Vou seguir com você escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 1
Capítulo único - Vou seguir com você


Notas iniciais do capítulo

Essa one-shot é uma continuação da minha outra one "Vou seguir você para todos os lugares". Eu confesso que eu mesma fiquei muito curiosa com o que realmente aconteceu no cemitério, o que Peter realmente estava vendo, ou se era produto de sua mente cansada e confusa. E desde então a ideia dessa história aqui tava faiscando, até que esses dias ela ganhou forma.



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Vou seguir com você

De Dani Tsubasa

                Gwen observou com tristeza enquanto seu garoto aranha parecia se destruir. A ferida em seu coração se abrindo e sangrando mais e mais conforme os meses passavam, ao invés de cicatrizar lentamente como aconteceria com a maioria das pessoas na situação que ele estava enfrentando. Peter não saía mais do quarto, mal se lembrava ou tinha vontade de comer. Não se importara em procurar curso algum de graduação, mas tinha encontrado um trabalho eventualmente, ele ainda sentia-se na obrigação de cuidar de sua tia, e ajuda-la com as despesas da casa. Era o mínimo que podia fazer depois de todos os desastres que o Homem Aranha trouxera para suas vidas, palavras dele próprio.

                May chorava sozinha às vezes, pela dor do filho adotivo, e pela dor de ser incapaz de ajudá-lo, por mais que estivesse fazendo por ele, levando comida para seu quarto, incentivando-o a sair mais, ainda que soubesse que na maioria das vezes seus pedidos seriam ignorados. Eles não podiam vê-la, mas Gwen estava quase sempre ali, quando não estava observando a tristeza em sua própria casa, vendo como sua mãe e irmãos tinham repentinamente se tornado silenciosos e tristes, como cada um deles nutria um pouco de ódio pelo Duende Verde, especialmente Helen e Simon. Seu irmãozinho era o que mais chorava dos quatro. Eles estavam levando a situação melhor do que Peter, mas ainda não era algo fácil de ver.

                Depois de cinco meses, quando ele decidiu dar outra chance ao Homem Aranha, e sua família e May pareciam estar finalmente no caminho de seguir para uma recuperação, Gwen teve esperança, de talvez ser capaz de seguir para onde quer que deveria ir sem carregar preocupações com seus amados, especialmente seu herói. Mas não durou muito. Ao fim de cada batalha, Peter chorava sozinho em seu quarto novamente ou passava horas totalmente apático, ou escondido no topo de alguma construção, ou na escada de incêndio ao lado do quarto dela, aonde ele continuava indo de vez em quando, mesmo sabendo que encontraria o lugar vazio ou com as cortinas fechadas. Às vezes ele também ligava para ela no celular, e chorava ao ouvir sua voz na secretária eletrônica, ou não conseguia dizer nada e desligava quando sua mãe ou irmãos atendiam.

                Gwen sabia que May e Helen mantinham contato às vezes, uma tentando ajudar à outra com o que estavam passando, uma preocupada com o filho da outra. Gwen achou a amizade inusitada, sendo as duas de mundos tão diferentes, mas sendo sua mãe muito mais flexível que seu pai, não era tão surpreendente no fim das contas. Peter, e a própria Gwen, ainda que não estando mais entre eles, ainda as conectavam como uma ponte.

                Os meses corriam, e o Homem Aranha não só aparecia pouco, apenas em situações muito graves, como começou a ficar diferente, o que rapidamente a população de Nova York também percebeu. Sem bilhetes bem humorados para a polícia, sem conversas alegres com as pessoas que o cumprimentavam quando ele passava voando por elas na rua, sem mais fotos para o Clarim Diário, ao qual Peter passara a ignorar como se não existisse, e o que definitivamente mudou tudo, seu comportamento nas batalhas. De repente não havia mais qualquer cuidado em entregar os vilões e bandidos em bom estado. Conforme a amargura e a raiva se infiltravam no coração de seu amado, Gwen o viu parar de conter sua enorme força física nos combates, ele só queria terminar rápido e voltar a ficar sozinho com sua dor. Os cenários encontrados pela polícia, agora costumavam ter mais sangue, e criminosos com ossos quebrados ou incapazes de levantar, ainda que estivessem presos por teias no chão. Peter não visitou Harry na cadeia enquanto ele enlouquecia e morria lentamente, pois sabia que talvez não conseguisse evitar lhe dar o mesmo destino que aos criminosos lá fora, e acabar sendo preso também.

