Bater de Asas escrita por Yasmin


Capítulo 24
24. Sombras do Passado


Notas iniciais do capítulo

Esclarecendo coisas do passado. Mas tem algo muito errado nesse lugar...



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Noiva... Por isso no meu sonho o garoto me beijou, talvez fosse uma lembrança. Balancei minha cabeça para tirar esse pensamento e tentar resolver a situação.

— Zack... Preciso dele bem para saber sobre meu passado. Tentei manter a calma indo até eles no centro da arena. Desviei do rastro de pedras quebradas até onde estavam por conta do impacto do Kalibam ao solo.

Cheguei até eles e Zack continuava em silêncio segurando a gola da camiseta do angelical, a sombra escura que subia das costas de Zack era densa. Encostei a mão nas costas de Zack, ele respirou fundo, seus olhos voltaram ao normal e soltou o Kalibam.

— Tsk, vi que você arrumou alguém com seu temperamento Yas.

Kalibam disse enquanto saia debaixo de Zack e limpava suas roupas.

— Kalibam preciso falar com você, saber oque aconteceu comigo, mas para isso você terá que me falar a verdade e não fazer joguinhos.

Ele acenou concordando com a cabeça.

— Zack você poderia...

Zack olha para mim e coloca as mãos no bolso e vem até mim se afastando do Kalibam. Ele abaixa a cabeça para ficar na altura do meu ouvido, seu cabelo encosta em mim.

— Não confie neles, eles podem até te falar a verdade, mas nunca abaixe a guarda. Nenhum lugar no mundo é cem por cento bom.

Ele sussurra para mim, então se afasta virando as costas e andando para fora da arena.

— Te dei uma adaga, não seja lerda e use nele se precisar.

Ele diz enquanto sai. Kalibam me lança um sorriso e me chama para acompanhar ele, não confio nesse garoto.

Enquanto sigo Kalibam sem saber para aonde vou, os guerreiros voltam a arena e continuam o treinamento como se nada tivesse ocorrido.

— Aonde vamos?

Ando um pouco atrás dele com os braços para trás.

— Um local calmo para podermos conversar sem interrupções.

Coloco a mão na minha cocha onde à minha adaga. Esse garoto acha que não tenho coragem de atacar ele, ou de Zack não achar ele.

— Não se preocupe comigo não vou tentar mais nada, foi apenas um teste para saber se ainda tinha algum resquício de sentimento por mim.

Ele diz enquanto chegamos a mesma cerejeira onde encontrei minha mãe.

Ele passa as mãos no cabelo dando um sorriso irônico.

— Que bom que percebeu, então por favor comece logo a falar que não quero ficar muito tempo aqui.

Ele da uma risada curta e abafada, então me chama para o banco embaixo da árvore rosada. Sigo ele e sentamos cada um em um canto do banco. Não tiro a mão da adaga.

— Como fui parar na floresta?

Começo a sessão de perguntas, ele não parece que vai me dar um discurso de toda minha história.

— Eu te deixei lá.

Ele cruza os braços me encarando sério. Então a figura de minhas memórias era ele?

— Porque me deixou lá?

Aperto minhas mãos na cocha, me preparando para oque vai vir. Poderia ter sido expulsa, ou deixada para morrer.

— Planejavam te matar, e eu não queria isso.

Viro-me na direção dele, ele me olha e bufa se inclinando para trás de uma forma desleixada.

— Olha já te contaram da inicialização não?

Acenei com um sim.

— Você entre os concorrentes, era a melhor, criada na arena entre guerreiros e espadas.

Eu uma guerreira? Mal consigo controlar o Zack.

— E seus concorrentes na inicialização sabiam disso, eram fracos...

Ele arruma o cabelo com uma feição de orgulho no rosto. O sol se pondo deixava os olhos azuis dele quase que brilhantes.

— Eles orquestravam de te matar antes do torneio, para ter uma chance maior de ganharem, já que o último em pé poderia escolher entre os perdedores um para ser... bem você entende.

Não sei oque pensar, achei que o povo dos céus conhecidos por serem justos e solícitos não deixariam isso ocorrer.

