O Conto do Cão Negro escrita por BlackLupin


Capítulo 14
Capítulo 14: O Segredo da Lua Cheia




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Cansados de se encontrarem somente durante a noite no banheiro dos monitores, Sirius havia tirado um momento durante suas aulas livres para vasculhar o Castelo à procura de outros lugares em que ele e a namorada pudessem se encontrar, de preferência durante o dia também, e para a surpresa de Flori, durante o almoço daquele mesmo dia, ele apareceu com um lugar totalmente novo, que parecia perfeito para eles. Ficava no corredor do sétimo andar e de acordo com Sirius era conhecido como a Sala Precisa. Não fazia ideia de como ele a havia encontrado, porém, não desperdiçou muito tempo se preocupando com o assunto, afinal, já se habituara ao fato de o rapaz conhecer vários segredos da escola.

A partir de então se reuniam frequentemente ali, especialmente nos intervalos que tinham entre uma aula e outra. Com a chegada do sexto ano, ambos puderam desistir de muitas matérias e por isso tinham bastante tempo livre.

Naquele momento, Flori encontrava-se sentada no colo de Sirius, beijando-o de maneira ardente, instigando-o ao tocá-lo por cima das vestes. Sirius vinha tentando se livrar de tais obstáculos, porém, cada vez que levantava a barra da saia dela, era brindado com uma mordida feroz no pescoço.

— Caramba! Acho que alguém está disposta a me devorar hoje! – Reclamou ele, em meio a uma risada.

— Isso é o que você recebe quando não se comporta. – Disparou a garota.

— É difícil manter a decência quando está sentada dessa forma. – Justificou-se. Ele suspirou e olhou ao redor, ao mesmo tempo em que passeava com os dedos por suas costas, causando-lhe arrepios. – É uma lástima que esse lugar não tenha uma cama.

Ela sorriu e revirou os olhos; não era a primeira vez que o ouvia reclamar sobre isso. Sempre que iam até lá, a Sala lhes fornecia diversas poltronas e almofadas e até um tapete e lareira, lembrando-lhe muito da Sala Comunal da Grifinória, contudo, sem o vermelho e dourado costumeiro nos móveis.

— Suponho que a Sala não queira nos incentivar a fazer certas coisas. – Argumentou. – Por isso prepara o ambiente para somente alguns amassos, eu imagino.

Um sorriso malicioso surgiu no rosto de Sirius.

— Bem, mas ela não contava que existem formas de burlar essas regras. – Murmurou, olhando carinhosamente o sofá no qual estavam. – Aliás, o que me diz de deitarmos um pouquinho? – Indagou ele, segurando-a pela cintura e reclinando-se.

Flori riu.

— Agora não é o momento, Snuffles. – Redarguiu. – O sino pode tocar a qualquer minuto. – Lembrou.

No entanto, ele já estava esticado sobre a namorada, afastando a gola de sua camisa e beijando o seu ombro.

— Tem certeza de que estamos ficando sem tempo? – Sussurrou ele, enquanto seus lábios desciam por aquele caminho. – Tem certeza mesmo?

Cada pergunta que fazia era pontuada por um beijo abrasador, fazendo com que a garota risse. Sentiu que ele começava a comprimir seu corpo ao dela e precisou se desvencilhar dele, enquanto continuava rindo.

— Temos menos de dois minutos. – Flori pegou seu braço e o colocou diante dele, indicando o relógio.

Sirius enterrou a cabeça em seu peito e grunhiu aborrecido.

— Como eu odeio esse maldito relógio!

Mesmo assim ele se ergueu e Flori sentou-se ao seu lado, mirando-se no espelho que havia sobre a lareira e arrumando suas roupas que haviam ficado amarrotadas, fechando os botões que Sirius havia aberto sorrateiramente.

— Podíamos nos encontrar esta noite. – Sugeriu ela, enquanto assentava os cabelos do namorado com doçura. – Eu pensei em algo nada convencional.

— É mesmo? O que essa cabecinha está tramando agora? – Perguntou com inflamada curiosidade.

— Bem, você sabe como os garotos não podem entrar no dormitório das garotas de jeito nenhum, certo? – Ele assentiu. – Mas o mesmo não se aplica às garotas. – Disse e esperou que o rapaz absorvesse o significado.

— Espera aí, está sugerindo se esgueirar até o meu dormitório esta noite? – Assombrou-se Sirius.

