Cinco Vidas escrita por Anna Carolina00


Capítulo 6
Alto mar - parte 2




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Nick pareceu ser alguém diferente, mas como Charlie esperava, ele ainda é só um homem. Como todos os homens, no fim acabavam lhe desejando como um objeto inanimado, sem sentimentos… Charlie estava  acostumado com isso.

Entretanto, algo parecia diferente naquele beijo. Não apenas por ser realmente bom, Nick tinha lábios macios e um jeito reconfortante de lhe abraçar…Mas havia algo incomum no sabor…Lembrava a água do mar. Foi então que percebeu que o capitão estava chorando.

—Desculpe, eu…Não devia ter…Desculpe.

O moreno ficou sem reação. Definitivamente não era assim que os homens ficavam depois de um beijo seu.

—Nick, você não precisa se desculpar…

—Mas eu realmente cometi um erro…

—Eu beijo tão mal assim?

Isso foi o suficiente para silenciá-lo. Em seguida, os dois se olharam e não foi possível evitar algumas risadas. O que raios havia acabado de acontecer?! Pensando nisso, o capitão se senta no chão pegando uma garrafa de rum em seu casaco, tomando um gole e oferecendo ao sereio.

—Não, obrigado. Eu… Não consigo ficar bêbado?

—Não? Então essa coisa de ser um sereio não é tão boa quanto imaginei…

—Tritão.

—O quê?

—O correto… É tritão.

Depois  de toda a reação explosiva do moreno, ver sua cara de chateado por uma simples  palavra chegava a ser fofo. 

—Bem… Você meio que tem cara de sereio…Tem certeza que é um tritão mesmo? Eu duvidaria!

Charlie acabou entrando na brincadeira enquanto discutiam "seriamente ". Durante a troca de alguns tapas e empurrões  enquanto questionavam  a verossimilhança de se falar sereio, o loiro já havia bebido metade da pequena  garrafa para estar apto para o que estava prestes a dizer. Tudo ficou em silêncio, ambos sentados no chão do porão escorados em um baú de madeira.

—Achei que meu maior arrependimento seria ter levado minha tripulação numa missão suicida de dar a volta ao mundo pelo mar do norte. Perdi quase todos e sobrevivi por um milagre. Por alguns dias, imaginei que deveria ter ido com eles, mas então pensava em casa e em todas suas famílias, eu precisava avisá-los sobre os grandes heróis que foram. E eu tinha minha família, minha Tara!Foi então que descobri ao voltar para a Inglaterra…- Nick fez uma pausa para recuperar o fôlego e evitar chorar - …Minha esposa morreu há pouco mais de um ano. Tuberculose. E eu… Não estava com ela no momento mais difícil de sua vida. Voltar para casa e descobrir que ela se foi acabou comigo. Tara era adorável. Sempre via o melhor das pessoas, sempre cuidava com carinho dos que precisavam. Era uma boa amiga, acima de tudo. Se eu não tivesse a ideia estúpida de dar a volta ao mundo… Quem sabe eu estivesse com ela, quem sabe teriam me encontrado para me avisar!  

—Eu sinto muito.

Mais um gole no rum.

—Bem… Achei que nunca mais seria capaz de beijar qualquer outra pessoa, de sentir qualquer coisa…E você provou que eu estava errado. Por me mostrar isso, eu lhe agradeço.

 

Charlie estava corado. No fundo sabia que nem todo homem era uma criatura insensível e descontrolada, afinal, Isaac havia se tornado um bom amigo desde que entrou para a tripulação de Nellie, mas Nick parecia… Único. Nunca havia falado com alguém tão franco e honesto sobre os próprios sentimentos. Sentia que não precisava estar em constante alerta com ele, como se pudesse revelar todos seus segredos e ainda estaria seguro. 

O loiro também parecia absorto em seus próprios sentimentos. Um leve sorriso revelava que, o quer que estivesse em sua mente, lhe fazia bem.

—Hey! Ora de voltar para Terra. -Charlie já estava em pé lhe oferecendo a mão que foi prontamente aceita. - Precisa de ajuda para chegar à cabine?

Levemente cambaleando, Nick apenas expressou um “Sim” e se deixou ser guiado. Apesar do aspecto miúdo, Charlie conseguiu lhe dar suporte até dentro da cabine onde o loiro simplesmente se jogou na cama e apagou. Como uma criança… O tritão, então, desafivelou seu cinto, tirou suas botas e o ajeitou o melhor que pode na cama.

