Mercy escrita por isabella_maries


Capítulo 1
Oh, please have mercy on me


Notas iniciais do capítulo

Oi meus amores,

Espero que vocês - dentro do possível - estejam bem.

Em tese, não era para eu estar postando outra história tão cedo no Nyah!, mas acabei de escrever essa mini one e não aguentaria segurá-la até o próximo sábado. Sim, estou ansiosa e por isso estou aqui a essas horas da madruga.


A inspiração surgiu através do versão da música Mercy do Shanw Mendes ( iniciando em Consmuindo todo o ar dos meus pulmões e até o "oh, please mercy on me". Sim o nome do capítulo é por isso). e do qual assim que surgiu a ideia, foi impossível não desenvolvê-la.

Peço desculpas por qualquer erro presente nesta mini one.


Espero que gostem e boa leitura.



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—Edward. - ouvi Bella me chamar, estranhando o fato, pois ela ainda olhava para mim sorrindo enquanto o sol de final de tarde a  iluminava e o vento parecia brincar com seus cabelos castanhos.  Ela tocou a relva alta e seca que dominava o campo em que estávamos, antes de me olhar novamente com seu olhar intenso e feliz. 

A imagem sumiu dando lugar a uma intensa luz que fez meus olhos doerem por um momento antes de olhar para frente, e encarar Bella sentada, a alguns passos de mim, na cama de hospital completamente diferente da minha lembrança.

Cheia de fios ligados ao seu corpo enquanto vestia uma camisola hospital, ela tinha a sua coberta preferida sobre as pernas até a cintura e destacava o esparadrapo grudado na sua mão direita mantendo uma agulha intravenosa, enquanto em sua outra mão, no seu dedo tinha uma pinça que era ligado ao monitor cardíaco. Provando não somente que ela estava viva, mas que também estava morrendo. 

Algo - que mais uma vez  - me acertou com um tapa ao encarar o seu rosto mais fino, as olheiras profundas após uma noite complicada devido a reação da quimioterapia.  Seus olhos grandes e castanhos, antes brilhantes e misteriosos, haviam se tornado mais opacos a cada nova sessão, a cada dor que tomava o seu corpo. Mas que perderá definitivamente quando seus cabelos começarem a cair em massa. Sorri.

—Você está linda. - murmurei com a voz rouca.  Ela revirou os olhos, mas pude ver o sorriso crescendo em seus lábios.

—E você sabe que não acredito muito quando fala isso, ainda mais depois que acabou de acordar. - disse. Me espreguicei e sorri mais, fazendo seus batimentos cardíacos aumentarem e Bella - como sempre— ficar vermelha. 

— Deveria acreditar, pois, não menti em nenhuma das vezes que eu disse. 

—Você sempre foi um galanteador, Cullen. - apontou. Aproximei-me dela e toquei o seu rosto.

—E você, sempre foi a razão da minha existência. - sussurrei antes de beijá-la.

E de fato Isabella foi. 

Não sabia ao certo desde quando a conhecia, qual foi o meu primeiro pensamento ao encarar seus olhos castanhos. Mas soube ao encará-los, após salvá-la de um acidente, que estava completamente apaixonado por aquela garota. Para no ano seguinte ficar em êxtase, quando descobri que ela também gostava de mim. 

Bella era o meu sol, iluminando os meus dias com a sua graciosidade e leveza, que combinava com uma das suas maiores paixões: o balé clássico.  Por isso, era quase impossível não ouvir que havíamos sido feitos um para outro. Eu, musicista, e ela, bailarina, um romance quase que clichê, se não fosse por um possível e trágico fim. 

Em uma noite de outubro, quando a nossa casa estava em silêncio, os primeiros sinais apareceram tão sutis até o último que foi a decisão de ir ao médico. Febre que ia e vinha, cansaço mais do que o normal, perda de peso sem explicação, tontura, inchaço estranho no fêmur, e então, a dor.

Vários exames e um único diagnóstico: câncer. Mas especificamente, o Sarcoma de Ewing.

—Edward. - a voz de minha mãe soou enquanto estava encarando uma foto mim e de Bella quando nos casamos, numa cerimônia simples após voltarmos da Julliard e meses antes de toda luta começar.  Limpei as lágrimas antes de olhar para ela, que me encarava com pesar, dor, e com os olhos tão vermelhos quantos os meus deveriam estar.

Antes que algum de nós pudesse falar algo, meu choro eclodiu forte e as lágrimas mais uma vez embaçaram a minha visão ao ponto de sequer conseguir enxergar a foto em minhas mãos, ou o desenho do vestido que a minha mãe usava quando ela me abraçou. Exatamente como eu havia feito com Bella quando ouvimos a notícia  que nenhum de nós queríamos ouvir após meses tentando manter as esperanças.