— Enquanto você distrai seus amigos na Sala Comunal, eu entro furtivamente e me escondo na sua cama; é só puxar as cortinas. – Explicou.

Sirius pareceu realmente entusiasmado com a ideia, como se tivesse acabado de ganhar a motocicleta voadora que tanto queria.

— Mas e se os outros nos ouvirem?

— Lançamos o nosso feitiço da sorte. – Respondeu ela com um meio sorriso.

— Abaffiato. – Murmurou pensativo. Ele a encarou com um misto de espanto e admiração. – Quem é você e o que fez com a minha Flori certinha? – Perguntou.

— E então, o que me diz?

A felicidade de Sirius se apagou de repente.

— Você diz esta noite? – Ela confirmou com um aceno. – É que... esta noite eu não vou poder. – Lamentou. – Tenho um compromisso.

Aquilo foi inesperado.

— Hã... tudo bem. – Balbuciou a garota. – Podemos deixar para amanhã.

Contudo, ao contrário do que imaginava, sua expressão ficou ainda mais melancólica e ele sacudiu a cabeça.

— Também não posso. Todas as noites da próxima semana... Não posso. Eu sinto muito.

E ele de fato parecia triste com o que acabava de dizer. Flori não entendia que compromisso poderia ser aquele que o deixara tão ocupado e que levaria as noites inteiras da próxima semana. Que tipo compromisso seria esse?

Parando para pensar, não era a primeira vez que uma coisa dessas acontecia; todo mês, no período de aproximadamente seis ou sete dias, Sirius costumava desaparecer e não era visto em parte alguma do Castelo. Contudo, nunca dera a devida atenção a este fato, porque haviam começado a namorar firme somente no ano passado, que foi justamente o ano em que tiveram a maior quantidade de deveres, por isso, nas noites em que não encontrava o namorado, aproveitava para colocar todas as lições em dia e sentia-se até grata por isso – embora com uma certa culpa quando esse sentimento aparecia.

Estava prestes a questioná-lo sobre o significado dessas estranhas ausências, quando o sinal finalmente tocou e ambos tiveram de sair da Sala e se dirigirem rapidamente até a aula de Feitiços. Mesmo conversando amigavelmente durante o trajeto, Flori não tirou aqueles pensamentos da cabeça; havia algo de obscuro nos desaparecimentos dele e ela estava determinada a descobrir o que era.

 

***

Na manhã seguinte, Sirius a surpreendeu com um beijo na bochecha, largando-se ao seu lado no café da manhã. Havia lhe cumprimentado com sua saudação habitual e animada de “Bom dia, toupeirinha!” e recebera em troca um bom dia aborrecido, como era de costume quando ele vinha com aquele apelido idiota. Analisando-o de perto, Flori notou que havia profundas olheiras sob seus olhos e alguns fios de barba em seu queixo, o que indicava que ele havia passado a noite em claro e pulado o seu ritual matinal de fazer a barba. O que foi que o impedira de dormir?  Era o que Flori se indagava.

— Sirius, será que posso lhe fazer uma pergunta? – Arriscou a garota.

— Se a pergunta for se quero metade da sua torrada, então a resposta é definitivamente sim.

Ele esticou-se no banco e, sem cerimônia alguma, pegou a torrada intocada da garota e deu uma bela mordida, arrancando quase metade.

— Não, seu cão guloso. – Ela afastou o prato para longe, notando que o rapaz tentava surrupiar uma de suas tiras de bacon agora. – Eu queria saber sobre ontem. Qual era o seu compromisso?

Percebeu que Sirius havia ficado tenso com a pergunta ao se sentar ereto na cadeira. Ele tentou disfarçar sua surpresa com um sorrisinho tranquilizador.

— Nada com que tenha que se preocupar, Florzinha. – Assegurou.

Sentiu o rosto corando; ainda não fazia ideia de como o namorado descobrira aquele apelido ridículo, contudo ele costumava usá-lo sempre que queria desviar sua atenção de algo. Mas ela estava preparada para tal estratégia e, mesmo observando os risinhos das pessoas ao redor que o ouviram chamando-a daquela forma, Flori não se deixou abater e prosseguiu:

— Se não foi nada, então pode me contar, não? – Insistiu.

Seu sorriso não vacilou enquanto ele se servia de mais torrada.

— Ora, por que essa desconfiança agora?

— Não é desconfiança, é uma pergunta válida. – Rebateu Flori, começando a irritar-se pela falta de resposta. – Se fosse o contrário você também iria querer saber, não iria?

