O calor era quase insuportável e se não bastasse isso, eu sentia que era capaz de dormir até mesmo de pé. Nunca fui do tipo preguiçosa, mas desde que Naruto foi para Londres eu parecia outra pessoa. Seria a saudade causadora de tudo isso? 

*Flashback on*

Eu não estava preparada para vê-lo partir, meu coração estava doendo, sabia que assim que Naruto entrasse naquele avião, uma parte de mim iria com ele.

— Você prometeu que ficaria. — Minha voz embargada pelo choro não disfarçava em nada meus sentimentos.

— Ino. — Suas mãos tão familiares acariciaram meu rosto num carinho terno. — Eu prometo que vou voltar, é apenas um ano.

— Um ano longe de ti, será como uma eternidade. — Naruto sorriu diante do meu drama. Seus olhos azuis agora brilhavam pelas lágrimas contidas. — Eu prometo te esperar — falei sincera.

— Você é tudo que eu preciso, meu amor, e, quando eu voltar, poderemos enfim viver nossa história de amor, mas agora preciso ir, tenho que me dedicar a esse curso. Só assim poderei crescer profissionalmente e dar a você e nossos futuros filhos a vida que merecem. — Eu poderia argumentar de alguma forma, mas não iria privá-lo disso. Eu o esperaria, afinal, é nosso destino permanecermos juntos.

— Eu te amo. — Beijei seus lábios com carinho.

— Assim como eu amo você, minha pequena.

*Flashback off*

Só de me lembrar do nosso último beijo, as lágrimas já desciam descontroladas por minhas bochechas. O que diabos eu tinha me tornado? 

Levantei-me, pensando seriamente no que comer. Por conta do calor, eu quase não sentia fome e, quando comia algo, logo passava mal. Talvez uma salada de frutas fosse o menos arriscado no momento. Preparei com cuidado, avaliando cada fruta minuciosamente para não correr o risco de deixar algo estragado passar e, depois de pronto, me sentei no sofá, disposta a procurar um filme de terror qualquer para passar a tarde. 

Domingos eram tediosos longe do Uzumaki. Sakura e Hinata estavam de plantão no hospital, o que reduzia ainda mais minhas possibilidades de distração. 

— Até que não está ruim. — Tentei fingir desinteresse para mim mesma, mas no fundo eu estava só ignorando o fato de que aquela salada tinha mais leite condensado do que frutas.

Num piscar de olhos, a salada desapareceu, e agora eu me encontrava realmente cheia. Só coloquei a vasilha na mesa de centro e me deitei, já bocejando. 

[...]

— Ino! — Abri os olhos assustada e me deparei com Sakura e Hinata, me encarando preocupadas. — Achei que tivesse morrido, custa escutar o celular ou a campainha tocando? — Só pela voz eu soube que a rosada estava realmente furiosa. 

— Estamos tentando falar com você desde as três da tarde e nada de você responder. — Hinata era mais paciente e me explicou o porquê do estresse todo. 

— Eu dormi — respondi simples, ainda absorvendo o susto que o furacão rosa me deu. No entanto, antes que eu pudesse sequer me espreguiçar, senti minha garganta queimar e corri para o banheiro sem me dar o trabalho de fechar a porta.

— O que você tem, ein? Está muito estranha. — Sakura se aproximou e segurou meus cabelos enquanto eu despejava até meus órgãos na privada. — Intoxicação alimentar? Está tendo muitos casos por conta do calor… — Será que era pedir demais que eu pudesse ao menos vomitar em paz? Ao que parece, as duas não estavam incomodadas com aquilo, porque mesmo com meus protestos, ambas continuaram no banheiro comigo. 

— Acho que isso não é intoxicação, Sakura — Hinata falou. Levantei-me e fui até a pia escovar meus dentes, tentando ignorar a conversa daquelas duas. — Ino, você tem sentido mais sono que o habitual, não é verdade? — Olhei para a morena pelo reflexo do espelho e assenti. 

— Sei exatamente o que você precisa. — Sakura sorriu abertamente e aquilo me deixou com medo. — Faça ela comer alguma coisa enquanto vou até a farmácia. 

— Dá para alguém falar o que está acontecendo? Vocês estão me tratando como uma criança e isso é irritante. — As duas se entreolharam e sorriram, cúmplices, o que me deixou ainda mais brava. 

— Eu já volto! — Sakura gritou, já saindo pela porta da sala. 

— Anda, Hinata, desembucha. — Observei a morena revistar minha geladeira. 

— Você realmente não sabe o que é? — Revirei os olhos, claro que não. — Faz quanto tempo desde que o Naruto foi para Londres?

— Quatro longos e infernais meses. — Ela mordeu os lábios segurando a risada. 

— Tudo isso já? Como foi que não percebi antes? — Hinata murmurou para si mesma. — Ino, você está grávida. Não é óbvio? — Estreitei os olhos em sua direção, esperando pela risada, já que aquilo só podia ser uma piada. 

— Acho que o calor afetou sua cabeça, amiga. — Ela revirou os olhos. 

