Jardim Tempestuoso escrita por Maeva Warm


Capítulo 10
Capítulo 10 - Violetas 7


Notas iniciais do capítulo

Depois ajusto as notas iniciais para trazer as referência dos personagens e avatares do capítulo.

Capítulo não revisado. Perdão por qualquer erro.



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Diferente de todas as vezes em que estive no Solo, desde que mudei-me para Seaville, minha mãe não apareceu para receber-me ou repreender-me pelo tempo ausente. Depois de tomar um banho e trocar meu habitual jeans e camiseta por um vestido solto, ainda mantendo o uso das botas, segui até a parte de trás da fazenda, onde algumas mesas haviam sido espalhadas para o jantar.

A fazenda ficava no centro de uma grande clareira, onde a parte da frente abrigava uma espécie de estacionamento; nos fundos ficava o estábulo e um galpão em que guardava-se materiais veterinários; na lateral esquerda continha alguns troncos dispersos próximos à grandes árvores, cujo os galhos mais grossos abrigavam estruturas que serviam como "suítes" para os Storm que preferiam ser mais solitários, e no lado direito havia dois prédios de quatro andares (se contar o subsolo), além de um terceiro em construção, que eram compostos por quartos com banheiros. Salas comuns e de lazer eram encontradas no subsolo do primeiro anexo, como esses prédios eram chamados.

Meus olhos encontram Melanie e Hollie sentadas em uma mesa no canto direito. Sigo até elas, não conseguindo esconder o sorriso de canto ao perceber seus olhares de espanto.

— Belas pernas, V!

Sento-me na cadeira vaga ao lado de Hollie, apoiando minhas pernas sobre as dela, o que fez o vestido subir e ficar acima do meio de minhas coxas.

— Aproveite a visão, Santa. Só fico relaxada assim quando estou aqui.

— E alguma coisa aconteceu, certo? — Melanie, que tinha os olhos nas pessoas que andavam de um lado a outro por ali, manteve o tom amigável. — Seus olhos estão tristes.

— Sim. Pode-se dizer que é minha última noite solteira. — Sem querer encará-las, desvio meu olhar para as outras mesas, encontrando Lewis nos encarando de cenho franzido. Ian estava ao seu lado e parecia hipnotizado com algo, já que sua mão, que segurava um copo com o que parecia whisky, estava erguida a meio caminho da boca. — A vadia da Narcisa casou, fazendo a temporada de acordos matrimoniais começar. Sendo a segunda mais velha, o próximo casamento é o meu.

— Lewis sabe disso?

Franzo o cenho e direciono meu olhar a Hollie, assim que percebo certo receio em sua voz.

— Claro. Por quê?

— E ele não disse nada, nem fez nenhum escândalo?

— Ele apenas disse que eu não devia me preocupar com nenhum almofadinha.

Estranho a loira permanecer em silêncio e a morena dar risada. Para evitar que o clima ficasse constrangedor, retiro minhas pernas de cima das pernas de Hollie e caminho até a mesa de bebidas, decidida a não trazer dor de cabeça ao meu pai antes da hora e, por isso, pego uma bandeja para apoiar três copos e uma jarra com suco de melão.

Retorno para a mesa, servindo minhas amigas antes de sentar novamente na posição anterior. Levo o copo aos lábios, lembrando do voluntarismo de Protea.

— Como foi a viagem até aqui? Protea é uma boa garota. Espero que não tenha sido emocionada como os pirralhos da agência.

Mais uma vez risadas preencheram a conversa, porém pude notar que algo incomodava Melanie.

— O que houve, Melanie? Você ficou quieta de repente.

— Ela é minha filha.

Tentei manter-me na mesma posição e levar como uma piada, mas o tom melancólico na voz da Graham me impediu de permanecer quieta.

— Melanie, tem certeza do que está dizendo? Tenho uma reunião com os líderes da minha família após o jantar e isso é algo que deve ser debatido.

Os olhos negros da mais velha fixaram-se nos meus castanhos, permitindo-me ver toda a sinceridade contida neles.

— A marca no ombro dela. É algo comum nas mulheres da minha família.

Baixo a cabeça, continuando a beber meu suco enquanto penso sobre a revelação feita. Sabia que a Bell estava um tanto perdida na conversa, entretanto não queria ter de explicar que Protea foi adotada quando tinha dois anos.

Lembro vagamente de Melanie ter falado uma vez sobre a filha que havia sido sequestrada quando bebê, no mesmo dia em que o marido foi assassinado. Suspiro e volto a sorrir.