— Eu era o único que sabia, não adiantaria contar aos comandantes que eles só diriam para você treinar mais. Você era muito boa, mas contra 5 dos melhores guerreiros... Não queria ver seu sangue derramado na arena.

Ele olha para cima, a cerejeira deixava suas flores caírem. Ele tentou me proteger, mas a que custo?

— E minhas memórias?

Sofri um acidente? Magia? Perdi na arena e as tiraram de mim? Pode ser qualquer coisa...

— As tirei de você.

Olho para onde ele também está olhando, tentando manter a calma perto dele, mas não o respondo de volta.

— Se você soubesse o quão teimosa você era... Mesmo eu te falando você se mataria de treinar para vencer eles. Talvez conseguisse, mas sobraria muito de você para contar a história?

Sou tão diferente agora... Se Zack pedisse para eu me jogar do mar eu me jogaria sem pensar, porque confio tanto nas pessoas? Era melhor ter ficado com a personalidade da guerreira.

— Então você apagou minhas memórias e me jogou na terra? Não me parece um plano bom.

Ele se vira, colocando cada uma das pernas em um lado do banco, seu rosto sério me lembra o Zack quando brigávamos.

— Pensei em todas as possibilidades. Mas a única que você teria chance de vida era te deixar a própria sorte na floresta.

Ele abaixa a cabeça, me parece pensativo ou triste.

— No dia que te deixei lá, antes de apagar suas memórias, disse a você que havia sido expulsa, para caso suas memórias voltassem você não teria a ideia de vir a esse reino novamente e ser morta na arena.

Não sei oque teria feito no lugar dele... Se fosse com o Zack talvez tivesse feito a mesma coisa, mesmo que nunca mais fosse ver ele.

— Por 3 anos eu fui viúvo, ou quase já que éramos noivos. Por 3 anos eu realmente achei que estivesse morta, mas rezava a qualquer Deus que tivesse para você estar viva. Nunca tive coragem de ir conferir, porque se eu fosse e não te visse, era certeza que estava morta.

Então ele nunca foi lá... E se tivesse ido antes de eu conhecer Zack? Tudo seria diferente, talvez tivesse família, teria me casado e vivido com meu povo mas... não teria conhecido Zack.

— Você não teve outros relacionamentos?

Ele jovem do jeito que era, parecia ter a idade de Zack. Do jeito que se acha deve ter garotas a sua volta o tempo todo.

— Não por 2 motivos. O principal é que eu tinha uma burra e inocente esperança que você voltaria e não te jogariam na arena. A outra é que os angelicais depois do massacre eram designados a ter casais para ter filhos, para não entrarmos em extinção.

Então se eu tivesse ficado realmente teria me casado e tido filhos mas...

— Eu sei você não queria filhos.

Ele cortou meu pensamento como se tivesse lido ele.

— Eu sempre tive... Eu sempre me dei bem com crianças, mas nunca quis ter uma.

Peguei uma flor que caiu e comecei a rodar ela pensativa.

— Eu sei, era o único que entendia isso, por isso planejávamos fugir.

Paro de rodar a flor, não sei se quero continuar a escutar e descobrir coisas que talvez me arrependa.

— Mas seu aniversário chegou e te convocaram, e seu sangue guerreiro falou mais alto.

Não sei se quero saber do nosso relacionamento que tivemos, não quero afetar nada que eu tenha agora. Mas se formavam pares para terem filhos, eu realmente me casaria por amor?

— Nós nos amávamos ou seriamos apenas procriadores?

Deveria ter sido mais calma, mas só de pensar em ter filhos obrigada, me casar com alguém apenas para isso me corrói.

— Tivemos tanta sorte... Éramos um casal que realmente se amava, e tivemos ainda mais sorte quando nos sorteara. Claro que eu e você burlamos o sorteio, mas ninguém nunca soube.

Então nossa conversa é cortada, pois a minha mãe havia chegado. Ela vê Kalibam e bate continência, ele faz o mesmo.

— Explicou tudo a minha guerreira?

Ele acena que sim. Ela anda até nós.

