Mr. Snowman escrita por p4ndagirl


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Escrevi esse conto para o natal passado, ele está inserido em um universo onde o sobrenatural existe sem que a sociedade note, a primeira história já estando disponível em outra plataforma e ficará disponível no Nyah assim que eu terminar suas alterações. Espero que gostem.



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“Pelo ar e o fogo, terra e água, Espírito Verde do Universo abençoe esta árvore do renascimento. Em nome da Terra e de toda a Natureza”

 

Um grande círculo humano entoava o pedido ao redor da árvore recém cortada, iluminados por suas energias e pela luz da lua cheia que brilhava intensamente, dando sua própria benção aos participantes, estes que continuavam abençoando os ramos enquanto a dona do castelo desenhava uma runa Hagalaz bem no centro de seu tronco, e, por fim, a árvore de Yule estava purificada e pronta para ser enfeitada pelos convidados. Bruxos, feiticeiros, benzedores, curandeiros, magos e encantadores vindos de todos os cantos se reuniam pela primeira vez após quase uma década no jardim aberto do castelo de Dunvegan. Ainda com suas túnicas, usadas especialmente para o ritual, aproximaram-se da bruxa anfitriã para que pudessem colocar seus desejos para o novo ano que estava quase para entrar.

—Por que não coloca o seu primeiro, Dahlia? —pergunta seu amigo de longa data, o mago Gerhard.

—Acredito que Agnes deveria ir primeiro.—responde ela, indicando a curandeira que havia sido mestre de grande maioria dos participantes do encontro.

—Agradeço, minha cara, mas é mais apropriado iniciarmos por você, pois a árvore ficará em sua casa.—respondeu a anciã, recebendo vários murmúrios em sua concordância. 

Assim sendo, Dahlia foi em direção a mesa improvisada em cima de um tronco de carvalho, onde estavam as guirlandas florais feitas por eles durante a tarde com as flores de seu jardim. A guirlanda da bruxa tinha como base alecrim, arruda e erva doce e era enfeitada com lírios, além de uma flor de lótus prendida no ponto alto central da coroa de flores. Aproximando-se novamente da árvore de Yule, Dahlia proferiu seu pedido aos espíritos enquanto amarrava a fita feita de organza no tronco.

 

Espíritos da natureza

Terra, Água, Ar e Fogo

Deem-me sabedoria e paz

Serenidade e equilíbrio para que eu possa fazer o trabalho necessário

E que todas as minhas ações sejam para o bem de todos

 

Agnes foi a seguinte a fazer seu desejo e assim por diante, finalizando com os “estagiários” da magia, os iniciantes, que desenharam símbolos de fadas antes de fazerem seus pedidos. Muitos ali participavam pela primeira vez do evento e, por isso, recebiam auxílio de seus respectivos mestres. Este ano, Dahlia não havia aceitado nenhum interessado em se tornar um iniciado, seus ajudantes haviam tirado o ano para fazerem pesquisas em outros lugares e ela havia ficado atarefada demais, portanto decidiu entrar com outros para organizarem a ceia com os embrulhos trazidos pelos convidados, dando o local de destaque para os vinhos caseiros que alegrariam ainda mais a celebração.

Com todos já dentro do salão, assim como a árvore de Yule, que um dos convidados havia levado para o centro do local, e vestindo suas roupas de festa, a música começou a tocar e a ceia foi liberada. Os mestres logo começaram a consumir a bebida com um toque frutado, este era o vinho dado de presente por Jimin, antigo aprendiz de Dahlia, que estava em pesquisa de campo em outros ambientes, o jovem bruxo partiu há quase três anos, junto à seu companheiro, Yoongi… Quem diria? Ao lembrar do início desse romance, a anfitriã sorri. 

—A festa está tão entediante que prefere divertir-se sozinha em seus pensamentos?—pergunta a maga Merge.

—Sinto muito. —diz saindo de seu pequeno transe. —Estava apenas lembrando de Jimin, lembra-se dele? Acredito que chegou a conhecê-lo em sua última visita ao castelo.

—Querida, não venho ao castelo há anos. A última vez que nos encontramos foi para que me ajudasse com aquele espantalho amaldiçoado em Iowa.

—Verdade, temos tantos trabalhos que conseguirmos nos encontrar todos aqui é quase um milagre.

—Faço minhas as suas palavras, querida maga. —diz Ray utilizando o termo raramente utilizado pelos visitantes do castelo, a bruxa natural sempre leva os casos que não consegue resolver para Dahlia. Poucos tinham conhecimento do real tamanho de seu poder.

—Ray, quanto tempo! —Dahlia a comprimenta, abraçando-a.

—Ora, Ray, não atrapalhe minha curiosidade, Dahlia estava tentando me contar algo relacionado à Jimin.—reclama Merge.  

—Oh, Jimin! O trabalho que ele fez com o snowman foi magnífico, uma bela maneira de concluir um primeiro trabalho. Mas claro, com a mestre que teve, não poderia ter tido outro resultado.—Ray elogia a anfitriã, que ergue a taça em resposta.

—Oh, esse Jimin? —pergunta Merge. —Ouvi sobre isso, mas não soube dos detalhes.

—Bem, Ray foi quem encontrou o boneco de neve, Yoongi. Era véspera de natal e estava terminando de me arrumar para passar a comemoração com uns amigos em Londres, mas recebi uma ligação da nossa amiga aqui, me avisando para cancelar qualquer compromisso, pois ela estava chegando com um caso para resolvermos.

 

5 anos atrás

—Eu não acredito nisso, Ray!—a bruxa reclama jogando o celular na cama, frustrada.—Jimin!—chama pelo pupilo, que entra retirando seus óculos.—Mudança de planos. Ligue para Taehyung e avise que houve uma emergência, depois encontre-me no escritório. —finalizou e, enfim, o encarou. —Sinto muito, querido, não conhecerá Londres desta vez.

—Tudo bem, Dahlia, mas… o que houve? Você estava tão animada pra encontrar o vampiro gostosão. —Jimin provoca a mentora, que revira os olhos.

—Jimin… Por que não vai ligar logo para o Taehyung ao invés de ficar fofocando?

—Nossa, só fiz uma pergunta, já tô indo.—diz se desencostando da parede e virando-se para sair, porém, não o faz sem antes provocá-la um pouco mais. —Devo mandar um beijo pro teu boy?

—Park Jimin! —reclama apontando-lhe para ir enquanto o jovem bruxo saia rindo.

Sem trocar suas roupas, Dahlia vai em direção à entrada de seu castelo, onde a bruxa natural pousaria junto ao problema. Por não saber a gravidade do perigo, a maga criou um escudo de autoproteção e esperou… Até ver o avião particular de Ray sobrevoando o local, no entanto, não havia onde pousar, ela teria que saltar. E ela saltou, porém, foi necessário que utilizasse seus poderes de natural e manipulasse o vento para que conseguisse trazer consigo o refrigerador.

—Uma geladeira? Sério, Ray?—pergunta Dahlia incrédula.

—O problema está dentro da geladeira, querida.—responde ela.

Sem mais perguntas, utilizou uma base móvel para levar o eletrodoméstico para seu escritório, onde Jimin a esperava com seu caderninho em mãos e os óculos de volta ao rosto, pronto para anotar cada palavra de sua mestre, esta que ia até sua adega para buscar o vinho que havia feito em sua última colheita com o intuito de se esquentarem na noite congelante, que, pelo visto, ficaria ainda mais fria. Ray, no entanto, observava ao redor, absorvendo o espaço para que pudesse trabalhar com mais rapidez, e assim encontrou o jovem o observando em um canto da sala.

—Desculpa, não queria deixá-lo desconfortável.—diz ele, abaixando o olhar. 

A bruxa nunca o havia visto antes, mas sabia que a amiga costumava receber jovens interessados em tornarem-se parte da verdadeira bruxaria. Sorriu culpado, havia interrompido o natal do rapaz também. Aproximou-se de Jimin, olhando-o nos olhos, estendendo-lhe a mão, incentivando-o a segurá-la, e ele o fez confuso com a situação.

