Serendipity escrita por nywphadora, nywphadora


Capítulo 1
Capítulo Único




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A vida de Tonks nunca tinha sido tão tranquila.

Durante os seus anos em Hogwarts, se meteu em muitas encrencas. Não apenas problemas relacionados a gostar de pregar peças nos outros estudantes e nos professores — às vezes em alguns fantasmas —, mas por causa das criptas malditas. Mila Myers só não era um maior ímã para problemas do que Harry Potter foi posteriormente. Depois que se formou, tornou-se auror, que era uma carreira promissora e arriscada. As coisas ficaram mais agitadas ainda depois que Lord Voldemort voltou e a Ordem da Fênix foi reerguida.

Mas ela sobreviveu. Depois de tudo que tinha acontecido, experimentavam duradouros anos de paz, e dessa vez sem a premissa de retorno de um bruxo das trevas — embora sempre houvesse aqueles que tentassem ascender ao poder das piores maneiras possíveis. Teddy ia completar 11 anos em breve, Remus tinha aceitado trabalhar em Hogwarts agora que o filho receberia a carta — por mais que Andrômeda sempre se dispusesse a cuidar do neto, ele queria participar ativamente da criação dele. E ele era um pai maravilhoso.

Nunca pensou que a sua vida fosse ser assim.

Era noite de lua cheia, o que significava que Teddy ia dormir na casa da avó ou do padrinho. As semanas de lua cheia eram sempre complicadas, mas eles já estavam acostumados, ainda mais tendo um estoque de poção de acônito para que Remus fosse capaz de manter a mente humana durante a dolorosa transformação. Aos poucos, as coisas mudavam para os lobisomens, embora ela tivesse uma visão pessimista de que preconceitos nunca eram extintos, apenas escondidos. Mesmo assim, ele se transformava fora de casa, em uma antiga cabana na floresta.

De qualquer forma, ele não esperava que Tonks fosse retornar naquela noite, tendo passado as últimas semanas em uma missão de espionagem para o Ministério — ela ainda era a única metamorfomaga que os aurores tinham ao seu dispor, e seus horários ainda podiam ser uma loucura às vezes.

Ela só pensava que queria um banho quente e uma cama, enquanto fechava a porta da frente. O relógio na parede marcava 3 horas da manhã. Não tinha registrado a que horas o sol nasceria naquele dia, para ter uma noção de quando Remus voltaria. Não conseguiria dormir por muitas horas, já que provavelmente teria que buscar Teddy na casa da avó logo cedo — geralmente era o combinado. Estava com saudades do marido e do filho, e aliviada por ter voltado sem ferimentos ou traumas para casa.

— This is the life, bo, bo, bo, bo, bo...

Jogou a jaqueta em cima do sofá e a sua mochila com suas coisas no chão, aproveitando que o marido não estava em casa para reclamar, enquanto cantarolava. Seu pai tinha uma paixão por musicais, que a viciou desde criança até a vida adulta, por mais que ele não estivesse mais vivo para isso.

Sentiu a dor na sua lombar intensificar, mas já estava acostumada com dores nas costas e em outras partes do corpo. A dor era um risco ocupacional. E, quando se tem um útero, a dor faz uma visita todos os meses. Muito provavelmente a sua menstruação estava chegando, as cólicas sempre surgiam dias antes de finalmente descer o sangue. Pelo menos estava em casa, odiava menstruar fora, ainda mais em uma missão.

Subiu as escadas, decidindo que ia esperar por Remus no quarto. Estava muito cansada e com muita dor para ficar no sofá. Sofás não eram feitos para serem confortáveis, por isso era o primeiro lugar para onde os maridos eram mandados quando faziam merda. Certo, podia até ser confortável para o traseiro, mas não para alguém deitar, o pescoço sempre ficava rígido e algum braço dormente.

Segurou firme no corrimão quando sentiu uma pontada de dor mais intensa.

Geralmente, evitava tomar poções para cólica, porque tinham o risco de viciar do mesmo modo que os medicamentos trouxas. Além de que sempre acabava com qualquer dor que ela pudesse vir a sentir, e isso era um pouco perigoso para uma auror. Não sentir dor podia ser a diferença entre a vida e a morte.