— Amanhã vamos ver se ela é durona porque puxou a você ou se a criação Storm é uma dádiva.

Encho meu copo novamente, erguendo em direção à Melanie ao mesmo tempo em que mantenho o sorriso nos lábios.

— Se ela for convencida, tenho certeza de que a culpa é da criação Storm.

— Esperem! — Bell interrompeu nossa brincadeira, depositando seu copo sobre a mesa. — Sua prima é menor de idade, não? Se ela realmente for filha da Mel, a guarda dela não volta para a mãe?

— Hollie, querida, entenda uma coisa: uma vez Storm, sempre Storm. É mais fácil a Melanie começar a ser considerada como uma flor Storm, do que a Protea deixar de ser uma.

Recosto-me na cadeira, voltando a rir de algumas bobagens da agência quando sinto mãos pequenas em meus ombros, os apertando com suavidade. Inclino minha cabeça para trás e sorrio ao reconhecer Jasmine.

— Olá, pequeña! Veio se juntar a nós?

Minha irmã balança a cabeça em negativa e solta um de meus ombros para apontar a residência às suas costas.

— Mama mandou você entrar. Daisy e Lótus vão comandar o jantar. — Suas mãos se afastam dos meus ombros e meu olhar vai até onde havia visto Lewis, estranhando não encontrá-lo. — Te desejaria sorte, mas estamos falando da mama, então nem adianta. Papa está conversando com seu amigo. Acho que a coisa está bem feia para o seu lado. — Sinto os curtos fios negros em minha bochecha quando Jasmine abaixa o rosto para falar em meu ouvido. — Já fiz amizade com os três Way. Lola não vai sair ilesa dessa.

Sorrio para a adolescente, beijando seu rosto quando levanto e me despeço de minhas amigas. Minha caminhada de volta aparenta ser mais lenta do que uma hora antes, quando estava indo me divertir com meus amigos.

Após exitar por uns instantes, respiro fundo e ergo a mão, pronta para bater na porta do escritório de meu pai, mas não é necessário já que a passagem foi liberada e Lewis saía por ela.

— Boa noite, Violet. Boa sorte.

As palavras ditas em tom neutro e o uso do meu nome faz com que incertezas tomem meu psicológico. Com as origens de Protea em mente, esqueço do encontro com meu parceiro e entro no escritório de papa.

— Estou muito atrasada?

Questiono em brincadeira, sabendo que ele sempre era o último a entrar, portanto não havia atrasos.

— Não, ventania. Tyler, Arthur e seu avô ainda não chegaram. Pode ir na frente.

Recebi o beijo carinhoso em minha testa, seguindo para a porta oculta por uma prateleira de livros. Desço os degraus que se revelam em silêncio, tentando pensar em todas as mudanças que ocorreram de ontem para hoje. Talvez as mudanças que me incomodavam fossem um pouco mais antigas, só que era melhor me concentrar apenas nas recentes e que eu podia resolver.

A porta ao lado da escadaria encontrava-se aberta e era possível ver que as doze cadeiras, ao redor da mesa quadrada, estavam quase todas ocupadas. Não vendo motivos para passar mais tempo que o necessário ao lado de Narcisa, sigo até as urnas com as cinzas de meus antepassados e seus cavalos. Como sempre, paro primeiro em frente ao quadrado na parede que guardava a urna de Spring Storm e de sua égua Selene. Peço forças para encarar aquela reunião e sigo até a urna de Guadalupe.

Os quadrados eram preenchidos com as urnas do Storm, seu cavalo e companheiro de vida. A de abuelita era uma das poucas que continha apenas uma urna. Um suspiro escapa de meus lábios por saber que logo ela teria a companhia da urna de Sami, a égua de abuelito que já estava muito idosa e com a saúde extremamente frágil.

Ao ouvir o som das quatro cadeiras sendo arrastadas, caminho até a mesa e sento na cadeira entre Narcisa e Arthur.

— Não vamos perder muito tempo, Paul. Estou com fome e não tenho paciência para discutir com sua mulher novamente.

— Mantenha o respeito, Don Tyler. Você está falando com seu líder, não com seu irmão.

A voz profunda e rouca de abuelito soou no ambiente, amenizando o clima de confusão que pairava desde mais cedo entre os presentes.

