O Conto do Cão Negro escrita por BlackLupin


Capítulo 1
Capítulo 01: A Garota do Trem




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A porta do compartimento do trem mal havia se fechado com a bravata maliciosa de Sirius gritando “A gente se vê, Ranhoso!”, quando tornou a se abrir novamente. Ele e seu novo colega pararam de rir imediatamente ao se depararem com três pequenas figuras paradas à entrada do compartimento. Eram dois garotos – um louro e franzino e um ligeiramente mais alto, de cabelos castanhos e olhar aguçado – e uma garota, que parecia liderar a pequena comitiva. Todos pareciam levemente constrangidos, talvez acreditassem que não haveria ninguém ali quando toparam com os dois meninos risonhos. A garota soltou um leve pigarro e pareceu tomar coragem ao perguntar:

— Será que... vocês se importam se nos sentarmos aqui? – Indagou em uma voz muito baixa.

Os dois trocaram um breve olhar; Tiago deu de ombros. Sirius voltou-se para eles.

— Se nos garantirem que não estão pretendendo entrar para a Sonserina ou qualquer coisa do tipo, podem até se deitar.

O garoto louro deixou que uma espécie de ronco, que lembrava muito uma risada, escapasse pelo nariz. Os três entraram e sentaram-se diante dos outros dois.

— Por que diz isso? – Quis saber a garota. – Sonserina é ruim?

Tiago e Sirius trocaram um olhar incrédulo.

— Isso é uma piada? – Interpelou Tiago. – Você realmente não sabe?

Seu rosto pequeno corou e ela pareceu ainda mais constrangida.

— Bem, é que... eu sou a primeira bruxa da minha família. – Murmurou mirando os joelhos.

— Você nasceu trouxa?  - Foi Sirius quem perguntou.

Ela assentiu e deu um sorrisinho. Sirius ainda não se interessava por garotas; ao menos não da forma que os garotos mais velhos pareciam se interessar. Não costumava prestar atenção nelas, mas por algum motivo, aquela menina nascida trouxa despertou algo nele que até então lhe era desconhecido. Analisando-a melhor, chegou à conclusão de que ela era bonita.  Tinha cabelos levemente ondulados e de uma cor que lembrou-lhe as areias da praia. Os olhos eram de um tipo de castanho que nunca havia visto até aquele momento; dependendo da forma como ela girava a cabeça e a luz do sol se refletia neles, pareciam vermelhos como um rubi rutilante. Uma intrigante pulsação despontou em seu âmago ao se dar conta de continuava a encará-la por mais do que dois segundos. O garoto se remexeu desconfortável no assento quando a ouviu perguntar:

— Ser assim... Isso é algum tipo de demérito?

Ela parecia verdadeiramente preocupada agora.

Tanto ele quanto Tiago apressaram-se em sacudir suas cabeças, negando fortemente.

— Claro que não!

— Não. – Afirmou Sirius, embora, lembrou-se de que se alguém de sua família o ouvisse dizendo aquilo provavelmente estaria em sérios problemas, no entanto, chegou à conclusão de que não se importava. – Mas, confie em mim, tendo nascido trouxa, você definitivamente não vai querer ir parar na Sonserina. – Declarou.

O menino de cabelo castanhos, sentado entre ela e o outro, soltou um muxoxo, parecendo discordar.

— Não acha que está exagerando? – Disparou. – Não é possível que todos os bruxos que vão para lá se tornem maus. – Redarguiu.

— Não, mas de acordo com as estatísticas, a cada dez sonserinos, onze são bruxos das trevas. – Rebateu Sirius.

Tiago soltou uma risada, bem como o menino loiro.  Aparentemente, aquele garoto possuía o riso frouxo.

— Com uma ingenuidade dessas, é bem provável que você acabe na Lufa-Lufa, meu amigo. – Sentenciou Tiago.

O outro deu de ombros, como se dissesse que não se importava. A menina esticou a cabeça no banco, olhando de um para o outro.

— Esta é outra Casa, não é? – Perguntou, parecendo querer contribuir de alguma forma à conversa. – Qual o problema com ela?

— É o lugar em que acabam todos os panacas! – Riu-se Tiago.

— Não, não é! – Zangou-se o de cabelos castanhos. – É o lugar das pessoas justas e modestas, aparentemente tudo o que esses dois não são!  - Ele apontou o dedo na cara dos dois garotos sorridentes.

— E quem é você? – Perguntou Tiago com certa arrogância.

— Remo. – Respondeu o menino, ainda mal-humorado.

— Remo, o protetor das serpentes e texugos. – Zombou Sirius, arrancando nova risada do companheiro.

— Não é nada disso! – Aborreceu-se Remo. – Só estou dizendo que, às vezes, há muito mais por trás das...

— Tá bem, tá bem. – Interrompeu-o de maneira pedante. – Eu sou o Sirius e este ao meu lado é o Tiago. – Apresentou.

— Eu sou o Pedro. – Anunciou o garoto ao lado de Remo, erguendo a mão e sorrindo com entusiasmo, como se soubesse que acabara de entrar para um seleto círculo de amigos.

Sirius virou-se no assento e mirou a garota.

— E você? – Perguntou. – Como se chama?

