Desabando em meu próprio destino escrita por Arisusagi


Capítulo 6
Capítulo 6 - Nossos dedos frios entrelaçados nunca vão se separar


Notas iniciais do capítulo

Título tirado da música Bronze Saishuushou



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/806359/chapter/6

Aos poucos, Kaito se acostumou com a nova vida. Viver isolado de tudo já era sua realidade desde que contraiu a doença, porém, ele levou um certo tempo para se adaptar à vida noturna. Kaito aprendeu a apreciar a paisagem com seus tons azulados e cinzentos. A noite agora lhe parecia mais bela do que antes, quando ele era humano, mas talvez fosse porque agora aquela era sua realidade, o único momento do dia que ele podia de fato apreciar. 

Ele e Gakupo saíam com frequência para passear nos arredores da mansão. Sozinhos sob a luz do luar, os dois conversavam bastante, Gakupo sempre falando mais do que o outro. Era agradável, e Kaito sentia-se bem na companhia dele. Poder se tocar sem precisar fazer segredo também era algo novo para ambos. Gakupo aproveitava bastante a liberdade recém adquirida, roubando beijos de Kaito com frequência quando estavam juntos. 

Enquanto Kaito ficava o tempo todo naquela casa, Gakupo ia com frequência para as cidades vizinhas para comprar mantimentos. Vez ou outra, ele também ia à casa do pai para pegar dinheiro, mas as visitas eram sempre muito curtas, e às vezes o Barão nem sequer fazia questão de vê-lo pessoalmente. Gakupo também não falava sobre o pai depois de voltar dessas viagens, só o mencionando a contragosto quando Kaito perguntava. 

A mãe de Kaito ainda trabalhava para o Barão, e enviava cartas para o filho com frequência. Apesar de já ter superado aquele susto ao ver Kaito pela primeira vez, ela ainda parecia um tanto desconfortável ao vê-lo. Era um pouco sofrido para ele estar longe da mãe desse jeito, mas ao se lembrar da expressão de temor e espanto que tomou conta de seu rosto quando ela o viu pela primeira vez após a transformação, Kaito pensava se não era melhor mesmo estar distante daquela forma. 

Apesar de tudo, os dias ainda corriam com uma tranquilidade tremenda que beirava o tédio. Depois dos últimos desenvolvimentos de sua vida, Kaito estava começando a apreciar a monotonia. Ver Gakupo voltando a uma vida normal depois de todo aquele luto e desespero também era animador.

A única coisa que ainda o incomodava era o sangue. Kaito não gostava nem um pouco de consumi-lo, enquanto para Gakupo, parecia ser o completo oposto. Ele se divertia bastante tirando o sangue dos animais, chegando até a sujar as mãos e o rosto. Eles logo aprenderam que sangue velho, extraído há muitas horas, ficava ruim e extremamente intragável, o que acabou com a ideia de Gakupo de armazená-lo em algum recipiente para que não tivessem que sair de casa toda vez que precisassem se alimentar. Mas isso não o impedia de usar taças extravagantes para beber o sangue recém colhido, uma cena ao mesmo tempo excêntrica e mórbida.

O fascínio de Gakupo pela nova vida de ambos era palpável, mas Kaito não conseguia compartilhar do mesmo sentimento, por mais que quisesse. Entretanto, o que não deixava de fascinar Kaito era a beleza que tomou o rosto de ambos depois da transformação. Ele não conseguia explicar com palavras o brilho sobrenatural que aquela pele pálida adquiriu, nem a aura penetrante e reluzente que tomou os olhos cinzentos de Gakupo, nos quais ele se perdia e podia passar horas e horas admirando. Olhar-se no espelho havia se tornado uma experiência completamente diferente. Agora, toda vez que o fazia, Kaito parecia descobrir um novo detalhe em seu rosto que não havia notado antes. 

— O que foi?

Ambos estavam deitados na cama, já próximo do fim da noite. Kaito segurava o rosto de Gakupo com as duas mãos, contornando as maçãs do rosto salientes com as pontas dos dedos e encontrando novos detalhes no rosto de Gakupo também, desde suas sobrancelhas finas, até a ponta do nariz e os lábios cor de marfim.