—Não se preocupe, apenas quero sentir sua energia. —diz a natural.—Nunca o vi antes. Conhece Dahlia há muito tempo?

—Alguns meses apenas.—Jimin respondeu sorrindo.—Dahlia me falou muito sobre você.

—Coisas boas espero.

—Nah, que isso! Apenas contei-lhe o quão insuportável e estraga prazeres é! —responde a maga voltando com duas garrafas de vinho em ambas as mãos. —Também disse-lhe quantos compromissos tive que cancelar por sua causa.

—Eu não vivo sem você, querida, sabes disso. —Ray a responde rindo de sua reclamação.

—Pelas mãos juntas, vejo que Ray já conhece Jimin e vice-versa, então… Mãos à obra?

Ray acena e vai em direção ao refrigerador, abrindo-o e revelando um boneco de neve, este que parecia ter um olhar amedrontado e nervoso. Ao aproximar-se, Dahlia notou que ele tremia e, chegando ainda mais perto, sentiu que havia um poderoso feitiço o envolvendo, porém, não era magia benigna. As trevas do encanto deixaram a bruxa desconfortável, com um grande aperto no peito, como se estivesse sendo esmagado, levou a mão ao peito, franzindo o cenho. Não conseguia identificá-lo. O que era aquilo?

—Jimin, querido.—virou-se para o aprendiz.—Acho que encontramos seu teste final.

—Quê?! —espantado, o aprendiz sentiu-se tenso. Conseguia sentir a má vibração vindo do snowman e não era algo que já havia enfrentado em suas observações nos casos que sua mestre havia atendido anteriormente. Seria capaz de ajudar de alguma forma? Conseguiria passar neste teste sem estragar tudo?

—Não pense demais, meu rapaz.—Ray interferiu seus pensamentos.—Se Dahlia acredita que está apto para este caso, então deveria acreditar mais em si.

Suspirando, o aprendiz aproximou-se da mestra e a olhou apreensivo nos olhos, a determinação dela o fez suspirar novamente, ela não voltaria atrás em sua decisão, só faltava-lhe respirar fundo e organizar e acalmar sua mente, pois como Ray havia dito, se sua mestra o achava capaz era porque ele o era. Foi então que ele deu uma boa olhada no snowman.

—Oh, meu deus! Você é tão fofo!

—Jimin!—Dahlia reclamou.

—Sinto muito, mas olha isso! Achei que ele ia parecer aqueles espantalhos macabros, mas congelado. Ele tem orelhinhas, Dahlia, e olha esses brac… —interrompeu-se ao ver bolinhas de gelo caírem. —Oh, desculpa… Foi completamente insensível da minha parte.

—Bom, agora que todos estamos com a mesma concentração, vamos começar nosso trabalho. Adoraria saber seu nome, mas acredito que não possa falar, até o momento não o ouvimos fazer nenhum som. Só quero que saiba que iremos reverter esse feitiço, então não é preciso ter medo, ok? Estamos aqui para ajudá-lo.

Jimin sentiu-se mal por sua reação, quem quer que fosse, estava amaldiçoado, preso em uma forma que não era natural, fofo ou não, a pessoa estava sofrendo. A culpa deu-lhe impulso para encontrar uma solução que o ajudasse, portanto, levantou-se e foi até seu caderninho. O diário de um bruxo é a ferramenta mais importante para carregar consigo, é nele onde está anotado tudo que foi-lhe ensinado e todo conhecimento adquirido durante sua jornada, o que Jimin nunca se separava era o caderno onde mantinha a descrição de cada folha, flor, raiz, pedra, cristal e ferramentas, e dando uma olhada em seu não pequeno glossário,  ele anotava tudo que visse que era relevante para o caso em um bloco de notas que havia ali perto, onde Dahlia anotava o que era preciso para tal poção. Após anotar os nomes de todas as substâncias que poderiam ser de ajuda para o snowman, Jimin foi até a mestra, que murmurava algum feitiço com a natural. Frustrada, Dahlia afastou-se bufando.

—Eu não entendo! Nenhum feitiço de descobrimento funciona! Tentamos praticamente todos! Qualquer que seja a magia obscura mexida, não é de fácil reversão. Vai ser complicado. —suspirou, teriam uma longa noite pela frente. Percebeu Jimin segurando um post-it, meio incerto se deveria entregá-lo ou não. —Jimin? O post-it?

—Ah, sim, não sei se vai fazer diferença, mas acho que talvez uma poção funcione. Já que… os feitiços não estão mostrando o que é.

—Tem uma poção específica em mente?—Ray perguntou aproximando-se.

—Não sou muito bom com misturas, na verdade, então só anotei alguns ingredientes com poderes curativos.

—Podemos começar tentando misturas básicas.

Assim, os três foram atrás dos ingredientes apontados pelo aprendiz. Dahlia buscou um pouco de confrei, eucalipto e cipreste, conhecidos por seus poderes curativos, colocou dentro de um pote e, enquanto esperava a água ferver, recitou o feitiço de cura para ampliar os poderes das folhas, não demorou muito para a chaleira apitar e a bruxa não perdeu tempo, após tampar o chá para que não sujasse e o deixar esfriando, foi até Jimin, este que estava completamente perdido em seus pensamentos e anotações. Sua concentração era tanta que sequer percebia as movimentações ao seu redor, por isso, vendo o esforço do pupilo, Dahlia sorriu e seguiu em frente com sua função, indo até a gaveta onde ficavam suas pedras e cristais.

A bruxa sabia exatamente do que precisava, suas mãos moveram-se no automático para as pedras necessárias e a gaveta foi novamente fechada. Haviam seis pedras em suas mãos: três citrinos, um quartzo rosa, um quartzo fumê e um quartzo simples. Entregou uma pedra de citrino para Jimin e outra para Ray, este que finalizava outro chá, sendo ele de anis, benjoim e erva-doce, também conhecidos por suas propriedades curativas. Apertando a última pedra de citrino em sua mão, foi em direção ao snowman, ao vê-lo, quis de alguma forma consolá-lo, mas não podia fazer muito além de dar-lhe esperanças de que conseguiriam desfazer o feitiço.

—Você tem algum conhecimento sobre pedras?—pergunta Dahlia, para distraí-lo. —Essas aqui são quartzos, no entanto, como pode ver, há vários tipos.  —disse e apontou para a pedra branca. —Este é um quartzo simples, ele é usado para absorver energias negativas, —explica ela e logo segue para a próxima.—Este é um quartzo rosa, ele também absorve energias, no entanto, ele faz mais que isso, ele a transforma em energia positiva, precisamos disso, não é mesmo? —brinca, mesmo sabendo que não haverá nenhuma reação. —Por fim, este é um quartzo fumê. —aponta para a pedra cor de castanho. —Ele é utilizado para remover obstáculos, pois, não quero assustá-lo, mas há algo protegendo o feitiço que o transformou, precisamos retirar esse bloqueio para descobrirmos como revertê-lo, ok?—dando uma rápida olhada em seu relógio, a bruxa levanta-se. —Bem, seu chá está pronto, vamos ver se ele lhe faz algum efeito. Vou deixar os quartzos aqui.

Depois de organizá-los ao redor do snowman, Dahlia foi até Ray que começava a coar o seu chá, sem interação, a maga fez o mesmo com o seu e, após ambos despejarem os líquidos em cálices, retornaram ao enfeitiçado. A anfitriã levou o seu cálice primeiro, porém, não conseguiu continuar, pois, ao entrar em contato com o gelo, acabou derretendo um pouco sua camada, e mais pedrinhas de gelo saíram dos olhos do snowman.

—Oh oh. —Ray proferiu, afastando-se com seu chá, depositando-o de volta à mesa.  

—Merda!—reclamou Dahlia.

—O que houve?—perguntou Jimin, aproximando de sua tutora.

—Não podemos dar-lhe chá, ele vai derreter por ser líquido, a baixa temperatura não foi suficiente para que ele conseguisse ingerir.—após pensar, voltou a seu balcão. —Mas podemos dar-lhe em forma de pasta.