Por alguma razão, ela pareceu mais encabulada do que até então. Seu rosto ficou de tal modo escarlate que ele poderia jurar que sentia o calor emanando dela.

— Florência. – Respondeu num tom muito baixo.

Tiago soltou uma sonora gargalhada, enquanto Sirius sentiu certa comiseração por ela; sabia exatamente o efeito que um nome incomum causava nas pessoas. Chateado com a reação do novo amigo, Sirius decidiu aplicar-lhe uma dolorosa cotovelada nas costelas, fazendo com que o riso morresse em sua garganta no ato.

— Cala a boca! – Ordenou.

— Tudo bem. – Assegurou ela. – Não tem importância, eu sei que é um nome medonho, por isso agradeceria se me chamassem de Flori. – Pediu.

Os meninos assentiram.

— Eu gosto de Flori. – Declarou Sirius.

Ela pareceu agradavelmente surpresa com tal afirmativa e abriu o primeiro sorriso genuíno desde que entrara naquele trem. O garoto retribuiu, concluindo que gostava dela. Ao menos, Flori já parecia muito mais agradável do que a ruiva arrogante e o garoto ensebado que nutria uma questionável adoração pela Sonserina.

***

Ao desembarcarem na estação, Flori foi separada do grupo de garotos pela massa de alunos que desciam com pressa do trem. O maior e mais barbudo homem que já havia visto arrebanhou os aluninhos ansiosos do primeiro ano e os levou até a margem de um grande lago escuro onde uma flotilha de barquinhos os esperava.

Acabou tendo de dividir seu barco com outros dois alunos que, assim como ela, também haviam sobrado. Uma garota ruiva que lhe sorriu gentilmente quando perguntou se poderia se juntar a ambos na embarcação, e um garoto pálido e magro que não pareceu igualmente feliz ante a perspectiva de ela se sentar com eles.

Naquele instante, aguardava nervosamente a sua vez de se sentar no banquinho de madeira e experimentar diante de toda a escola o Chapéu Seletor. Não queria admitir, mas o fato é que as palavras dos dois garotos audaciosos do trem haviam grudado em sua mente. E se ela fosse para a Sonserina? Segundo o tal de Sirius, aquele era o último lugar que um nascido trouxa poderia desejar. Com a sorte que tinha, era bem capaz de aquilo acabar acontecendo. Flori tomou um leve susto ao ouvir a professora, que se apresentara como Minerva Mcgonagall, chamar o seu nome:

— Corbyn, Florência!

Procurando engolir seu nervosismo e controlar suas pernas trêmulas, a garota se arrastou até o banco e largou-se nele, como se tivesse se exaurido de suas forças de repente. Para o seu total espanto, não demorou muito para que o Chapéu Seletor, após conversar brevemente com ela, anunciasse para toda a escola:

— GRIFINÓRIA!

A mesa na extrema esquerda explodiu em palmas e em gritos de viva. Ela levantou-se e tropeçou naquela direção, procurando febrilmente algum rosto conhecido entre a multidão de alunos mais velhos. No que parecia ser o meio, encontrou o de Sirius. Rapidamente, contornou a mesa e procurou se sentar ao lado dele. Contudo, assim que chegou perto percebeu que, o que a princípio pensara ser um sorriso simpático de boas-vindas, era na verdade uma risada maliciosa.

— Trocamos algumas palavras no trem e já está me perseguindo? – Zombou ele. – Cuidado, desse jeito vou ficar realmente assustado!

A súbita alegria de Flori dissipou-se e seu sorriso desapareceu. No entanto, ao invés de lhe responder, ela o encarou fixamente. Seus olhos de fogo o miravam com tanta intensidade, que o garoto começou a se sentir incomodado.

— O quê? – Perguntou.

— Lílian estava certa. – Murmurou a garota.

— Quem é Lílian?

Ela se virou no assento e apontou para seus colegas que haviam ficado na frente do salão, aguardando a sua vez.

— É a menina ruiva. – Esclareceu. Sirius continuou a observá-la em um confuso silêncio. – Nós dividimos o mesmo barco a caminho do Castelo e ela contou que havia notado que eu havia descido do Expresso com você e seu amigo. – Ela indicou com a cabeça Tiago, que parecia o mais despreocupado entre os calouros. – E me aconselhou a ficar longe de vocês, porque, de acordo com ela, vocês são apenas dois garotos problemas. No começo achei que ela fosse só mais uma garota metida, porque lá no trem... você foi legal comigo. Mas parece que eu me enganei e ela estava certa; você é mesmo um idiota.

Ele ficou momentaneamente sem reação. Quem aquela garota pensava que era? Nem ao menos o conhecia e já estava pronta para afirmar que ele não prestava? Sirius estava a ponto de confrontá-la quando percebeu que Flori já havia se afastado.

Momentos depois a tal garota ruiva, Lílian Evans, para o seu total desprazer, foi se juntar a eles na mesa da Grifinória. Num silencioso ato de desafio, Sirius escorregou para o lado, abrindo um espaço em seu banco para a garota se sentar. Lílian simplesmente lhe deu as costas e foi se postar ao lado de Flori. Um suspiro irritado escapou de seus lábios; ao que tudo indicava, as garotas eram todas malucas e estaria fazendo um favor a si mesmo se mantivesse distância delas.


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