Jardim Tempestuoso escrita por Maeva Warm


Capítulo 12
Capítulo 12 - Narcisos 5


Notas iniciais do capítulo

Percebi que em alguns capítulos está escrito Jasper, mas o nome do Sanders é Joshua.

Capítulo não revisado. Perdão por qualquer erro.



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Saí de meu quarto apenas na hora do almoço, ainda alheia a tudo que acontecia no Solo por causa da conversa que havia tido com Hector durante a madrugada. Era surrela até mesmo pensar que haviam ‘outras pessoas’ dentro de mim e que, dependendo de quem seja o genitor de meu filho, outra mulher seria sua mãe verdadeira. Não que eu me tornasse menos mãe de Nathan por isso, mas ainda era confuso.

Como se não fossem problemas suficientes, havia uma grande rachadura entre minha irmã gêmea e eu, fazendo-me recordar das palavras de nosso pai assim que ela chegou no dia anterior. Precisávamos nos resolver urgentemente. Não pela família, por nossos trabalhos ou qualquer coisa do gênero, mas porque sempre fomos unidas demais. Violet era quase como uma extensão minha, assim como eu era para ela, e ter esse abismo invisível entre nós me incomodava. Decidida a resolver isso de uma vez por todas, troco de roupa para vestir um maiô preto, com duas faixas azuis escuras no busto, e que mais pareciam apenas um biquini com parte de baixo era ligado à parte de cima por uma faixa um pouco larga, que ia afilando um pouco acima do umbigo e findava na argola no centro dos seios. Além da amarração nas costas, para prender o sutiã, havia as duas tiras finas para fazer o laço atrás do pescoço e manter a peça firme o suficiente para não exibir nada além do necessário. Junto ao biquini, visto apenas um short confortável para não ficar desconfortável ao montar Caronte. Pego uma bolsa com meu celular, toalha e protetor, saindo de meu quarto no exato instanto em que Violet saía do dela. Nossos olhos se encontram e nos analisamos, caindo na risada ao perceber que nossos maiôs eram exatamente iguais. A única diferença era que as faixas do busto de Violet eram quatro faixas de cores diferentes, enquanto as minhas eram de uma mesma cor. Fora, é claro, que ela tinha um chapéu em sua cabeça e sequer havia pego uma toalha, quanto mais uma bolsa.

Seguimos juntas até o estábulo, ainda sem trocar um mísera palavra e isso seguiu até chegarmos na cachoeira, nosso lugar favorito desde que chegamos naquela terra. Sentamos embaixo de uma árvore que ficava às margens do pequeno lago que se formava com a queda d’água. Tinha ciência que minha irmã esperava eu dizer algo, contudo, eu mesma não sabia o que dizer para pedir desculpas por meu erro, por isso, optei pelo que parecia mais longo e foi o que mais me marcou das palavras ditas pela morena ao meu lado.

— Não escolhi Dimitri para ter um amante por perto. Apenas considerei suas suspeitas e achei que tê-lo por perto seria mais útil do que não saber o que ele pode fazer ou em que grau pode nos afetar. Você saberia lidar muito melhor com um traidor do que eu. Faz parte do seu trabalho. — Suspiro antes de esticar as pernas e encarar o céu limpo. — Eu sou uma isca fácil para ele por causa da minha visão empresarial. Não consigo ver esses detalhes que você consegue e seria muito fácil ser levada por algum sentimento negativo se imaginasse estar sendo passada para trás.Nenhuma de nós ama ninguém, então não imaginei que você levaria para o pessoal.

— Você não ama Hec?

A pergunta sussurada de minha irmã me faz questionar sobre contar-lhe ou não sobre as novas descobertas. Por ora, decido deixar o assunto em sigilo, afinal queria ouvir de nossos pais e meu atual sogro o que exatamente eles escondiam de mim, bem como consultoria algum profissional para ter uma segunda opinião sobre o assunto antes de jogar uma incerteza nos ombros já sobrecarregados de Violet. Assim, aceno a cabeça em negativa sem tirar os olhos do céu.

— Depois de conversar com Lewis ontem, acho que consigo entender um pouco melhor sua escolha de casar com Hec. É o mais seguro. Tanto para nossa família quanto para nós mesmas.

