Depois do Crepúsculo escrita por FSMatos


Capítulo 2
Capítulo dois




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/805783/chapter/2

*BELLA*

 

— Promete que vai ligar assim que chegar na Flórida? - Os olhos escuros e profundos de Jake brilhavam de maneira incomum. Seus braços grandes e compridos estavam cruzados sobre o peito. Não me tocar para se despedir parecia estar lhe matando, mas era o melhor para nós dois.

Os dois anos que ficamos juntos - como um casal, de fato - tinham sido únicos e reveladores. Estaria mentindo se negasse que a princípio usei este relacionamento para esquecer do antigo, porém, o tempo mostrou ser benéfico. Fomos felizes e nenhum de nós poderia negar. Com o desaparecimento dos vampiros da Península de Olympic, os lobos voltaram a desaparecer também. Jacob ainda se transformava uma vez ou outra, por diversão em vez de obrigação, então o tempo havia agido sobre ele.

E sobre mim também.

Quando estava junto dele, lembro que meu maior medo era de envelhecer. Claro, estes poucos anos não foram o suficiente para que cabelos brancos aparecessem, como ervas daninhas, ou mesmo a mais mísera ruga. No geral, eu continuava igual. Talvez exceto pelos olhos ou pela maneira de andar. Meus pés já não tropeçavam mais no chão liso; uma evolução que devo ao Jacob e suas longas trilhas pela floresta em que eu era obrigada a andar. Estar com ele me trouxe confiança e equilíbrio. - Chega parecer egoísmo estar de partida agora, para o outro lado do país, mas foi o próprio Jake que insistiu.



— Você tem que ir. - sussurrou ele no meio da noite, há três meses, quando recebi a minha carta de admissão. Estávamos deitados em sua cama. Billy roncava baixinho no outro cômodo. - Já ficou presa nesta cidade sem futuro por muito tempo, Bells. - Ele vinha insistindo há meses. Até Charlie, que aprovava com vigor nosso relacionamento, concordava com essa decisão.

— Não acho que será o fim do mundo não ir à faculdade. - contra-argumentei, deslizando os dedos por seu cabelo liso e negro. Ele havia o deixado crescer novamente, mas o mantinha na altura do ombro. - Gosto da vida pacata.

Jacob sorriu, alegre como uma criança.

— Fico feliz em saber. - cantarolou, dando um pequeno selinho sobre meus lábios. - Mas não quero contrariar o Chefe Swan. Até porque, toda garota tem que ter mais de uma opção nesta vida além de um relacionamento. Um diploma lhe cairia bem.

— Eu nem sei o que quero fazer. - dei de ombros.

— Sabe, sim. - Agora era ele que acariciava meus cabelos, massageando meu couro cabeludo em movimentos circulares. Lutei contra o impulso de fechar os olhos e dormir. - Você vem falando muito sobre a faculdade de literatura. Quando está dormindo, obviamente.

Meu rosto deu uma leve corada. Tinha apenas dois meses desde que passamos a dormir juntos e eu ainda não estava acostumada com a ideia dele sempre me ouvir à noite. No início fiquei com medo dele ouvir algo a respeito dele, visto que eu ainda sonhava com a floresta escura pelo menos uma vez ao mês (não era mais o mesmo pesadelo de sempre; eu não tentava mais segui-lo na escuridão). Se eu cheguei a falar algo, ele não mencionou o ocorrido.

— Isso é muito rude, uma invasão de privacidade. Eu poderia processar você. - Ri da minha própria piada e Jacob me acompanhou.

Mesmo assim,  a piada não tirou a sua atenção por tempo suficiente.

— Estou falando sério, linda. Você precisa experimentar novos ares, sair um pouco de perto de mim, de Charlie. - Por mais que houvesse convicção em suas palavras, ainda havia tristeza. Ele desejava a minha partida tanto quanto eu. - Senão, como saberei se de fato gosta de mim e gosta de ficar aqui comigo? Você pode muito bem estar entediada e sem nada melhor para fazer.

— Jake, sabe que isso não é verdade. - Eu não conseguia olhar em seus olhos. Aquilo doía, a ideia de estar longe do meu sol particular. A ferida, agora cicatrizada, latejava apenas com  o vislumbre de tal possibilidade. - Eu gosto de você.

