Mate Angela escrita por Sebastian
Ato I
“O amante perdido” Angela se mantém em silêncio, enquanto sua mãe passa a escova de maneira suave por seus cabelos, alinhando-os para fazer uma trança e depois enfeitá-los com uma fina e delicada tiara de ouro. Não têm o que dizer, o senhor Chipperfield, está à sua espera, em outra sala — o retrato de casamento, é uma tradição familiar, mesmo que esteja sendo forçada a participar disso.
— Quando for para lá. — A mulher orienta. — Sorria.
— Não vai ser verdadeiro o suficiente. — Angela resmunga.
— Não precisa, apenas sorria e finja que adora a companhia do seu adorável noivo.
A garota fica quieta, com uma expressão nada agradável no rosto e, de repente, se vê pensando em Lucius e na sua fracassada busca por ele. Passou as últimas duas semanas em visitas ao museu, perguntando para um e outro se não haviam visto o rapaz ou se trabalhava por lá, ele sumiu como fumaça. A voz é cada vez mais recorrente em sua cabeça e o sonho com destruição a abraça todas as noites, agora sabe o nome que grita todas as vezes, Koschei — não sabe o significado disso, quem sabe esteja enlouquecendo.
Ela se encara no espelho, a imagem da tristeza e covardia, não consegue reconhecer o próprio reflexo, está cada vez mais magra e abatida. No entanto, tudo isso faz parte de um plano de fuga — precisa ficar o mais vulnerável possível, assim ninguém vai desconfiar. Seu maior desejo era ter encontrado Lucius, assim poderia ter aproveitado um verdadeiro romance antes de ir embora para sempre.
“Mais um pouco” o que seu futuro aguarda?
Elas se direcionam para o salão principal, a garota consegue vislumbrar ao longe Walter, seu pai e o sr. Chipperfield sentados no sofá. Mais a frente o pintor está atrás da tela, ajeitando as tintas, pincéis e o cavalete. Angela reconhece a figura, o cabelo cor de trigo e postura elegante, Lucius. Um sorriso instantâneo surge em seu rosto, o peito queima de alegria, o destino os uniu.
— Graciosa como sempre. — Chipperfield beija sua mão em cumprimento. Não teve tempo para sentir nojo, sua atenção está completamente voltada para o jovem pintor.
— É um prazer vê-lo, sr. Chipperfield — diz, forçando um sorriso.
— Boa tarde, senhorita White. — Lucius a cumprimenta, seu coração dispara.
— Sr. Phelps — fala quase hipnotizada.
— Vocês já se conhecem? — Walter indaga, estragando o momento.
— Receio que não, sr.White — Lucius responde, sério.
Angela franziu o cenho, como pode ter alimentado tantas coisas a respeito dele que nem mesmo a reconheceu.
— No museu… — pronunciou para si mesma. — Eu te vi no museu, sr. Phelps.
— Pode ter sido, meus quadros estavam em exposição. — Ele lhe entrega um buquê de flores.
— Os amantes que nunca soltam as mãos. — Angela joga verde.
Ele sorriu com presunção, como se tivesse lembrado de algo.
— Este não fui eu que pintei, a minha exposição ocorreu do outro lado.
Ela encara bem seus olhos, a sombra que há neles e nenhuma projeção de discernimento. Como pode ter alimentado alguma coisa sobre Lucius se apenas o viu uma única vez? Sentiu-se tola por colocar suas expectativas em um desconhecido, Angela idiota.
— Eu o procurei e ninguém sabia quem você era — disse, decepcionada. Ele só pode estar mentindo, mas a troco de quê?
— Eu uso um pseudônimo. — O rapaz deu de ombros. — Acho que você já ouviu falar. — Ele se aproxima dela e sussurra. — Koschei.
Foi como ter levado um soco no estômago, ela ficou instantaneamente enjoada e seus pés saíram do chão. Um nó se formou em sua cabeça, Lucius parecia ter invadido seus sonhos e seu ser, desde a primeira vez que o viu, como se tivesse marcado sua alma com ferro.
— O que disse? — indagou, incrédula.
— Mas se preferir, srta. White, também pode me chamar de…
— Vocês dois têm muito assunto para pôr em dia, não? — Chipperfield interrompeu, segurando o braço da garota. — Amigos de longa data? — Encarou Phelps rigidamente.
— A srta. White apenas ficou curiosa sobre meu trabalho. — Lucius sorriu, confiante. — Acho que tenho uma admiradora.
Angela não consegue mais pronunciar uma palavra ou formular qualquer pensamento, está confusa, à beira do colapso. Koschei, o nome vai e vem pelas entranhas de sua mente, como ele conseguiu invadir seus sonhos?
“Você se lembra?” a voz de Phelps alastra sua cabeça como um trovão alto e claro, ela fica mais confusa e perturbada.
— Eu não estou bem — diz, antes de perder o equilíbrio.
— Angela, o que há?! — Walter vai em seu socorro. Ela cai nos braços do noivo.
— Minha cabeça está explodindo. — Ela lamenta e lágrimas involuntárias percorrem seu rosto. — Está doendo muito, tudo… — A voz de Lucius vai e volta em sua mente, a imagem vermelha e laranja da cidade destruída a domina junto com a silhueta masculina cada vez mais detalhada caminhando em sua direção. — Quem é você? — é tudo o que consegue dizer antes de perder os sentidos.
“O castigo dos deuses”
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