Apertei a minha mãe ao lembrar da face de Bella tomada pelo choque, para então passar para resignada e depois chorar compulsivamente em meus abraços. Sua mãe deixou a sala evidente que faria o mesmo que a filha, o mesmo que estava fazendo no colo de minha mãe que chorava  e compartilhava a mesma dor comigo, e sobretudo com Renée.

Pois, ela sabia que também perderia um filho quando o coração de Bella parasse de bater. Ela sabia, de alguma forma,  assim como todos que quando entrei no hospital fingindo estar forte, estava completamente destruído por dentro.

E eu estava.

Minha mente não conseguia parar de me fazer imaginar que ao contrário de quando nos casamos, quando entrasse na igreja  eu não estaria a esperando no altar, seria ela que estaria nele, vestida de azul dentro do caixão.  A dor era alucinante ao ponto de não me deixar dormir e me fazer chorar tanto que foi impossível recusar o calmante oferecido pela minha mãe. 

Mas independente disso, independente de todos os sentimentos que estavam pesando no meu peito, eu a abracei dizendo o quanto a amava, mesmo que a mulher à minha frente estivesse quase que apática às minhas ações e minhas palavras.

Eu estava destruído. 

Tão destruído como sequer imaginei estar. Quando passei com Bella pela porta do hospital fui inundado com a  lembrança de como tinha sonhado com aquele momento, o momento que iríamos para casa. Porém, com um diagnóstico que ela estava livre do câncer e não que seu corpo estivesse sucumbindo a ele. 

As visitas de nossos pais eram regulares, recheadas de lembranças e conversas que nos concediam a todos a sensação de partida, de despedida, mesmo que todos lidavam como se fosse o último beijo, o último abraço, o último riso,  porque de alguma forma poderia ser.  E isso destruía a todos nós. 

—Edward. - Bella sussurrou com a voz fraca, debilitada pela febre.

—Diga, meu amor. - a olhei, e ela se esforçou para sorrir. Aquilo me matou. 

—Me ame.

—Bella…

—Por favor. - suplicou tocando o meu rosto.Peguei a sua mão fria e a beijei.

—Não hoje, tudo bem. Amanhã, quando estiver melhor. - sussurrei segurando o choro e forcei o sorriso. - E eu te amarei tão intensamente como a primeira e última vez.

—Você promete?

—Prometo.

 

A risada dela ecoava no grande salão, o que me fez parar de tocar e admirá-la enquanto se levantava e ajeitava de maneira delicada o tutu que usava.  Ela me olhou com seus olhos castanhos brilhando em divertimento e arrumando o coque apertado, bagunçado.

—Você poderia tocar desde o começo? - questionou com uma voz doce, enquanto intercalava o movimento com seus pés, sobre a sapatilha de ponta.  Sorri para ela.

—O que eu ganho se eu fizerisso, Swan? 

Ela me olhou numa falsa surpresa e indignação. 

—Desde quando tenho que pagar alguma coisa para você fazer isso?

—Desde agora.  E aí, o que vai ser?

Ela andou na minha direção com o sorriso crescendo em seus lábios, que logo ficaram a centímetros perto dos meus, com seus olhos castanhos me fitando tão intensamente que fiquei sem ar. 

—A noite você descobre o que vai ser. - sussurrou antes de se virar andando com rapidez para o outro lado da sala, deixando-me estático para trás. A olhei desacreditando, e ela me olhava divertida. 

—Pestinha. - murmurei, saindo da baqueta e indo atrás dela, que começou a correr pelo salão. Até que a peguei, fazendo cócegas para então virá-la para mim e beijá-la avidamente.  -Amo você.

Ela sorriu tocando o meu rosto. 

—Também amo você,Edward. - sussurrou e me beijou novamente.

 

E eu cumpri. Amei Bella com todo o amor e devoção que podia lhe conceder através dos meus beijos em seus lábios, em seus braços, em seus seios, por toda extensão do seu corpo com toda paixão, amor e reverência que tinha por ela, e sempre teria.  Mas após amá-la, foi impossível não me entregar as lágrimas ao pensar que era a última vez que iria, tocá-la,amá-la e ouvi-la perder o ar  e se arrepiar sobre o meu toque. 

Vergonhosamente, eu chorava abraçado a ela, com uma criança que estava prestes a se separar da mãe enquanto o desespero arrancava toda a minha pele dos meus ossos.  Enquanto a dor me tomava de maneira violenta e dilacerante, consumindo o ar dos meus pulmões, o sopro de vida existente em minha alma. 

 Naquele efêmero momento, eu sabia que não estava perdendo a minha mãe, eu estava perdendo a minha vida. Eu estava perdendo Bella, e não havia nada que pudesse fazer além de a observar partir.  