                E foi nesse momento da mais profunda escuridão que Gwen assistiu com tristeza Peter escrever um bilhete para May em seu caderno de desenhos, que quase soava como uma despedida. Também foi nesse dia que ele apareceu. Gwen não estava por perto no momento em que Venom tentou se apoderar do Homem Aranha, mas seu uniforme já tinha se tornado completamente negro quando ela deixou mais uma vez o apartamento de sua família triste e o viu pular entre os prédios à noite.

                Estava em todos os noticiários a nova mudança do Homem Aranha, como ele vinha sendo mais agressivo com os criminosos, e agora novamente pessoas divididas entre o herói estar ou não do lado dos cidadãos de Nova York. May não estava lá para se preocupar com as notícias nessa noite, estava em seu trabalho no hospital, então o espírito de Gwen ficou sozinho com um Peter apático olhando para a pequena TV da cozinha. Ele a desligou depois de bastante tempo a olhando em transe, e voltou a seu quarto no primeiro andar para trancar a portar e se jogar em sua cama como fazia quase todas as noites agora.

                Gwen se sentou ao seu lado, continuando impressionada de como a vida após à morte podia ser parecida com a vida de antes, mesmo que agora ela conseguisse atravessar paredes, se sentisse muito mais leve, e pudesse se transportar com muito mais facilidade de um lugar para outro. Estendeu a mão para os cabelos de Peter, tentando se concentrar na lembrança de como era a textura dos fios castanhos, e conseguindo finalmente fazer isso sem que sua mão atravessasse a cabeça dele. Peter pareceu sentir, pois abriu os olhos e prendeu a respiração. Gwen parou seu afago, ressentida consigo mesma por tê-lo assustado. Peter jamais fora de sentir espíritos, e Gwen se perguntou se estava realmente acontecendo ou era apenas uma coincidência. Mas bem... Relatos e relatos sobre acontecimentos assim estavam por toda a parte, e só agora ela conseguiu acreditar que talvez alguns deles fossem reais.

                - Se você pudesse me ver agora... – ela disse mais uma de tantas vezes – Que eu tô aqui com você.

                Peter fechou os olhos e soltou um suspiro pesado. O corpo dele relaxou por um instante antes que ele começasse a chorar, algo que já não fazia há semanas, e não sabia porque estava acontecendo agora. Ele não tinha ideia se o espírito de Gwen podia estar por perto, ou se eram apenas suas lembranças e sua dor lhe pregando peças, mas fazia sua dor aumentar. Por que ele simplesmente não podia dormir e nunca mais acordar? Sem ela, nem ele e nem o Homem Aranha tinham direção.

                Gwen sentiu o peito doer, e se deixou chorar com ele outra vez. Essa cena nem parecia mais estranha. Peter a visitava no cemitério e lhe levava flores quase todos os dias. Ele passava horas lá sentando em silêncio quando não estava trabalhando ou ajudando May em algo, não importando se havia um sol escaldante ou uma tempestade de neve acima de sua cabeça, e quando algum criminoso ou vilão tinha o azar de ser encontrado por ele logo depois que saía dali, o Homem Aranha, e ultimamente Venom também, resolviam o problema em tempo record, logo jogando o criminoso nocauteado ou ensanguentado perto do departamento de polícia. Gwen podia sentir as vibrações ruins do ser alienígena que se apoderara do uniforme do Homem Aranha, e não eram boas. Peter ficava um pouco melhor quando não o estava vestindo, mas quando estava, todos os sentimentos ruins plantados quando ele a perdeu, ganhavam muita força.