— Obrigado, Don Diego. — Ainda me impressionava como papa conseguia manter a calma em qualquer situação. — Não há muito o que debater, na verdade. A respeito da conselheira sênior da décima terceira geração, não havia como ela ser contra a vinda de descendentes dos Way, visto que o acordo firmado pelo falecido Don Howard não restringiu nenhum novato da agência. Eles são agentes Nêmesis.

— Ainda acho prudente manter dois Dons de olho em cada descendente inimigo. — Tio Steve, sentado ao lado de Arthur, se pronunciou. — Don Howard, Don Diego e Don Nicollas eram ingênuos demais para não colocar restrições e pensar que essas víboras não procurariam uma brecha para nos atingir.

— Não comece, Don Steve. O passado deve ficar onde está e nenhuma decisão deve ser contestada sem a presença de quem a tomou.

Observar meu pai e avô conduzindo aquela reunião e contendo o espírito de brigas que todos possuíam, me fazia refletir se foi o tempo que os transformou ou se eles nasceram assim. Desvio meu olhar rapidamente para Narcisa, sentada a minha esquerda, e me permito pensar se seremos assim um dia.

— Não me venha com essa, Don Diego. Você só está ocupando o lugar de líder da décima primeira geração porque Don Howard faleceu, mas esteve presente quando ele tomou todas as decisões e o aconselhou. Afinal, era sua função como conselheiro sênior.

— Perdoe-me se parecer desrespeitoso, mas se for por essa lógica, seu lugar aqui é somente simbólico, Don Steve. Afinal, o senhor só está ocupando o lugar de líder da décima geração, por ser o antepenúltimo ainda vivo e por Nathan não ter atingido a maioridade, requisito para começar a participar das reuniões como líder da décima quarta geração em período de aprendizagem.

Abuelito, papa, mama e Arthur baixaram a cabeça, possivelmente para conter a risada diante da resposta de tio Tyler.

— Don Paul, gostaria de trazer uma nova pauta para a reunião de hoje.

Na tentativa de quebrar o clima tenso, pronunciei-me em meio ao silêncio constrangedor.

— Diga, Violet.

— Uma das agentes Nêmesis, Melanie Graham, reconheceu Protea Storm como sua filha sequestrada, devido à marca de nascença que Protea tem no ombro.

— Como mãe e levando em conta o fato de Don Peter não ter escolhido uma flor para ser mãe de Protea, voto para que seja feito o exame de DNA e, o resultado sendo positivo, Melanie Graham seja reconhecida como uma flor Storm e mãe de uma das nossas.

Narcisa se pronunciou assim que me calei, levando os demais líderes a ponderarem sua proposta.

— Quem for a favor, erga a mão.

Ergui minha mão direita e por dez votos a favor, visto que o de Narcisa não contava por ter sido a autora da proposta e tio Steve sempre era contrário a tudo que vinha de mim, Arthur anotou a decisão tomada, bem como tio Tyler, tio Alex e tio John.

— Antes que qualquer um se precipite e diga algo desagradável, a líder da décima terceira geração está autorizada a justificar sua repentina decisão de casar-se. Como seu líder antecessor e atual responsável pela família, gostaria que incluísse os motivos para iniciar a temporada de cortejos e aceitar acordos matrimoniais sem convocar uma reunião extraordinária para tal.

Pela primeira vez, vi a voz fria e cortante de papa ao dar uma ordem. Esse tom era muito conhecido na agência como uma característica dos irmãos fantasmas, mas nunca pensei, nem em meus piores pesadelos, que a escutaria um dia.

— Don Paul, antes que Narcisa inicie suas justificativas, tenho a cópia de todos os contratos já finalizados. — Tio Tyler distribuiu uma pasta em cada lado da mesa, entregando ao líder de cada geração representada e, no caso da nossa, a pasta foi entregue a mim. — Peço que todos os líderes leiam e venhamos a debater os resultados após as falas da líder da décima terceira geração.

Por alguns minutos, o único som presente na sala era o virar das folhas enquanto líamos os contratos. Quase levantei da cadeira para bater em minha irmã gêmea, pois parecia ser uma piada de extremo mau gosto o fato dela ter me oferecido como esposa para um empresário com quem ela vinha flertando.

Separei a folha correspondente ao meu contrato e coloquei à frente de Arthur para que ele lesse. Nem um minuto se passou e recebi a folha de volta, segurando o riso ao entender que meu primo sequer se dera ao trabalho de ler as cláusulas após ver meu nome.