Dando uma olhada no snowman, Jimin acariciou onde havia derretido, e, depois de dar-lhe um sorriso para confortá-lo, afastou-se novamente, voltando para suas anotações. Não era bom em misturas, porém, era ótimo com soluções, e havia uma bem óbvia: descobrir como foi feito o feitiço, no entanto, somente o enfeitiçado poderia lhes dizer, então, Jimin procurava ingredientes poderosos para que ele pudesse utilizar pela primeira vez uma poção que pudesse transformar a pessoa que havia sido transformada de volta, temporariamente.

—Nada. —diz Ray, após terem feito o snowman absorver suas receitas. Nenhuma mudança.

—Talvez… eu possa ter uma. —Jimin diz após reunir um pouco de coragem.

—Vá em frente, conte-nos. —a bruxa mestre chega perto do pupilo, passando o braço por sua cintura, para apoiar-lhe. —O que encontrou?

—Sabes que não sou bom com mistura, então preciso que me confirme se essa combinação é possível. Só poderemos saber como reverter o feitiço se soubermos como ele foi feito e com a proteção que envolve o snowman é impossível descobrirmos por nós mesmos, somente ele pode nos contar como foi feito ou pelo menos por quem.

Dahlia sorriu, sabia disso, controlou-se para não interferir mais cedo ao ver o que seu aluno escrevia, deixou que ele encontrasse a resposta por si mesmo, apesar de sua insegurança quanto a misturas, suas combinações eram bem racionais e válidas, se ele só confiasse um pouco mais em si mesmo… 

—E como saberemos? Ele sequer fala. —pergunta a mestre.

—Um feitiço provisório para trazer a pessoa em sua forma real.

—Hum, e qual mistura pensou?—pergunta Ray, encorajando-o. Com o resto de confiança que ainda lhe restava, entregou o post-it com duas receitas. Uma para reverter a ilusão e outra para a pessoa enfeitiçada entrar em contato com magia purificada e os espíritos da natureza.

—Se der certo, acho que seria bom para a pessoa beber o chá de vocês. Se não podemos quebrar por fora, então podemos tentar por dentro.

—Perfeito.—diz a mestre. —Muito bem, Jimin. —elogia o pupilo. —E a combinação é perfeita, assim como todas que você faz, confie mais em si mesmo, Park Jimin.

—Ok.—responde rindo.—Vou pegar os ingredientes.

Enquanto Jimin retirava-se para o jardim, Ray aproximou-se da amiga, ambos não precisaram mais do que uma troca de olhares para expressarem a satisfação que sentiram por conta da combinação criada por Jimin, ele reuniria o poder de restauração da rosa junto ao poder de quebrar maldições do trevo e ainda colocaria eufrásia, que contém o poder para romper ilusões. Enquanto o aprendiz fazia sua colheita, as bruxas refizeram seus chás, a sugestão dada por ele as fez preparar várias doses, também decidiram preparar-lhe algo para comer, algumas bolachas de água e sal, precisavam ter certeza de que alimentos mais pesados não o fariam mal, Ray não tinha certeza de quanto tempo ele estava nessa situação.

Voltando de sua cozinha, Dahlia encontrou seu pupilo já preparando sua poção, era a primeira desse porte, era perceptível suas mãos trêmulas. Suspirou, entendia Jimin, já esteve em seu lugar, era a primeira vez que participava ativamente e diretamente em um caso, não apenas seguindo as instruções de sua mestre, suas decisões poderiam tanto salvar quanto destruir, a vida de alguém dependia disso, mas tinha grande fé em seu aluno. Dos cinco interessados, ele era o mais dedicado e esforçado, sua ida para Londres com Dahlia era sua recompensa por toda essa devoção. Aproximando da mesa, a bruxa viu quando Jimin pousou suas mãos ao lado do cálice, respirando fundo, Ray riu e apertou seu ombro.

—Não se preocupe tanto, estamos aqui para ajudá-lo, não crucificá-lo. Chegaste até aqui por conta do seu sacrifício, não se subestime agora.

—Faço minhas, as suas palavras, Ray. —concorda Dahlia, colocando o pacote de bolacha na mesa.—Vamos, Jimin. Vai dar certo, tenho certeza. Cadê a mistura?—Jimin entregou o cálice, Dahlia sorriu para o tipo de trevo colhido.

—Bem, a gente tá precisando de sorte, então procurei aqueles que tinham quatro folhas. —disse um pouco envergonhado.

—Claro. Venha, vamos descobrir quem é o nosso snowman. —Dahlia cruza seu braço ao de Jimin e voltam até o refrigerador, tendo uma pequena surpresa. —O bloqueio… 

—Está funcionando. —Jimin concorda. —Será se devemos aumentar a quantidade das pedras?

—Acredito que sim. Ray! —acenando, a natural vai até a gaveta da amiga, pegando o máximo que pode e Jimin vai até ela para ajudá-la. —Ok, Snowman, nosso querido Jimin criou uma receita, infelizmente não irá reverter completamente o feitiço, mas o trará de volta por um tempo…. talvez.

—Ótimo apoio, obrigado aí. —Jimin sussurra. —Olha, eu sou novo nisso tudo, ok? Tô dando o meu melhor e espero que funcione. —finaliza antes de se aproximar do boneco de neve e segurando um punhado da mistura das folhas em direção ao que seria sua boca, havia notado anteriormente a forma que ele absorveu as pastas feito por sua tutora e a bruxa natural. 

Poucos segundos depois o efeito começou a ser visível, no entanto, não da forma como esperavam, o snowman derretia. O que causou pânico nos três, especialmente em Jimin, que não sabia como reverter seu erro, caiu de joelhos desesperado, tentando colocar o gelo de volta, mas então foi puxado por Ray, que deu-lhe um tapa para acalmá-lo.

—Olha! —diz apontando para o gelo derretendo, mas Jimin recusou-se.

—Park Jimin, olha o que você fez! —tremendo e com lágrimas em seus olhos, virou-se.

—O… O quê?

Na poça de água que voltava a se congelar, um homem mais ou menos da mesma estatura de Jimin, estremecia em soluços, completamente nu, olhando para suas mãos. Funcionou. Paralisado, o aprendiz sentiu um peso sair de suas costas, sua receita havia dado certo, não sabia se ficava feliz ou espantado por ter sido algo feito por ele, e enquanto ele estava preso em seus pensamentos, Ray e Dahlia verificavam os sinais vitais do rapaz.

—Jimin!—a maga o acorda.—Busque alguns cobertores! —pede e, logo, seu pupilo corre em direção aos armários.—Querido, vou precisar do seu nome.

—Yoon… Yoongi… —disse em um fio de voz, sua garganta doía assim como sua cabeça, seu corpo enfraquecido tremia, agora que havia saído do estado de boneco de neve, sentia o frio em que estava sendo submetido.

Jimin retornou correndo com os braços cheios dos cobertores, jogando-os no chão para desdobrá-los assim que ficou em frente ao refrigerador. Ray esquentava o chá, torcendo para que não houvesse nenhuma reação negativa quando o líquido entrasse em contato com o jovem em sua forma humana. Dahlia ajudava o pupilo, enquanto ele o desdobrava, a bruxa o cobria, sem a forma de snowman, ela preferiu que ele segurasse as pedras quartzo em sua mão, esperando que fizesse um efeito maior por estar em contato direto com ele.

—Já temos um nome?—Jimin perguntou baixinho.

—Sim.—responde Dahlia. —Yoongi, certo? —pergunta para chamar sua atenção e recebe um aceno. —Bem, Yoongi, me chamo Dahlia, este ao meu lado é meu muito competente estagiário, Jimin,  foi ele quem reverteu o feitiço provisóriamente e aquela vindo ali chama-se Ray, foi ela quem o encontrou. Você conseguia nos ouvir quando estava… quando era… bem, um snowman?

—Sim. —responde ele, com um pouco menos de frio. —Posso sair do refrigerador?

—Não sabemos se haverá consequências, mas podemos tentar. Venha. —respondeu estendendo-lhe a mão. 

