Desabando em meu próprio destino escrita por Arisusagi


Capítulo 1
Capítulo 1 - Esse mundo é um baile de máscaras


Notas iniciais do capítulo

Nem sei direito o que escrever aqui kkkk
Estou escrevendo essa história desde 2019, resolvi postar para me encorajar a terminar logo de uma vez.
É um dramalhão pesado, que foi inspirado principalmente em Zetsuai e Entrevista com o Vampiro. Fui o mais cringe e chuunibyou possível enquanto escrevia, lembrem-se disso. Queria agradecer a todo mundo que ler isso aqui e gostar (ou não), e também agradeço à Nat, que está acompanhando essa história desde que eu comecei a escrever e não desistiu dela, nem de mim kkk.



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Era o aniversário da esposa do Duque Leon Zero. 

Naquela noite fresca de primavera, o casal receberia mais de duzentos convidados em um baile de máscaras em sua mansão. 

O salão principal da mansão estava iluminado por milhares de lamparinas a óleo. Nos cantos, milhares de pratos, doces e salgados, estavam dispostos sobre mesas extensas. Os convidados, todos mascarados e vestidos elegantemente, enchiam o salão pouco a pouco. 

Mesmo que a festa mal tivesse começado, já estava óbvio que quem chamaria mais atenção ali era Gakupo, uma figura sempre presente nas festas da alta classe da região e que se destacava com sua aparência excêntrica. 

Naquela noite, Gakupo trajava um longo casaco vermelho de estilo barroco e um colete preto, ambos adornados com bordados dourados, e culotes pretos que chegavam até a altura dos joelhos. Nos pés, sapatos de salto e meias compridas, e nas mãos, luvas de couro, todos na cor preta. Seus longos cabelos cor de violeta estavam presos em um rabo de cavalo alto por uma fita preta, e uma máscara de carnaval preta com arabescos dourados cobria parte de seu rosto. 

— Boa noite. — A aniversariante se aproximou dele, afastando a máscara branca com haste que segurava junto ao rosto. Ela trajava um vestido azul claro com os ombros a mostra, com um corpete muito apertado  e uma saia bufante cheia de babados, e tinha seus cabelos loiros presos em um coque elegante.

— Boa noite. — Ele respondeu, curvando-se brevemente. — É uma honra fazer parte da celebração de vosso aniversário.

— Oh, quanta formalidade! Deixe disso, querido. — A duquesa riu alto, balançando a mão na direção de Gakupo. — Você sabe que as festas sempre ficam muito melhores com sua presença. 

— Boa noite. — O duque então se intrometeu na conversa, parando ao lado de sua esposa com uma bengala na mão e uma expressão não muito amigável no rosto. Ele era um dos poucos ali que não usava máscara alguma. — Ora, é você, Kamui.

— Boa noite, Duque. — Ele respondeu sorrindo. — Vossa Alteza parece estar com constipação ou algo do tipo. Está se sentindo bem? 

A duquesa soltou uma risada mais aguda e escandalosa do que antes. 

— Não é isso, só estava intrigado pensando sobre sua escolha de figurino para essa noite. — Ele fez um gesto vago em direção ao outro. — Mesmo com todo seu dinheiro, não consegue comprar roupas mais  elegantes? 

— As roupas modernas não me agradam, prefiro essas aqui. — Ele ajeitou o casaco vermelho sobre os ombros. 

— Mas por que gosta tanto de vestir roupas tão ridículas e fora de moda? — O duque riu. 

— É que tenho um imenso apreço pelo que é antigo, meu caro duque. — Gakupo respondeu surpreendentemente calmo. — É quase como se eu fosse nascido naquelas épocas.

Antes que seu marido pudesse retrucar, a duquesa resolveu intervir.

— Mudando de assunto, você viu meu presente de aniversário? — Ela  ergueu a mão direita, mostrando a enorme safira incrustada no anel que usava. 

— Ora, que belo anel. — Gakupo fez menção de segurar a mão dela, mas parou antes de fazê-lo. — Uma safira indiana? 

— Exatamente. — O duque então segurou a mão da esposa, dando uma boa olhada na joia. — Pedi para trazerem a maior que encontrassem para que nosso joalheiro fizesse esse anel para ela. 

— Vejo que Vossa Alteza é um marido muito dedicado. 

— Você um dia entenderá a alegria que é presentear a mulher que ama. — Envergonhada, a duquesa pôs a máscara de volta junto ao rosto. — Você não é casado, não é mesmo?

— Não. — A expressão dele mudou completamente. Pela primeira vez na noite, Gakupo pareceu estar minimamente desconfortável. — Minha garganta está terrivelmente seca, preciso de algo para beber. Com licença. 