— Don Steve, Hortense I, Don John, Don Howard, Don Fergus, Don Alex, Don Paul, Orchid, Don Tyler, Violet e Don Arthur. — Narcisa direcionou-se a cada um de nós, talvez olhando nos olhos dos demais, porém eu estava ocupada demais fuzilando o contrato em minhas mãos para lhe dar atenção. — Minha decisão foi tomada com base em ameaças urgentes que surgiram ao longo dos últimos dias. É de conhecimento de todos que não tenho qualquer memória do período em que Nathan foi concebido, portanto não tenho qualquer pista de quem possa ser o genitor. Nos últimos dias me vi em perigo pelo fato de ser idêntica à Violet, pois um de seus inimigos me procurou e ameaçou a segurança de Nathan. Além disso, Lótus alertou para a possibilidade do genitor aparecer reivindicando algum direito sobre ele. — Já imaginava que a pressão teria levado Narcisa ao limite, embora ainda não concordasse com suas escolhas. — Don Hector ofereceu-se para se tornar meu marido e registrar Nathan como seu filho, o que manteria o líder da décima quarta geração no seio de nossa família.

— Perdão, Narcisa, mas onde isso impediria que o genitor de Nathan exigisse seus direitos paternos?

Mordo o lábio para conter o sorriso com a pergunta do tio Fergus. Ele era o mais legal dos anciões e sabia como chamar qualquer pessoa de estúpida, usando simples perguntas.

— Não impediria. Contudo seria um obstáculo a mais, já que Nathan teria a paternidade de um parente que auxilia em sua criação desde o nascimento; qualquer um de nossos parentes, vizinhos, amigos e conhecidos pode confirmar que Don Hector é o mais próximo de figura paterna que Nathan possui e não teríamos trabalho em explicar-lhe nossas regras.

— Quanto aos acordos matrimoniais? — tio John a interrompeu, claramente incomodado com o fato, — O que tem a dizer?

— Apenas segui com o que me pareceu ser uma sequência lógica. Uma vez que eu casei, os próximos Storm já deveriam ter seus acordos acertados para começarem o cortejo.

— E você consultou seus conselheiros?

A pergunta de abuelito me fez sorrir abertamente e, sem qualquer medo de uma repreensão, virei-me na cadeira em que estava sentada, de modo a encarar diretamente Narcisa. Usando meu contrato com um leque, abanei-me enquanto esperava sua resposta.

— Não, Don Diego. — Sua voz saiu baixa, embora fosse possível reconhecer seu desgosto. — Alguns acordos estavam próximos do prazo final, portanto antecipei-me em analisá-los e defini-los.

— Minha nobre flor, por melhor que tenham sido suas intenções, durante séculos as decisões dessa família foram tomadas pela maioria de cada tríade. Lamento informá-la que dois erros gravíssimos foram cometidos por você. Primeiro: não consultou os conselheiros que devem guiar junto com você. Segundo: você ainda não tem trinta e cinco anos, portanto, mesmo que quisesse tomar qualquer atitude sem convocar uma reunião conosco, a tríade da décima segunda geração deveria ser consultada e, eles sim, definir quais acordos deveriam ser aceitos.

Ergui minha mão, voltando a sentar-me corretamente, na tentativa de interromper o que estava caminhando para ser um massacre contra minha irmã.

— Perdoe-me por interrompê-lo, Don Alex. Como Don Tyler bem lembrou no início dessa reunião, nenhum de nós jantou e não acho que tenhamos disposição ou energia para brigas ou discussões que não nos levarão a lugar nenhum. — Sem qualquer cerimônia ou arrependimento, rasgo o contrato em minhas mãos, olhando para meus pais em seguida. — Don Paul, Orchid e Don Tyler, como conselheira sênior reconheço minhas obrigações e dever para com a família, todavia, como uma flor Storm, peço aos senhores que anulem o acordo firmado sobre mim. Não fui consultada sobre minhas preferências, sequer fui apresentada ao pretendente em questão. Como mulher, não me agrada desposar um homem pelo qual minha irmã gêmea possuía intimidade.

— Seu caso foi analisado e o acordo apresentado foi anulado, Violet. — Papa sorria levemente, assim como mama me olhava com ternura, ao atender meu pedido. — Todos os acordos foram analisados e somente Don Arthur, Lótus e Daisy permanecem com seus contratos. Os demais estão sob análise e alguns foram adiados até que os jovens completem os vinte e cinco anos, idade em que é obrigatório aceitar possíveis cortes.