                Ela fez seu melhor para cuidar dele enquanto seu garoto inseto chorava, até finalmente ele desenterrar seu rosto do travesseiro e se virar para uma posição mais confortável, começando a silenciar pelo cansaço. Peter se levantou apenas para ir ao banheiro, e voltou a se trancar e se enterrar em sua cama, parecendo quase querer se fundir com ela, puxando o cobertor até a cabeça, deixando apenas espaço para respirar.

                - Eu sei que você não sabe, mas eu tô aqui – Gwen falou ao se ajoelhar ao lado dele – E eu te amo.

                O olhar perdido de Peter encontrou o dela por acaso, e dessa vez doeu nela, ver como estavam tão perto e tão separados ao mesmo tempo. Gwen se inclinou e beijou os lábios do amado, não se importando em refletir sobre estar ou não invadindo seu espaço. Era algo que ela não chegara a dizer a ele, mas às vezes parecia tanto que eles eram casados, e secretamente ela nutria a esperança de um dia serem de verdade, nessa ou em outra vida.

                Peter suspirou com o contato, mesmo sem entender o que estava acontecendo, e todo o cansaço acumulado se apoderou dele, fazendo-o finalmente fechar os olhos e dormir em poucos segundos. Gwen continuou ali.

                Às vezes outros espíritos vinham encontrá-la, a ajudavam a lidar com sua passagem, lhe davam as informações que eram permitidas, e a advertiam sobre os riscos dela também se deparar com pessoas perdidas que não eram tão gentis quanto ela, mas no fim das contas a escolha era totalmente sua, e ela queria ficar ao lado de Peter. Ao menos um pouco mais. Ela queria encontrar seu pai eventualmente, não tendo até agora certeza de porque isso não tinha acontecido. Mas seu pai e seu namorado não funcionavam juntos, e seu pai tivera seu tempo, mas Peter precisava de apoio agora, e ela de mais reflexão.

******

                Gwen caminhou com ele enquanto Peter se arrastava até o cemitério, sangrando em seu traje, ainda negro devido ao simbionte, assim como tinha caminhado com ele a maior parte do tempo nos últimos meses, e ficado ao seu lado em todos os inúmeros dias que ele passou horas sentado em frente a sua lápide, como se estivesse em transe. Às vezes, novamente lhe parecia que ele podia senti-la, mas ele sempre deduzia ser produto de sua dor e desespero. Gwen não conseguia mais pensar em como consolá-lo, sabendo exatamente o que seu garoto inseto estava passando. Ela tinha tentado, no entanto, e fora tão difícil, como fora tentar fazê-lo por sua mãe e irmãos.

                Ela o viu escrever um bilhete para tia May em seu caderno, o viu se tornar agressivo com os vilões e criminosos, o viu perder peso pelas horas em que passava sem se lembrar ou ter vontade de comer, observou com tristeza, e talvez com um pouco de compreensão, o Homem Aranha que todos conheciam ficar tão mudado. Ela se culpava às vezes, e compreendia em outros momentos, sabendo que estaria tão devastada quanto ele se a situação se invertesse, já fora difícil o suficiente perder seu pai. Ela também sorria e chorava ao ouvir Peter dizer que a amava, e ao ter demonstrações do amor e da saudade de May e de sua família por ela. Sim, espíritos também choram. Afinal, a única diferença é que são humanos sem um corpo. Ela continuava viva, mas de uma forma diferente.

Uma explosão pós fim ao simbionte quando ele decidiu se desvencilhar do traje, deixando ainda mais evidente o quanto Peter estava ferido. Rasgões no peito e nas costelas do traje exibiam o sangue que manchava sua pele, nitidamente mais graves que os ferimentos do lagarto. Machucados menores se distribuíam por seu rosto e outros lugares do corpo, além de manchas escuras no traje indicarem que ele ainda estava perdendo sangue. Mas Gwen não podia mais cuidar dele, e Peter não parecia desejar qualquer socorro que não o dela, porque é para ela que ele estava indo mais uma vez, sem perceber que ela já estava bem ao seu lado, que tinha acompanhado a batalha que definiu o último dia de seu namorado na Terra. Sim, ela fora avisada sobre isso, e ficou a seu encargo escolher acompanhá-lo ou não. Não teve dúvidas de sua escolha, mesmo com suas emoções lutando entre alívio e tristeza.