O sorriso debochado que o homem citado me lançou no almoço faz com que um suspiro pesado saia por meus lábios. Era extremamente cansativo saber que ele realmente estava blefando e sabia sobre o segredo que esconderam até mesmo de mim e seu silêncio era única e exclusivamente por causa de minha irmã. Tento imaginar qual seria a reação dela ao descobrir sobre todos esses segredos, mas desisto ao constatar que era provável que ela ainda agradecesse, assim como eu havia feito depois que Narciso pegou meu filho em meu quarto para brincar com ele durante toda a manhã.

— Nós somos muito estúpidas para reconhecer sentimentos.

A risada de Violet me faz sorrir após constatar o óbvio, nossa relação retomando à normalidade. Sabia que ela tinha algo a falar e não estava sabendo como, por causa de seu silêncio incomum.

— É estranho dizer que sempre esperei pelo dia que papa iria nos colocar para confrontar, mas que me sinto estranha pelo resultado? — Inclino a cabeça para o lado, tirando minha atenção do céu claro para encarar o rosto idêntico ao meu. — Não queria competir, apenas achava que seria interessante botar duas gigantes para disputar. É algo comum na Nêmesis. Papa e tio Tyler são lendas por terem as duas melhores equipes da história da agência. As únicas pessoas com poder, força e habilidade para confrontar e até mesmo derrubar uma equipe eram justamente os componentes da outra. Acho que tinha o sonho bobo de que isso aconteceria conosco.

— Papa e tio Tyler seguiram o mesmo rumo, mana. Colocar nós duas para confrontar tem o mesmo resultado de colocar tio Tyler para confrontar com a mama. Eles tem habilidades e conhecimentos diferentes. Nós conseguimos superá-los porque somos unidas e Arthur é habilidoso o suficiente para se encaixar em ambas as situações. E isso ficou provado quando ele percebeu e resolveu o problema dos freios, mantém uma investigação paralela e ainda organizou a vinda de todos em segurança. Essa parte ele encaixou perfeitamente com você e, arrisco dizer, seria o oponente que você esperava. Da mesma forma, ele está sendo o perfeito anfitrião e segurando um monte de Dons e flores enquanto eu gerencio meu problema pessoal. Ele e Narciso são meus braços direito e esquerdo na empresa. Acredito que Lis II e Oliver vão acabar sendo os seus na agência.

Comento tranquila e levanto para retirar o short e ficar apenas com o maiô, seguindo para a água enquanto minha irmã refletia em minhas palavras. A água estava um pouco fria, mas nada que incomodasse, e me permito relaxar durante o banho. Mergulho para molhar-me por completo, estranhando a presença de Hector e Lewis ao lado de Violet quando torno a superfície.

— Aconteceu algo?

— Tia.

Reviro os olhos com a resposta de meu primo para a minha pergunta, saindo da água para entender melhor o que minha mãe queria mandando os dois ali. Assim que me aproximo dos três, Hector me estende minha toalha e apenas passo-a rapidamente por meu corpo antes de sentar por cima das folhas caídas no chão.

— O que ela quer dessa vez?

— Não use esse tom para minha sogrinha, Storm! Ela é uma senhora muito boazinha e mandou os dois genros dela virem fazer companhis para as duas filhas… Como ela fala mesmo?

— Ingratas.

Violet e eu respondemos instantaneamente à pergunta de Frederick, causando risadas entre nós e não demora para que Hector sente-se ao meu lado e passe o braço por meus ombros, puxando para me acomodar em seu abraço. Percebo que o noivo de minha irmã se acomoda atrás dela e ela nem mesmo protesta. O silêncio pesado se instala, em que os homens pareciam estar muito interessados na conversa muda referente à proteção de suas companheiras. Quebro o silêncio, cansada da disputa deles.

— Então, cavalheiros, algum de vocês tem algo a dizer ou podem deixar minha irmã e eu curtimos nosso momento de garotas?

— Nós conversamos sobre algumas coisas no caminho, Cissy, e achamos que seria interessante trocarmos informações sobre o teste que vocês passaram.

— Achamos, uma ova! Você acha. Eu confio na inteligência da minha ratinha.

— E eu já disse que o problema da Cissy não está na inteligência!

Reviro os olhos para o debate dos dois homens, encarando minha irmã que permanecia de olhos fechados, muito mais interessada em aproveitar seu descanso do que em ouvir os dois idiotas falando bobagens. Entretanto, a afirmação de Hector chama minha atenção e percebo seu cuidado em não expor-me.