 Antes de ir embora, deu uma última olhada no capitão já perdido no mundo dos sonhos e sentiu uma vontade quase magnética de segurar sua mão. Tão sereno… Quem sabe tendo Nick por perto também conseguisse encontrar a mesma paz ao dormir.

Com esse pensamento otimista, fechou-se em um mundo só seu e se dirigiu às cabines compartilhadas. 

 

* * *

 

Um novo dia no mar, uma nova aventura os espera.

Como era de se esperar, Nick e Harry continuavam com discussões acaloradas sobre o navio. A mais recente envolvia os rumos da viagem:

— Acha mesmo que pode simplesmente decidir onde vamos só porque minha mãe lhe contratou? Como co-capitão, eu tenho autonomia para opinar no assunto. Até porque tenho acesso a informações que você nem mesmo sonharia encontrar, Nick.

—Não. Definitivamente não é assim que funciona uma co-capitania, Harry. Já demos informações oficiais à marinha sobre nosso trajeto, compramos mantimentos, planejamos o percurso… Sei que para você parece brincadeira, mas conduzir um navio é algo  muito sério!

—Acha mesmo que estou brincando?  - Harry o olhava com respeito, mas transbordando uma arrogância natural a ele -  Ok… Eu não deveria precisar falar disso, já que você é um funcionário como qualquer outro nesse barco. Mas se insiste, posso lhe explicar porque devemos mudar o percurso. 

Quase sussurrando, harry o convidou para acompanhá-lo a outra cabine de seu camarote. 

Nick precisou dar o braço a torcer ao encontrar tal sala. Se o herdeiro parecia um aristocrata mimado, ali parecia estar completamente alucinado com o que pareciam ser coordenadas em um mapa. Haviam mapas das constelações, cartas náuticas com declinação magnética, astrolábios e diversos outros materiais de cartografia, além, é claro, do grande mapa em uma mesa central .

—Isso… Não parece com nenhum mapa que eu tenha visto antes.

Harry parecia orgulhoso da reação do capitão.

—É claro que nunca viu. Isso sequer foi feito por humanos.

— O quê?

—Sereias, Nick! Sereias! Eu sei que é difícil de acreditar, mas elas existem. Uma sociedade submarina, recheada de riquezas, palácios feitos de ouro! Ao alcance das mãos!

Nick precisava de um segundo para respirar. Há dias atrás, qualquer menção a sereias seria motivo de piada, afinal, depois de tantas navegações, nunca ter encontrado criaturas marinhas fantásticas eram sinal suficiente de como esse folclore era inofensivo, mas agora… Agora ele sabia.

 

—Bem… Se, só se, isso for real… Como poderia encontrar tesouros no meio do mar? Não temos guelras ou algo assim, Harry. Somos apenas humanos.

O sorriso do “co-capitão” soava como se esperasse tal pergunta. Como mais um aceno dizendo “venha comigo”, ambos seguiram para uma região geralmente usada como segundo porão do navio. Nick tinha uma sensação estranha, o que Harry teria para mostrar em um porão? E tal dúvida foi respondida assim que se aproximou das instalações. Seu navio estava diferente, sua Nellie! Uma região selada da entrada de ar havia sido construída, acoplada com o que parecia ser um …Sino?

—Aprecie a mais nova grande invenção dos espanhóis! Um sino de mergulho! Começou a ser usado na Ilha da Madeira para recuperar canhões e outros pedaços de navios afundados, mas o que nós podemos encontrar… É ainda mais valioso! Imagine! Destroços de uma civilização inteira feita em ouro!

—Destroços?

— É claro, todas as sereias morreram com o dilúvio enviado por Deus, como pecadores que eram. Mas suas riquezas permanecem escondidas no oceano… E será toda nossa se me acompanhar, capitão.

Por um segundo, sentiu alívio inconsciente de que Harry não estivesse interessado em caçar Charlie, mas tudo aquilo ainda o afligia: a caça ao tesouro submerso, um mapa de sereianos,  tritões aliás,  e ainda tinha a grande blasfêmia de terem ALTERADO- SEU- NAVIO! Ainda sem saber como responder, a porta se abriu revelando um tripulante que aparentemente conhecia essa passagem secreta em seu navio.