Aquele mês parecia que ia ser intenso. Talvez fosse a menopausa chegando? Quer dizer, ela não tinha 40 anos ainda, mas tinha 36. Era próximo, certo? Embora um pouco...

Ela se inclinou para a frente, arfando.

E se ela estivesse morrendo? Pelas barbas de Merlin. Pela varinha de Morgana. Pelas cuecas de Dumbledore. E se ela tivesse sido atingida por algum feitiço e não tivesse percebido? Sentiu-se tola. Vigilância constante, porra. Era a primeira coisa que ela devia fazer, consultar um medibruxo e ver se estava tudo certo, se não tinha nenhuma ferida envenenada que passou despercebida. E se tivesse bebido alguma coisa que...?

Tonks deixou escapar um grito de dor, sentindo a visão ficar embaçada. De repente, sentiu-se incapaz de ficar de pé. O que ela devia fazer? Devia descer as escadas e chamar alguém pela Rede de Flu? Ir até o banheiro e procurar a poção analgésica mais forte que tinha?

— Filha da puta! — xingou a si mesma quando percebeu que não estava com a varinha, tinha deixado no andar de baixo.

Tinha sido assim que o pai do Harry tinha morrido, largou a varinha num canto da sala. Se Moody estivesse vivo, gritaria com ela por sua estupidez.

Sentou-se no degrau da escada, sentindo-se oprimida por sua indecisão e por seus temores. Era como se alguém estivesse aplicando uma Maldição Cruciatus diretamente no seu abdômen, comprimindo o seu útero com força...

Então ela percebeu.

Tudo que estava sentindo era exatamente a mesma coisa de quando ela teve o Teddy.

Mas... mas ela não estava grávida.

Era impossível. Ela teria reparado se estivesse. Não tinha sentido enjoos, dores de cabeça, desejos estranhos, mudanças de humor, a sua barriga não tinha crescido. Lembrava-se de que, quando ficou grávida, a sua barriga ficou imensa.

Então sentiu um líquido escorrer pelas suas pernas. Levou uma mão estremecida para a coxa e pôde ver sangue.

Hemorragia?

Ela ia morrer, concluiu.

Desistiu da ideia de ir para o quarto, engatinhando escada abaixo, não querendo nem pensar na cena de filme de terror que devia estar montando, o sangue escorrendo pelo chão.

Tinha que ser justo às 3 da manhã? Não podia ser 4? De preferência um horário em que ela tivesse alguma esperança de Remus voltar a tempo de ajudá-la.

Alcançou a sua varinha e tentou pensar em qualquer lembrança feliz para enviar um patrono, mas as pontadas cada vez mais frequentes dificultavam a sua concentração.

— Você tá grávida, você tá grávida pra caralho — Tonks resmungou, encolhendo-se.

Como que isso tinha... Quer saber? Ela sabia como tinha acontecido. A questão é como que ela ficou grávida depois de tantos anos e não teve nenhum sintoma disso antes. Tinha sido negligente? Ela deveria ter notado. Começou a pensar em tudo que fez de errado durante aqueles meses. Ela tinha bebido. Ela não teve um acompanhamento... Se bem que com Teddy não teve também. Mas eles estavam em guerra, fugindo dos Comensais...

Mais uma contração interrompeu a sua linha de raciocínio.

Puxou uma almofada de cima do sofá, posicionando-a abaixo do seu quadril. Ela ia ter que se virar sozinha, não ia dar tempo de fazer mais nada.

— É só empurrar — murmurou, lembrando-se de como sua mãe a ajudou da última vez.

Sua mãe ia matá-la. Como se ela tivesse culpa!

Abraçou os joelhos e então começou a fazer força.

Ela ainda lembrava de como era cuidar de um bebê? Fazia tanto tempo... Teddy não ia entender nada. Eles mal conversaram com ele sobre como os bebês nasciam, estavam mais preocupados em explicar que o pai dele era um lobisomem e que não tinha nada de errado com isso — embora Remus discordasse completamente dessa parte. E como que ele ia reagir? Ele não tinha reagido muito bem da última vez e tiveram 9 meses para digerir a notícia. Daquela vez eles não teriam nem um dia.