— Enjoos, sono excessivo, emoções à flor da pele e, agora que estou te observando, realmente tenho certeza que seus seios estão maiores. E convenhamos que sua menstruação, mesmo não sendo regular, nunca ficou tanto tempo assim sem descer, não é mesmo? — Olhei para baixo, pronta para negar, mas, para ser honesta, eu já havia percebido isso, só achei que tivesse engordado. Jamais cogitaria ser efeito de uma gravidez. — Sakura foi comprar alguns testes, mas como médica, eu posso afirmar que sim, você está grávida, Yamanaka. 

— Eu… não é possível… — Hinata estava pronta para contra-argumentar, mas Sakura chegou já me estendendo duas caixinhas. 

— Anda, já para o banheiro. — Minhas mãos estavam trêmulas quando alcançaram os testes. 

Sem dizer nada, fiz o que era preciso, e agora um misto de sentimentos me deixava atordoada. Eu não sabia como processar aquela informação, mas quando ambos os testes deram positivo, simplesmente chorei de alegria.

[...]

Olhei para os dois exames em cima da escrivaninha, pensando na melhor forma de contar aquela notícia para o Naruto. Já estava quase na hora da nossa ligação de vídeo diária e eu ainda não tinha certeza se deveria só falar ou planejar algo mais elaborado. Na tela do notebook apareceu a solicitação de chamada e eu a aceitei, ansiosa. 

— Boa noite, meu bem! — Ao vê-lo sorridente na tela, senti o conforto que tanto procurava desde que descobri a notícia. 

— Boa noite, meu amor. — Sorri emocionada. 

— Aconteceu alguma coisa? — Provavelmente meu rosto estava inchado e vermelho e isso não passou despercebido por ele. 

— Estou com saudades. — Revirei os testes ao lado do teclado. 

— Eu também estou. Queria poder te abraçar. 

— Estou grávida. — Soltei de uma vez, sem conseguir conter mais o choro. — Sinto sua falta e queria que estivesse aqui agora. 

— Grávida? — Ele se levantou, sumindo da visão limitada da webcam, mas pude escutar ele gritar. — Eu vou ser pai! 

— Naruto? — chamei e logo ele voltou a se sentar em frente ao notebook. 

— Desculpe, é só que eu estou muito feliz, Ino! Ah! Droga! Queria estar aí para encher sua barriga de beijos, te erguer no meu colo e gritar para todo mundo o quanto eu amo você e nosso filho, ou filha. Uau, eu sinto que vou pular de alegria! 

— Você ficou mesmo feliz? — Sua reação era um alívio, talvez no fundo eu estivesse com medo de que ele não iria gostar. 

— Ino Yamanaka, você tem me feito o homem mais feliz do mundo desde que aceitou se casar comigo, mas nem toda essa felicidade chega aos pés de saber que vamos ter um filho. Meu Deus, já consigo imaginar o quão lindo e perfeito será nosso bebê! Por que está chorando?

— Porque eu te amo, seu idiota! — Meu coração estava apertado por não tê-lo ali comigo, mas a certeza de nossos sentimentos era o suficiente por enquanto. 

[...]

Essas duas semanas que passaram desde que contei para Naruto sobre a gravidez, foram o tempo que eu levei para realmente acreditar que, de fato, havia um bebê crescendo em meu ventre. Os sintomas continuaram intensos, mas agora sabia com o que estava lidando e podia controlar melhor a situação. 

Claro que Hinata e Sakura se tornaram ainda mais presentes na minha vida.  A Hyuuga seria minha obstetra e a Haruno minha nutricionista durante o pré-natal. 

— Estou ansiosa para descobrir se vou ter um afilhado ou afilhada — Hinata comentou mais uma vez enquanto me acompanhava até a sala de exames. — Como você descobriu tarde, sua primeira ultrassom será a morfológica de vinte semanas e já poderemos ver se esse baby é menino ou menina. — Entramos em uma sala de espera estranhamente vazia para um hospital tão movimentado quanto aquele. — Espere aqui enquanto vou preparar a sala, tudo bem? 

— Ok. — Sentei-me em um dos sofás brancos que havia ali e acariciei minha barriga. Parece que foi só eu descobrir sobre a gestação que ela resolveu se desenvolver e agora já não conseguiria esconder mesmo se quisesse. 

— Foi aqui que pediram um papai Uzumaki? — Virei-me, surpresa, para a porta e o vi. 

— Naruto! — Corri para os seus braços, não acreditando realmente que ele estava ali. — Como? Quando? 

— Achou mesmo que eu não estaria na primeira ultrassom do meu bebê? — Eu o abracei ainda mais forte. — Vem cá, meu bem. — Suas mãos puxaram meu rosto para si e ele me beijou com tanto carinho e amor que eu poderia derreter em seus braços. — Eu esperei tanto para te beijar. 

— Eu também, meu amor. — Ele se afastou um pouco e ficou de joelhos. — O que você está fazendo? 

— Shiu. Deixa eu falar com meu bebê. — Mordi o lábio emocionada com o gesto. — Oi, meu amor, tudo bem aí dentro? Eu sou seu papai, e prometo que vou cuidar e amar você para sempre. — Naruto beijou minha barriga inúmeras vezes antes de voltar a se levantar e novamente me envolver em seus braços. Como eu tinha sentido falta do seu cheiro. — Obrigado, Ino, por me fazer o homem mais feliz desse mundo, nosso bebê com certeza vai ter a melhor e mais incrível mãe do universo.