— Está se referindo à Iolanda ou April? — Questiono ao virar o rosto para olhar Hector, recebendo um sorriso envergonhado em resposta. — Tudo bem. Pode falar para eles. Aliás, você é o mais indicado, já que sabe os pormenores do assunto.

Mesmo que não quisesse, acabo alfinetando o de olhos verdes, que apenas suspira, beija minha bochecha e torna a encarar o de olhos azuis.

— Cissy não era exatamente ela quando você a viu naquele bar. Teoricamente, ela nem mesmo é a mãe de Aspen.

— Você bebeu? Como a Lola não é a mãe do Nath? Papa estava no quarto no dia do parto e eu estava exatamente no corredor. Ela É a mãe do Nathan!

Violet abre os olhos e se senta de forma ereta, encarando Hector com certa fúria em seus olhos e, se não soubesse o que ele queria dizer com aquilo, possivelmente estaria da mesma forma. As palavras do Storm chamam a atenção de Lewis, posi ele sequer tentou impedir o afastamento de minha irmã e encarava o outro homem com atenção.

— Não, Violet. Eu não bebi. Cissy é a mãe porque o corpo gerou o bebê, mas não foi ela quem estava no comando quando ele foi concebido. Não temos certeza, mas as chances apontam para que a mãe verdadeira de Aspen seja April.

— April Davis?

A atenção de todos se voltam para o detetive, assim que o nome sai por seus lábios e, se a situação não fosse séria, eu teria rido de minha irmã parecendo a personagem do filme de exorcismo que assistimos quando criança. Hector confirma o nome, acrescentando mais um item na minha já extensa lista de dúvidas sobre minha atual situação. O suspiro que sai do mais velho parece um presságio de uma tempestade violenta.

— Os telefones da Lola foram grampeados desde que saiu a foto dela com o maldito Sanders. A ratinha foi colocada de fora das investigações quando saiu o nome April Davis em uma mensagem para um número desconhecido. Achávamos que fosse do Sanders, mas era de um velho aposentado.

— E o que eu tenho com isso?

— Tudo. — Hector responde antes mesmo que Frederick e isso me deixa um pouco ansiosa. — April é amante do Sanders há uns cinco ou seis anos, mas desde que ela soube que o Fred chamava Violet de ratinha, decidiu brincar de gato e rato com todos. Vocês são idênticas na aparência, mas diferentes no comportamento. Embora eu acredite que há alguém a mais na equação.

Fico em silêncio, refletindo sobre o prejuízo que começava a se apresentar para mim, seja pelo desgaste emocional e mental, ou por toda a teia que ia se revelando a cada nova descoberta. Não fico para ouvir mais nada, levantando e retornando para a água. Sentia-me suja como nunca me senti antes. Meu corpo estava sendo usado para satisfazer vontades de pessoas contrárias à tudo aquilo que acreditava e que pareciam ser obstáculos que instalavam-se entre meu filho e eu. Violet havia me perguntado sobre uma foto, mas não tinha qualquer memória de ter conversado mais do que cinco minutos com o loiro estranho que me ofereceu um bombom por meus pensamentos. parecia algo estúpido demais e sem qualquer efeito como flerte, por isso o dispensei logo. Aparentemente, entre seu flerte e minha resposta, ele teve alguma conversa com alguma parte de mim. Ele pode ser o pai de meu filho e só agora sabia o motivo para ele estar na lista de possibilidades. Me questiono em que momentos Hector conversava com minha personalidades, que aparentavam ser íntimas demais dele. Sinto-me traída por mim mesma e é uma sensação horrivelmente esmagadora. Meus olhos embaçam pelas lágrimas que se formam, meu peito pesado demais para conseguir puxar o ar com eficiência e quando a ardência se faz presente é que noto estar tendo uma crise de asma. A pele de meus braços também ardia, pelos arranhões causados por minhas unhas ao tentar limpar a sujeira inexistente, mas bastante visível em meus olhos. Os braços conhecidos meu erguem e retiram da água, o que até penso em agradecer, já que a umidade parecia dificultar ainda mais na busca por ar, mas torno a focar na tarefa principal: respirar.