Yoongi estava muito fraco, não conseguia se levantar, sentia seus pulmões queimando, Dahlia tentava ajudá-lo, mas ela não era tão forte também, Jimin o segurou pelo outro lado e juntos o levaram até o sofá enquanto Ray aproxima-se com o chá de verbena que o aprendiz havia sugerido tomar após a transformação e as bolachas. A tensão de cada um era visível, Yoongi hesitou antes de tomar a poção, ingerindo um pequeno gole, suas mãos sequer encostavam no cálice, sendo protegidos pelas várias camadas de cobertores. A cada gole, sua confiança aumentava para beber uma quantidade maior, a quentura esquentando seu corpo, sem o medo de derreter com o chá, pegou o pacote de bolachas.

—Funcionou. Muito bem, Jimin.—Ray o elogia. —Mas é temporário, precisamos saber quanto tempo levará para que se desfaça.

—Bem, não se o fizermos retomar a mistura de vez em quando, agora que sabemos que ele pode tomar líquidos fica mais fácil, não precisaremos nos preocupar com isso por um tempo. —diz Jimin, Dahlia sorriu orgulhosa e acenou.

—Se eu tiver que tomar essa mistura pra me manter assim, eu não me importo, contanto que eu não volte a ser um boneco de neve é o suficiente pra mim.—diz yoongi. Jimin olha para o rapaz, tendo a sensação de que já o vira antes.

—Eu já o vi em algum lugar?—pergunta.

—Depende. Se você curte rap… —responde e Jimin puxa o ar ao lembrar-se.

—Agust D?! Não acredito! É o Agust D! —diz animado. Dahlia e Ray o olham meio julgando, sentindo os olhares, o aprendiz pigarreia.—O que, gente? Eu hein, não pode ser fanboy, não? Mas não entendo, como que isso aconteceu com você?

Agust D, rapper underground conhecido e muito reconhecido por suas produções, todas assinadas com “by SUGA”, suas letras iam de temas como “I’m the king I’m the Boss” à “Depressão, TOC, eles ficam voltando de tempos em tempos”, todos queriam ter by SUGA em suas músicas ou um feat com Agust D, sua criatividade musical era muito invejada e essa foi a causa de seu estrago, o compositor revelou que o feitiço foi feito por vingança. Seu vizinho da frente queria tornar-se rapper e pediu ajuda à Yoongi, no entanto, o rapaz negou-se a trabalhar com ele, pois não concordava com seus ideais e não queria corromper sua letra para fazer um favor à alguém que sequer tinha intimidade. O que ele não sabia, era que sua vizinha, mãe do aspirante a rapper, praticava bruxaria, não a natural, como descobriu ao ser tratado pelos três, mas bruxaria obscura. 

Dias após recusar-se em ajudar o vizinho a compor a letra, recebeu uma visita dele acompanhado de sua mãe e foi quando foi atingido pelo feitiço, Yoongi não conseguia se lembrar bem das palavras ditas e nem como foi feito, mas lembrava de terem cortado um pedaço de seu cabelo e colocado dentro de uma sacolinha, também lembra perfeitamente do momento de sua transformação, das risadas e de quando eles fugiram com suas anotações e composições.

—Nossa, que bosta. —diz Jimin.

—Bem, agora que sabemos com o que estamos lidando será mais fácil de reverter.—diz Dahlia.—Como é uma magia obscura, devemos informar o conselho. Precisaremos do nome e endereço da sua vizinha, Yoongi, e também precisaremos recuperar o saco do feitiço.

—Como?—Yoongi pergunta confuso e receoso, de jeito nenhum chegaria perto da bruxa.—Eu vou ter que ver aquela mulher de novo?

—Não se não quiser. Mas precisamos encontrá-la para desfazer o feitiço.—diz Ray, indo até sua bolsa, pegando seu telefone e ligando para sua antiga mestra, Agnes.

Enquanto Ray explicava a situação para a anciã, Dahlia informava Jimin o que seria necessário para a viagem, quanto mais cedo forem, mais rápido o feitiço seria desfeito, Yoongi ouvia tudo sem dizer nada, perdido em seus pensamentos que iam de “conseguirei voltar ao normal?” à “Isso dá uma puta letra”, mesmo na situação que se encontrava o jovem não deixava de pensar em música, e ao lembrar disso, recordou-se de suas composições roubadas, precisava recuperá-las. 

E com isso em mente, decidiu-se e resolveu fazer parte da excursão até a mulher que o amaldiçoou. Por um momento, sentiu desejo de vingança, mas isso não era o que tinha em seu coração, contanto que isso não ocorresse com mais ninguém. Revelaria a trapaça com toda certeza, se ele já não tinha espaço no mundo underground, depois que Yoongi revelasse o que tinha feito então, seria banido do mundo musical, certeza… Bem… Talvez um soco na fuça do maldito não faria mal também.

Organizadas as tarefas, começou-se uma correria pelo castelo, Dahlia foi até o jardim para fazer a coleta das ervas necessárias para os chás que Yoongi teria que tomar até o feitiço ser feito, Ray embalava algumas refeições e Jimin preparava suas malas… O que o lembra que Yoongi ainda está sem roupa nenhuma por debaixo dos cobertores.

—Oh, verdade. —diz, indo até o rapaz. —Então, acho que você se sentirá mais confortável se estiver vestido, certo? Eu posso te emprestar algumas roupas.

—Eu agradeceria, obrigado.

—Vem, eu te levo até meu armário e você escolhe o que quiser.

Chegando lá, Jimin abriu seu guarda-roupa e Yoongi riu incrédulo, seu estilo de roupa era muito parecido com o seu próprio e não demorou muito para escolher um look, indo até o banheiro para se trocar enquanto o aprendiz continuava a preparar as malas. Ao voltar para seu quarto, Jimin se surpreende com quanto as roupas haviam ficado bem, pareciam feitas para ele.

—Nossa, ficaram ótimas.—o elogia.

—Sim, na verdade, me pergunto como é possível que tenhamos estilos tão parecidos. —e então um pensamento lhe ocorreu. —A não ser que você tenha me copiado, já que você parece me acompanhar e tals.

—Até parece. Olha aqui, só porque algumas roupas pareçam com as que costuma usar não quer dizer que foram baseadas em você, ok?

—Claro, claro. —concorda para acalmá-lo, não acreditando muito, o que irrita Jimin.

—Querido, eu não preciso copiar ninguém, eu tenho um estilo único.

—Cara, não precisa ficar na defensiva, não tem problemas em se inspirar em alguém.

—Eu não estou te copiando! Olha, acho melhor a gente parar por aqui antes que eu te transforme em sorvete.

—Tá, mas saiba que…  —Yoongi começa para provocá-lo, mas Jimin não termina de ouvir ao revirar os olhos e sair do quarto, causando risos que não eram vistos desde que foi enfeitiçado.

Com tudo pronto, o quarteto se reuniu em frente ao castelo, teriam que subir no avião através de uma escada de corda, porém, antes disso, Ray e Dahlia utilizam seus poderes para levitar as bagagens até Jimin que havia entrado primeiro. Logo que todas estavam em segurança dentro do avião, Yoongi, Dahlia e Ray entraram e fecharam a porta, indo para seus respectivos lugares, só faltava mais uma coisa…

—Para onde vamos? —pergunta Ray.

—Daegu, Coréia do Sul.

—Podemos passar em Busan depois? Faz tempo que não visito minha família. —pede Jimin, surpreendendo Yoongi.

—Você também é coreano?

Após essa descoberta, Suga sentiu-se mais próximo do aprendiz e passaram a viagem toda conversando sobre suas memórias e experiências no país. Tiveram que parar na Turquia para reabastecer e checarem se a aeronave estava apta para fazer uma longa viagem, dali iriam direto para Seul sem novas conexões e, então, pegariam um carro para irem até Daegu. Após receberem a liberação, seguiram o caminho sem problemas. Yoongi e Jimin, agora mais próximos graças a conversa anterior, sentam-se juntos para continuarem a trocarem ideias, nisso, Suga decide provocá-lo em relação às roupas e sua reação quando soube quem realmente era.