Kamui se afastou do casal quase como se fugisse, indo em direção ao pequeno bar que ficava no lado direito do salão. O duque puxou a esposa para perto de si pelo braço.

— Não tinha te pedido para não convidar esse esquisito? — Ele sussurrou próximo a seu ouvido.

— Achei que eu ao menos pudesse escolher com quem celebrar meu aniversário. — Ela retrucou, puxando o braço segurado pelo marido.

— Você sabe que eu nunca fui com a cara desse sujeito. — Ele olhou por cima do ombro, vendo Gakupo conversar com outros convidados. 

— Ora, e o que tem de errado com ele?

— Essas roupas ridículas e espalhafatosas, por que ele só veste aquilo?

— Não sabia que você se importava tanto assim com a moda. 

— Não é só por isso! — Ele se exaltou, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor. Depois, voltou a falar quase que sussurrando. — Pense bem. Esse homem apareceu aqui dez anos atrás sem sequer dizer de onde vinha, comprou uma mina de carvão da região, se mudou para aquele casarão na beira de um penhasco, onde ninguém se atrevia a ir, e mora lá sozinho até hoje, sem mulher, nem filhos, nem nada! Completamente sozinho naquela casa enorme!

— Não cabe a nós julgar a vida dos outros. — A duquesa parecia extremamente irritada, e estava prestes a se afastar quando foi puxada pelo braço novamente. 

— Não é só isso. Viu a reação dele quando perguntei se era casado? — A duquesa não respondeu, apenas inclinou a cabeça para o lado. De fato, aquela fora uma reação estranha. — Também ouvi dizer que ele nunca sai de casa durante o dia, nem para ir a reuniões importantes do negócio dele. Você não acha isso estranho?

— É a doença dele, querido. Ele me contou que tem essa condição rara que o faz ter terríveis dores de cabeça quando vê a claridade do dia. — Ela suspirou, soltando mais uma vez o braço da mão dele. — As cortinas da casa dele precisam ficar fechadas o tempo todo, pobrezinho. 

— Está vendo? Você também está caindo na lábia dele! Estou falando, fique longe desse homem! — Ele sussurrou, tentando não chamar a atenção dos outros convidados.

A duquesa, que agora ia em direção à porta da mansão, nem sequer o ouviu. 

 

 

— O senhor está muito pálido. Tem certeza que está tudo bem? 

Aquela foi a primeira vez que o cocheiro disse alguma coisa, tentando quebrar o clima um tanto estranho que surgiu depois que aquele cavalheiro subiu na carruagem. 

Apesar de parecer estar muito apressado, o homem sentava-se quieto e contido atrás de si, sem demonstrar um sinal de afobação sequer. 

— A viagem de trem me deixou um tanto enjoado, mas não se preocupe, já estou acostumado. —  Ele respondeu calmamente, abaixando um pouco mais a aba de sua cartola.

O passageiro anterior mal havia descido com sua bagagem na estação de trem quando aquele homem chegou, jogou uma quantidade considerável de dinheiro nas mãos do cocheiro e pediu que o levasse imediatamente para a mansão do Duque Zero.

O homem estava vestido de forma simples, com uma jaqueta azul marinho e calças pretas, e uma cartola preta cobria os cabelos azulados. Carregava consigo apenas uma pequena maleta, e volta e meia conferia as horas em um relógio de bolso prateado. 

— O senhor não é daqui, não é? — O cocheiro olhou por cima dos ombros e ele apenas negou balançando a cabeça. —  Está indo para a festa da Duquesa?

— Não. Só tenho alguns assuntos a resolver ali por perto. 

Antes que a conversa pudesse se prolongar muito mais, a carruagem parou em frente ao portão da mansão. 

O homem saltou da carruagem murmurando um “obrigado” antes de desaparecer por entre as árvores do jardim. O cocheiro piscou confuso, mas antes que pudesse pensar um pouco mais sobre o estranho passageiro, outra pessoa o abordou pedindo uma corrida.

Kaito correu pelo jardim misturando-se à escuridão, e parou junto a uma das janelas da mansão. Lá dentro, as pessoas riam, dançavam e bebiam, todas mascaradas, mas nenhuma era quem ele procurava, o que o deixou ainda mais nervoso e apreensivo. 

Com as mãos trêmulas, ele tirou o relógio novamente do bolso. A festa havia começado há quase três horas. Onde ele tinha se metido? Será que já havia ido embora?

Kaito realmente não queria encontrá-lo em uma festa assim, mas precisava vê-lo o mais cedo possível. E se pudesse evitar uma morte, seria melhor ainda. 