— Violet possui um novo acordo, então? 

Abuelito parecia interessado e curioso, bem como os demais e até mesmo eu.

— Sim. Porém não foi firmado através de um contrato escrito. Fiz como nas gerações passadas em que bastava uma conversa.

— E quem seria o futuro Don?

Suspiro com a pergunta do tio John. Papa estava fazendo mistério sobre o infeliz e não revelaria, possivelmente até o casamento.

— Alguém que se comprometeu em permitir que Violet continue na Nêmesis após o enlace.

— Isso é o suficiente. — Afirmo ao saber que não precisaria me preocupar com meu trabalho, fato que tirava meu sono desde que mama me avisou que teria de casar-me. — A palavra de um Don é tão segura quanto nossas regras, então tentarei não ser insuportável. Porém não garanto consumação do casamento, portanto não esperem herdeiros de minha parte.

— Você enlouqueceu? — Suspiro com o grito de tio Steve. — É dever de uma esposa satisfazer seu marido!

— ¡Santa madre de Dios! — Dessa vez não consigo me conter e reviro os olhos. — Don Steve, levando em conta que não sou de acordo com o casamento e estou seguindo as decisões, tomadas por terceiros sobre minha vida, por amor à nossa família, não seria razoável vocês aceitarem meus termos? Afinal, posso muito bem renunciar meu direito de nascença como líder e até mesmo cortar laços diretamente com os Storm, levando em conta que vocês estão violando a regra quatro, que se não me falha a memória, diz que a vontade e bem-estar de uma flor deve-se ser garantido, preservado e priorizado. Seja ela nascida ou escolhida.

— Violet está certa, Don Steve. — Sorrio para abuelito e espero que ele conclua. — Nos últimos anos tenho observado sua clara preferência e omissão perante as escolhas de Narcisa, bem como seus sutis ataques aos posicionamentos de Violet. Ainda que minha posição atual não seja meu direito de nascimento, tenho feito parte dessas reuniões desde que completei a maioridade. O que não se pode dizer o mesmo do senhor. — Todos os olhares se voltam para abuelito quando a compreensão de suas palavras chega em nós. — Não posso lhe tirar o direito de ser respeitado e obedecido como ancião da geração mais antiga. Entretanto, como líder da segunda geração mais antiga e nascido conselheiro sênior da mesma, tenho o poder de vetar sua presença nas reuniões. E é o que farei. Hortense I e Don John, caso mantenham a imparcialidade de sempre, serão bem-vindos nas próximas reuniões. Don Alex, Don Tyler e Don Arthur, caso tenham finalizado as anotações, encerro essa reunião. Temos convidados esperando para o jantar. Boa noite a todos.

Abuelito levantou-se, pronto para sair, quando Narcisa tomou a palavra.

— Don Diego, gostaria de pedir o apadrinhamento de Don Narciso.

— Narcisa, todos somos cientes de seu apego com Don Narciso. Até a saudosa flor Agatha era ciente disso, tanto que o nomeou em sua homenagem. Se deseja ensinar a ele tudo o que sabe, não vejo problema algum nisso. — Abuelito não olhava para minha irmã enquanto falava o óbvio, porém quando o fez, até mesmo eu estremeci diante de seu olhar gélido. — Mas não ouse querer dar-lhe qualquer regalia que pertence a nós e ao seu filho biológico. Nathan é o líder da décima quarta geração e nada mudará isso. Narciso pertence à décima terceira e permanecerá assim. Quer ser madrinha dele? Seja. Quer dar algum cargo elevado nas empresas, de acordo com o desempenho dele? Promova. Quer que ele faça parte dessas reuniões, como seu sucessor e mentor de Nathan? Esqueça. Esse lugar pertence à Violet e Don Arthur. E antes que chegue a vez de Don Narciso, ainda há outras seis pessoas para cumprir esse papel.

Abuelito saiu da sala de reuniões, sendo seguido pelos demais. Esperei todos saírem para que não houvesse atrito entre minha irmã, eu e mama.

Sabia que o fato de Narcisa ter casado com Hector estava incomodando tio Tyler por eles serem primos de primeiro grau e, ainda que mama pensasse da mesma forma que ele, meus pais não aceitariam que qualquer pessoa nos atacasse. Fosse com ações ou palavras.

Lembrando das palavras de meu pai, ando o mais devagar que consigo de volta ao escritório, já que meu suposto noivo estaria me esperando lá. Muitos pensamentos passam por minha mente, trazendo desconforto ao meu estômago e a sensação de que minhas pernas pesavam cada vez mais.

