Alguns dias depois, quinta-feira…

Sakura e Sasuke estavam caminhando de mãos dadas pelo shopping a céu aberto que ficava no centro da cidade, estavam comemorando a recente liberdade de Sasuke: o pai e o irmão mais velho dele iam viajar no fim de semana e o pai decidiu liberar o mais novo do castigo. Eles só tinham se visto na escola, em algumas das aulas que tinham juntas e nos intervalos. Naquele momento ambos estavam tomando sorvete quando Sasuke sorriu e puxou Sakura em sua direção, fazendo com que o sorvete dela esbarrasse no queixo dele o sujando.

Sakura abriu a boca chocada.

— Meu sorvete – lamentou.

— É com isso que tá preocupada? – Sasuke riu desacreditado limpando o queixo e passando a mão suja de sorvete no nariz dela.

— Ei! – ela reclamou se soltando dele e correndo.

Sasuke correu atrás dela rindo. Fazia muito tempo que não se sentia leve daquela maneira.

— O que vai fazer mais tarde? – ele perguntou depois que a pegou pela cintura e depositou um delicado beijo nos lábios dela.

— Por que? – ela perguntou desconfiada voltando a tomar o sorvete.

— Que tal um passeio de barco? – ele sugeriu.

— Talvez outro dia – ela respondeu se afastando dele.

— Você sempre diz isso – ele suspirou. – Talvez a gente veja uma sereia – disse esperançoso.

— Sasuke – Sakura revirou os olhos, voltando a lamber o sorvete. – Esqueça esse papo de sereia.

— Bem que eu queria – ele suspirou.

— Ainda sonha com essa sereia? – ela perguntou baixinho.

Sasuke havia confessado a ela que algumas vezes sonhava com uma sereia e era sempre o mesmo sonho, o que preocupava Sakura.

— Sim – ele confessou, se sentando em um dos bancos disponíveis, Sakura o acompanhou. – Mas não é a mesma que eu vi antes, a que salvou a minha vida – ele disse baixinho, perdido em pensamentos. – Essa tem longos cabelos escuros cheio de ondas e a cauda é de um azul meio acinzentado. É como se eu já tivesse visto ela antes, uma memória perdida ou sei lá – deu de ombros.

Sakura estranhou, por um instante pensou que talvez pudesse ser Hinata, mas a amiga tinha os cabelos bem lisos, mesmo dentro d’água e a cauda dela era azul e não tinha nenhum tom de cinza. Ela olhou bem para o namorado, se preocupando com ele.

— Cuidado Sasuke – Sakura pediu. – Acho que você tá começando a ficar obcecado.

— Tem como não ficar? Parece que eu sou o único que a viu e nem tenho como provar! – ele desabafou frustrado.

— Pensa comigo: o que você acha que vão fazer se descobrirem que uma sereia existe de verdade? – Sakura o questionou, a voz ainda em tom baixo. E quando ele não a respondeu, ela continuou: – Vão matar essa sereia, vão dissecar como se fosse um sapo e aí? A única sereia que existiu na face da terra morta por humanos… – deixou a voz minguar. 

— Não fariam isso, apenas a estudariam – Sasuke negou.

— Não seja ingênuo Sasuke, seu tio é cientista não é? O que acha que ele vai fazer?

— Estudar… – a voz já não tinha tanta certeza.

— Tortura não é melhor do que morte – ela falou antes de se levantar. – Vejo você depois – se despediu antes de se afastar dele, quando parou em frente a uma espécie de antiquário, reparando que havia um colar muito parecido com o de Tsunade e o de Hinata em frente ao mostruário, mas a pedra era de uma cor diferente, era vermelha…

. . .

No dia seguinte, sexta-feira…

Eles tinham tido provas a manhã inteira, então Sakura não conseguiu conversar com os amigos nem antes ou durante as aulas.

— Eu não tô ficando louca, certo? – Sakura os questionou depois de mandar a a foto para os amigos no grupo de celular.

Ela tinha entrado no antiquário no dia anterior e feito algumas perguntas ao dono, descobrindo que o medalhão era uma herança penhorada, a dona havia falecido a pouco tempo. Isso deixaria Tsunade triste. Sakura queria o colar, mas o medalhão custava 250 dólares, isso era mais de metade do seu aluguel, não tinha como pagar por ele todo.

— Eu tenho 30 dólares – disse Hinata.

— Eu tenho 100 – disse Sakura olhando para Naruto e Ino. 

— Eu tenho 80 – disse Ino, depois de olhar para o aplicativo do banco que tinha no celular. Isso dava um total de 210 dólares, ainda faltavam 40 para complementar.

— Acho que eu consigo arranjar o que falta – disse Naruto, saindo correndo da lanchonete.

— Espero que ninguém compre – Sakura cruzou os dedos.