Ele suspirou.

— Tudo bem, tudo bem. Eu estava estudando na noite de ontem. – Revelou. – Fiquei travado na última aula da Mcgonagall e...

— Não minta pra mim, Sirius! Você não se preocupou em estudar nem para os N.OM.s, acha que vai me enganar com essa conversinha? Onde você estava?

Sirius ficou mudo por um instante, talvez procurando alguma resposta satisfatória, mas para sua total surpresa, ele largou a torrada e baixou os olhos.

— Não posso lhe dizer. – Confessou.

— Como é? Que história é essa?

— Sinto muito, Flori, mas não posso.

Ela se levantou de repente, lançando um olhar feio às pessoas que indiscriminadamente ouviam sua conversa e saiu do Salão Principal, espumando pela boca. Sirius vinha logo atrás tentando chamá-la de volta, parecendo angustiado em como as coisas haviam terminado.

— Amor, por favor, espere, não vá embora! – Pediu.

Ele a alcançou no topo da escadaria de mármore e a fez se virar.

— Por que não quer me contar, Sirius? Pensei que o nosso acordo fosse não esconder nada um do outro!

— Eu sei, mas eu realmente não posso lhe dizer onde estive ontem à noite e nem que tipo de compromisso era. – Respondeu ele, com tristeza.

— E por que não? Por acaso... Por acaso está saindo com outra? – Sua voz falhou diante de tal pensamento.

— Assim você está me ofendendo. – Empertigou-se. – Eu reconheço que tenho vários defeitos, mas sabe que eu jamais faria algo desse tipo com você, Flori.

Ela sabia que aquela afirmação era verdade. Mesmo namorando, Sirius ainda era um dos rapazes mais cobiçados da escola e o fato de já ser comprometido parecia aumentar ainda mais o interesse das garotas, tendo várias delas mandado recadinhos e indiretas para ele em diversas ocasiões, e mesmo assim ele jamais dera qualquer tipo de chance a essas garotas, preferindo, ao invés disso, contar tudo à namorada, por sentir a consciência pesada.

— Se não é isso, então o quê, de tão horrível, poderia ser que você não pode me contar?

Sirius demorou alguns segundos para responder, parecendo travar um embate interno.

— É que... esse segredo não é meu para contar. – Disse finalmente.

Se Flori acreditou que suas dúvidas seriam sanadas, acabara de se enganar, pois encontrava-se ainda mais confusa. Aquela resposta era tão absurda, que acabou se dando conta de que o rapaz provavelmente estava pregando uma peça nela.

— Ótimo! – Bradou zangada. – Se vai começar a inventar mentiras, nossa conversa acabou!

— É a mais pura verdade! – Afirmou Sirius, assustado com sua reação. – Não estou mentindo, Flori, acredite em mim!

— Não, você não está mentindo, só está tentando me fazer de idiota! – Disparou a garota, cada vez mais irritada. – Se o segredo não é seu então não deveria estar sabendo dele!

Ele não soube como reagir e Flori se aproveitou de seu entorpecimento para continuar seu caminho. Antes de virar no canto do corredor, porém, ela se virou para ele e anunciou:

— Não me procure até estar disposto a contar a verdade!

E então desapareceu pelo outro corredor.

 

***

Flori continuou brigada com Sirius durante os próximos dias. Sempre que a via, ele tentava abordá-la e conversar, pedindo que acreditasse nele quando afirmava que não podia lhe dizer, mas ela simplesmente o ignorava e o deixava falando sozinho. É claro que se sentia uma monstra por tratá-lo daquela forma, e vê-lo triste e amuado partia-lhe o coração, contudo, não conseguia aceitar o fato de que Sirius escondia algo dela.

Flori sempre lhe contara tudo; contara que mesmo depois que haviam terminado, antes das férias de verão, sentia a sua falta e que matava sua saudade olhando o porta-retratos deles dois sobre a cômoda. Contara até que quase chegara a enviar uma carta para ele durante as férias, mas que perdera a coragem no último minuto e que só aceitara sair com Pedro, porque tivera pena de rejeitá-lo. Contara, inclusive, que batizara seu cachorro com o mesmo apelido que lhe dera, fato que ele pareceu achar curiosamente engraçado. Não havia nada que ele não soubesse sobre ela e honestidade era tudo o que ela exigia; nem mesmo crises de ciúmes tinha do namorado. Era somente aquilo que a incomodava.