—Edward. - ela me chamou com a voz doce. A encarei, ela sorriu tocando o meu rosto. -  Eu tenho um último pedido. 

—Bella, por favor, não diga isso. 

—Nós dois sabemos que a morte não vai tardar a chegar, e eu nunca desejei que ela me encontrasse assim. Presa numa cama, somente a esperando chegar com uma visita, como uma velha conhecida. E apesar de querer, não irei morrer dançando numa sala de balé - comentou com humor, mas pude ver a tristeza em seu olhar. - Por isso, que desejo morrer dançando no lago onde nós beijamos a primeira vez, em seus braços, antes de mergulhar nele.

—Bella…

Isso a mataria, isso a faria morrer.  Toquei no seu rosto, e neguei com a cabeça. 

—Por favor… - implorei.  Tenha piedade, tenha misericórdia de mim. 

—Eu amo você, Edward. Eu sempre o amei, e sempre vou amá-lo até depois de parar de respirar, por toda eternidade. - sussurrou perto dos meus lábios. Abri os olhos e pude ver as lágrimas caírem. - E eu sei que você me ama e amará tanto quanto, por favor, faça isso por mim.  - argumentou. - Eu não quero morrer assim, não quero morrer presa nessa cama.

—Bella… - disse aos prantos. Tenha misericórdia.

—Por favor. Você sabe, eu sei, eles sabem que não viverei mais que este dia. - falou agoniada. Assenti, sem ter condições de falar para então sentir o abraço dela. - Obrigada por salvar a minha vida naquele acidente, por me fazer a mulher mais feliz até mesmo quando quis chorar, por me dar forças quando quis desistir. - disse e apertou a minha mão. - Obrigada por me amar. - sussurrou, e juntos, desabamos em lágrimas e declarações. Nossos lábios se uniram tantas vez que foi impossível contar, mas pareciam estar tão vivos em mim, quanto os eu te amos  em minha mente que ecoavam, trazendo-me não somente dor, mas uma compreensão de que não aguentaria viver num mundo sem ela.

Em passos lentos para o escritório, entorpecido pela dor que tomava o meu corpo, vi o livro favorito dela sobre a mesa e fui atraído como um imã ao ponto de me vê-lo abrindo e vendo uma carta direcionada aos nossos pais. Meus joelhos falharam ao lembrar de ver aquele envelope cor de rosa e da folha que ela escrevia com força, e certeza dificuldade após mais uma sessão de quimioterapia. 

  Lembro de perguntar a ela o que estava escrevendo, e ela me disse que estava respondendo uma pessoa sobre o desejo dela e do porquê dele.  Meus olhos arderam, mas nenhuma lágrima caiu ao mesmo tempo que notava que de alguma forma, ela sabia que não andava tão bem quanto os médicos diziam estar. 

Respirei fundo e deixei o livro na mesa, antes de escrever uma carta seguindo na mesma direção que a sua e coloquei sobre o livro, sem envelope, mas para os mesmos destinatários. 

—Edward. - Bella me chamou fazendo-me olhá-la tocando a relva verde, com o meu suéter marrom que estava por cima do seu vestido púrpura que ela tinha usado em nosso noivado. Ela sorriu para mim, e ao contrário da minha lembrança naquele mesmo lugar o sorriso não chegou aos seus olhos. 

Com os seu corpo em meus braços, entrei no lago sentindo a água fria tomar o meu corpo à medida que ia mais fundo. Bella tremeu no meu colo ao sentir a temperatura da água que brilhava devido ao sol que aos poucos subia por entre as árvores, beijei a sua testa e com delicadeza a fiz flutuar antes de virar o seu corpo, fazendo ela olhar para mim.  Em movimentos leves, nós dançamos, sem desviar nossos olhos, para então nos beijar com avidez pela última vez.

—Edward. - sussurrou, a dor massacrava o meu peito. Eu podia sentir pelo toque de suas mãos em meu rosto que ela estava indo, que a vida esvaziava de si. - Amo você. 

—Eu também amo você, Bella.Sempre vou. - declarei de volta, e a vi sorrir pela última vez.

—É a hora de mergulhar. - avisou envolvendo seus braços no meu pescoço, enquanto as lágrimas se misturam com a água. A puxei mais contra o meu corpo e juntos mergulhamos para o fundo do lago, com nossas mãos e corpos entrelaçados, para nenhum de nós retornar para a superfície.

 


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Notas finais do capítulo

Não deixe de não comentar e contar sobre o que achou, do que não gostou. Seu feedback é importante para mim :)

Tenham um ótima semana!

E até a próxima :)

isabella_maries
@humaanqueen