— Ah não, acho que já é tarde demais, olhem – Ino apontou olhando sobre o ombro da garota de cabelos cor de rosa.

Tanto Sakura quanto Hinata se viraram para onde Ino olhava.

— Não acredito! – Sakura soltou indignada.

Shion vinha caminhando na direção delas com o medalhão no pescoço, com a pose completamente convencida.

— Gostou, Sakura? Esse medalhão é uma antiguidade e paguei uma pechincha por ele – a garota destilou veneno ao passar.

— Fica calma Sakura – Ino segurou a mão da amiga. – A gente ainda tá no trabalho – disse olhando em direção a Gaara no balcão atendendo Shion, que se exibia para ele.

As duas garotas estavam muito irritadas. Sakura pelo medalhão, como a garota sabia que queria o colar? E Ino por… ciúmes de Gaara? Achava a ideia ridícula! Bateu o pé uma vez no chão antes de voltar ao trabalho.

. . . 

Sakura não falava com Sasuke desde o dia anterior, por isso se surpreendeu quando ele entrou na lanchonete e se sentou na cadeira em frente a Hinata, onde antes Naruto estava.

Sakura foi até lá para atendê-lo.

— O que vai querer?

— Um beijo da minha namorada – ele sorriu zombeteiro, o que aliviou Sakura, a aparência dele estava melhor do que no dia anterior.

— É muito estranho ver você sendo fofo com alguém – comentou Hinata observando o garoto.

— Não se acostume – disse Sasuke para a garota.

— Lamento informar que estou em horário de serviço, então o beijo vai ter que esperar – Sakura sorriu educadamente, interrompendo as farpas antes que virassem uma discussão.

— Cruzes, detesto quando você sorri assim – ele jogou o corpo para trás no assento. – Vou querer uma vitamina de abacate então.

— É para já – ela ia se afastar, quando Naruto entrou correndo na lanchonete.

— Consegui o dinheiro – ele desabou na cadeira ao lado de Hinata.

— Isso foi rápido – disse Hinata surpresa olhando as notas que ele tirava do bolso.

— O que importa é que eu consegui o dinheiro, assim que as meninas saírem, a gente vai atrás do colar – disse Naruto, ainda afobado pela corrida. – Nossa, tô precisando fazer mais exercícios físicos – massageou as pernas.

— Esquece Naruto, é tarde demais – soltou Sakura ainda tentando conter a irritação que sentia antes de se afastar.

— Como assim? – ele perguntou confuso.

— Já compraram o colar – disse Hinata apontando para Shion.

— Que colar? – Sasuke perguntou curioso seguindo o dedo de Hinata.

Sasuke se levantou indignado indo em direção a garota.

— Como conseguiu isso? – ele a questionou.

— Oi pra você também Sasuke – ela sorriu debochada.

— Não enrola Shion, como conseguiu esse colar?

— Com dinheiro – ela sorriu sem se afetar.

— Eu deixei dinheiro com o dono desse colar para não vender para mais ninguém – ele falou pausadamente.

— Então fez um péssimo negócio, querido, porque o dono é do tipo que quem paga mais é quem leva – ela sorriu debochada mais uma vez.

Sasuke saiu transtornado da lanchonete.

— Isso vai ser descontado do seu salário – avisou Gaara, com uma careta quando viu o garoto sair tempestuoso da lanchonete.

Sakura então tomou a vitamina, se perguntando o que havia acontecido com Sasuke.

— Vocês sabem o que aconteceu? – perguntou para Hinata e Naruto quando se aproximou da mesa deles.

— Parece que o Sasuke pagou pro dono do antiquário segurar o medalhão pra você, mas a Shion pagou mais caro – disse Hinata ligando um ponto no outro.

Sakura não segurou o sorriso pelo gesto do namorado e o direcionou a Shion, que ficou irritada.

. . . 

Sakura tinha ido atrás de Sasuke assim que seu expediente acabou e o encontrou na praia, naquele mesmo lugar que estava se tornando comum para os dois.

— Tudo bem? – ela perguntou quando se aproximou.

— Sim – ele acenou. – Me desculpa.

— Pelo que? – ela estranhou.

— Pelo medalhão – ele suspirou. – Eu vi que você queria, então paguei pro dono não vender pra mais ninguém além de você, porque eu sabia que você não ia aceitar se eu te desse de presente, o que é ridículo, porque eu sou o seu namorado, deveria poder te dar quantos presentes eu quisesse – apontou este fato pra ela.

— Eu não me sentiria assim – Sakura confessou. – O dinheiro vem do seu pai…

— Ele me dá porque ele quer – ele a interrompeu – e eu é que não vou recusar, então se ele me dá o dinheiro, quer dizer que é meu e que eu posso gastar como eu bem quiser.

Sakura preferiu não falar mais nada.

