por trás do pescoço. Na zona da clavícula esquerda Ariana tinha uma tatuagem da Ursa Menor, dando destaque à estrela polar, algo que ele ainda não tivera o prazer de ter visto. No lado direito ele percebeu que ela tinha uma racha que subia praticamente até ao início da sua cintura. Ariana estava linda e apresentava um bronzeado invejável notando que era sua cor natural. E aqueles olhos, lá estavam aqueles olhos determinados do primeiro dia que a vira, os olhos que o fizera falar tantas vezes de si como a mulher dos olhos azuis.
— Olá Lucifer, estou bem o suficiente para não passares vergonhas? - Ela perguntou dando uma volta o que fez Lucifer reparar nas suas costas nuas e notar ainda mais as suas curvas. Com um olhar mais atento Lúcifer reparou que ela não usava qualquer roupa interior o que o fez sorrir.
— Estás maravilhosa. – Lucifer não mentia, essa era a sua máxima, mas não pôde deixar de notar que ela ficara surpreendida com o elogio.
— Não estava à espera de que fosses simpático.
— Só sou incapaz de mentir. – Ele abriu-lhe a porta e ela entrou no carro pensando na sua afirmação. Se ele era incapaz de mentir isso significava que era o Diabo? Ou isso era a sua verdade?
Lucifer entrou no carro e arrancou a toda a velocidade. Pelo canto do olhou observou o cabelo de Ariana ao sabor do vento e viu-a fechar os olhos sentindo a brisa da noite. Permitiu-se sorrir, era tão fácil esquecer que ela era a inimiga, a outsider. Algo dentro de si sabia que não se tinha que preocupar com ela, que ela não queria magoar a Detetive, nem ninguém, mas tinha que ter a certeza.
- Para disfarçar, vou ter que te apresentar várias pessoas. Digo o teu nome ou preferes outro? - Ele questionou, queria dizer o seu nome, adorava dizê-lo.
- O meu nome. Nestas festas ninguém olha realmente para os acompanhantes. Pelo menos a ponto de se importarem com nomes.
- Pois, porque acredita, assim que entrarmos naquela festa, todos os olhos se vão virar para nós, e por muito que eu queira ficar com a glória, muitos desses olhares vão estar postos em ti. – Ariana riu, sabia que isso iria acontecer, tinha essa experiência e sabia que era uma mulher desejável. Lucifer permitiu-se ser contagiado pelo seu riso, ambos estavam ansiosos para conseguir desvendar a morte de Luke.
- Talvez tenha sorte esta noite e não saia apenas com um assassino dali, mas com alguma companhia para fechar o dia. – Ela disse na brincadeira. Sabia que não queria arranjar tal companhia naquele tipo de festas.
- Não me parece que os convidados daquela festa façam o teu género, Ariana.
- Ah e como podes saber tu o meu género, garanto-te que ficarias surpreendido. – Ela sorriu, a verdade é que Ariana já se interessara por pessoas bastantes diferentes entre si e a única coisa que poderia dizer que teriam em comum era o facto de se focarem nela, de a tratarem bem e de lhe darem prazer, querendo sempre o próprio prazer, mas dando igualmente.
- Provavelmente, o género de homem bom cristão e devoto. Imaculado e gentil. Gentil em todos os sentidos.
- Uau Lucifer, a tua capacidade de ler as pessoas é excelente. – Ela respondeu irónica. – Partes logo do princípio de tanta coisa, é incrível como nada nessa frase está certo.
- Hum, duvido muito, mas acredito que mais cedo ou mais tarde irei descobrir. – Se ele realmente fosse o Diabo, iria descobrir isso, sem dúvida.
Quando estacionaram em frente à enorme mansão onde se realizava a festa, Ariana enviou mensagem a Daniel a avisar e ambos combinaram que ela enviaria mensagem caso fosse necessário algo.
Lucifer saiu primeiro do carro e seguiu para lhe abrir a porta, porém um empregado já se adiantara e pegava na mão de Ariana que prontamente lhe sorriu. Lucifer percebeu que este não era um ambiente estranho para a loira. Quando ele entregou uma gorjeta ao empregado, encostou a sua mão nas costas de Ariana indicando a direção da porta de entrada. A sua pele era suave como seda e o leve arrepio que a mulher sentiu fez o homem sorrir. A mão de Lúcifer ficara meros segundos nas suas costas, mas Ariana sentira a temperatura quente, as mãos experientes a fazer a mínima pressão para a arrepiar fortemente. Ao recompor-se, Ariana enganchou o seu braço no de Lúcifer e ambos entraram na casa. Estava cheia e apesar dos empregados e da mansão clássica, as pessoas que se encontravam lá não tinham todas fatos ou roupas de grife. Assim que entraram, Ariana apercebeu-se que Lucifer estava certo, muitos olhares estavam sobre eles e Ariana sentiu o desejo de alguns.