—Charles! Até que enfim voltou! Poderia fazer uma demonstração de nosso equipamento para nosso caro co-capitão Nicholas? Aproveite esse tempo para pensar em minha proposta… Odeio admitir isso, mas preciso de sua ajuda nessa empreitada e sua ajuda voluntária seria muito bem vinda. 

Nick só tinha olhos para Charlie, mal ouvira as últimas palavras de Harry:

— Manterei a rota como previsto por enquanto, mas decida hoje mesmo sobre esses novos planos… Prefiro ser razoável sobre o assunto.

Sozinhos, Charlie não entendia a grande tensão no ar. Nick parecia estar com o coração preso na garganta e antes de falar qualquer coisa, o abraçou como se sua vida dependesse disso. Mesmo sem entender, Charlie aceitou o abraço. O conforto que sentia naquele mais de dez segundos era indescritível.

—Charlie… Foi você quem… O mapa… O Harry… Ele não pode simplesmente… Você sabe…

Estava se tornando uma rotina gostosa para Charlie poder acompanhar as frases desconexas de Nick e tentar traduzi-las, como um jogo só deles.

—Eu sou um mergulhador, se é isso que quer saber. Vivi tempo suficiente entre os humanos para ver que estavam próximos de descobrir um modo de invadir meus domínios, então não podia perder a chance de ver de perto como fariam.

Talvez pela péssima escolha de palavras do tritão, mas ouvir isso deixou o capitão ainda mais indignado.

—Então você sabe que o Harry quer invadir Atlantis?

—Atlantis?

—Ou qualquer que seja o nome de seus domínios… Não importa. O que importa é que ele não tem boas intenções com isso! Você não pode ajudá-lo com o mapa e simplesmente apoiá-lo numa barbaridade com suas terras, eles são sua família, certo? Você… Não pode colocá-los em risco!

Era nítido como Nick levara para o lado pessoal, lembrando-se de sua tripulação. Charlie sentia isso e sabia que agora era o loiro quem precisava de um abraço. Sentindo seu corpo se acalmar enquanto fazia carinho em seus cabelos, Charlie sentiu que Nick estava pronto para se separar do abraço e ouvir.

—Antes de qualquer coisa, eu não sei de que mapa está falando. E Atlantis? Muito humano para o lugar de onde vim, mas você pode chamar de Casa. É a melhor tradução em palavras. Eu sou um mergulhador, os domínios que citei foram simplesmente o mar. Eu gostaria de ver como vocês fariam para chegar lá… E é só isso. Agora preciso ouvir de você que história louca é essa de invadir minha Casa.

Respirando fundo, Nick explicou os detalhes de sua última conversa com Harry. Mal sabiam eles que o pior ainda estava por vir.

 

—Preciso ver esse mapa, Nick, cada detalhe. Se ele estiver certo, se estiver minimamente certo, eu… Preciso tomar certas decisões drásticas.

Nick pensou por um momento e concluiu:

—Não podemos sumir com o mapa, mas Elle pode copiá-lo. Sem fazer perguntas, eu juro. Ele sabe ser discreto… Mas vai precisar de tempo naquela sala sozinho e ela fica no camarote do Harry.Precisamos…

—Eu sei o que precisamos, Nick. Uma distração.

O sorriso malicioso de Charlie o assustava, mas ao mesmo tempo, o encorajava a continuar. 

 

* * *

 

A noite já se instalara na fragata e os marujos começavam a trocar o turno de seus serviços quando ouviram um som estranho de tambor vindo do convés, como se os chamasse. Chegando lá, viram o que parecia ser uma moça tocando tambores improvisados e usando uma saia longa e véu, deixando apenas  os cabelos castanhos e olhos negros delinhados a vista.

—" Esta é a história de uma bruxa… Que viveu a centenas de anos atrás em um vilarejo inóspito…E assustava a todos com seus truques de magia!" 

Enquanto recitava, a moça dançava tocando os tambores, até que Isaac lhe entregou um pandeiro e a história continuou, com sua voz envolvente com toques de malícia e inocência, e seus passos cronometrados abriam um pequeno círculo ao seu redor, atraindo a atenção de todos para si, inclusive do capitão Harry que surgira de seu camarote e decidiu ficar no convés para apreciar o show.

—"... E é claro que há um cavaleiro… Heroico! Chamado para invadir a floresta e enfrentar a bruxa .."