Meu corpo cansa e tudo começa a escurecer, levando-me à escuridão esquecida e típica dos demaios. Ao contrário de qualquer outra vez em que cheguei à desmaiar em meio a uma crise, nessa encontrei-me em uma imensa sala branca e com um sofá extenso no centro. Devia caber, facilmente, dez pessoas sentadas ali. Em passos indecisos, me aproximo e vejo uma cabeleira loira e duas morenas sentadas, fazendo com que eu dê a volta no móvel para ver quem estava sentado ali. Ofego ao notar cinco mulheres e um homem acomodados ao longo do sofá, os quais encaram-me com sorrisos amistosos nos lábios. Exceto uma. A loira de cabelos tão platinados que pareciam ser brancos ergue-se, revelando a figura esculturalmente curvilínea que caminha com os altíssimos e finos saltos nude em minha direção. Diferente de minha própria percepção sobre sensualidade, a loira trajava um vestido de tecido muito leve e transparente de cor lilácea, não muito frouxa e nem muito justo em seu corpo, mais lembrando um véu a deslizar sobre a pele dourada do que uma roupa. Os dedos longos, mas não muito finos, envolvem minha face e deslizam por minha pele até parar em meu queixo, fazendo-me encará-la e encontrar um olhar felino. Os lábios rubros se esticam lentamente, como um gato a se espreguiçar, em um sorriso malicioso.

— Finalmente nos achou, casca.

— April!

A voz envolvente foi interrompida pela repreensão da morena sentada na ponta esquerda. Mesmo que quisesse, não consigo desviar meu olhar dos intensos e brilhantes olhos tão verdes quanto uma folha. Entretanto, consigo distinguir passos se aproximando e a mão feminina é afastada de meu rosto. Uma mulher com traços muito parecidos com os meus, mas com expressões amáveis, lembrando-me vagamente a imagem de abuelita, surge diante de mim, tomando o lugar ocupado pela loira que afastou-se e seguiu até um canto escuro, logo desaparecendo por ele.

— Perdoe os modos de April. Ela é um tanto excêntrica demais. Seja bem-vinda ao nosso cantinho na sua mente, Cissy! Eu sou Iolanda. Até apresentaria os demais, porém está na hora de ir. Quando voltar, trate bem meu marido, por favor. Ainda não é o momento de vê-lo novamente.

Assim que a morena, Iolanda, terminar de falar, um flash de luz toma o local, obrigando-me a piscar os olhos. Ao abri-los por completo novamente, o que encontro é o rosto preocupado de Hector sobre mim e sinto as folhas pinicarem minha pele. Tento levantar, recebendo a ajuda dele e de Violet.

— É melhor voltarmos. Acho que foram emoções e informações demais em um curto período de tempo.

Minha gêmea me ajuda a vestir o short mais uma vez e a guardar a toalha, Hector sobe em Caronte com tanto facilidade que me pergunto quantas vezes meu cavalo permitiu que o homem o montasse sem que eu, Lola, soubesse. Logo ele se inclina e me segura com firmeza, levantando-me para que fique sentada à sua frente e os braços musculosos me mantem segura enquanto controlam as rédeas. Apoio a cabeça no peito largo, só agora percebendo que os exercícios que viraram rotina estavam fazendo efeito. Um excelente efeito. Fecho os olhos, esquecendo o ambiente ao meu redor para não ter que responder qualquer pergunta que surgissem ao chegarmos. Felizmente, minha mãe parece satisfeita ao ver as filhas retornando com cada parceiro guiando seus respectivos cavalos, pois ela não deixou que ninguém, nem mesmo papa, nos incomodasse pelo restante do dia. Nathan também parecia bastante feliz em me ver tão próxima ao novo pai, correndo para nos abraçar assim que descemos do cavalo.

— Amo você, mama. Amo você, papa. Espero ter logo um hermanito para brincar conosco.

As falas de meu filho me emocionam e apenas beijo sua cabeça, sabendo que era provável que logo engravidaria novamente, apenas para atender ao pedido do pequeno.


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Notas finais do capítulo

O transtorno mencionado no capítulo não possui qualquer comprometimento com a realidade e foi retratado apenas para fins de entretenimento, não devendo, de forma alguma, ser lidado de forma leviana, superficial e/ou preconceituosa. A escolha do mesmo se deu apenas para melhor composição da personagem e seu enredo, sendo realizadas pesquisas prévias para tal, bem como leitura de depoimentos de portadores de tal transtorno. Esses últimos merecem o máximo de respeito, empatia e solidariedade para com seus sentimentos e limitações. De todo o coração, sintam-se abraçados através dos personagens e estejam a vontade para o envio de mensagens privadas para compartilhar suas experiências.

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