Nos quinze minutos seguintes, Lucifer apresentara as mais variadas pessoas até chegar a Paul.
— Ah Lucifer fico feliz que tenhas aceitado o convite, agora que trabalhas com a LAPD pensei que já não querias saber de nós.
— Eu quero sempre saber de vocês. – O homem garantiu e era verdade, afinal estava ali para verificar quem matara Luke. – Esta é a minha acompanhante, Ariana. – A mulher sorriu-lhe sedutora.
— Sempre nas mais belas companhias, Lucifer, posso oferecer alguma bebida?
— Claro, um sex on the beach, por favor. - Ariana sorriu-lhe convidativa. Lucifer observou a cena com um sorriso. A loira sabia o que fazia.
Paul afastou-se para ir buscar a bebida enquanto eles observavam de longe.
— Podes ir agora Lucifer, eu digo-lhe que viste alguém que te quis mostrar algo. Vou ver se ele se interessa em mim.
— Certo. Se precisares de alguma coisa, faz um zero com o indicador e o polegar. – Ariana assentiu e ele seguiu caminho.
— Aqui está, Ariana. – Paul chegou com a bebida. – Onde está o Lucifer?
— Foi ver alguma coisa com alguém. Soube que a festa é tua, está ótima. – Ela elogiou. – Fazes este tipo de festas muitas vezes?
— Oh sim, é uma das vantagens de ser eu.
— Não me importava nada que esta fosse a minha vida. – Ela suspirou e bebeu um gole. – Acredito que estas festas tem todo o tipo de diversão. – Ela falou com intenção no olhar.
— Tal e qual como qualquer festa do Lúcifer. – Ariana sabia o tipo de festas que o colega costumava dar.
— Ou seja, as melhores diversões. - Ariana deslizou três dedos pelo seu decote e abriu ligeiramente a boca.
— Acho que o Lucifer deve ter essa diversão preparada para ti.
— Ah, isso sem dúvida, mas essa diversão já experimentei. E bem, o Lucifer farta-se muito depressa das pessoas, eu acho que eu mereço que não se fartem tão rápido não achas, Paul?
— Diria que mereces ser tratada como queres. A dúvida é como é que tu queres?
— Sem me preocupar com nada. Que me deem as coisas e eu não sou egoísta, eu dou em troca, da forma como quiserem. – Ariana aproximou-se de Paul e passou a língua entre os seus lábios o que fez o homem focar-se na sua boca húmida.
— Como quiser? – Paul apertou-a pela cintura.
— Então Paul, há alguma coisa que queiras com a Ariana? – Lucifer aproximara-se percebendo que não a devia deixar sozinha.
— Eu e o Paul estávamos a conversar sobre como éramos capazes de nos satisfazer um ao outro. – Ariana sorriu para Lucifer, queria trucidá-lo por ter interrompido.
— Paul, estás a aliciar a minha companhia? – O Anjo perguntou para o homem e puxando Ariana pela cintura.
— Ah Lucifer, eu penso que o Paul cumpriria muito melhor as minhas necessidades.
— E por que razão não resolvemos isto entre nós, uma disputa entre homens e assim a Ariana podia avaliar melhor? – Ele dirigiu-se a Paul.
— A sério que queres lutar comigo? – Paul questionou descrente. – Vamos mesmo lutar?...
— Não é a isso que o Lucifer se refere. – Ariana falou espantando os dois. – Penso que ele se refere a uma avaliação minha dentro de quatro paredes, avaliando a vossa performance. Não é, Lucifer?
— A Ariana percebe-me tão bem, não achas Paul? – Ele obrigou-se a dizer com um olhar malicioso.
— Achas que podemos usar um dos quartos, Paul? – Ariana questionou aproximando-se dele.
— E por que não?
Em cinco minutos os três já subiam em direção aos quartos e Ariana sorria vitoriosa. Assim que entraram no quarto, ela sentiu Paul a encostá-la contra a porta e quando ele estava prestes a beijá-la, Lucifer interrompeu.
— Calma, garanhão. Acho que mereço o primeiro contacto não achas? – Ariana sentiu o seu telefone vibrar e sabendo que podia ser algo sobre a missão tinha que atender.
— Meus senhores deixem-me apenas preparar-me. – A mulher entrou no WC e atendeu a chamada, ouvindo atentamente sem fazer nenhum som para que não se apercebessem da conversa. Assim que desligou a chamada, pensou e ajoelhou-se sobre a sanita simulando sons de vómito. No outro lado do quarto os dois homens ouviram. Lucifer olhou preocupado para a porta e Paul riu.
— Terá bebido demasiado? - Ariana saiu do WC com um sorriso embora se notasse estar um pouco abalada.