—Eu já disse que não te copiei! Eu admito que sim, tenho grande admiração pelo que faz, suas músicas, as letras me tocam profundamente, consigo me lembrar de várias situações onde elas me ajudaram muito, mas eu não tô me vestindo igual a você, beleza? Apesar de que… elas… realmente ficam bem em você.—finaliza sentindo o rosto queimar, assim como Yoongi, que apenas mantém a troca de olhares até sentir-se desconfortável e pigarrear, desviando o olhar.

—Obrigado… Erh, eu não conheço esse mundo, mas você me transformou de volta e sou muito agradecido por isso.

—Mereço uma música escrita pra mim.—Suga ri.

—Nar, acho que não, contente-se em ser mencionado em alguma entrevista… talvez.

—Agora, falando sério. —Jimin suspira. —Queria pedir desculpas pela minha reação quando o vi pela primeira vez, você estava sofrendo e eu fui insensível.

—Tudo bem, você se redimiu da melhor forma possível.—diz apertando a mão do aprendiz, olhando-o com apreço.

—Ah, que tédio!—reclama Dahlia. Já havia detalhado tudo o que havia ocorrido com Yoongi em seu diário, assim como anotado as receitas utilizadas e as pedras, agora estava completamente entediada. —Ray, querida, não há nada para passarmos o tempo?

—Claro que temos, faço muitas viagens longas, sempre deixo coisas para passar meu tempo. Temos duas opções: filmes ou jogos. Tenho alguns tablets guardados, assim como cartas e jogos de tabuleiro. Mas se isso não a interessar, podemos ir na cozinha e fazer mais chá.—olhando para a mesa de Yoongi, onde suas garrafas de chá estavam, decidiu ir para a cozinha. —Vocês não querem escolher nada?—pergunta aos rapazes, e após trocar olhares com Suga, Jimin responde.

—Acho que seria bom assistirmos um filme.—após escolherem como passariam o tempo, Ray entregou-lhes o tablet e foi ajudar sua amiga bruxa na cozinha, deixando os rapazes sozinhos.—Tudo bem se compartilharmos o fone?

Escolhido o filme, Jimin confortavelmente posicionou o aparelho entre os dois, inclinando-se para Yoongi, que, tímido, retraiu-se inicialmente. Com metade do filme tendo se passado, o rapper começou a sentir algumas dores e a sentir frio, preocupando o aprendiz que levantou-se e foi rapidamente até a cozinha para pegar mais chá. Observando a situação, Dahlia sorriu para a amiga ao lado, que também havia notado as interações.

—Tô até vendo onde isso dará. —diz Dahlia, antes de jogar seus dados e vencer a natural, mais uma vez. 

Ao chegarem no aeroporto, não demoraram para alugarem um carro e se dirigirem à Daegu. A viagem de carro foi repleta de música, conversas e implicâncias entre os dois rapazes, parece que Yoongi havia gostado de provocar Jimin, este que, apesar de não demonstrar, estava gostando também dessa troca, Ray e Dahlia se entreolharam algumas vezes, percebendo o clima que estava sendo criado ali. Ao chegarem em Daegu, Ray trocou de lugar com Yoongi, para que ele explicasse o caminho que deveria seguir para sua casa, no entanto, ao chegarem lá, decidiram estacionar na rua anterior e entrarem sorrateiramente na residência de Suga. Ao ver sua casa, Yoongi respira fundo, sentindo um aperto no peito ao lembrar-se dos acontecimentos ocorridos na última vez que esteve ali.

—Ei, não precisa ficar preocupado, estamos aqui, não deixaremos nada acontecer com você, ok?—Jimin diz olhando-o nos olhos e apertando seu ombro, dando-lhe apoio. Dahlia riu e continuou indo até a casa que Yoongi havia apontado como sua.

—Tem alguma outra forma de entrar sem ser pela porta da frente?—pergunta Ray.

—Sim, tem uma entrada pelos fundos que costumo usar pra trazer alguns equipamentos com mais facilidade. Eu deixo uma chave reserva escondida por fora, não vai ter problemas.

—E qualquer coisa a gente arromba a porta.—diz Dahlia sorrindo. —Bem, lidere o caminho.

Yoongi suspira e faz o caminho que costumava fazer com frequência antes de ser amaldiçoado, ao lembrar que está perto de se reencontrar com as pessoas que o colocaram nessa situação, uma sensação de raiva começa a lhe dominar e, ao entrarem na casa e encontrarem Kwan Seung, o vizinho, confortavelmente assistindo televisão em seu sofá, Suga não conseguiu se controlar.

—Desgraçado!

—Yoongi! Não!

Tarde demais, o rapper já estava em cima do rival, com as mãos indo e voltando no rosto do rapaz. Tanto Ray quanto Jimin o agarram para impedi-lo de fazer algo que iria se arrepender depois, sabiam o quão irritado estava, compreendiam a situação de Suga, mas não podiam deixá-lo se perder assim, isso apenas o prejudicaria. Mas o compositor não se importava no momento, tudo o que via era vermelho e tentava com todas as suas forças se desvencilhar das mãos que o prendiam.

—Me larga! Eu vou acabar com a raça desse filho da puta!

—Olha só quem voltou! O gelinho!—Kwan gargalha.—Vejamos, da última vez que o vi, você era apenas uma decoração natalina de jardim.

—Seu filho da… 

—Chega!—Ray interrompe a discussão. —Yoongi, eu sei que é difícil, mas não é assim que vai conseguir resolver seu problema, foque no real problema aqui, dele cuidamos depois.—com as palavras da bruxa, o produtor conseguiu ver claramente e, quando perceberam que não ele havia se controlado, o liberaram.

—Tem razão.—concorda Yoongi e, após respirar fundo, continua.—Eu nunca vou compreender o porquê de ter decidido por essa escolha só por ter recebido uma resposta diferente da que esperava, por isso, quando tudo isso acabar e eu revelar o que fez comigo, vou apenas assistir enquanto a vida te mostra as consequências. Então, porque não acaba logo com isso e me diz onde vocês esconderam o saquinho com o feitiço?—Seung bufa e o olha com deboche.

—Ué, achei que já tinha resolvido sua situação. —Yoongi começa a se irritar novamente e Jimin decide intervir.

—Cara, para de se fazer de sonso e diz de uma vez, antes que eu também perca a paciência.

—Ih, ó, lá! Tu pensa que tá falando com quem, moleque? Tu não manda em mim, não.

—Ok, cansei.—diz Dahlia indo em sua direção e colocando suas mãos na cabeça de Seung, recitando um encantamento que o obrigaria a revelar a verdade, ele querendo ou não. —E então? Onde está o pacotinho?

—Não sei. —começa ele, surpreendendo-se. —Minha mãe escondeu e não me disse onde, ela achou mais seguro assim.

—Ao menos sabe se ela o escondeu em casa?—pergunta Jimin.

—Sim, todos seus pacotinhos ficam escondidos em casa, só não sei onde. —revela. Percebendo que era tudo que poderia saber dele, Dahlia o libera do feitiço, o fazendo cair no chão tentando recuperar seu ar.

Sem perceberem, outra pessoa se junta a eles após ouvir tudo o que precisava saber para fazer sua parte do trabalho. Agnes, a maga anciã mais respeitada no mundo místico, a conselheira mais requisitada e a pessoa que era chamada para fazer o julgamento daqueles que se afastaram da magia pura e se infectaram pelas trevas. Sentindo uma intensa e poderosa energia no recinto, os bruxos se viram em posição de ataque, encontrando a mestre.

—Agnes, que susto!—diz Ray.

—Desculpe-me, não foi minha intenção. —diz e vira-se em direção à Yoongi verificando-o e depois vai em direção à Kwan Seung o levantando pela camiseta.—Sua mãe está em casa rapaz?

—Si-Sim.

—Ótimo, preciso ter uma conversinha com ela.

Com medo, a arrogância de Kwan some quase que imediatamente ao notar que está cercado de bruxos, no entanto, percebendo que sua mãe estava em perigo, decide apelar para a irmandade existente entre os praticantes, acreditando cegamente que independente do tipo de magia utilizada, essa fraternidade estaria presente.