Vozes alteradas vinham do escritório e, ao reconhecer a quem pertenciam, o cansaço aumenta ainda mais e deixa meu corpo mais pesado. Sem muitas alternativas, apoio minhas costas na prateleira de livros ao lado da que escondia o acesso ao subsolo e espero minha irmã parar de gritar com minha mãe.

— Chega, Lola! — Grito mais alto do que elas e percorro o espaço que faltava até a escrivaninha de meu pai. — Você estava preocupada com Nathan e tentou fazer o melhor que podia. Já entendemos isso. Apenas pare de tentar controlar a vida de todos com essa justificativa.

— Não estou controlando a vida de ninguém! — Inclino a cabeça para a esquerda, desviando de um vaso que ela joga. — A forma como vocês falam faz parecer que eu seja um monstro, mas papa fez a mesma coisa e não recebeu nenhuma retaliação!

— Porque ele consultou seus conselheiros. — Aponto a diferença, olhando para minha cópia com absoluto desprezo. — Naquela sala mantive minhas emoções trancafiadas para que não afetassem meu julgamento. Porém, sendo honesta, me sinto traída e não confio em você. Nem como conselheira, muito menos como irmã. Agir como uma ditadora não te faz uma boa líder.

— Faça-me o favor, Violet! — Cruzo os braços abaixo dos seios, observando-a andando de um lado para o outro. — Você fala como se fosse concordar com qualquer pretendente que eu te apresentasse. Sua aversão aos relacionamentos era tão grande quanto a minha!

— E você lembra o motivo? — Descruzo os braços, aproximando-me de Lola para apontar o dedo em sua face. — Você, Narcisa, fez uma maldita promessa comigo e Daisy, onde nenhuma de nós se casaria e nos dedicaríamos a família. Você nos convenceu de que nenhum homem estava a altura de comandar conosco tudo que os Storm representam. Você, sua maldita egoísta, nos fez acreditar que teríamos umas às outras para sempre. E o que você fez, Narcisa? — O tom de minha voz vai aumentando e a última pergunta sai em um grito que estava sendo sufocado. — Você pegou uma maldita faca e cravou nas costas das duas únicas pessoas que sempre estiveram do seu lado. — Dou as costas para minha irmã, não permitindo que ela veja as lágrimas que começavam a cair. — Para completar, você iria me tirar a única coisa que amo e me usaria para ter seu maldito amante por perto.

— É isso que pensa de mim, Violet?

Não respondo sua pergunta, pois havia percebido a presença de Frederick somente agora e tentava entender o que ele fazia ali.

— Já chega! — Mama interrompeu qualquer coisa que Lola fosse falar. — Vida, cariño, seu pai e eu passamos muito tempo conversando sobre seu acordo e quem poderia ser bom para você. Então chegamos a conclusão de que não havia candidato melhor do que Frederick Lewis. — Franzo o cenho ao compreender suas palavras, buscando nos pequenos olhos azuis algum indício de que aquilo era uma brincadeira. — Paul já conversou com ele e você não precisará abandonar seu emprego. Exceto quando meus netinhos nascerem, mas posso ficar com eles enquanto vocês se arriscam em missões perigosas.

O sorriso mínimo que sempre recebia quando irritamos alguém importante ou tinhamos êxito em alguma missão estava ali, nas feições cansadas de meu antigo líder e parceiro. Ao contrário de outras vezes, o sentimento que me tomava era o de traição e não cumplicidade.

Sufocada demais com aquele ambiente, saio do escritório e caminho em passos rápidos até os estábulos. Ignoro o chamado de Jasmine e Tony, tendo somente a baia de Ligeirinho como destino.

Assim que chego nos estábulos, o cavalo de pelagem clara e crina cinza estava agitado. Acalmo meu fiel companheiro e coloco a sela nele.

— Vamos dar um passeio, meu bem. Sei que está sentindo toda essa confusão dentro de mim. Garanto que preciso apenas da sua companhia para ficar bem.

Sem precisar falar mais nada, Ligeirinho permite que eu monte-o e logo saímos do estábulo, cavalgando por entre as árvores que ficavam do lado esquerdo da fazenda.


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Notas finais do capítulo

Há mais um capítulo pronto, só que atualizarei apenas semana que vem por causa de uns contratempos.

Comentários são sempre bem-vindos ^^.



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