— Onde é que estávamos mesmo? – Ela questionou avançando para Paul, mas segurou Lucifer antes de alcançar o outro. - Não me estou a sentir muito bem... - Ela disse antes de desmaiar e ser automaticamente segurada por Lucifer.
— Ariana, Ariana. - Ele deitou-a na cama desesperado e preocupado. Será que Paul lhe tinha posto algo na bebida? Tinha que fazer alguma coisa.
— Ah bem, vocês podem ficar aqui, eu vou ver se encontro outra companhia. – Paul saiu do quarto e Lucifer continuou a abanar a mulher. O que lhe tinha acontecido? Tinha que se sentir mal logo agora? Tinha que a levar dali para fora o mais rápido possível. Ariana abriu os olhos.
— Ele já saiu? – Tudo aquilo fora um esquema? Lucifer estava zangado, muito zangado.
— Sim, o que se passou? - Ariana tentou levantar-se, mas Lucifer impediu-a segurando-a com força no braço.
— Estás a magoar-me Lúcifer.
— Ótimo porque estou muito zangado.
— Larga-me imediatamente ou vais arrepender-te. – Ela era treinada nas mais variadas lutas e Raphael ainda a ensinara mais. O Anjo largou-a, não por medo, mas para não a magoar. – Vamos embora. – Ela levantou-se e apoiou-se nele fingindo que continuava convalescida. – Poe-nos fora desta festa.
Lucifer e Ariana saíram da festa e seguiram de carro, estavam a ser seguidos por Daniel e Ella, mas Lucifer conduzia a toda a velocidade perdendo-os rapidamente de vista. Quando estavam afastados o suficiente, Lucifer parou abruptamente o carro e saiu abrindo a porta de Ariana que saiu, sabendo que ele estava pronto para discutir.
— Qual foi a tua? Ele estava isolado. Podíamos ter arrancado a informação que precisávamos. – O homem gritava
— Tive que tomar uma decisão difícil, mas foi pelo melhor. – Ariana gritou de volta, percebia o estado de Lucifer, ela própria não ficara muito feliz com a decisão. Lucifer aproximou-se dela encostando-a ao carro.
— Que... Raio... De... Decisão... Foi... Essa? – Ele perguntou baixo e ameaçador.
— Lucifer, para. – Era Ella que pedia. O homem afastou-se e viu a mulher com Daniel e outro homem que ele julgava ter visto na festa.
— Eu fiz o que fiz porque mo pediram, Lucifer, o FBI está a fazer uma investigação á organização, pelos vistos não fazem apenas tráfico de drogas, mas também fazem tráfico humano. É muito maior que nós, Lucifer.
— Maior do que a vida do Luke, pelos vistos.
— Infelizmente não podemos investigar, mas irei acompanhar o caso semanalmente esperando o momento certo para descobrirmos. Enquanto isso, damos o crime como uma morte sem pistas suficientes para andar. – Lucifer virou-se para o estranho.
— Vocês, FBI, apoiam-se uns aos outros, não é? E tu, tu tinhas que pôr os teus amiguinhos à frente de tudo. – Lucifer acusou Ariana.
— Foi o Capitão que me ligou juntamente com o meu chefe. Obedeci a uma ordem dos meus dois superiores. – Ariana esclareceu para todos. – Ariana Carvalho. – Ela cumprimentou o colega.
— Mark Thomas. – Ele respondeu. – Estou infiltrado há um ano na organização, estamos a construir um caso enorme contra eles. Mais cedo ou mais tarde vamos pô-los a todos por trás das grades e vamos descobrir o responsável pela morte da vossa vítima.
— Obrigada, Mark. Peço desculpa pelo Lucifer, estávamos todos focados e a 100% nesta missão, sentimo-nos todos frustrados.
— Eu compreendo, e agradeço mais uma vez pela rapidez de resposta à chamada. – Ariana acenou com a cabeça.
— Eu vou sair daqui. – Lucifer falou e seguiu de carro, sem esperar respostas.
— E lá se foi a minha boleia. – Ariana suspirou.
— Eu posso levar-te. – Mark ofereceu.
— Vou aceitar, obrigada. Ella, Daniel, até amanhã e obrigada pela vossa ajuda. – Os dois sorriram e cada par seguiu viagem.
Quando Ariana chegou a casa convidou Mark para subir e tomar uma bebida que ele prontamente aceitou. Sentaram-se no sofá e beberam um gin preparado por ela discutindo o caso da White Gems. Era uma organização que estava envolvida aos mais altos cargos políticos e por isso demoravam tanto tempo a construir o caso, tinha que ser inquebrável por essas forças. Quando Mark ia sair de casa, Ariana levantou-se e ao despedir-se dele beijaram-se levando a uma sessão de sexo sem compromisso que acabou com ele a sair de casa e ela a seguir para o banho para se deitar. Amanhã, a raiva de Lucifer estaria à sua espera.
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