It's 5 AM, my time again
I've soakin' up the Moon
Can't sleep

Com as mãos, jogou a água gelada sobre o rosto, buscando o alívio da sensação fria enquanto respirava fundo. Sentia todos os músculos tensos e até doloridos, embora não houvesse qualquer motivo aparente. Ainda assim, era como se uma mão invisível o apertasse, pressionando-o em sua suposta e quase utópica paz. 

Mesmo depois de tanto tempo, de ter reencontrado seu melhor amigo e restabelecido alguma autonomia, os gritos desesperados de suas vítimas, as palavras e o tom de Zemo, além do frio do vale nevado onde caíra tanto tempo antes, retornavam em lembranças embaralhadas com as do homem que se tornara, cheio de sangue nas mãos, impiedoso como poucos, pouco controlado.

Em noites como aquela, suas vontades não eram suas vontades, pois era difícil distinguir o instinto do Soldado Invernal tentando abrir uma brecha na personalidade sucinta do Sargento Barnes. Esperava que realmente estivesse livre, mas nada seria tão fácil. Era jovem demais para que seus princípios tivessem sido firmados quando caíra para a morte nos anos 40, assim, sempre que a dor de cabeça chegava junto aos pesadelos soava fácil se perder em meio aos atos do assassino criado pela HYDRA. 

Passou a mão molhada pela nuca, agora livre dos fios longos e desleixados, mal conseguindo conter a respiração ofegante, custosa, e se encarar no espelho. Jamais voltaria a ser o que era antes e a pouca esperança que tinha disso se esvaía sempre que noites como aquela se tornavam longas demais. Voltou ao apartamento escuro, iluminado apenas pela luz da lua brilhando alta do lado de fora, andando de um lado a outro no vazio de si mesmo e do espaço. 

Já passava das três e não conseguira pregar os olhos em nome da ansiedade. Não via como uma simples psicóloga do governo poderia ajudá-lo naquela montanha russa de sensações perpassando por sua mente numa velocidade humanamente impossível de acompanhar. Detestava o efeito do soro, a potencialização de todos os sentimentos que causava, a forma como o tornava quase imortal. Já se sentia ultrapassando a vida há tempo demais por causa dele, estava simplesmente… Cansado. 

Antes que o bolo em sua garganta se transformasse numa torrente de lágrimas cansadas e doloridas novamente, pois sua cabeça latejava, se sentou contra o batente da janela e alcançou o celular, deslizando o dedo pela agenda até alcançar o último número. Levou o aparelho ao ouvido e, enquanto chamava, tinha os dedos fortemente apertados contra a têmpora, tentando evitar a sensação paralisante de incapacidade. 

A única certeza que sabia, desde que obtivera parte do controle sobre sua mente de volta, era que teria preferido a morte gelada naquele vale, se pudesse escolher.

Então, a voz atendeu suave do outro lado, despertando-o por um segundo para a realidade. Àquela hora da madrugada, ela sabia que seria ele. 

It's 5 AM, my time again
I'm callin' and you know it's me