— Que bom, que já é quase o jantar, vamos comer todos juntos.

Nem vi a tarde passar, o sol dourado brilhava nas nuvens a beira da grande ilha.

— Continuamos nossa conversa depois então Kalibam.

Ele se levanta sorrindo. Então começamos a seguir a pessoa pelo qual ainda estou me acostumando a chamar de mãe.

— Vocês terão bastante tempo, ainda mais quando você filha aceitar ficar aqui.

Diminuo os passos... Era para isso que seria todo esse papo? Me fazer ficar?

— Não me falaram nada sobre isso.

Seguimos pelos grandes corredores brancos, o mesmo branco que já estava me dando dor de cabeça. A luz do sol entra pelas janelas deixando o piso levemente alaranjado.

— O Kalibam deve ter esperado para te propor no jantar, inclusive seu namorado já está lá.

Havia me esquecido de Zack, oque será que ele fez o dia todo? Kalibam concorda com a cabeça.

Chegamos a um grande salão repleto de janelas com persianas que deixava o por do sol entrar. Um lindo jantar era colocado a mesa, e sentado nas laterais estava meus amigos de infância que conversavam com Zack, mas ele estava de cabeça baixa.

— Olá pessoal, desculpa a demora.

Digo aos gêmeos, Zack me olha, estava de cabelo cortado, não muito, mas oque me assustava mais era as roupas brancas que ele usava.

— Está até que melhor usando esse uniforme.

Kalibam solta para Zack enquanto puxa uma cadeira para eu me sentar. Coitado do Zack oque fizeram com ele. Sento-me a seu lado, e Kalibam senta do meu outro lado.

— Zack oque fizeram com você?!

Sussurro para ele. Ele revira os olhos e puxa o terno branco que parecia apertado nele.

— Não sei qual foi pior, os dias com meu pai ou isso aqui.

Dou uma risada.

— Mas fiz isso para não arrumar problemas para você, não quero que eles nos expulsem só porque não quero usar isso aqui.

Ele desata o nó da gravata a deixando mais solta e bagunça o cabelo que havia sido penteado para trás. Minha mãe o encara feio, mas se senta sem falar nada.

— Bem crianças, fico feliz que finalmente teremos um jantar em família após anos. Podem se servir.

Sirvo-me de alguns legumes que me parecem mais familiares e carne, mas a muita comida que não sei oque é ou que criatura era. Zack se serve apenas de carne, me lembro que ele ainda tem esse problema e deve estar sendo difícil para ele.

Todos começam a comer, e a alegria toma conta do jantar, a loira sempre animada, seu irmão calado, mas concordava com tudo que ela dizia. Zack tentava comer calmo e usar os talheres refinados, mas tinha dificuldade. Kalibam passou o jantar todo me encarando e tentando explicar oque tudo aquilo era e colocando comida em meu prato dizendo estar magra e tinha perdido meus músculos. Minha mãe apenas comeu, e mesmo no jantar ela era séria e usava sua armadura.

O jantar acabou e Lucy se propôs a mostrar nossos aposentos. Seguimos ela quietos e Zack abria os botões de seu paletó, acho que ele comeu bastante. Lucy dançava feliz nos corredores perguntando sobre nosso relacionamento e como era por sermos de raças diferentes.

— Mas seila, me parece complicado ainda mais se vocês estreitarem mais a relação se vocês me entendem.

Ela piscou para nós. Nunca havia pensado nisso... Zack e eu ficamos na mesma cama acho que uma vez e foi oque deu, nos últimos meses apenas fugimos, lutamos e sangramos. Quase morri nesse meio tempo, mas não sei se foi por falta de tempo ou ainda não nos sentimos preparados.

A loira para no meio do corredor e nos encara séria. Estamos na frente de duas portas, uma com meu nome e outra escrito "visita".

— Ainda não aconteceu?

Zack abre a porta da visita e entra sem dizer nada, só escutamos a porta bater e o barulho de uma chave sendo virada. Talvez ele assim como eu queira fugir desse assunto.

— Eu vou dormir, obrigada pelo jantar.