— Pode me dizer porque esse medalhão é tão importante? – Sasuke perguntou curioso.

Sakura pensou por um momento, não fazia mal contar a ele e, além disso, não era prova de nada relacionado a sereias.

— Foi o marido da Tsunade quem fez – começou a dizer. – Ele fez três medalhões, para três amigas muito queridas, eu queria dar para a Tsunade de volta, ela vai ficar bem triste quando souber que a amiga morreu, mesmo que tenham estado sem se ver ou se falar nos últimos anos – Sakura suspirou.

— Entendi – murmurou Sasuke. – Eu vou conseguir o colar pra você – ele prometeu antes de se afastar, deixando uma Sakura muito confusa para trás.

. . . 

No dia seguinte, sábado…

— Que confusão é aquela? – Ino murmurou, olhando para o aglomerado de pessoas fora da lanchonete.

Tanto ela como Sakura iriam fazer hora extra devido a semana de provas na escola.

Hinata veio correndo na direção delas.

— A Shion jogou o colar no mar – disse ela um tanto afobada.

— O que? – Sakura ficou indignada.

— Vai pegar se você quer tanto assim – disse Shion passando por elas com uma expressão de superioridade no rosto.

— Eu vou – disse Sasuke tirando o tênis e a camisa. 

— Sasuke, não… – Sakura tentou o impedir.

— Você ainda quer o colar, não quer? – ele perguntou.

— Bom, eu quero, mas… 

— Então eu vou pegar – ele sorriu antes de mergulhar deixando Sakura embasbacada com a atitude. Não só ela, mas muitos que observavam a cena.

Depois de três mergulhos Sasuke veio nadando até o cais, com o colar em mãos.

Sakura sorriu verdadeiramente para ele.

— Aqui, é seu – ele estendeu para que ela pegasse.

Ino e Hinata trocaram um olhar alarmado.

— Sakura, tá molhado – Hinata avisou.

— E o que tem? – Sakura não prestava atenção, só sorria para Sasuke, fazendo assim com o que o colar caísse no cais.

Sakura fechou uma das mãos discretamente, evaporando a água do colar e o pegando rapidamente.

— Vocês garotas são estranhas – Sasuke olhou para as três.

— Eu tenho que trabalhar agora – ela apontou para a lanchonete, onde Gaara as olhava de braços cruzados, ignorando o comentário dele. – Mas depois eu passo na sua casa mais tarde, pode ser?

— Sim – Sasuke acenou e tirou a camisa, deixando quem passava embasbacado com o físico dele, incluindo Sakura. Sasuke era magro, mas tinha um quê de quem se exercitava regularmente. – Vejo você depois – ele piscou para a namorada antes de se afastar.

— As vezes eu me surpreendo muito entre esse Sasuke que é legal com você e o outro que é babaca com o resto do mundo – comentou Ino.

— Eu concordo plenamente – acrescentou Hinata.

— Vamo trabalhar? – chamou Sakura tentando desviar do assunto e guardando o medalhão no bolso. 

. . . 

Mais tarde, casa do Sasuke…

Sasuke tinha pedido comida para eles, sushi e temaki, e depois colocou um filme para que assistissem no sofá da sala, a televisão era enorme.

— Já tá bem tarde – Sakura olhou para o celular.

— Dorme aqui – ele sugeriu, um sorriso safado no rosto.

Sakura pensou por um momento. 

— Tem certeza que seu pai e seu irmão vão ficar fora o final de semana inteiro? – ela perguntou.

Isso fez Sasuke se animar, a ideia deles dormirem juntos… 

— Sim, não precisa se preocupar – ele a puxou para o quarto dele antes que ela mudasse de ideia.

Depois de dentes escovados e trocas de roupas, eles estavam embaixo das cobertas, abraçados um ao outro, em forma de conchinha.

Sakura usava uma camiseta dele emprestada como pijama que batia no meio das coxas, a calcinha por baixo e o medalhão no pescoço. Sasuke estava de calça moletom e o peito desnudo, o que deixou Sakura levemente constrangida. Sasuke percebeu e brincou dizendo que tinha o costume de só dormir de cueca, o comentário fez Sakura jogar um travesseiro nele que revidou e brincaram de guerra de travesseiros, até se cansarem e Sasuke a abraçar e a puxar para a cama.

Sakura estava um pouco nervosa, as chances de algo dar errado… mas respirou fundo e se manteve no abraço de Sasuke, sentindo segurança em alguém em… muito tempo.

Para Sasuke era mais do que o suficiente, sentia uma calma e uma paz com Sakura que não sentia desde que sua mãe… sumiu. Detestava pensar que ela podia ter morrido, então torcia para ela ainda estar por aí, em algum lugar, tranquila e feliz…

E foi assim, pacificamente, que caíram no sono…