O conto continuava e, ainda que Nick tentasse não olhar para não cair no canto da sereia, de fato a voz de Charlie era irresistível. Foi preciso que Elle lhe chamasse para acordar para a realidade e se esgueirar para dentro dos acomodamentos de Harry.

 

Dentro do segundo cômodo, o trabalho precisava ser rápido. Nick não poderia ajudar com mapa, mas procurava copiar as anotações de Harry em outros lugares, para saber o que ele já havia decifrado no mapa.

—Então… Seu novo amigo Charlie…

Era surpreendente como Elle conseguia Conversar e transcrever simultaneamente, soava como mágica , e mesmo sem olhar para Nick, o loiro sentia o mesmo estava lhe colocando contra a parede com um simples comentário.

—...Você tem passado bastante tempo com ele…

—Ele é um bom amigo, Elle.

—Faz tempo que eu te via se divertido assim com um "amigo". 

O loiro estava levemente corado. Sabia exatamente que tipo insinuação  Elliot estava fazendo. Pelo menos não é sobre o mapa, pensara. Infelizmente, sua constatação fora precoce:

—Nick, por que exatamente você e Charlie precisam da cópia de um mapa feito por tritões ? E como Harry conseguiu encontrar algo assim? Eu estudo eles há anos e nunca cheguei perto de um artefato desses!

Elle lhe encarou e Nick não conseguiu processar uma resposta plausível a tempo.

—Como você… Sabe…

— Eu estudei o Dig Adlantisag, idioma escrito no mapa. Você sabe que estudo resquícios da civilização dos tritões há anos, certo? - vendo o silêncio do amigo, Elle apenas voltou a transcrever e cochichou - Vou precisar de respostas decentes depois, Nick. Agora temos outras prioridades.

Estabelecido um novo silêncio, o capitão continuou fazendo anotações enquanto Elle copiava o mapa o mais rápido possível, ambos sabiam que aquela conversa não havia se encerrado.

 

Somente quando estavam de fora do camarote, misturados com os marujos, que a tensão se dissipou. Tudo estava bem.

Ao longe, perto do mastro, Charlie vira os rostos familiares e compreendeu que o poderia acabar. 

—" …O cavaleiro então  arremessa a garrafa o quão longe foi possível no mar, desejando que através daquela garrafa, seu amor ultrapasse os oceanos, o tempo e  a própria vida!"

Fazendo uma reverência, o moreno indicou que o show se encerrou. Alguns marinheiros lhe arremessaram moedas, houveram muitos aplausos e a maioria se dissipou de volta para suas cabines. Exceto poucos bêbados que sempre restam quando Charlie se apresenta. Isaac já havia carregado a maioria dos tambores improvisados de volta para a cozinha, restava apenas Charlie com seu pandeiro quando foi abordado por um bêbado velho, cabelos castanhos embranquecidos e um tapa-olho:

—E quanto seria para continuarmos o show, querida? No mar, não é todo dia que achamos uma…Beldade como você!

—Somente o show, senhor. Aceito moedas e comida, se quiser pagar pelo SHOW.

O velho lhe toca o braço de um jeito sugestivo. Charlie sabia que reagir era pior, afinal,  ele estava acostumado, então apenas se move com calma para longe. Infelizmente, o bêbado insiste agarrando seu braço.

—Onde está indo, gracinha?! Aposto que não recusaria uma diversão extra, posso fazer o que quiser!

—O que ele quer é que você o deixe em paz, marujo.

—Capitão?!

Nick entra no caminho como uma barreira, colocando Charlie atrás de si. 

—Dispensado, Marujo. Pode voltar para sua cabine.

Em seguida se virou para o sereio: 

—Oi.

—Oi…

Enfim sozinhos, Nick pôde tocar o ombro de Charlie e sentiu como estava tremendo. Sem mais palavras, o capitão apenas pegou sua mão e o puxou para sua cabine pessoal. Lá, sem precisar esconder, apenas o abraçou como se pudesse absorver toda a tensão sobre seu corpo.

—Obrigado, Nick.

— Você  está bem? Pode me contar…Se quiser. Aquilo pareceu…Sério.

Depois de ponderar por segundos, Charlie decidiu contar. No passado, era assim que conseguia mais dinheiro durante as viagens a navio. Era comum ser assediado, quase forçado por alguns mais agressivos… Mas ele sobreviveu até ali. Isso é o que realmente  importava.