Tento acelerar o passo e entrar no meu quarto, assim que me viro para fechar a porta ela não esta mais no corredor. Fecho a porta mesmo assim, mas a paz não dura muito já que sinto meu coração quase parar quando escuto ele atrás de mim.

— Somos melhores amigas, você sempre me contava tudo.

Ela está sentada na minha cama. Reparo no quarto, era rosa e havia desenhos de pássaros pelas paredes, uma lareira em mármore a frente da cama, que ficava na lateral do quarto, ela tinha hastes e um tecido branco quase que transparente que caia por cima dela. Um tapete felpudo e uma linda varanda no final do quarto, já estava escuro.

— Olha... não sei se quero falar sobre isso.

Vou até o guarda roupa, que como tudo aquele lugar que já estava a me irritar, só havia roupas claras. Tento escolher uma camisola cinza.

— Quando era com o Kalibam você me contava com os mínimos detalhes.

Vejo que eu era além de uma fanática por luta, uma boca aberta.

— Olha eu e o Zack não tivemos tempo de ter nada, mal saímos vivos de muitas situações nos últimos tempos.

Continuo a escolher uma pantufa da mesma cor, pego os dois e vou até uma porta aberta que era o banheiro. Ela me segue e fica na porta.

— Não sei se quero saber do meu antigo relacionamento.

Já cheguei em um ponto que não me importo mais e apenas começo a retirar minhas roupas após ligar a banheira. A garota se senta no chão, suas asas ficam calmas e quase encosta elas por completo no chão.

— Olha Yas... Sei que está em um relacionamento agora, mas não deve apenas ignorar as coisas que aconteceram entre você e o Kalibam. Vocês tiveram algo muito... Intimo.

Entro na banheira e me afundo até o pescoço. Um relacionamento íntimo, isso significava que eu e ele já tivemos relações.

— Então eu não sou...

Perguntei a ela mesmo já sabendo a resposta.

— Não amiga... Você já teve vida, um relacionamento que quase e por muito pouco não deu em casamento. Eu seria a madrinha.

Esfrego minhas têmporas, então jogo sabão líquido que dizia ser relaxante na banheira que começa a fazer espuma.

— Como o próprio Kalibam tirou minhas memórias, é como se eu nunca tivesse vivido isso, para mim nunca tive nada.

Ela começa a mexer em seu colar.

— Você não pode pensar assim... É injusto com o Kalibam apenas apagar tudo que vocês foram.

Sento-me na banheira e apoio meus braços na borda para encarar ela.

— Ele mesmo apagou, então sim, eu posso fingir que nada aconteceu já que não tenho memórias disso.

Levanto-me e pego a toalha para me secar e continuo.

— Estou começando uma vida nova agora, com Zack. E mesmo minhas memórias com alguém estão começando agora.

Visto a camisola cinza e as pantufas.

— Já vi que você não vai ficar então...

Paro de pentear meu cabelo.

— Pela cara do Zack talvez ele tenha pensado que sim, mas nunca passou pela minha cabeça ficar. Aqui não é mais meu lar.

Ela se levanta e pega minhas roupas sujas.

— Você deveria ser mais... Grata a todos aqui.

Abro a porta do banheiro e vou até minha cama. Ela me segue com minhas roupas em mãos.

— Gratidão? Nos três anos que fiquei na floresta, mesmo na fome, no frio ou presa em um leilão ilegal, nunca vi nenhum ser de asas vindo me ver se eu estava viva.

Puxo a coberta com raiva e me sento na cama me preparando para deitar.

— Já entendi Yas... Vou levar suas roupas para lavar então... até amanha.

Ela sai e fecha a porta. Sei que não deveria ter agido assim com ela, mas gratidão a eles não tenho, mas deveria pedir desculpas. Vou até à porta para achar a Lucy mesmo não sabendo onde seria a lavanderia, mas quando abro a porta encontro Zack.

— Tenho que te mostrar algo. Algo que talvez te assuste.


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Notas finais do capítulo

Lembrando vocês de curtir e comentar.

Zack e eu sabíamos que esse lugar tinha algo, e ele descobriu.



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