Jogou a cabeça para trás, gritando de dor, enquanto empurrava com o máximo de força que conseguia.

E então a dor parou e os seus gritos foram substituídos pelo agudo choro de um recém-nascido.

Levou as mãos até a almofada, onde a pequena criatura coberta de sangue se esgoelava, ainda presa ao cordão umbilical. Pegou a menininha no colo, abraçando-a para que não pegasse uma hipotermia, então pegou a sua varinha e conseguiu finalmente conjurar um patrono.

— Mãe, eu preciso que você venha aqui em casa, mas não traz o Teddy, por favor.

Sabia que não era uma mensagem muito autoexplicativa, mas não sabia como dizer que tinha acabado de parir um bebê e não sabia o que fazer.

— Vai ficar tudo bem, meu amor — ela aninhou a pequena de ralos cabelos castanhos, tentando fazê-la parar de chorar.

Não demorou nem 5 minutos para o fogo da lareira se acentuar e Andrômeda surgir ali, paralisando com a imagem à sua frente. O chão estava coberto de sangue, que não parava de escorrer de dentro dela, estava sentada no chão à frente do sofá, segurando uma recém-nascida chorona. Para o seu mérito, sua mãe recuperou-se incrivelmente rápido e não fez nenhuma pergunta, ajudando-a a se levantar e levando-a para o andar de cima, onde a obrigou a deitar-se na cama.

"Diffindo" murmurou, cortando o cordão umbilical antes de levar a neta para o banheiro para limpá-la e aquecê-la.

Tonks obrigou-se a não dormir. Sabia que a última coisa que alguém podia fazer quando estava tendo uma hemorragia era dormir, era quase que uma sentença de morte. Embora essa missão se tornasse mais difícil a cada segundo, estava tão cansada do tempo que passou fora de casa e do recente parto, a ideia de fechar os olhos era irresistível.

— Nymphadora — escutou a voz urgente de sua mãe.

Abriu os olhos, atordoada, sentindo a sua vista ainda embaçada. Sua mãe a fez se sentar e obrigou-a a tomar pelo menos 2 poções de reposição de sangue — que ela tinha em casa porque morava com um lobisomem que se machucava muito em luas cheias, e pelo fato de se machucar com frequência por sua falta de equilíbrio, que não tinha melhorado com o passar dos anos. Segurou a sua filha enquanto tinha a placenta retirada de dentro de si, começando a sentir a tontura desaparecer e a sua visão focar. Ainda se sentia cansada, mas não ia morrer.

— Ela está bem? — perguntou assim que encontrou a própria voz, sentindo a garganta seca.

Por fim, assim que o sangramento parou, Andrômeda se permitiu relaxar, olhando-a severamente.

— Já ouviu falar de hospital? — ela retrucou.

— Eu não tive tempo — Tonks protestou — Não sabia que ela estava aqui.

Não era tão surreal de acreditar, ela era naturalmente distraída. E se nem a própria Andrômeda tinha desconfiado, vendo-a tão frequentemente e tendo seu sexto sentido materno sinistro, como que ela teria percebido?

— Ela é uma menina muito saudável — respondeu a sua primeira pergunta, fazendo-a relaxar consideravelmente.

Olhou para o rosto da pequena, perguntando a si mesma como podia amar tanto aquele ser que tinha acabado de conhecer. Era um sentimento inexplicável e surreal.

— Já sabe que nome vai dar?

Já tinha pensado algumas vezes na última década como seria se tivesse outro filho. Amava Teddy, mas sentia que não tinha aproveitado a gestação dele como deveria, por causa de todo o estresse da guerra. E como toda filha única, queria que ele tivesse alguém com quem brincar, já que só Victoire tinha uma idade mais próxima da dele. Mesmo assim, nunca conversou sobre isso com Remus, já que ele ainda acreditava que tiveram sorte por não ter passado a licantropia adiante — mesmo que já fosse fato conhecido que a licantropia não era herdada geneticamente. Agora, por incrível que pareça, tinha sido o melhor momento. Teddy iria para Hogwarts no ano seguinte, e ela se sentiria muito sozinha em casa — a síndrome do ninho vazio. Além de que ele já tinha idade suficiente para não precisar de tantos cuidados e atenção exclusiva.