Só agora notou que Nick ainda lhe segurava as mãos enquanto estavam sentados na cama. O mesmo também percebeu e se separou escondendo seu leve constrangimento. 

—Você  é incrível. Sabe disso, certo? Nunca ouvi alguém com uma voz tão bonita. Eu não conseguia parar de olhar para você.

—Efeito da voz de um  tritão, acho.

—Eu posso não conhecer outros, mas tenho certeza que a sua ainda seria que me conquistaria! Você é… Fascinante, Charlie.

Fazia bem para o moreno ouvir elogios assim. Depois de tanto tempo sozinho, era reconfortante receber algum cuidado de alguém especial.Ele queria poder retribuir esse carinho, oferecendo algo especial a Nick também.

—Você… Gostaria de ouvir algo divertido?

 

* * *

 

O navio parecia silencioso. Sem vento, apenas seguindo a corrente para o sul. Exceto  por poucos a postos, o caminho estava vazio para o segundo porão, para onde Charlie e Nick sorrateiramente se moveram. 

—Gostaria de lhe apresentar, capitão  Nicholas, um pouco do mundo submarino.

Revelando uma uma escotilha de vidro no chão, Charlie revelou uma imensidão escura sobre seus pés. O solo há  milhas de profundidade abaixo jamais seria visível daquele lugar, o que dava a Nick a estranha e gostosa sensação de como era pequeno ante a grandiosidade das águas do mar. Sem luz, apenas podia ter a sensação de ver seres gigantescos se movimentando logo abaixo dele, separados por uma grossa camada de madeira.

—Isso é… Incrível, Charlie. Obrigado! 

—Ainda não, capitão. Eu lhe prometi ouvir algo, não apenas ver.

Assim, o tritão deita no chão posicionando o rosto no vidro como se fosse uma concha gigantesca. Pela acústica do lugar, estava de fato ouvindo o mar e toda a vida marinha sob seus pés. Nick fez o mesmo ao seu lado.

Ouvia a água se movendo de um modo diferente, mais…Profundo. Como se fosse agitada de maneiras diferentes. E de fato haviam milhares de criaturas abaixo. Peixes, baleias, tubarões, tartarugas.  De olhos fechados, o capitão apenas imaginava as maravilhas que se escondiam mar abaixo. 

—Retiro o que eu disse, Charlie. Esse definitivamente é o som que me conquistaria! Deve ser incrível sentir isso enquanto nada no oceano. Admito que ser um sereio é tão bom quanto parece…

—Tritão, Nick! Tritão…- Abrindo os olhos, ambos estavam com os rostos próximos  lado a lado ouvindo os sussurros do mar logo abaixo. - O som do mar traz uma sensação de…Paz absoluta…

—Nenhum humano transmitiria  a mesma sensação…Talvez um sereiano! - Nick se divertia com a expressão indignada de Charlie. - É bobo, mas… Eu gostaria de conseguir dançar ouvindo o mar.

—Se você quiser dançar…Dance comigo.

Ouvindo a sugestão do moreno, o capitão se levantou e lhe ofereceu a mão. Juntos, com Nick lhe enlaçando pela cintura enquanto Charlie se segurava em seus ombros, ambos se moviam lentamente ao som do mesmo mar.

A distância entre Charlie e Nick diminuía e a batida de seus corações eram ouvidas em sintonia ao mar. Olhando-o nos olhos, Nick sussurrou:

—Você… Gostaria de beijar alguém ouvindo o mar, Nick?

—Eu…Não sei…

—Gostaria de beijar um…Sereiano? Gostaria de me beijar?

Sentindo as palpitações aceleradas do loiro, Charlie encerrou a distância selando um beijo em Nick. Diferente de antes, sem pressa. Diferente de antes, sem urgência ou intensidade. Apenas beijaram, sentindo o carinho compartilhado. Separando  poucos milímetros, Charlie deixou Nick tomar a iniciativa dessa vez, se assim o desejasse. Então o loiro tocou seus lábios com a ponta dos dedos e sorriu, em seguida, mais um beijo buscando descobrir se tudo aquilo era real. 

 

De repente, Nick ouviu barulho de passos no andar de cima e pelo susto, se separou de Charlie andando o mais rápido que pode para fora do porão sem olhar para trás. Ele não aguentaria ver sobre si os olhos de espanto e decepção de Charlie Spring.


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