Ele decidiu dar a volta na casa, para conseguir olhar o salão de um ângulo diferente, mas antes que pudesse verificar, seus ouvidos sensíveis ouviram um gemido abafado muito baixo. 

Na parte de trás da casa, ele encontrou a pessoa que estava procurando. 

Ajoelhado no chão, Gakupo segurava um rapaz louro junto a si, sugando-lhe o sangue do pescoço. Kaito avançou sobre os dois imediatamente, separando-os e chutando o peito de Gakupo forte o bastante para fazê-lo voar por alguns metros até atingir uma árvore.

No chão, o rapaz se contorcia agonizante, com as mãos amarradas em frente ao corpo e amordaçado com o que parecia ser a própria camisa. Seus olhar aterrorizado fez o estômago de Kaito se revirar. Sangue escorria de seu pescoço rasgado, manchando seu peito nu e formando uma poça no chão. Não tinha jeito, com uma ferida daquelas e perdendo aquela quantidade de sangue, ele não ia sobreviver muito tempo. 

Kaito se amaldiçoou baixinho por não ter chegado mais cedo e, prendendo a respiração para não sentir o cheiro do sangue, torceu o pescoço do rapaz em um estalo alto. Seu corpo ficou tenso por uns instante e amoleceu logo em seguida. Juntando as mãos, Kaito fez uma breve oração por aquela alma que acabara de partir. 

Mas antes que pudesse terminar sua prece, ele foi jogado no chão e erguido pela gola da camisa. E essa foi a primeira vez que os dois ficaram frente a frente em mais de cem anos. 

O rosto de Gakupo, retorcido de forma assustadora, voltou ao normal assim que viu quem estava em sua frente. Seus olhos vermelhos se arregalaram, retornando ao tom azul cinzento que tinham normalmente, e as presas afiadas voltaram ao tamanho caninos normais. 

— Kaito…? — Sussurrou incrédulo, uma gota grossa de sangue escorreu de sua boca e sujou o lenço preto de seda que tinha amarrado no pescoço. — É você…? 

Ele o soltou, e Kaito deu um passo para trás, sem dizer nada. Gakupo tirou a luva direita e estendeu a mão pálida em direção a ele, tocando-lhe o rosto. 

O rosto que ele mais queria ver desde o século passado.

Com a palma pressionada contra o calor fraco da bochecha do outro, Gakupo parecia prestes a chorar. Os lábios trêmulos se apertaram e ele engoliu seco, tirando a mão de seu rosto. Ele então abriu os braços convidando-o silenciosamente para um abraço. 

— Não se aproxime, você está sujo de sangue. — Kaito se recusava a olhá-lo nos olhos. Ver aquele rosto tão belo manchado de vermelho o enchia de ódio.

— Kaito… — Murmurou envergonhado, apertando a luva de couro com as duas mãos. — Achei que nunca mais te veria. 

Ambos estavam visivelmente desconfortáveis. Aquele reencontro, tão aguardado por ambos, não estava indo nada bem.

Gakupo olhou para baixo, vendo então o corpo do rapaz que jazia no chão. 

— Você o matou … — Riu de leve. — Só para eu não beber mais o sangue… Que piada 

— Deixe isso pra lá, temos assuntos mais importantes para resolver. — Kaito finalmente o encarou, e Gakupo se assustou um pouco com a seriedade de suas palavras.

— É… Você não mudou nada… Creio que também não tenha mudado de ideia.

— É claro que não. — Seus olhos azuis estavam frios exatamente como na noite em que partiu. — Vaguei pelo mundo inteiro nesses últimos 112 anos com um único objetivo em mente, e só estou aqui porque finalmente descobri como cumprí-lo. 

Aos lados de seu corpo, as mãos de Kaito tremiam como nunca tremeram antes. Gakupo arregalou os olhos, apertando a luva de couro que segurava.

— Então… Tem um jeito, é? — Sussurrou. — Um jeito de… 

— Nos matar. 

Um silêncio tenso se instalou entre os dois por alguns segundos. Gakupo enfiou a luva que segurava no bolso do casaco e estendeu a mão para Kaito.

— Bem, vamos para minha casa. 

Antes de desaparecer com Kaito na escuridão da noite, Gakupo se abaixou e pegou a máscara que estava no chão.


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Notas finais do capítulo

Criei uma playlist com as músicas que serviram de inspiração para escrever essa história: https://youtube.com/playlist?list=PLYEqYbtdwFKoyVMzVnWPzpn6Pz1udkB9v
Os títulos dos capítulos foram tirados dessas músicas. O deste capítulo vem de Masquerade, do Versailles.



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