Uma fagulha de esperança escrita por AndyWBlackstorn


Capítulo 9
Capítulo 9




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Com o nome do bebê decidido, acabaram precisando checar se a criança ficaria mesmo com esse nome ou se teriam que escolher outro nome por ser menino.

Ir ao médico não era um hábito que Selina mantinha constante ou que ela no mínimo gostasse, mas ainda assim, enfrentava seus receios pelo bem de seu filho. Engoliu, naquela manhã, junto com o café da manhã completo e nutritivo supervisionado por Alfred, os receios de ir a um médico particular. Era o que fazia parte de sua vida agora, e era melhor aceitar esses privilégios de uma vez, mesmo que eles a deixassem desconfortável.

Bruce a apresentou ao médico de confiança como sua esposa, o que a deixou contente por dentro. Ele tinha sido verdadeiro nesse quesito, honrando o compromisso deles de todas as formas. O médico então procedeu, examinou-a, fez perguntas e todo esse tempo, Bruce não tinha tirado os olhos dela. Vigilante, até na sua pele de civil, mas com um olhar muito mais gentil, protetor.

Um tempo depois, acabaram vendo o bebê na tela. Para a sorte deles, era uma menina, ainda sem muitas características claras. Tinha a cara de um bebê comum, como os poucos que os dois já tinha visto na vida.

—É a nossa Helena - Bruce comentou quietamente ao lado de Selina.

—É, a Helena - ela disse o nome da filha, refletindo em como a garotinha estava cada vez mais próxima de estar ali com eles, em como ela era muito real, mesmo antes de nascer.

Um pouco depois, Bruce voltou a alguns afazeres de filantropia. Ele acabava se ocupando em algumas ocasiões de visitas a entidades especiais. Dessa vez, o lugar que o receberia já o deixaria abalado mesmo antes de colocar os pés ali.

Mesmo depois de meses, quase um ano depois da apreensão do Charada, o que ele tinha feito e descrito a Bruce não saía de sua mente. A descrição de como as crianças ficavam completamente à mercê de uma situação deplorável, órfãos, como ele. Alguma coisa que tinha que ser feita a respeito.

Revirar o velho orfanato exigiu muito mais dele do que imaginava que precisaria. Acabou se abstendo de estar muito presente nas reformas, mas deu todo seu suporte financeiro para que o velho projeto de seu pai se reerguesse e renascesse outra vez, uma parte da casa que um dia tinha sido seu lar, Até mesmo o anúncio de que o lugar seria reformado ele fez pessoalmente à imprensa, um esforço que lhe requereu ensaios com Selina, regados pela risada dela, por ele não conseguir decorar o texto, por esquecer as palavras, por não estar olhando para o público hipotético como deveria. No fim, apesar de tudo isso, os dois fizeram um bom trabalho, ele conseguiu dizer que era um prazer e uma responsabilidade retomar o legado da família.

Foi só até aí que se envolveu, pelo menos até então. A inauguração se aproximava e, sem querer, lembranças dos seus pais rondavam sua mente outra vez, ele estava inquieto, duvidoso, querendo dar as costas para o maldito evento e voltar a se esconder, mas sabia que não poderia fazer isso, nem se quisesse.

Selina o viu transpirar, mesmo quase imóvel, encarando o terno pendurado para a ocasião. O que seu marido ainda vestia era o conjunto de moletom cinza, que deveria ser muito velho, de tão gasto. Os olhos estavam escuros pela franja que caía, mas dava pra adivinhar as sobrancelhas franzidas por de trás da franja.

—Bruce, fala alguma coisa, você está muito esquisito, mais que o normal, é a inauguração do orfanato, não é? - ela decidiu acabar com aquele estado catatônico o cutucando.

—É - ele disse preguiçosamente.

—Se é sobre o discurso, nós ensaiamos e você se saiu bem nele - ela apontou, esperando soar positiva.

—Não é isso, você sabe o que é - ele não deu muito ouvido a ela.

—Estar de novo onde você morou, depois de anos - ela se sentou pacientemente ao lado dele - talvez faça bem a você, encerre um capítulo tortuoso.