Certo dia estava caminhando a esmo pelo pátio, quando sentiu alguém cutucando o seu ombro. Ela se virou e deu de cara com Remo, ostentando um ar melancólico.

— Oi, Remo. – Cumprimentou, olhando-o com curiosidade.

Gostava bastante dele apesar de conversarem pouco, já que ele parecia totalmente à vontade somente quando estava entre seus companheiros.

— Olá. – Cumprimentou. – Você está ocupada agora? – Indagou. – Gostaria de conversar com você.

A vinda dele começava a fazer sentido.

— Ouça, Remo, não quero ofendê-lo, mas se veio aqui a mando de Sirius, então está perdendo o seu tempo. – Declarou.

— Na verdade, ele nem sabe que estou aqui. – Murmurou Remo.

— É mesmo? – Espantou-se. –Então sobre o que quer conversar?

— Bem... tem a ver com você e Sirius. – Admitiu.

Flori amarrou a cara, entretanto, a curiosidade era mais forte do que seu orgulho, de modo que ela não se virou para ir embora e aguardou-o.

— Eu e os outros percebemos que ele não parecia com ele mesmo nos últimos dias. Sirius não queria contar, porque, segundo ele, não queria me influenciar, mas por fim conseguimos arrancar dele o que o estava incomodando e ele nos contou da discussão que tiveram.

— E então...?

A garota não sabia o que dizer. Sabia que fazia parte do papel de amigo se preocupar com o bem-estar de seu camarada, porém, não imaginava o que levara Remo a querer conversar com ela. Na certa, esperava tentar convencê-la a deixar tudo para trás e perdoar Sirius, mas tal atitude não parecia se encaixar no perfil que tinha de Lupin.

— Bem... Sirius estava lhe dizendo a verdade quando afirmou que não poderia lhe contar sobre o tal segredo, porque esse segredo diz respeito a mim. – Remo revelou.

— Então... ele não estava mentindo? – Constatou ela, começando a sentir-se nauseada. Se aquilo era mesmo verdade então agira como uma megera com o rapaz!

— Não. – Afirmou. Ele olhou em volta, verificando se não havia ninguém por perto e continuou: - Ouça, o que eu vou lhe contar agora pouquíssimas pessoas sabem, então quero que me prometa que não dirá a ninguém. – Flori assentiu rapidamente. – A razão de Sirius desaparecer durante uma semana por todos os meses é que eu sou um lobisomem.

O queixo de Flori caiu.

— Está falando sério? – Mas já sabia apenas pelo olhar desconfortável e as constantes espiadelas por cima do ombro que ele dava, que Remo dizia a verdade.

— Acredite em mim, ninguém com o juízo perfeito faria uma brincadeira dessas. Não é algo para se rir. – Decretou.

— Mas... Desculpe a minha ignorância, mas o que Sirius tem a ver com o seu...

— Probleminha peludo? – Completou Remo, com uma risadinha. – Bem, talvez seja melhor darmos uma volta, pois a história é longa. – Sugeriu ele, indicando o caminho.

E assim Flori ficou sabendo da verdade. De acordo com Remo, ele havia sido mordido quando muito jovem e as transformações durante a lua cheia eram sempre horríveis. Para ajudá-lo, quando ingressou em Hogwarts, o Diretor lhe forneceu um abrigo que poderia usar durante esse período, a Casa dos Gritos e, para que nenhum enxerido resolvesse espiá-lo, plantaram o Salgueiro Lutador diante da passagem que levaria a Casa.

Contudo, seu segredo não ficou guardado por muito tempo, pois seus amigos percebiam que ele sempre sumia em determinada época do mês, e acabaram descobrindo a verdade. Porém, ao invés da repulsa e aversão que as pessoas que descobriam sobre sua verdadeira forma apresentavam, eles decidiram ajudá-lo e durante quase três anos empenharam-se em aprender a se transformarem em animagos. Remo lhe contara que daquela forma conseguia se controlar, pois não apresentava perigo a animais e assim tornaram os momentos em que se transformava mais suportáveis e até mesmo agradáveis.

— Agora você entende, Flori, por que ele não podia lhe contar? – Indagou Remo ao fim de sua narrativa.

Ela enterrou o rosto entre as mãos.

— Ah, Merlin, eu sou mesmo uma idiota! – Gemeu.

— Não, não é. – Ele a consolou, sorrindo gentilmente. – Eu entendo que possa parecer estranho sumiços esporádicos como os nossos. Felizmente, mais ninguém notou.