Um rastro do sangue de Peter marcou a caminhada silenciosa dos dois até onde ele passava a maior parte de seu tempo nos últimos meses, e o jovem caiu com um baque no chão, olhando para a pedra gravada com o nome dela.

                - Gwen...  – ele chamou com a mesma suavidade e doçura de quando estavam juntos e sozinhos – Estou em casa – disse sorrindo.

                Gwen sentiu os olhos umedecerem outra vez enquanto ele falava de como não sabia se ela ainda o desejaria após sua mudança como herói e de como ela era a esperança dele.

                - Tudo que eu queria é que você me visse agora – ela disse entre as próprias lágrimas.

                Peter pediu desculpas e se arrastou para se apoiar na pedra gravada com o nome dela, fechando os olhos e relaxando, usando seu último fôlego para dizer o quanto a amava, e pedindo perdão e agradecendo a cada pessoa que fora importante para ele até ali. E era o momento, ele precisaria de ajuda agora. Gwen engoliu o choro, secou o rosto, e se agachou ao lado dele com um sorriso.

                - Eu também amo você – ela disse, apesar de saber que Peter não a ouvia ainda.

                Ele abriu os olhos e a encarou com tanta firmeza por um instante que Gwen se perguntou se ele já a estava vendo. Mas pareceu deduzir que se tratava apenas de uma impressão causada pelos ruídos e movimentos da neve e do vento que estavam se intensificando desde que chegaram ao cemitério.

                - Peter...? – Ela tentou.

                Seus olhos se moveram, apesar de ele não voltar a abri-los, e sua cabeça se moveu levemente, como se ele a escutasse, mas não o suficiente para uma grande reação.

E aconteceu. Sua mão direita soltou a máscara do Homem Aranha completamente na neve, um suspiro profundo moveu seu corpo pela última vez quando deixou seus lábios, e o coração de Peter Parker parou de bater poucos instantes depois, todas as funções de seu corpo seguindo para o mesmo fim nos minutos seguintes.

Gwen fez seu melhor para segurar o choro enquanto o observava e esperava fazer a transição. Tantas coisas diferentes passavam por sua mente e seu coração agora, que ela achava que perderia a sanidade se tentasse definir. Mas só o que importava nesse instante é que Peter estaria com ela, e precisaria de ajuda.

Longe deles, sirenes da polícia e de ambulâncias eram ouvidas na cidade, noticiários falavam da batalha do Homem Aranha contra os últimos vilões, alguns tendo encontrado seu fim como o herói, embora ninguém além de Gwen soubesse dessa última parte por enquanto. May buscava notícias do sobrinho desesperada, mas eles também não sabiam disso.

Gwen secou os olhos novamente quando finalmente Peter se viu fora do corpo, trajando roupas comuns, e ele estava tão bonito, embora ela sempre o achasse lindo, mesmo quando vinha a ela cansado e ferido. Estava tão adorável e jovem quanto costumava ser, e nem a sombra de ferimentos e sangue sobre sua pele.

Ela esperou pacientemente que ele se lembrasse e entendesse o que havia acontecido, onde estava, e que ela realmente viera buscá-lo como percebeu que ele desejava em seus últimos momentos. Os olhos castanhos se arregalaram quando ele finalmente a viu, e isso o acordou de sua confusão. Peter olhou dela para o rastro de sangue na neve, e para seu corpo sem vida no chão, se mantendo assim por bastante tempo enquanto assimilava os fatos. Por instinto ele tentou segurar a máscara do Homem Aranha, mas sua mão a atravessou, e ele o fez novamente para testar, repetindo a mesma coisa de antes. Por fim, o jovem olhou longamente para os olhos da máscara que tinha significado tanto para ele até então, e para o símbolo rasgado da aranha no peito. Gwen viu seus olhos castanhos se encherem de lágrimas, talvez de saudade, ou de alívio, ela não sabia dizer.