— Eu sei que gosta. - sussurrou ternamente. Apoiou o dedo indicador embaixo do meu queixo e ergueu minha cabeça para que eu pudesse olhá-lo e depois voltando a prender os dedos em meu cabelo. Seus olhos cintilavam com uma emoção profunda. Não parecia apenas angústia com a ideia de me ver distante. Era algo mais: insegurança. - Mas você me ama? Nunca me disse se me ama, nem mesmo em seus sonhos.

Foi como uma flechada de culpa no coração.

— Nós já conversamos sobre isso. Sabe que eu te amo. - Isso era verdade.

Suspiro.

— Mas não como amou ele.— Havia resignação em suas palavras. 

— Ele foi o meu primeiro. - dei de ombros. - As coisas são sempre mais intensas nas primeiras vezes.

— Tem razão. - concordou, um sorrisinho malicioso surgindo em seus lábios enquanto me puxava para mais perto. - As primeiras vezes são sempre intensas, únicas e muito interessantes.

Corei.

— Você fala como se tivesse experimentado muitas primeiras vezes.

— Só algumas. - Sua mão, que estava no meu cabelo há poucos segundos, agora deslizava pelas minhas costas, por baixo do pijama. Ele ainda era muito quente; muito agradável em noites frias como aquela. - É engraçado quando falam que as primeiras vezes são desastrosas e imperfeitas. - Seus dedos vieram pela lateral do meu corpo, tocando áreas mais sensíveis. - Não consigo imaginar criatura mais perfeita do que você.

— Está exagerando. - resmunguei, tentando manter o foco.

— Bella, minha querida, eu deveria filmar você. - sussurrou, colando o rosto na base do meu pescoço, beijando e deslizando os lábios. Estava tão quente… - Uma verdadeira obra de arte.

Não houve mais discussões depois disso. Em menos de dois minutos, eu estava nua e sobre ele, mas não me movimentava; era Jacob que agia com ímpeto, abraçado-me para que eu ficasse parada junto a ele. Em nenhum momento ele desviou o olhar, como se tentasse provar seu ponto de vista em relação a minha beleza enquanto me encarava com aquele olhar de assombro. Deixei-me levar pelas sensações e minha cabeça ficou em branco. Muitas vezes.

Dei graças a Deus que Billy tinha um sono pesado. Não saberia onde enfiar a cara caso ele nos visse ou ouvisse.

Na manhã seguinte, concordei em ir. Jacob ficou satisfeito. Não feliz. - Apenas satisfeito.



— Prometo que vou ligar. - assenti. Ele parecia uma criança desamparada. Queria abraçá-lo e o consolar, mas já tínhamos combinado que aquela não era uma despedida de verdade e que, no fim, sempre teríamos um ao outro. - Não se esqueça de mandar seu pedido de admissão. Não é somente a mim que novos ares fariam bem.

— Gosto da vida pacata, Bella. - Jacob sorriu, permitindo-me ver um pouco mais de seu brilho antes de partir.

— Não vale usar o meu argumento. - fiz uma careta de desaprovação.

Jake gargalhou.

— Vá logo. Não se atrase.

Assenti.

— Eu amo você, Jacob Black. - As palavras saíram chorosas. Eu definitivamente não estava pronta.

Ele sorriu.

— Eu sei. - Ele também parecia prestes a chorar. - Se cuida, garota.

Charlie, que estava logo atrás de Jacob, também se pronunciou:

— Tenha uma boa viagem. - Seus olhos estavam claramente marejados. - Diga à sua mãe que mandei um abraço.

Vê-lo chorar me afetou mais do que eu imaginaria. Precisei abraçá-lo. O gesto pareceu ter o desconcertado; ainda sim, ele retribuiu. Seus braços quentinhos e ternos me lembravam das noites em que eu acordei aos gritos, desesperada, após ter o mesmo pesadelo. Assim como Jacob, o ter ao meu lado também me ajudou a superar o que poderia ser superado. Ele suportou cada ataque de raiva, cada crise de choro, minha letargia, a ausência de vida. Eu devia ao meu pai do que respeito: devia a minha vida.

— O senhor sabe que não é por muito tempo. - Tentei consolar. Havia um pouco de vermelho ao redor dos olhos, mas nenhuma lágrimas. - No Natal eu venho ver vocês.

— Ou podemos ir ver você na casa de sua mãe. - grunhiu. - Pegar um solzinho deve me fazer bem.

— Traga a Sue, então. - Não pude evitar de sorrir.