— Obrigada por confiar em mim, Remo. – Agradeceu Flori, sentindo-se constrangida.

— Não a conheço tão bem quanto Sirius, mas sei que você é uma pessoa decente, Flori, por isso não tive medo de contar a você. O único pedido que lhe faço agora é...

— Eu prometo que não direi a ninguém. – Garantiu.

— Bem, não era isso que eu ia dizer, mas aprecio sua atitude. – Agradeceu. – Não, o meu pedido era, na verdade, que você possa acertar as coisas com o meu amigo de novo. Ele só estava tentando me poupar, entende?

— Você acha que ele vai conseguir me perdoar pelo modo imaturo com o qual vim agindo na última semana? – Indagou insegura.

— Eu tenho certeza disso, ele é louco por você.

— Então é melhor eu ir atrás dele. – Declarou Flori.

Ela se despediu de Remo e correu pelo Castelo, à procura de Sirius. Não sabia o que a levara até lá, mas quando deu por si, acabava de entrar no corredor do sétimo andar. A porta da Sala Precisa se abriu e lá dentro deparou-se com um estupefato Sirius.

— Flori? Que está fazendo aqui?  Como me encontrou?

Ela largou a mochila no chão e atirou-se em seus braços, derrubando-o na poltrona mais próxima.

— Me perdoe... Remo me contou tudo! – Sussurrou, enterrando o rosto em seu peito. Sentia-se tão envergonhada pela maneira que havia agido, que não tinha coragem de encará-lo.

— Tudo? – Ouviu ele repetindo. – Sobre ele ser...?

Ela assentiu.

— Sim. Me perdoe, eu agi como uma verdadeira cretina, pensando o pior de você, quando na verdade só estava protegendo o seu amigo!

Ouviu o rapaz respirando fundo e sentiu os braços dele a envolvendo.

— Tudo bem. Esqueça isso, toupeirinha. Só estou feliz que finalmente nos resolvemos. – Suspirou. – Não sabe o quanto me sentia péssimo em ter de esconder isso de você, mas não podia colocar Remo em perigo. Eu sei que não é o seu caso, mas ainda existe muito preconceito com pessoas como ele e se alguém por acaso nos ouvisse e espalhasse para os outros... talvez Remo tivesse de ser mandado embora de Hogwarts.

Flori ergueu os olhos.

— Sinto muito por colocá-lo nessa situação. – Lamentou.

Sirius sorriu e lhe deu um beijo.

— Estamos bem agora.

Ela devolveu o sorriso e se aconchegou no peito dele.

— Remo me contou que você e os outros se transformam em animagos. – Disse após alguns minutos. – Que tipo de animal você é? Pode me mostrar? – Ela ergueu o tronco novamente, olhando-o com entusiasmo. Por algum motivo o rapaz pareceu desconfortável. – Ah, vamos, por favor! Mostre para mim! – Implorou. – Sabe que não vou deixá-lo em paz até que faça isso!

— E como sei. – Retrucou.

Sirius a colocou gentilmente de lado e levantou-se. Puxou a varinha de suas vestes e apontou para si próprio, murmurando palavras tão baixas que ela não foi capaz de ouvir. Ele parou e então começou a se transformar diante de seus olhos em um enorme cão negro. Flori boquiabriu-se e ficou de pé como se tivesse sentado num ouriço.

— Snuffles! – Gritou.

Reconheceu-o na mesma hora; aquele era o seu cachorro! Sirius voltava ao normal momentos depois e a olhava temerário.

— Era você! Oh, meu Deus! Era você o tempo todo!

— Hum... Surpresa! – Ele abriu os braços.

— Eu devia te matar, Black!

— Por quê? – Espantou-se. – Eu fui um bom cachorro, me comportei muito bem!

— Você dormiu na minha cama! Eu te dei banho! Oh, meu Deus, você me viu trocando de roupa!

Flori sentia-se mais aparvalhada a cada segundo, relembrando do último verão com o animal de estimação.

— Pra ser justo, não foi a pior coisa que já vi você fazendo e eu nem era um cachorro.

— Seu cretino! Eu vou te matar! – Gritou a garota, com um misto de ultraje e vergonha.

Sirius pulou para o lado quando a namorada avançou em sua direção e começou a correr pela sala, rindo histericamente enquanto ela tentava alcançá-lo. Para o seu próprio desgosto a ira de Flori não durou muito tempo e logo ambos já estavam embolados no chão diante da lareira, beijando-se vigorosamente.


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