—Claro, eu posso levá-la até ela. Deve estar ansiosa para conhecer outra irmã bruxa, né?—diz ele, enfurecendo os presentes, Jimin deixa escapar uma risada irônica.

—Irmã? Só pode estar tirando uma com a nossa cara. Tu tem noção do que a sua mãe fez? Isso é magia obscura, querido, é contra a lei natural. Sua mãe quebrou as regras e Agnes veio dar-lhe sua sentença.

Sem mais atrasos, Agnes o prendeu em um feitiço que o paralisava e, com um estalo de dedos, trocou de roupa e uma torta de maçã repousava em suas mãos. Entraria disfarçadamente na casa inimiga para liberar o caminho para as bruxas e os rapazes fazerem suas buscas, esperava que apenas isso fosse o suficiente, queria terminar esse caso sem precisar de conflito. Mas antes de ir, explicou seu plano para os outros.

—Entrarei na casa e a tirarei de lá, quando sairmos, vocês entram e procuram o pacotinho. Quando encontrarem, me avisem, estarei com meu celular e, assim que a expormos e eu castigá-la, liberem o rapaz da maldição. No entanto, seria bom alguém ficar de olho no filho dela.

—Eu fico.—Ray se voluntaria.—Podem ir.

A senhorinha acena e sai pelos fundos, não demorando para chegar até a porta da vizinha. Kwan Dae abre a porta enxugando as mãos no avental, abrindo um sorriso ao encontrar a boa velhinha com a torta em mãos. Agnes consegue entrar com a desculpa de ser uma nova vizinha e, depois de uma rápida conversa introdutória, avisa que, na verdade, queria ajuda para ir até o mercado, o qual Dae prontamente aceita.

—Ok, elas saíram. Vamos lá. —diz Jimin, que havia vigiado a casa vizinha.

O trio esperou que as duas tivessem virado a esquina e enfim foram até lá, a porta havia sido deixada aberta por Agnes, então não tiveram problemas ao entrar. Por não ser do mundo mágico, Yoongi não sentiu a energia negativa presente na casa, mas os bruxos sim, dando-lhes um grande aperto no peito, a casa era dominada por energia ruim, Jimin se perguntava como era possível alguém conseguir conviver com algo assim, havia estudado sobre as magias obscuras, mas elas lhe faziam tão mal que não compreendia isso.

Procuraram o altar pela sala, cozinha, banheiros, quintal, nada. Foram em direção ao corredor que levava aos quartos, dois estavam trancados, levantando suspeitas nos três, Dahlia sentia a presença do altar vindo do último quarto do corredor e, aproveitando que tinham tempo, decidiu passar mais um teste para o pupilo, não podiam simplesmente quebrar a casa alheia, teriam que utilizar magia e a bruxa já havia ensinado esse feitiço à Jimin.

—Jimin, querido, por que não tenta utilizar o feitiço para desbloquear nossa entrada?

—Ah, claro. —disse nervoso, havia algum tempo que não o praticava e sabia que estava sendo testado. Percebendo isso, Yoongi sorri e lhe dá tapinhas nas costas antes de entrar no quarto que estava aberto.

—Boa sorte, você consegue.—diz ele.

Entrando no quarto, Suga encontrou uma bagunça. Suspirou. Não havia altar ali, mas a Kwan poderia ter escondido o saquinho ali sem que ele soubesse, já que, pela situação em ambas as casas, sabia que Seung não estava vindo em casa. Iniciou sua procura jogando todas as roupas no chão e, junto, voaram alguns papéis, Yoongi paralisou. Agachou-se para pegar uma folha e começou a ler, sentindo uma fúria dominar-lhe novamente, eram suas músicas.

—Como ele ousa deixar elas debaixo de roupas sujas? —mas sua ira não demorou a se intensificar.—Filho da puta! —diz indo para o corredor com o objetivo de ir para sua casa e socar a cara de seu vizinho novamente. Sendo impedido por Jimin e Dahlia, que havia sentido sua energia.

—Yoongi.—Jimin o para.

—Eu vou matar ele! Olha o que ele fez? —diz entregando as folhas rabiscadas. —Ele riscou minhas letras, cara!

—Ok, ok, ele foi um escroto mesmo, já não bastava ter roubado sua música ainda quis mudá-las. Mas elas são suas, você é o Suga, você é Agust D, ele pode tentar, mas ele nunca será você, ok? Então, se acalma, respira fundo e vamos terminar o que fizemos aqui, Agnes pode ter nos dado acesso, mas não sabemos quanto tempo ela pode segurar sua vizinha com ela. —disse Jimin segurando-o pelo ombro e olhando em seus olhos. Yoongi suspira, acalmando-se.

—Você tem razão, desculpa.

—Não precisa se preocupar, eu entendo sua raiva.

—Bem, voltando a busca, não achei nada além das minhas letras.

—Ok, você pode procurar quando eu abrir as portas, espera só um pouquinho. —diz voltando a se concentrar na porta do meio, a que não estava o altar, pois Dahlia e Jimin sentiram a presença de energias negativas ali também.

Ao abrir, perceberam que o quarto havia sido transformado em uma espécie de armazém, era onde ficavam as ervas e os elixir, Jimin não ficou muito tempo ali, faria uma varredura mais detalhada após abrir a outra porta, não foi tão complicado desta vez. Entrando no quarto de Kwan Dae, Dahlia foi até o altar, observando tudo o que estava presente nele, Jimin olhou tudo boquiaberto antes de voltar para o armazém e começou a vasculhar a procura da sacolinha com o feitiço de Yoongi.

—Não toque em nada, ainda não verifiquei o que ela tem guardado aqui. —Jimin indica e leva sua mão acima das prateleiras, concentrando-se para sentir suas energias.

—Consegue sentir algo que possa indicar onde ela guardou? —pergunta o rapper. Havia verificado tudo, ou era o que pensava.

—A energia aqui é tão ruim, Yoongi, tirando algumas exceções, cada erva, cada planta, é venenosa ou tem poderes malignos. É complicado, mas sinto que uma escuridão mais intensa está presente, só preciso me concentrar mais.

Assim, Jimin respirou fundo, focando na sensação que precisa localizar. E então, aos poucos, começou a dar pequenos passos confiantes, como se estivesse hipnotizado, os espíritos da natureza o guiavam, levando-o até a gaveta escondida entre as prateleiras, indicando sua posição. Dahlia assistiu tudo orgulhosa, os espíritos apareciam pela primeira vez ao aprendiz, ele estava pronto para seguir seu caminho agora. Deixou que ele fizesse o restante do serviço, indo até a sala para aguardá-lo com as descobertas, a bruxa sabia que não havia somente um pacotinho guardado ali.

—Meu Deus!

—São tantos, Jimin… 

Havia no mínimo vinte e cinco sacolinhas ordenadas em ordem cronológica, a mais antiga datava de 1989, declarando que a mulher já era praticante da obscuridade há muito mais tempo do que imaginavam. Quantos amaldiçoados ainda viviam nas condições que a bruxa das trevas havia colocado? Yoongi sentiu-se pequeno. Ele havia sido resgatado e transformado, mesmo que temporariamente, em sua forma humana, mas e os outros? Sem esperar mais, e sabendo que não podia abrir cada saquinho para saber qual era o de Yoongi, Jimin retirou a gaveta de seu lugar e foi atrás da mestre.

—Dahlia, olhe isso!—a bruxa suspirou, ligando para Agnes. —Como saberemos qual o dele?

—Há um feitiço, mas vamos esperar Agnes chegar, depois que ela terminar com Kwan Dae, podemos finalizar o problema de Yoongi.

Dahlia tirou fotos do altar e da gaveta, enviando no grupo que havia sido criado para que os bruxos pudessem se comunicar, também anunciou que os espíritos haviam ajudado Jimin, então sua cerimônia de iniciação seria marcada. Recebeu várias respostas irritadas com a situação e parabenizando o pupilo, a bruxa sorriu, guardando o celular. Jimin sentou-se ao lado da tutora, ainda não acreditava que os espíritos haviam-no guiado, a sensação de leveza, tranquilidade e pureza que havia sentido era indescritível, ele tinha e ao mesmo tempo não tinha controle sobre seu corpo, não sentia-se controlado, no entanto.