Sue era viúva de Harry, mãe de Seth e Leah. A morte de Harry os aproximou, e a convivência trouxe algo maior do que a amizade entre os dois. Sue era uma mãe maravilhosa, uma companheira atenciosa, forte e teimosa, como Charlie, e nos últimos anos nos tornamos grandes amigas. Até Renée havia amado ela. Infelizmente ela não pôde nos acompanhar até o aeroporto por estar ocupada com os preparativos do casamento da irmã de Jacob com Paul. Billy estava uma pilha de nervos, mais do que a própria noiva, e Sue o estava mantendo na linha. Mesmo que aprovasse o casamento com um membro da tribo, acho que casamento abala o emocional de qualquer pai. É difícil aceitar que sua garotinha não era mais uma menina; eu podia ver isso nos olhos de Charlie. Não era o meu, porém, ainda era uma mudança drástica. Nunca tínhamos passado tanto tempo morando juntos. Por mais que fôssemos pessoas de natureza fechada, desenvolvemos uma forte ligação.

Charlie assentiu, sorridente também.

— Claro, tenho certeza que ela vai amar.

A viagem até Jacksonville foi tranquila. Passei a maior parte do tempo lendo e bebericando soda limonada. Quando o avião pousou, fazia nada mais e nada menos do que 36 graus. O baque da mudança de temperatura brusca me pegou desprevenida, assim como a umidade. Era como entrar em uma sauna.

Renée, como sempre, estava jovial. À medida que o tempo passava ela ficava mais radiante. Fui recebida por um grande abraço cheio de pulinhos e gritinhos. As pessoas ao nosso redor riam e nos encaravam. Ainda não gostava de ser o centro das atenções. Delicadamente, afastei Renée para respirar um pouco e ajudá-la a se recompor. Estranhei que seu marido não estivesse junto dela (sim, eles haviam se casado). Renée explicou, enquanto me arrastava para o carro, que Paul estava ocupado com o time que estava treinando nesta temporada.

— Você vai adorar Jacksonville. - cantarolou Renée ao manobrar o carro em direção ao tráfego externo do aeroporto. Por pouco não bateu em um táxi que chegava na via oposta. O senhor que dirigia gritou algo em espanhol que deduzir se tratar de um insulto. Renée o ignorou. Se não estivesse acostumada com a impulsividade de Jacob, com certeza teria me assustado. Entretanto, a única reação que tive foi gargalhar. Renée não havia mudado em nada. O som de divertimento foi um estímulo para ela. Continuou: - Phil fez modificações no seu quarto. Colocou cortinas novas, muitas prateleiras para os seus livros e um computador novinho. Sei que deve ter se acostumado com a tranquilidade de Forks, mas logo você se adapta a agitação da cidade grande de novo. Podemos ir à praia amanhã. Sei que somos mulheres comprometidas, porém a vista dos homens daqui em suas sunguinhas não pode ser ignorada. Uma vista única…

 

2011

— Bella, você está exagerando. Algumas semanas a menos não vão mudar nada! - choramingou Natalie. - Tenho certeza que eles vão entender se você disser que foi por causa dos estudos. - ronronou, piscando aquele grandes olhinhos de ébano, capazes de derreter os corações dos calouros e veteranos menos vacinados. Era ridículo que depois de todos esses anos convivendo uma com a outra Natalie ainda tivesse esperanças de um dia surtir efeito em mim.

Natalie era uma típica garota da Flórida: família de origens latinas, bronzeada e popular. Cabelos negros, ondulados e brilhantes. Quadris não muito largos, pernas torneadas e volumosas, seios igualmente evidentes, rosto ovalado, olhos em formato de amêndoas. Linda. E inteligente; as notas mais perfeitas imagináveis. O combo ideal para qualquer garota comum surtar de inveja. - Menos eu, obviamente, e isso pareceu ter feito Natalie gostar de mim e passar a me seguir como um cachorrinho, clamando por atenção. O início oficial de nossa amizade começou com uma pequena ajuda em um trabalho individual. Ela estava insegura a respeito do tema que pretendia abordar e eu fiz uma avaliação construtiva. Foi fácil recebê-la. Havia muita inocência por baixo de todos aqueles atributos sexuais e seus joguinhos de sedução. Ela nunca avançava de fato. Só achava engraçado como os meninos e algumas meninas pareciam perder o fôlego quando ela lhes dirigia a palavra. - Uma menina brincando de ser mulher.

Claro, também tinha raiva alheia.