Os lábios de Peter proferiram uma palavra silenciosa enquanto olhava para o traje revestindo seu corpo sem vida, o que Gwen identificou como obrigado. Por fim ele fechou os olhos por um instante, e ela achou que ele fosse dormir. Não gostaria disso agora, queria muito conversar com ele, mas entenderia. Mortes muito chocantes ou dolorosas às vezes fazem as almas dessas pessoas sentirem sono logo que se libertam, agora Gwen já sabia disso também. Não fora o caso dela. Mil sentimentos negativos, especialmente a tristeza em não poder consolar seu namorado, a mantiveram acordada, e ela teve ajuda para lidar com isso antes de decidir acompanha-lo enquanto pudesse, também sendo alertada para acidentalmente não obsediá-lo ao invés de guarda-lo.

Mas Peter voltou a abrir os olhos, deixando-a saber que ele apenas estava se despedindo solenemente do Homem Aranha, absorvendo uma última vez tudo que esse símbolo representava para ele próprio. Então se levantou e olhou de volta para Gwen, que não pode fazer nada além de sorrir.

— Você tá realmente aqui?

Gwen assentiu.

— Não sou sempre eu que conserto seus ferimentos, garoto inseto? – Ela sorriu.

Peter cobriu os lábios com uma das mãos, seus olhos umedeceram, e ele caiu de joelhos enquanto chorava. Gwen correu para ele, guardando-o dentro de seu abraço, beijando seus cabelos e deixando-o ter seu tempo.

—  Eu te amo – ela falou.

Isso o fez chorar mais, mas seu corpo relaxou nos braços dela. Eles ficaram assim até Peter se acalmar, e o som do vento, da neve e do silêncio se tornarem reconfortantes para ele. O adolescente soltou um longo suspiro antes de falar outra vez.

— Eu morri... – afirmou olhando novamente para seu corpo, apenas um pouco distante de onde estavam.

— Mais ou menos. Continuamos vivos, mas de outra forma. É eterno, Peter.

— Me desculpa. Eu não tenho a força que você sempre acreditou que eu tinha, Gwen.

Ele a sentiu acariciar seu cabelo e beijar os fios novamente.

— Não, você tem mais.

Peter a abraçou de volta com força.

— Uma pessoa fraca nunca aguentaria tudo que você passou depois que eu fui embora e ainda se preocuparia em destruir Venom pra não arriscar vidas inocentes antes de partir. Você é muito mais forte do que pensa que é, Peter. E muito mais amado e guardado do que pensa também. Minha vida não teria chegado nem perto da plenitude que teve se eu não tivesse me encontrado com você.

Dessa vez foi Gwen que o apertou no abraço quando o ouviu soluçar novamente e esconder o rosto em seu ombro.

— Ei... – ela chamou baixinho quando conseguiu fazê-lo olhar para ela – Calma, calma... – pediu ao beijá-lo nos lábios, suavemente e cheia de carinho, como ele fizera da primeira vez que a beijou.

Eventualmente ela conseguiu acalmá-lo, e levá-lo para se sentarem num banco do cemitério, um pouco mais distantes de onde ele tinha feito a passagem momentos atrás, e contar sobre como o acompanhou ao longo dos últimos meses, vendo seu olhar ficar surpreso ao descobrir que ele não estava imaginando coisas quando a sentia perto dele.

— O que vai acontecer agora?

— Nós podemos ficar mais se você quiser ver seu enterro. Podemos nos despedir de quem quisermos e tentar ajuda-los com boas vibrações. Ou podemos ir embora agora.

— Pra onde?

— Há muito a dizer sobre isso, mas não estamos sozinhos, e não ficaremos vagando se não quisermos. Podemos seguir em frente, e quem sabe reencontrar tio Ben ou meu pai, ou seus pais.

— Você os viu?

— Ainda não, mas eu sei que estão bem, e sinto que vamos encontra-los em algum momento.

— E depois?

Gwen deu de ombros.

— Planejar a próxima vida, quem sabe? – Ela sorriu com a possibilidade – Mas não acho que precisamos fazer isso imediatamente.

— E... Podemos planejar juntos? Se nós não nos encontrarmos mais? Se tudo der errado de novo? Eu ainda sou o Homem Aranha?