—Eles apareceram, Dahlia, os espíritos.—contou a mestre.

—Eu vi, querido. —a maga, então, virou-se para o aluno e pousou sua mão em suas bochechas rosadas, olhando-o nos olhos, sentindo-se honrada pelo tempo que foi sua mestre. —Estou tão orgulhosa de você, Jimin. É uma pena que sua jornada comigo tenha terminado, mas tenho que deixá-lo ir, os espíritos o guiarão agora.

—Você foi a melhor mestre que eu poderia ter. Sempre serei grato.

Yoongi assistia tudo encostado na parede, não compreendia muita coisa, mas sabia que era um momento importante, professora e aluno tinham lágrimas nos olhos e sorrisos no rosto, o clima estava tão feliz que até mesmo o produtor era contaminado pela energia radiante, sorrindo sem perceber. Momento interrompido quando ouviram as vozes se aproximarem da casa.

—Oh, esqueci de trancar a porta? —pergunta a dona da casa, parando na porta, ao sentir a energia dos bruxos dentro da residência. —Querida, porque não me espera aqui um pouquinho, acho que… 

—Entra. —ordena a senhorinha, interrompendo Dae. Confusa, ela entrou, surpreendendo-se ao encontrar sua gaveta secreta em sua mesinha de centro e seu último projeto maligno.

—O que está acontecendo aqui?!—pergunta furiosa.—Você não devia estar aqui!

—Ah, é mesmo, eu deveria ser um boneco de neve perdido nas montanhas suecas.—responde o compositor, ironicamente.

—Quem são vocês? —pergunta Dae, indo em direção a cozinha, tentando pegar algo para proteger-se.

—Não adianta tentar se armar, querida, não fará diferença nenhuma.—diz Dahlia.

—Deixemos de papo fiado. Sou Agnes, anciã dos magos e vim verificar suas atividades ilegais. No entanto, com tantas provas contra você, não acho que há algo mais para ser dito.

—Não, não, isso não é meu! Foi ele! Ele odeia meu filho, ele fez isso pra me prejudicar!—diz a mulher, percebendo a situação que se encontrava.

Agnes conjurou uma corda mágica e amarrou os pulsos de Dae, puxando-a para frente de si, olhando-a nos olhos, antes de deixá-la de joelhos. Levando seus indicadores até a testa da mulher a sua frente, a anciã recitou o feitiço que absorveria as memórias sobre bruxaria obscura, assim como inseriu um bloqueio que a impediria de praticar qualquer magia. Tudo o que se ouvia na sala eram os gritos sofridos da mulher.

—Kwan Dae.—disse Agnes quando a libertou.—Você é considerada culpada por praticar magia sombria e está expulsa do mundo mágico.

—Não! Por favor! Eu preciso da magia, ela faz parte de mim.—diz Kwan, mas Agnes se afasta calmamente dela, indo até Dahlia enquanto a dona da casa rastejava em seus pés, implorando-a para que devolvesse seus conhecimentos mágicos.

—Queime seu altar e comecemos a desfazer as maldições que ela provocou.

—Desculpa, me desculpe, por favor, eu imploro! —diz Dae, chorando aos pés da maga, mas os presentes apenas a ignoraram. Jimin e Yoongi voltaram para a casa do produtor enquanto Dahlia fazia o que lhe foi mandado. Ao chegarem lá, foram recebidos por Ray, que entregou à Suga seu chá.

—Não falta muito para que não precise mais tomá-lo. —diz ela, piscando para o rapaz, que sorria aliviado.

—O que fizeram com a minha mãe, seus desgraçados?!—grita Seung, estava apavorado.

—Pode levá-lo até a casa dele, Agnes os observará até liberarmos Yoongi do feitiço, acredito que vá denunciá-los? —Jimin pergunta, virando-se para o produtor, que confirma. Não via a hora de seu pesadelo acabar.

Ray levou um Kwan Seung histérico, ele acreditava que o matariam quando chegassem em sua casa, assim como tinham feito com sua mãe, ou era o que acreditava. Chegando lá, encontrou a mãe de Seung chorando desconsolada por não conseguir lembrar de nenhum feitiço, receita ou qualquer conhecimento sobre o mundo bruxo e, ao ver o filho, vai até ele, dando-lhe tapas, culpando-o pela decisão infeliz que havia tomado, ignorando o fato de que não foi o filho que a inseriu na magia obscura.

—É tudo tua culpa, tua!

Dahlia entra pela porta do quintal, onde havia feito uma grande fogueira e havia jogado tudo relacionado a bruxaria nela, não demora muito ali, tinha que descobrir qual dos saquinhos era o de Yoongi e como reverter a maldição. Jimin organizava os saquinhos um ao lado do outro na mesa do rapper, para que fosse mais fácil de visualizar e sentir a energia, caso necessário, enquanto o compositor caminhava nervoso de um lado para o outro. Foi então que a bruxa entrou na residência.

—Oh, demorei muito?

—Não, não, só estou ansioso com o fim disso tudo.—respondeu Yoongi.

—Então, o feitiço não é complicado, você só precisa recitar as palavras enquanto Yoongi passa a mão em cima de cada saquinho, quando for o seu, sentirá uma leve queimação na palma. Mas você precisará se concentrar bastante, Yoongi, sua mente pode o iludir.

—Entendo, farei o possível.—diz ele. Jimin pratica as palavras que a tutora lhe dá, sentando-se em uma das cadeiras da mesa, assim como os outros. Suga senta em frente ao quase novo bruxo, nervoso, estava muito perto de acabar com isso, só mais um pouco.

—Ok, Yoon, estenda a mão em cima do primeiro, vou tentar ir com calma para que possa se acostumar a sentir bem a energia, tá bom? Ah, preciso de um fio de cabelo seu. —pede Jimin e o produtor arranca um sem pensar duas vezes. —Certo… Vamos lá, então.

E assim começaram a busca pelo pacotinho de Yoongi. Não era o primeiro, nem o segundo, muito menos o terceiro, também não era o quarto, ou o quinto, sequer o sexto, a cada vez que o rapper não sentia nada, seu coração palpitava mais forte, se perguntava o que aconteceria se não estivesse ali. Mas estava, demorou um pouco, porém, Suga, enfim, sentiu a queimação na palma de sua mão.

—É esse!—diz levantando-se animado. Teve que se controlar para não segurar o saquinho e abrí-lo.

—Ok, vamos ver o que tem dentro. Jimin, lembra como fazer a verificação?

—Sim, isolar a energia e abrí-lo com uma pinça. —diz abrindo sua bolsa, retirando seu estojo de ferramentas. —Senhores, espíritos da natureza, me deem sabedoria e proteção para lidar com este problema.—pede ele, antes de suspirar e recitar o feitiço de isolamento, aproveitando para dobrá-lo.

E então ele o abre, com a mesma pinça que abriu o pacote, ele puxa pelo fundo e despeja tudo o que continha dentro dela e surpreende-se ao ver que não havia poucas ervas venenosas, dentro dos poderes inclusos estavam: confusão mental, dificuldade de locomoção, distúrbios neurológicos, alucinógenos e delírios, ou seja, talvez o formato de snowman não tenha passado de uma ilusão e não uma transformação realmente física. No entanto, elas sozinhas não causavam algo do tipo, o que deu o efeito foram os outros dois ingredientes..

—Mamona, flor de saia branca e de saia-roxa, folhas de beladona, trombeta de anjo, um tufo do cabelo do Yoon e…—suspira, pega um potinho com pó, verificando-o de perto.—Pelos outros ingredientes e o que causou em Yoongi, acredito que seja cinzas de morcego.

—E como se desfaz o feitiço?—pergunta Dahlia ao pupilo.

—Como foi utilizado cinzas, o único jeito é queimando tudo e jogando as cinzas nas chamas.—responde ele.

—Perfeito.—responde a bruxa.—Muito bem, Jimin. Vamos finalizar o trabalho, então?—pergunta levantando-se e os rapazes a seguem, indo todos ao quintal.