Natalie era uma daquelas peças raras, uma mulher que nos tempos antigos poderia ser a musa de um poeta: sua beleza não era oriunda de cosméticos. Era evidente que ela cuidava da saúde, principalmente da pele, mas nunca apelava para maquiagem. E as outras garotas ficavam se remoendo de ódio por isso. Os garotos só tinham olhos para Natalie. As garotas comuns, incluindo as mais produzidas, não tinham chances perto dela. Mas, como mencionado anteriormente, Natalie ainda era uma "criança". Não ligava para namoro, ficantes ou paixonites. Nem sabia dizer se algum dia havia se apaixonado. Mas amava flertar. A deixava radiante.

Outra grande fissuração era a Itália e tudo o que viesse dela: filmes, livros, séries de televisão, comidas, bebidas. Dizia que se a língua do amor era o francês, o italiano era a da paixão.

— Literatura italiana não é a área em que pretendo me especializar. - expliquei novamente,  talvez a quinta naquela mesma semana.

Estávamos em um restaurante popular perto do campus. Eu havia pedido um risoto de camarões e Natie (como ela gostava de ser chamada por mim), preferiu um sanduíche natural de peito de peru. Ali a comida era barata e boa, e os outros estudantes não iam por não ser "descolado" o suficiente. Com a expansão da internet e das redes sociais, estar em lugares em evidência digital contava muito. Ali era apenas um pequeno estabelecimento que me lembrava os restaurantes de Port Angeles. Sentia-me mais confortável em ambientes como aquele.

Natie deu uma grande mordida em seu sanduíche, mordendo-o como um louco esfomeado devora um pedaço suculento de carne. Era seu jeito de demonstrar insatisfação com o meu declínio.

— Sabe que fazer birra como uma criança não vai me fazer mudar de ideia. - comentei, apreciando minha comida enquanto lia meus e-mails. Charlie havia escrito. Jacob também.

Antes que eu ficasse distraída, Natie voltou a falar:

— Você é muito chata, Isabella Swan. - murmurou entre mordidas. - Não estou pedindo pra você destratar seu pai, ou o seu namorado. Mas eu queria fazer isso com você, entre nós, uma viagem só para as  meninas. Sabe o quanto eu quero praticar meu italiano. E o festival de São Marcos. Você tem que ver as fotos. - Sua voz de soprano ficava mais aguda a cada frase. Agradeci que fôssemos as únicas no estabelecimento naquela hora. A pobre da garçonete nos olhava, incrédula. - É TÃO LINDO! Tudo tão vermelho e tão cheio de pessoas, de todos os lugares do mundo. Os muros de tijolos antigos, as ruas estreitas. A praça principal. Tem o castelo! A guia me disse que vai levar o grupo para ver por dentro também. Chegou até dar um desconto para levar nós duas. Por favor, Bella!

— Para com isso, Natie. - grunhi, largando o celular em cima da mesa e desistindo por enquanto de olhar minhas mensagens com mais atenção. - Faltam três semanas até as férias de primavera. Eu não posso cancelar tão em cima da hora.

— Sua egoísta!

— Olha quem está falando! - Até eu tinha perdido a paciência.

Mas Natie já tinha se levantado, atirado o dinheiro de sua comida em cima da mesa - mesmo tendo sido eu quem havia convidado - e saiu do restaurante batendo pé. Talvez ser bonita demais a tivesse deixado mimada, mas eu não iria ceder tão facilmente aos seus caprichos. - Passei o restante do dia sem vê-la.

À noite, quando finalmente havia me livrado das aulas intermináveis e de um teste surpresa, sentei-me para responder Jake e meu pai. Dez minutos que mandei meus e-mails, meu celular tocou. Era Jacob.

— Sabe, querida, - suspirou assim que atendi. - acho que você foi muito dura com ela.

— Ah, não! - grunhi. - Eu adoro a Natalie, mas ela me enlouquece quando dá esses ataques de raiva. Não vou ceder aos caprichos dela. Ela tem que crescer e aprender a ouvir um "não".

— Nem todas as mulheres têm a sua maturidade. Principalmente as da cidade grande e beldades como ela. Mas veja bem, - murmurou. - ao meu ver, uma viagem internacional não é tão ruim.

— Achei que quisesse me ver. - Estava com raiva e indignada. O que estava acontecendo com Jacob?!

— Eu estou louco para fazer isso. Mas andei conversando com sua mãe…

— E…?