— Nada.

Gakupo riu, aproximando-se para beijá-lo. Kaito fechou os olhos, entreabrindo os lábios e soltando um gemido baixo quando sentiu a língua de Gakupo junto à sua. Estar junto dele parecia até um sonho.

Os braços de Gakupo envolveram a cintura dele, puxando seu corpo para mais perto conforme o beijo se intensificava. O corpo de ambos estava quente pelo sangue recém consumido, e parecia despertar pouco a pouco com os toques. 

— Vamos…?— Gakupo murmurou com a voz grave. 

Kaito abraçou o pescoço dele e fechou os olhos, respirando fundo o perfume de seus cabelos. 

— Eu estou com sono — disse baixinho. 

Gakupo riu mais uma vez, beijando a têmpora dele e depois a bochecha. 

— Então vamos dormir. — Ele esticou o pescoço e olhou para uma fresta na janela. — Parece que o sol já vai nascer. 

Kaito se aninhou junto ao peito dele, ouvindo aqueles batimentos cardíacos lentos que já não lhe causavam mais estranhamento nenhum. Ele fechou os olhos, sentindo os dedos de Gakupo correndo por seus cabelos curtos suavemente.

— Eu te amo. — O sussurro baixinho foi a última coisa que Kaito ouviu antes de cair no sono. 

 

Era uma noite agradável de verão. A lua cheia brilhava forte lá no céu, enquanto Kaito e Gakupo caminhavam lado a lado pelo campo que ficava atrás da casa. Havia um perfume doce de jasmim no ar, e as flores brancas pareciam brilhar iluminadas pela luz fria. 

— Ei, o que acha de nadarmos um pouco? — Gakupo perguntou. 

— Nadar? A essa hora da noite?

— Sim, não sente falta?

Kaito se lembrou de quando eram mais novos e costumavam brincar na água durante o verão, com o sol forte queimando o topo de suas cabeças. 

— Sinto, mas… Ei! 

Antes que se desse conta, Gakupo já estava tirando as roupas. Enrubescido, Kaito virou-se de costas para ele, olhando para os lados desesperadamente. 

— Ninguém vai sair a essa hora da noite, — riu Gakupo. — Se não quiser entrar, então segure minhas roupas para mim. 

Ele jogou as roupas nas mãos de Kaito e correu para a água. Sem saber o que fazer, Kaito virou-se de costas para ele e começou a dobrar as peças que lhe foram entregues. 

— Está gelada! 

Kaito se sentou em uma pedra próxima ao lago e, timidamente, arriscou olhar para o outro. O torso de Gakupo parecia reluzir sob a luz do luar, as gotículas de água sobre sua pele branca brilhando como pedras preciosas. Ele sentiu seu rosto esquentar diante de uma cena tão bonita como aquela. 

— Ei, tem certeza que não quer entrar?

— Está bem, — suspirou. 

Deixando as roupas sobre a pedra, Kaito tirou apenas a camisa, as calças, e os sapatos, ficando somente de calção. Ele entrou devagar na água gelada, sentindo um leve arrepio conforme ela molhava seu corpo. Gakupo deu uma risada

— O que foi?

— Sua cara está engraçada. — Ele pegou um punhado de água e jogou nas costas de Kaito.

— Ei! — Ele retribuiu o ataque. 

Em um instante, ambos estavam molhados da cabeça aos pés. Gakupo ria como uma criança, jogando água sobre o outro. A brincadeira acabou logo, e ambos ficaram em silêncio, olhando um para o outro. Gakupo estendeu a mão e segurou a de Kaito, puxando-o para um abraço molhado. 

— Estou tão feliz por ainda ter você aqui comigo, — sussurrou, encostando a testa na de Kaito. 

— Eu também. — Ele fechou os olhos. — Estou feliz de estar aqui, com você. 

Eles se beijaram brevemente, as mãos juntas com os dedos entrelaçados. De fato, era uma bênção eles poderem estar juntos daquele jeito. 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Desabando em meu próprio destino" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.