Gwen o beijou outra vez, descobrindo agora que essa era sua forma favorita de fazê-lo se acalmar ou calar a boca e escutá-la.

— Você não precisa mais ser o Homem Aranha, você já teve o suficiente disso, você já ajudou todas as pessoas que podia com isso, e já sofreu o suficiente. Nós podemos voltar juntos se quisermos. Você não deve lembrar ainda, mas essa não foi a primeira vez que vivemos juntos. Nossa conexão não foi à toa, Peter.

— Então podemos fazer tudo de novo? Ou quase tudo?

— Até como irmãos gêmeos se quisermos.

Ele sorriu.

— Eu não quero ser seu irmão, eu não posso.

Gwen riu.

— Eu também prefiro de outa forma. Quando você estiver pronto pra irmos embora, você vai ouvir falar sobre resgastes. Nós podemos fazer um.

— Resgate?

— Muita coisa nos atrapalhou aqui e nos desviou do nosso caminho juntos. Mas podemos recriar isso um dia. Em outra época, outro lugar, com outras aparências e nomes, mas ainda sendo nós mesmos, ainda mantendo nossa conexão. Vamos planejar algumas coisas, e vamos nos encontrar no caminho, nós vamos sentir um ao outro, vamos realizar tudo que não conseguimos aqui.

— Isso é mesmo possível?

Gwen assentiu.

— Mas se vamos esquecer de tudo, como...?

— Isso simplesmente acontece. Nossas almas não perdem as memórias, nós lembramos enquanto nossos corpos dormem, e quase sempre esquecemos tudo de novo quando acordamos, mas tá tudo lá. Gravado nas nossas almas.

— Eu quero fazer isso com você – Peter respondeu, vendo-a abrir um sorriso radiante – Então eu vou ficar longe das aranhas – ele disse, fazendo-a rir – E te convidar pra sair na primeira vez que eu te encontrar no corredor da escola. E com certeza vou te abraçar de volta se você me abraçar primeiro em algum momento, e vou pedir você em casamento quando estivermos na faculdade, porque eu não quero esperar muito. Vou levar flores descentes pra sua mãe, e vamos dar netos a nossos pais e tios, e talvez assim seu pai não queira me prender.

Gwen riu, deixando novas lágrimas correrem por seu rosto.

— Ainda é muito cedo, mas vamos guardar essa ideia – ela disse.

— Fantasmas choram – Peter falou enquanto secava suas lágrimas com as mãos.

— Sim, achei que você tinha percebido lá atrás.

Ele riu.

— É mesmo...

Os dois riram como se estivessem se divertindo num dia qualquer depois do colégio.

— Não faz mal planejar.

— Não, não faz – ela respondeu, deixando-o falar, e pouco a pouco sentindo seus corações se curarem juntos.

— Gwen Stacy... Quando isso acontecer... E nós estivermos aqui de novo em algum lugar. Você quer se casar comigo?

Gwen riu enquanto assentia e os dois se abraçavam. Como diria não se os dois tinham sonhando com isso desde que se reencontraram na curta vida que tinham acabado de concluir? Ainda havia muito para os dois relembrarem e aprenderem para o caminho que viria a seguir, e provavelmente não levariam menos de cinquenta anos para renascerem em algum lugar do planeta Terra, mas por enquanto, eles podiam ficar felizes por finalmente estarem em paz, por poderem descansar juntos, apesar de tudo que ainda veriam e de tudo com o que ela ainda o ajudaria a lidar quando Peter decidisse se despedir de tia May e da cidade que ele ajudara a proteger nos dias seguintes. Por enquanto eles podiam apenas ter esperança.


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Notas finais do capítulo

Tentei manter um equilíbrio entre o mundo fictício que conhecemos e o que sei sobre o mundo espiritual, que descobri através de meus estudos em astrosofia e outros espiritualistas que acompanho. Se você não acredita ou tem uma crença diferente, peço que ao menos tenha respeito se for falar sobre isso nos comentários. Acho interessante e de extrema importância, por uma série de razões, os humanos voltarem a se conectar com a espiritualidade como eras atrás. Foi tão natural o que escrevi nessa história.



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