Black Swan escrita por autorasantiis


Capítulo 1
Capítulo Único




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Jeon — a voz ressoava no tom mais suave, como um sussurro na escuridão, mas aquele tom, para ele, não se parecia com nada que o remetesse à tranquilidade, aquela voz soava como um grito, vindo de qualquer lugar daquele cômodo.

O garoto se remexeu desconfortável em sua cama, o suor escorria pelo seu rosto, enquanto sua mente era atormentada por aquela voz, e mais uma vez naquele maldito ano, ele sentiu vontade de deixar tomar conta, para que ele não precisasse mais sucumbir pouco a pouco. Pois aquela escuridão que o sondava, aquela voz suave e, ao mesmo tempo, aterrorizante, lhe tirava toda a sanidade que poderia ter, ou que um dia tivera. Já que agora o garoto vivia a base de remédios pesados para adormecer e ainda assim não era suficiente para aquele maldito cisne negro sumir da sua mente.

Ele o havia tomado tudo, sua vida, sua família, seus amigos, seus estudos, até mesmo sua saúde, fosse física ou mental, já que o garoto não saía mais daquele cubículo que chamava de lar, ao qual havia se isolado desde o fatídico dia em que o cisne se tornou real.

Jeon acreditava veementemente que havia tido um amor tão profundo, tão belo que sempre que podia, remetia ao garoto que tanto amara, como um cisne branco, o ser de luz que iluminava a sua vida e lhe dava alegria de viver. Mas um ano após tudo ter mudado, foi o suficiente para ele também ir desaparecendo lentamente, pois a escuridão estava lhe sugando. Por mais atormentado que ele estivesse, ele não se importava por vezes de estar sendo puxado para o lado escuro, para o fundo do poço, a ponto de se tornar também um cisne negro. Mas tudo que ele acreditava era apenas mais uma ilusão, pois a sua verdade era outra, completamente diferente daquela que sua mente havia criado.

Seus olhos se abriram, a tempo de sucumbir a um grito, entalado em sua garganta, capaz de lhe doer até a alma. Ele queria gritar e fazer tudo aquilo desaparecer, fazer toda aquela dor cessar de uma vez. E ele tentou, por diversas vezes, mas nunca conseguiu, pois ele nunca fora o escolhido, ele nunca fora parte daquela ilusão que sua mente atormentada criava, com suas inúmeras cenas, inúmeras situações que nem ele próprio poderia compreender.

O garoto se debateu, desarrumando toda a sua cama, fazendo o lençol se rasgar e seu corpo colidir com o chão. Ele queria dar um fim àquele momento, mas sabia que nunca deixaria de ser atormentado, aquele era o preço, aquele era o seu carma e ninguém, nem mesmo a morte, o salvaria.

— Doutor, o paciente 13 está novamente em surto, o que quer que façamos? — O homem de cabelos roxos e expressões suaves perguntou ao loiro sentado em sua cadeira.

Ele olhou o enfermeiro parado na porta e negou, indicando que nada que fizessem poderia adiantar. O paciente 13 tinha o caso mais grave daquele pequeno hospital psiquiátrico e ele, o doutor Park, não tinha ideia de como ajudá-lo, já que sempre que tentava, o garoto inventava uma nova fantasia em sua mente perturbada.

O enfermeiro assentiu e se retirou, deixando o loiro com uma expressão frustrada em seu rosto. Ele poderia receitar outro calmante, outro sedativo, mas de nada adiantava, o paciente sofria de esquizofrenia paranoica com terror noturno, e fazia exatos quinze anos que ele estava ali, tendo sido internado com seus 5 anos, e completando respectivamente seus 20. A essa altura, não havia ninguém que pudesse ajudá-lo, nem mesmo o melhor psiquiatra da Ásia.

O homem se levantou e caminhou até o quarto, logo avistando o garoto andando de um lado para o outro, com as mãos na cabeça, enquanto gritava “você é a escuridão que me habita, saia daqui”. Park Jimin já não sabia mais o que fazer, Jeon Jungkook era muito jovem quando chegou, com sintomas muito fortes, vivendo sempre em um mundo de fantasias. Durante a investigação sobre seus sintomas, Jimin deixou em aberto várias possibilidades e quando o jovem completou 13 anos, ele fechou o diagnóstico, sabendo que nada mudava em seu quadro. Mas o Jeon continuava mudando a todo instante, trazendo mais e mais fantasias, tentando fazer com que todos acreditassem que ele estava sendo assombrado por uma figura específica, essa que sempre remetia ao próprio, Park Jimin.

O homem abriu a porta e adentrou o quarto branco, recebendo a atenção do garoto, com seus olhos brilhantes, em completa insanidade.

— Meu amor, você chegou — ele falou animado, era sempre daquela forma. Sempre que Jimin aparecia, a mente do Jeon parecia voltar a algum lugar que nem o próprio Park poderia compreender — achei que chegaria mais tarde, querido.

— Jeon, quem sou hoje para você? — Jimin perguntou, era aquela mesma pergunta que fazia todas às vezes que entrava em seu quarto.

— Oras, Ji, está com amnésia de novo? — Jeon riu, achando engraçado — somos noivos bobinho — Jeon deu um sorriso tímido e se tratou de arrumar a cama bagunçada — eu ainda não fiz o jantar, o que acha de me ajudar? O trabalho foi bom? Alguma novidade com o roteiro de Black Swan?

Era aquela única palavra constante, ligada a Jimin, o cisne negro sempre estava presente, ele não conseguia entender em que ponto o garoto chegara para remetê-lo a uma figura maligna, sempre que o via.

— Você será um lindo cisne, meu bem, afinal, todos temos luz e trevas em nós — Jeon citou, lhe lançando um sorriso sombrio.

Jimin não tinha medo dele, pois nunca fora atacado pelo mais novo, mas naquele momento, um arrepio subiu sua espinha, como se algo indicasse que, até aquele ponto, nada do que havia visto ou ouvido de Jeon se igualava àquele momento. Seus olhos brilharam em um tom escuro, demonstrando sua total insanidade.

— Você deveria estar morto — Jeon falou, encarando o doutor Park — Morto, eu não aguento mais você me arrastando para o inferno, eu sou bom, eu mereço viver, por que você não me deixa em paz?

Seus gritos ecoavam por todo o cômodo e corredor, já que a porta ainda estava entre aberta. Não que isso fosse uma preocupação para Jimin, afinal, havia dois enfermeiros na porta para impedir qualquer tragédia.

— Vá embora, Jimin, você é a desgraça da minha vida e eu não te quero mais — Jeon gritou enquanto as lágrimas caiam dos seus olhos — quero viver como um belo cisne branco, mas se você deseja que eu me torne como você, talvez eu devesse dar um jeito nisso.

E com essas palavras, ele avançou sobre o corpo de Jimin, mas não deu tempo de machucá-lo, pois o homem estava sempre preparado. O corpo do garoto amoleceu em seus braços enquanto o sono o domava.

— Enfermeiro Kim, por favor, coloque o senhor Jeon na cama — Jimin pediu enquanto alisava os cabelos negros do garoto em seus braços — ficará tudo bem, garoto, um dia você vai acordar e perceber que toda a sua ilusão não passava de um sonho ruim, porque eu nunca fui a sua escuridão.

 


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