— E ela parecia um pouco preocupada.

Preocupações. Comigo. As paranoias ainda rondavam a minha vida.

— Eu estou ótima! Não há nada de errado com a minha cabeça. 

— Renée disse que você anda estressada.

— Não há estresse…

— Que não tem dormido direito.

— Sete horas por dia, de acordo com a ciência, é perfeitamente aceitável…

— Que tem tido pesadelos!

Okay, foi o suficiente para me fazer calar a boca. Esperei que continuasse.

Quando voltou a falar, sua voz carregava o peso da velha insegurança.

— Sempre que está próxima de vir a Forks, você fica desse jeito. Por quê?

— Renée é muito fofoqueira. - grunhi.

— Ela é a sua mãe. Se preocupa com você. - Sua voz suave era como algodão macio. Penetrava meus ossos, deixando-me indefesa. - Apesar de perguntar o porquê, sei muito bem do que se trata. Mas não se preocupe. Ele não está aqui, nenhum deles está. Nós o teríamos sentido qualquer um que chegasse perto da cidade ou das fronteiras da reserva. Podemos não mais nos transformar, mas ainda temos nossos poderes.

— Não estou com medo deles. - A cicatriz latejou. Apoiei-me sobre a minha escrivaninha, sentindo-me exausta. - Nunca tive medo.

— Então, por quê?

— Apenas… não sei. - Não tinha coragem de dizer as palavras, de que descer daquele pequeno avião me lembrava do início, de como tudo começou e como tudo acabou. Aos poucos seu rosto se tornava um vulto disforme, mas a lembrança era como uma marca gravada em ferro quente sobre a pele.

Mas Jacob sabia. E, por incrível que pareça, demonstrava aceitar essa realidade cruel, por mais que ferisse seus sentimentos; a sensação de nunca ser suficiente, de ocupar sempre o segundo lugar. O prêmio de consolação.

— Não quero fazer você sofrer, Bells. - Era evidente a sinceridade. - Vá se divertir com sua amiga. Ouvi dizer que a Toscana é linda.

— É sim. - concordei, sem ânimo. Estava sendo covarde. Sabia disso, mas queria ser. Então iria me aproveitar de sua boa vontade.

Era como tirar um peso dos ombros.

Conversamos um pouco sobre outros assuntos. Jacob e Billy estavam eufóricos com a chegada de Julia, filha da irmã de Jacob com seu amigo Paul. Falamos sobre a reserva, sobre a cidade que continuava a mesma, sobre os turistas que ignoravam os avisos das áreas de risco.

Após encerrarmos nossa conversa, foi a vez de falar com Charlie. Ele entendeu perfeitamente. Renée havia contado a ele também. Resmunguei um pouco sobre a língua solta da minha mãe, mas no fim me convenci de perdoá-la.

Natalie atendeu no segundo toque.

— Sim? - Ela parecia um pouco desgostosa.

— Quando é a viagem? - perguntei, sem rodeios.

— E isso realmente importa para você? - Ouvi-a fundar de maneira teatral.

— Claro que importa, sua tonta mimada. Achei que quisesse que fizéssemos isso juntas. - Dei de ombros.

Silêncio.

— Quer dizer - Agora ela estava chorando de verdade. - que você vai comigo?

— É óbvio.

— Obrigada, Bella! Eu te amo tanto. - Estava em prantos.

Não pude deixar de rir um pouquinho comigo mesma. Era mesmo uma criança.

— De nada, Natie. Mas você ainda não disse quando vai ser a viagem.

— Vai ser uma semana antes do festival. - Natalie já tinha se recomposto. Voltara a falar alegremente. - Vamos ficar hospedados na cidade até o grande dia. Então voltamos para casa.

— Certo. - murmurei. - E quanto a minha passagem? Não acha que está em cima da hora…

— Não, não! Eu comprei junto com a minha. - Ela riu. - Estava convicta de que você iria ceder aos meus encantos.

Ri.

— Você, Natalie, é uma manipuladora cruel.

— É o meu charme.

— E para onde nós vamos?

— Não leu o link que te mandei?

— Não.

— Ah, Bella, - suspirou. - se eu sou manipuladora, você é claramente displicente.

— Só quando me convém. - sorri. - Fala logo. Para onde?

Ela fez alguns segundos de silêncio, performando um suspense.

— Para a magnífica, histórica e misteriosa - Pausa dramática. - Volterra!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!