— Hope — ela respondeu, sem desviar os olhos da filha — Era o nome da mãe do Remus.

Eles tinham homenageado seu falecido pai com Teddy, nada mais justo do que homenagear a mãe dele, que infelizmente nunca pôde conhecer a nora e os netos.

— É um lindo nome — disse Andrômeda.

— Pensei em Diana como segundo nome — olhou para a mais velha — Ela nasceu em uma lua cheia.

Sabia que não precisava necessariamente ter um segundo nome, mas ela não gostava de não ter um segundo nome quando mais nova — até porque, se tivesse, só pediria para chamarem-na por esse outro nome.

— Acho que temos outra metamorfomaga entre nós — sua mãe sorriu.

Voltou a olhar para a filha, notando que seu cabelo antes castanho agora era loiro.

Apesar de amar o seu dom, sentiu um aperto no coração ao pensar em tudo que teve que passar de ruim por causa de suas habilidades. Não queria que sua filha passasse pelas mesmas coisas. Ela não teria o irmão por perto para ajudá-la, já que ele já teria se formado. Mas teria os Weasleys, tentou se convencer. Ela a ajudaria a superar esses problemas de um jeito que sua mãe, por falta de conhecimento e experiência, não pôde. Elas ficariam bem.

Escutou som de aparatação e foi só assim que reparou que a lua tinha desaparecido. Ficou surpresa. Quanto tempo tinha se passado?

— Preciso voltar, deixei Teddy sozinho. Me chame, se precisar — disse Andrômeda, deixando um beijo em sua testa antes de caminhar até a porta — Repouso absoluto.

Ela gemeu. Como que ia explicar aquilo no trabalho? Ninguém ia acreditar.

— O que aconteceu? Ela está bem? — escutou a voz de Remus alarmada no corredor.

O chão da sala estava todo ensanguentado. Podia imaginar a reação do marido ao chegar em casa e ter aquela visão.

Não escutou a resposta da sua mãe, já que ela sempre soube falar baixo, apenas os passos dele se aproximando até aparecer no quarto.

A expressão no seu rosto devia ser exatamente a que ela fez quando percebeu o que estava acontecendo. Incredulidade. Confusão.

— De quem é esse bebê? — foi a pergunta que saiu da boca dele.

E ela não conseguiu segurar a risada.

O cabelo de Hope mudou para ruivo, respondendo a pergunta. Ela teria dificuldade para controlar as cores por alguns anos, como Teddy e a mãe tiveram.

Remus aproximou-se, ainda estupefato. Devia estar se perguntando se a poção de acônito tinha feito ele ter alucinações.

— Eu pensei que ia morrer — disse Tonks — Comecei a sentir dores tão fortes, eu não tinha ideia...

— Você não teve sintoma nenhum! — ele exclamou — Sem enjoos, sem barriga...

— Eu sei! — ela compartilhou da sua descrença — Só fiquei cansada e com dor nas costas, mas pensei que fosse por causa do trabalho.

Quase podia ver as engrenagens na cabeça dele girando. Por fim, ele ajeitou-se ao seu lado na cama, sem tirar os olhos da menor.

— Hope, esse é o seu pai — ela murmurou, pegando e mexendo na mãozinha dela — Dá oi.

Remus a olhou rapidamente, parecendo mudo pela impressão, mas pôde ver que os seus olhos estavam lacrimejantes.

— Que susto vocês me deram, pequena — ele murmurou, tocando no cabelo dela com cuidado.

Hope foi um bebê muito mais tranquilo do que Teddy. Enquanto que o mais velho se agitava e ficava curioso pelas coisas ao seu redor, ela só queria saber de dormir e observava silenciosamente.

Depois de amamentá-la pela primeira vez e ajustarem-na para que não caísse da cama nem tivesse alguma apneia pela posição, os três caíram em um sono merecido, deixando para resolver qualquer pendência mais tarde.

A vida de Tonks não voltaria a ser tranquila por um bom tempo.


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