—Esperam que eu toque no assunto, que eu fale deles e o que a casa representa, a questão é: será que eu consigo fazer isso, sem perder o auto controle? - ele disse finalmente o que tanto o atormentava.

—Talvez você poderia tornar a situação menos sobre você e mais sobre pra quem realmente é a noite, pras crianças, mostre que entende elas - Selina aconselhou.

—Era o que eu pretendia fazer - ele suspirou outra vez - seria mais fácil se você estivesse lá comigo, me acompanhando.

—Não, Bruce, entendo que me queira por perto, mas é uma péssima ideia, de verdade - ela deixou claro - eu... eu estou enorme e as pessoas podem ser maldosas ao ponto de comentar que eu me casei antes de estar grávida e tudo mais, eu não quero causar um alvoroço, aparecer de repente enquanto eles estão especulando lá fora quem eu possa ser.

—Será que esse não poderia ser seu primeiro evento como a sra. Wayne? - ele segurou a mão dela, tentando apelar para algum tipo de pena que Selina poderia ter no momento - eu não vou deixar que perguntem sobre você, eu não preciso dizer tudo que eles querem saber, muito menos você, tudo que estou pedindo é a companhia da minha esposa. Só isso, esqueça o que vão pensar de nós, esqueça por um momento que vamos estar no centro das atenções.

—Você não facilita nada falando desse jeito, eu não quero aparecer, mas dá pra entender o que precisa - ela suspirou - eu vou precisar de um vestido maior, vou tentar esconder essa barriga gigante pra que não especulem mais.

—Não está tão grande assim - ele comentou inocentemente.

—Ah você que pensa, mais nenhuma palavra sobre o assunto, mocinho - ela o ameaçou com um dedo levantado, Bruce acabou rindo.

Selina demorou um pouco para voltar, o deixando à espera, mas acabou retornando. Ele então observou as escolhas da esposa para se arrumar para a ocasião, usava um vestido maior e mais solto, tentando não marcar a barriga. Tinha colocado uma das perucas, a mais neutra de todas, com o corte nos ombros e o cabelo castanho. Usava brincos que ele tinha dado de presente a ela. Parecia perfeita, mesmo com as escolhas de esconder alguns aspectos.

—Eu esperava que ficasse um pouco mais natural - ele acabou deixando escapar - mas você está linda, como sempre fica.

—É melhor se explicar com o que quer dizer com natural - ela parecia irritada, Bruce julgou que fosse os hormônios cada dia mais fortes.

—Eu acabei de te dar um elogio e ainda está brava - ele comentou com certa sinceridade, o que o fez se arrepender logo em seguida, quando ela o encarou com um olhar mortal - só estou tentando dizer que não precisa se esconder atrás de um disfarce, suas perucas fazem parte de inúmeros personagens e não quero que seja alguém fingindo ser uma outra pessoa, quero que seja você mesma.

—Sabe que... - ela se acalmou um pouco, mas trocando a raiva por apreensão - eu estava pensando a mesma coisa, ser sua esposa é algo que eu quero que seja genuíno na minha vida, que eu possa ser eu mesma ao lado de qualquer lado seu, mas hoje, hoje é pedir demais, e talvez eu me sinta mais à vontade de cabelo mais comprido do que com meu próprio cabelo, talvez encarar isso, pelo menos nessa primeira vez, como uma persona, a persona da sra. Wayne.

—Eu te entendo, não é muito diferente do que eu mesmo faço - ele confessou calmamente - esse Bruce que discursa e é sociável não sou eu, mas entendo que é algo importante pro trabalho que estamos fazendo, pra diferença que queremos provocar.

—Tá aí um bom jeito de encarar as coisas e a situação - ela refletiu sobre o que tinha acabado de ouvir - vamos causar uma boa impressão então, pelo bem das crianças e da cidade.

—Faz parte da missão de certa forma - Bruce completou.

—Sim, faz - ela respondeu, pensativa - e também essa é uma parte da missão que eu posso participar sem que você se preocupe com a minha segurança.

—Pois é, você pode voltar à ativa dessa forma sem problemas - ele comentou, o que arrancou um sorrisinho da esposa.

Teriam uma noite agradável juntos, isso era uma certeza, só por estarem juntos.

 


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