Survival escrita por KryFi


Capítulo 2
Rana




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24 de Septem de 322

Dia 2

 

O sol forte da manhã batia no meu rosto enquanto eu lentamente abria meus olhos. Rana ainda dormia ao meu lado, enrolada no casaco que eu vestia quando subimos na cobertura. Havíamos decidido que seria melhor esperar a luz do dia para tentarmos atravessar a cidade sem correr nenhum perigo que poderia estar oculto nas sombras da noite. Já não se ouviam mais os gritos e o pânico que atrapalharam as primeiras horas de nosso sono ali.

Me levantei, olhando nossos arredores em busca de entender o que havia ocorrido. Pude perceber que não éramos os únicos que tinham buscado refúgio nos topos dos prédios. Aqui e ali, várias pessoas, tão visivelmente atordoadas quanto nós, se levantavam após a longa noite.

“Rana, acorde...” — falei enquanto tocava gentilmente em seu ombro. — “Está na hora de irmos.”

Lentamente ela foi despertando. Ainda bastante afetada por tudo que havia acontecido. Seus cabelos vermelhos estavam bagunçados e seus olhos marcados pela noite mal dormida. Somente agora havia percebido o tom azul-marinho de suas íris.

“Vamos. Precisamos chegar no distrito de Sancta Fides antes do anoitecer.”

Ela concordou com a cabeça.

Nos dirigimos à beirada da cobertura. Olhei para baixo procurando avaliar a situação atual das ruas. A avenida encontrava-se incrivelmente vazia, banhada por toda a luz do sol matinal. Naquele mesmo horário, no dia anterior, aquele lugar estava abarrotado de veículos indo de um lado para outro da cidade.

Um grito então quebra todo aquele silêncio perturbador que pairava no ar. Vinha de dentro de um prédio próximo. Todas as pessoas que estavam nas coberturas olharam para baixo.

Um homem adulto apareceu na porta principal correndo em direção à rua. Logo atrás, dezenas daqueles seres apareceram em sua perseguição. Antes mesmo de sair da calçada ele tropeçou. Não houve tempo para se levantar. Seus gritos de dor agonizante ecoavam por toda a rua enquanto ele era devorado vivo.

E finalmente eu havia entendido. Eu já tinha ouvido falar deles antes. Eram comumente usados em filmes e jogos de terror. Sua principal característica era a fome insaciável por carne viva… Zumbis!

Rana já havia desistido de olhar e estava de costas, tampando seus ouvidos. Continuei observando até que eles finalizaram o serviço. Por algum motivo, eles retornaram para dentro do prédio, quase como se algo do lado de fora os assustasse.

“Vamos, temos que nos apressar.”

Descemos as escadas de incêndio. Ao passar pelo meu apartamento, percebi que os zumbis da noite passada tinham conseguido entrar e agora estavam perambulando sem rumo lá dentro.

Chegando ao solo, fomos em direção à avenida. Tudo parecia seguro. Seguimos em frente.

***

Não sei que hora havíamos acordado, mas supostamente era tarde, já que chegamos à praça central por volta de meio dia. As atrações e tudo mais da comemoração da noite anterior ainda estavam lá, porém, cheias de sangue espalhado por todo canto, mas não havia mais sinal de nenhum ser vivo, ou morto, naquele local. Algo não estava certo.

Por um momento, Rana parou.

“O que foi?”

“Foi aqui q-que tudo começou.” — sua voz falhava. — “Era bem aqui onde eu e meus pais estávamos quando tudo começou. Eu fui separada deles quando a multidão começou a fugir, sendo arrastada por um mar de pessoas. Foi por isso que fui acabar parando na sua... Espero que eles estejam bem”

Uma pequena lágrima escorreu de seu olho.

“Não fique assim, Rana. Nós iremos encontrá-los.”

Uma pequena gota de água caiu no meu rosto. Olhei para cima e vi que o tempo havia se fechado acima da praça sem que percebêssemos. Pela cor escura das nuvens dava para se notar que seria uma chuva pesada. O som das gotas contra o asfalto já podia ser ouvido na avenida de onde tínhamos vindo.

“Venha Rana, vamos caçar algum abrigo seguro da chuva e desses monstros.”

***

Nos abrigamos em um food truck que havia sido deixado para trás na praça. Eu conseguia ver pela janela que, por algum motivo, os zumbis saiam dos prédios durante a chuva.

“Ainda bem que encontramos rápido esse lugar.” — falei esboçando um sorriso.

“Ainda bem...” — sua voz tremulava.

“E aí, que tal a gente contar um pouquinho sobre o outro, para passar o tempo enquanto chove?”

“Pode ser... Posso começar?”

“À vontade.”

“Certo, como eu disse antes, me chamo Rana. Tenho 23 anos e sou formada em arquitetura. Ainda moro com meus pais por quê ultimamente achar um emprego aqui em Ybyra é um pouco difícil.”

“Pois bem,” — iniciei — “meu nome é Steve, tenho 26 anos e trabalhava como guarda na Witch’s Hut. Morava sozinho naquele apartamento. Não era um vidão, mas eu não tinha do que reclamar.”

“Witch’s Hut é? A maior empresa farmacêutica do mundo... Então não era pouca coisa não em?! Aliás, como você acha que isso tudo começou?”

“Eu não faço ideia Rana, mas eu acho que tem algo a ver com o vírus que foi liberado. Eu sinto que tem coisa muito errada nisso tudo... E eu vou descobrir o que é!”

A chuva caiu durante toda a tarde. O sol já se escondia atrás dos enormes prédios quando ela parou. Nos levantamos para verificar como estava a situação do lado de fora do carro. Os zumbis continuavam nas ruas e não demonstravam terem a intenção de retornar aos prédios. Um baque ao meu lado desviou minha atenção para Rana. Ela estava no chão, de joelhos, branca como a neve. Sua feição era de desespero e tristeza.

“Rana! O que houve?! Você está bem?!”

Soluçando, ela lenta e dolorosamente levantava seu braço, apontando na direção de dois zumbis que andavam próximo a nós.

“Não...” — falei, começando a entender a situação. — “Rana... São eles?... São os seus… pais?”

Rana não conseguiu responder. Ela só conseguia chorar. A chuva voltou a cair, abafando todo o barulho que fazíamos, nos ocultando dos zumbis que ainda rodeavam o local.

Me sentei ao seu lado e a abracei. Era tudo o que eu podia fazer...

***

Próximo Capítulo

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