Jimin segurava uma espécie de tábua de cortar, no entanto, não era de madeira e sim de cerâmica, assim como o vaso que o músico trouxe para que ele usasse ao tacar fogo nas coisas, segundo ele, era onde queimava alguns papéis velhos. O aprendiz então joga as folhas, flores, ervas e o cabelo de Yoongi enquanto estende a mão em cima da abertura e faz a oração de purificação.

 

Harmonioso seja esse feitiço

Abençoando e purificando aquilo que era maligno

 

Após repetir algumas vezes para reforçar a limpeza, Jimin joga as cinzas de morcego contidas no vidrinho e, instantaneamente, uma alta chama negra aparece, permanecendo por um bom tempo, até que, aos poucos, a chama começa a ficar azul vívido e, no mesmo momento, Yoongi cai de joelhos no chão segurando sua cabeça e gritando de dor. Os bruxos vão em sua direção, mas ele continua se contorcendo por mais algum tempo até que para subitamente, apesar de continuar murmurando.

—Yoongi!—Jimin o chama e, sem esperar, o carrega até o sofá, deixando Dahlia para fazer a verificação de que tudo estava limpo. 

O aprendiz vai até a cozinha para molhar uma toalha, voltando rapidamente para o rapper e repousando o pano em sua testa. Não sabia o que havia acontecido, tentava não ficar tão preocupado, pois se Dahlia não estava, porque ele deveria, certo? Mas o coração de Jimin estava apertado, apenas se acalmou um pouco quando sentiu a mão de Yoongi procurando a sua antes dele abrir os olhos e olhá-lo.

— Acabou? —pergunta ele.

—Preciso que Dahlia confirme para mim, não acho que consigo me concentrar agora.—diz corando e indo atrás de sua mentora.

Aproveitando que a dor e a tremedeira haviam passado, foi até sua cozinha pegar um pouco de água, sentia muito calor, era como se estivessem no verão. Ao ver os bruxos entrando pela porta do quintal, voltou para a sala, ficando de frente para eles, olhando para Jimin com expectativa. Dahlia põe o indicador na testa do músico e sorri, acenando para que o pupilo desse a notícia.

—Nada. Está livre!—diz Jimin, sorrindo. Ao ouvir as palavras que tanto esperou, não se conteve e puxou o rosto do aprendiz para si, encostando seus lábios e os mantendo juntos por um tempo.

—Obrigado.

—De… De nada.—Jimin respondeu envergonhado pelo beijo inesperado.

Dias atuais

 

—E foi assim que nosso trabalho se encerrou. Suga, chamou a polícia depois e registrou os roubos de suas músicas e tentativa de assassinato. —finalizo minha explicação. —Foi uma experiência natalina muito animada.—digo rindo.  

—Só de lembrar já me arrepiei toda. Não gosto de participar de interrogatórios policiais.—diz Ray, lembrando-me de que tivemos que prestar depoimentos por sermos testemunhas.

—E os rapazes? —pergunta Merge, bebendo mais um gole do vinho que o ex-aprendiz havia feito.

—Ah, esses estão mais do que juntos hoje em dia. Depois que Yoongi revelou o que Kwan Seung tentou fazer, os outros rappers e músicos do ramo o baniram do underground enquanto que o nome e as composições de Agust D subiram mais uma vez nos charts. Após terminarmos tudo o que tínhamos para fazer em Daegu, fomos para Busan visitar a família de Jimin, como havíamos prometido para ele, e adivinha quem foi junto?—disse rindo, sendo acompanhada por meus ouvintes. —Além disso, Yoongi esteve presente na cerimônia de iniciação de Jimin e o escreveu uma música para agradecê-lo, não demorou muito após isso para entrarem num relacionamento sério e Suga levar meu pupilo para longe de mim.—brinquei, sabendo que meus convidados surpresa haviam me ouvido.

—Mas quanto drama, até parece que nunca mais nos vimos.

—Ora, ora, se não é Park Jimin e a estrela do mundo hip hop, Agust D! —diz Ray indo abraçá-los.

Vou até de Jimin e o abraço fortemente, não o via há três anos, desde que decidiu juntar-se a Agust D em sua turnê mundial, que durou até o meio deste ano, não havia visto ele além das capas de revistas, onde o casal mantinha residência fixa. O observo mais de perto, prestando atenção nos detalhes, ele estava tão crescido, mas mantinha a mesma juventude de quanto o vi pela primeira vez em Paris, em uma convenção internacional de bruxaria, e, ao ver a felicidade em seus olhos, me sinto em paz.

—Senti tanto sua falta, meu querido.—digo-lhe.

—Não me faça chorar, Dahlia.—ele retruca, rindo. Me viro para Suga, que me abraça sorrindo.

—E então? Já pode arriscar algumas rimas? —pergunta ele. Em nossa viagem para Busan, Yoongi se surpreendeu com meu nulo conhecimento sobre o hip hop e desde então vem me indicando vários artistas, álbuns e músicas para que eu pudesse ter um vislumbre do que era.

—Cuidado, hein, Agust D, quando menos esperar eu tomarei seu lugar.

  Ao perceberem Jimin e Yoongi, outros convidados vieram em nossa direção para cumprimentá-los, muitos haviam estudado com Jimin ou tinham conhecimento sobre o caso do snowman, especialmente por conta de quem era o boneco de neve, tanto que alguns aprendizes vieram até ele para pedir-lhe fotos e autógrafos. Vejo Agnes vindo em nossa direção e aviso ambos, Yoongi havia se aproximado bastante da anciã, ambos tinham interesse nos filmes de Bong Joon Ho, e, após ambos iniciarem uma animada conversa sobre o diretor, Jimin me chama num canto.

—Tudo bem?—pergunto.

—Sim, está tudo perfeito, mas queria fazer uma pergunta.

—Vá em frente.

—Estive na estrada por três anos, rodei o mundo praticamente duas vezes, entrei em contato com cada canto da natureza, absorvendo o conhecimento que era me dado, acredito que está na hora de encerrar os estudos e começar a agir. —finaliza me olhando intensamente.

—Você está insinuando o que acho que está?

—Sempre fomos bons em entender um ao outro.—responde rindo. —Quero voltar, Dahlia, esse tempo que passei viajando me fez muito bem, mas não quero mais ficar longe de casa, sinto falta de trabalhar com você.—diz segurando minhas mãos. —Me aceitaria como ajudante, minha querida maga?

—Não recusaria esse pedido nem sob tortura. E caso vocês quiserem, seu quarto ainda está disponível.—digo dando-lhe uma piscadela.

—Perfeito. Nenhum hotel cinco estrelas se compara com o conforto da minha cama.

—Nossa, que tortura, hein, Park Jimin. —ouvi seu suspiro.

—É muito bom estar de volta, Dahlia.

Voltamos ao nosso grupo e tivemos uma noite ainda mais maravilhosa e encantada, nós dançamos, comemos, trocamos presentes e nos divertimos bastante até o amanhecer. Sentia-me vazia desde que meus ajudantes haviam partido e a volta de Jimin, encerrou o natal com chave de ouro, me trazendo um pouco de alegria, mal posso esperar pelas novas aventuras que viveremos juntos, eu, Jimin e seu snowman.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Não esqueçam de curtir, comentar e compartilhar. Voltarei assim que possível para publicar a primeira história desse universo, espero que se interessem por ela também.

Glossário e definições:
Árvore de Yule: Árvore "natalina" dos bruxos, sendo ela a referência utilizada para a árvore de natal que utilizamos hoje em dia.

Hagalaz: runa relacionada a destruição, no entanto, também pode ser utilizada para boa sorte, fertilidade mental e criativa e proteção.

Bruxas: àqueles que possuem o "dom", mais suscetíveis a magia naturalmente.

Feiticeiras: Mestres da alquimia, "magia humana".

Magas: Mestres das artes mágicas.

Curandeiras/Bezendeiras: bruxas que curam as doenças naturais.

Bruxa natural: possuem o dom de manipular os elementos da natureza.



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